Educação e Consciência Política

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É possível ser educador sem consciência política?
Ou melhor: é possível ser professor, supostamente para formar um ser humano crítico, ético e responsável, fechando os olhos para o que ocorre na sua própria profissão, na sua própria instituição, ou, pior ainda, no seu próprio trabalho?
Se demitem sem justificativas seus colegas, se vários de seus colegas (inclusive você) perdem aulas porque vêem suas turmas subitamente dobradas de tamanho, ou até mesmo se seus colegas (e mesmo você) não recebem o salário de um mês de aulas, mesmo com o pagamento por parte dos alunos, é possível fingir ser cego?
Cego (politicamente) e educador?
Um educador pode ignorar tudo isso e se preocupar apenas com o seu salário, o seu sustento, sem reagir a nada?
Sobrará alguma coisa para ele ensinar?

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13 respostas a Educação e Consciência Política

  1. adalberto disse:

    Vejam que a bomba estoura sempre nas vísceras do professor. Fogo cruzado: de um lado as cobranças leoninas do empregador, de outro, a insatisfação, transformada em pura agressão, dos alunos. Mas, será que nós não temos mais poder de fogo para deixar de submetermo-nos a essa desgraçada condição?

  2. Caro João, devemos diferenciar o educar do professor tecnicista. Na atualidade as universidades querem mais professores reprodutores, do que professores que constroem o saber em sala de aula. Veja por exemplo o caso de professores titulados nas instituições de ensino. Em geral as universidades contratam os titulados quando precisam de alguma aprovação do MEC e logo depois os demitem. Ou então mantém um número de titulados para dizer na mídia que a instituição possui tantos doutores e mestres. É uma enganação completa. E, ninguém faz pesquisa – pois o que se paga para o titulado pesquisar também é uma “sacanagem”. Os heróicos pesquisadores sobrevivem com salário baixo.
    Tenho dito: Frente a isso tudo, acho que vou trabalhar em algum Banco, pois estes ao menos, compartilha parte do lucro se as metas são atingidas.

  3. Onde lê-se educar, leia-se educador

  4. João,

    Como não sou professor, permita-me aqui uma pergunta: supondo-se que o professor dependa exclusivamente daquele rico dinheirinho (o salário) para sustentar sua família, pagar suas contas, etc. Pode ele fazer uma grita como esta, sabendo que, ato contínuo, vai perder seu cargo?? Ou na profissão de professor não existe desemprego?? Minha intenção foi apenas e tão somente incentivar o contraditório.

    P.S.: cara Regina, pense bem antes de ir trabalhar em um banco, exceto se for estrangeiro.

  5. adalberto disse:

    Ainda que seja uma revolução de kamikaze profissional, pior será a apatia.

  6. João Mattar disse:

    Vinícius, não reagi imediatamente ao seu comentário porque, confesso, precisei de um tempo para amadurecer a minha resposