MANIFESTO EaD

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Manifesto EaD

1. A EaD não deve ser considerada uma categoria estanque e oposta à educação presencial, mas ambas devem ser utilizadas em sintonia.

2. A EaD não deve ser concebida apenas como ensino e aprendizagem através de computadores; outras mídias também devem desempenhar papéis importantes, como textos impressos, áudios, rádio, televisão, vídeos, videoconferências, celulares e outras tecnologias de comunicação e informação por vir.

3. A EaD não faz milagres. Nesse sentido, por exemplo, ela não gera automaticamente uma aprendizagem mais colaborativa do que a educação presencial.

4. Duas das principais características da EaD, a serem exploradas em projetos pedagógicos, são a capacidade de simulação e a interatividade.

5. A EaD (sempre acompanhada da educação presencial) deve ser combinada com estudos individualizados e interdisciplinaridade, tríade que tende a dominar o cenário da educação nas próximas décadas.

6. Os professores de EaD, como orientadores de um novo processo, devem ser formadores de atitude em relação à pesquisa e às novas maneiras de acesso à informação, para que essa informação possa transformar-se em conhecimento,
deixando de ser meros dados desarticulados. Nesse sentido, devemos contribuir para formar um ser humano organizado, disciplinado, perseverante, automotivado e independente, capaz de desenvolver métodos de estudo eficazes, de autogerenciar-se, administrar o tempo virtual e buscar informações com eficiência.

7. As aulas de EaD não devem ser preparadas em fases estanques, ou seja, redigidas pelos autores, modificadas pelos pedagogos, posteriormente trabalhadas visualmente pelos web-designers etc., sem interação entre esses profissionais. Isso é suicídio virtual! O trabalho de construção, sempre supervisionado por equipes pedagógicas multidisciplinares, deve ser conjunto e simultâneo para que, de um lado, os autores tenham consciência das ferramentas tecnológicas disponíveis, visando ao melhor desenvolvimento de seus conteúdos-forma, e, de outro lado, os web-designers tenham noções do conhecimento veiculado, visando a uma melhor aplicação de suas formas-conteúdo. No limite, o ideal (cada vez mais realidade) é o professor-autor-web-tutor, ou seja, o professor que tenha condições de desenvolver seu próprio material online, testá-lo com seus alunos e modificá-lo em tempo-real em função das necessidades de seus cursos e de seu público-alvo. Nesse sentido, a separação (imposta) entre as figuras do professor autor e tutor deve ser colocada em questão.

8. A EaD implica flexibilidade. Não pode prevalecer a miopia de alguns administradores da educação de que, com a EaD, paga-se apenas uma vez para a produção de um conteúdo que pode, então, ser utilizado infinitamente por inúmeros estudantes. As aulas de EaD precisam ser atualizadas constantemente e os tutores, que efetivamente interagem com os estudantes, precisam ter autonomia para modificar o conteúdo das aulas enquanto ministram suas disciplinas, para não se converterem em meros fantoches, impostutores. Os tutores precisam ser mais valorizados em EaD, e os conteúdos prontos e impostos fazem parte de um modelo Fordista e centralizador de EaD, que é necessário enterrar de vez. Inclusive porque a teoria e a prática da administração já se flexibilizaram há muito tempo.

9. Se, de um lado, a EaD pode ajudar a superar o isolamento cultural e a Jihad, de outro lado carrega consigo o risco da Disneyficação e do McWorld, da homogeneização cultural dominada pela língua e cultura norte-americanas. Nesse sentido, é obrigação dos professores de EaD procurar sempre desenvolver nos estudantes o senso crítico, como exercício de resistência à colonização. A EaD deve, portanto, tornar possível uma comunicação e uma cultura globais sem comprometer os valores e as preferências locais; desenvolver nossas peles finas, sem danificar nossas peles grossas; contribuir para a formação de um ser humano ético, cidadão e responsável socialmente.

10. Os professores de EaD precisam estar tão ou mais organizados do que os professores do ensino presencial, caso contrário estabelecer-se-á uma nova classe de explorados intelectuais, intensamente submetidos ao tecnostress e aos transtornos multi-tarefas, e ainda por cima mal remunerados. É preciso reagir.

11. 25 alunos por sala também na EaD! É preciso reagir, principalmente, a todos aqueles que querem utilizar a EaD simplesmente para lucrar, e organizam turmas de 60, 100, 130 alunos… para um só tutor, pagando míseras 3 ou 4 aulas semanais (ou ainda menos) para esses professores. Ninguém pode aceitar isso, é um efeito cascata, dominó – se um aceita, outro aceitará e perderemos. Se ninguém aceitar, modificaremos alguma coisa. O descompromisso, nesses casos, não é com a EaD, mas com a educação em geral, com nossa profissão, com nossas consciências, com nossos alunos, com a sociedade, com a vida. É preciso reagir!!

12. EaD não pode se transformar em Educação… a distância, a muita distância…, a anos-luz de distância. É preciso diminuir a distância entre a EaD e a educação.

João Mattar
São Paulo, Abril de 2004 (revisado em Abril de 2005, Janeiro de 2006 e Março de 2007).

P.S. A idéia é que este Manifesto seja, a partir de agora, construído em conjunto, virtualmente, como proposto no Congresso de 2006 do ICDE pelo professor Antonio Vantaggiato.

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17 respostas a MANIFESTO EaD

  1. Rita de Cássia disse:

    Os aspectos necessários para se garantir que a EaD não entre no vício institucional de massificação e sucateamento estão contemplados neste Manifesto, que você mesmo diz, está aberto à construção por todos nós, que reconhecemos essa modalidade de Ensino como contemporânea.
    Concordo que a EaD seja uma modalidade séria, justamento por ser preciso muita organização e compromisso, visto que eu não pude prosseguir um curso por motivo de doença.
    Seriedade e Compromisso dos estudantes, dos tutores e das Instituições que sediam os cursos, estimulando uma lacuna no processo de formação do Conhecimento, que é a Pesquisa, pois nada está pronto, a evolução é dinâmica e cada estudante constrói um conhecimento ‘sui generis’, que pode ser compartilhado por esse rol tecnológico de que dispomos e devemos fazer bom uso.
    \o/

  2. Rita de Cássia disse:

    corrigindo:

    onde se lê “…estimulando uma lacuna…”
    leia-se:
    “…estimulando o preenchimento de uma lacuna…”

    Obrigada!

  3. adalberto disse:

    João, vc faz uma boa varredura na área. Se algum detalhe falta, será algo extremamente técnico e pontual, e que não caberia num Manifesto. Apreciei sobretudo o item 9.

  4. Caro João, Adalberto, Rita e demais, até que enfim um manifesto digno e sério acerca da educação no Brasil. A EaD com toda inovação que traz está se tornando em algumas instituições de ensino um novo tipo “escravidão” ao professor e mais uma forma de “facilitar” ao aluno obter o seu tão almejado diploma.
    Sei que em uma Faculdade tradicional em São Paulo, os professores são obrigados a formular o roteiro de estudo e aplicar provas, além de corrigir as atividades enviadas pelos alunos – com uma remuneração ridiculamente absurda: 1 (uma) hora aula por mês. E, em outra, uma Universidade, os professores estão sendo remunerados com 3 horas-aulas semanais para grupos de 100 (cem) alunos. Pode!!!!! Cadê a qualidade?
    Tenho dito: enquanto os medíocres continuarem a dirigir as políticas públicas em nosso país, é isto que veremos refletido na iniciativa privada.
    Onde está o MEC nisso tudo?

  5. Jorge Surian disse:

    João, estou no EaD faz uns dez anos. Tudo o que você escreveu é verdade, todavia a barbarie é muito maior do que você imagina…

    16 reais por aluno, numa escola. Total de alunos na disciplina? Um…

    Noutra 22 matérias sob a responsabilidade de um único professor, remunerado pelo total de cabeças de gado, ops me enganei, de alunos em encontros mensais de 2 horas (por mês).

    Noutra ainda, pagou passou.

    Noutra, remuneração pelo conteúdo desenvolvido (que passa a ser da escola, é claro).

    Vixxxi.

    Tudo o que a Regina escreveu potencializado ao quadrado…
    Regina, o MEC está preocupado com estatísticas. Com a avaliação via CPAs (sou o coordenador numa das escolas que trabalho). Há pessoas no MEC que estão loucas de raiva, mas há outras que estão rindo felizes.
    Por que será?

  6. Caros Jorge, Adalberto, Rita, João e demais, foi mencionado um ponto específico nas colocações do Jorge e que gostaria de tecer alguns comentários. Trata-se do desenvolvimento de conteúdos, que as universidades, para não pagarem direitos autorais para os autores, redigem um contrato em que os autores cedem os direitos autorais para as universidades, mediante um pagamento irrisório. Isso aconteceu comigo na Universidade Anhembi Morumbi. Mas, o que é mais interessante é que no início em 2001, quando redigimos conteúdos, tivemos um contrato que vigorou 2 anos e que tínhamso 8% da matrícula de cada aluno como um ganho justo, que é o direito autoral. Nada mais justo. Mas é claro, como a Universidade percebeu que cada vez mais, mais alunos se matriculariam, redigiu outro contrato em 2003, no qual cediamos nossos direitos autorais. Na época eu não queria assinar, porém os outros professores temerosos de serem demitidos, assinaram…………..só sobrou eu, que acabei assinando também – pois naquela época precisava desse trabalho. Hoje arrependo-me de ter assinado tal contrato, pois muitas outras coisas aconteceram até este início de ano, fazendo com que refletisse sobre toda a trajetória de 2001 a 2007, tempo que fui autora e tutora de 3 disciplinas nesta instituição.
    Nada como “ganhar” dinheiro fácil em cima do trabalho intelectual dos outros. Agora, mais do que nunca, aqueles que trabalham no ensino a distância devem repensar o direito autoral, pois é muito fácil para as instituições de ensino forçarem professores a escreverem sem ser remunerados pela utilização do material didático. Mais uma nova forma de exploração nos já explorados professores.
    Tenho dito: enquanto não houver uma união dos professores virtuais, nada irá mudar.

  7. Caros Jorge, Adalberto, Rita, João e demais, foi mencionado um ponto específico nas colocações do Jorge e que gostaria de tecer alguns comentários. Trata-se do desenvolvimento de conteúdos, que as universidades, para não pagarem direitos autorais para os autores, redigem um contrato em que os autores cedem os direitos autorais para as universidades, mediante um pagamento irrisório. Isso aconteceu comigo na Universidade Anhembi Morumbi. Mas, o que é mais interessante é que no início em 2001, quando redigimos conteúdos, tivemos um contrato que vigorou 2 anos e que tínhamso 8% da matrícula de cada aluno como um ganho justo, que é o direito autoral. Nada mais justo. Mas é claro, como a Universidade percebeu que cada vez mais, mais alunos se matriculariam, redigiu outro contrato em 2003, no qual cediamos nossos direitos autorais. Na época eu não queria assinar, porém os outros professores temerosos de serem demitidos, assinaram…………..só sobrou eu, que acabei assinando também – pois naquela época precisava desse trabalho. Hoje arrependo-me de ter assinado tal contrato, pois muitas outras coisas aconteceram até este início de ano, fazendo com que refletisse sobre toda a trajetória de 2001 a 2007, tempo que fui autora e tutora de 3 disciplinas nesta instituição.
    Nada como “ganhar” dinheiro fácil encima do trabalho intelectual dos outros. Agora, mais do que nunca, aqueles que trabalham no ensino a distância devem repensar o direito autoral, pois é muito fácil para as instituições de ensino forçarem professores a escreverem sem serem remunerados pela utilização do material didático. Mais uma nova forma de exploração nos já explorados professores.
    Tenho dito: enquanto não houver uma união dos professores virtuais, nada irá mudar.

  8. adalberto disse:

    Caramba, Regina! Isso é um crime.

  9. Regina Célia Pedroso disse:

    É caro Adalberto, não sei se tais atos se enquadrariam em “crime”. Entreguei todos os documentos para meu advogado que está analisando tudo. Porém, com certeza é a postura imoral e sem ética nenhuma. E tudo o que se passou comigo está me fazendo refletir se ainda vale a pena continuar a lecionar em faculdades ou universidades privadas. Leciono desde 1989…..e cada vez mais minha visão caminha para o descrédito total dessas instituições com relação à educação. O que se almeja é apenas o lucro. ALGUÉM QUE ME PROVE O CONTRÁRIO, POR FAVOR!

  10. adalberto disse:

    Regina é crime sim. No mínimo estelionato. O Código Penal, em seu famoso artigo 171, tipifica no caput o crime de estelionato da seguinte forma:

    “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena – Reclusão de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa”.

  11. adalberto disse:

    Extra! Extra!

    “Um Reitor acaba de ser demitido”

    Leia no Caderno Cotidiano

  12. RAUL CARDOSO disse:

    João,

    Acredito que teremos na EaD a mesma questão que temos no ensino tradicional. Teremos instituições sérias e renomadas, reconhecidas por sua competência, e outras (talvez em maior número) que apresentarão uma forma de trabalho baseada apenas no objetivo financeiro, sem preocupação com a qualidade do ensino.

  13. ReginaCélia Pedroso disse:

    Caro Raul e demais, com certeza nós sabemos diferenciar as instituições de ensino, pois temos conhecimento para tal. Porém pergunto: será que o jovem ou mesmo aquele não tão jovem assim que sonha com um diploma sabe discernir sobre o assunto? É mais uma forma de enganar a população e induzí-la a acreditar em um sonho.

  14. Sérgio disse:

    Acredito que os últimos comentários são realmente válidos e interessantes, porém desviou-se um pouco do objetivo do Professor Mattar, que é de construir um manifesto sobre os princípios fundamentais da EaD.
    Gostaria de ressaltar a importância da interdisciplinaridade dentro da EaD. Ela merece mais destaque devido sua capacidade de construir um novo olhar e um novo paradigma sobre a busca de soluções e de novos conhecimentos, superando a fragmentação provocada pela especialização.
    Atualmente faço um mestrado interdisciplinar em Educação,Administração e Comunicação, e sinto falta de outros cursos com enfoque interdisciplinar na EaD, esta é uma lacuna que precisa ser preenchida.

  15. João Mattar disse:

    Sérgio, fale um pouco mais do seu mestrado, pareceu muito interessante.

  16. Estou gostando muito do manifesto e complementos. Seria interessante incluir ” Pela necessidade da inclusão de uma ou mais disciplinas sobre EaD e uso de tecnologia na educação em cursos de Educação, pedagogia e afins?

  17. João Mattar disse:

    Legal, Ilan, daqui a pouco está mesmo na hora de revisar o Manifesto, e vamos incluir sua sugestão.

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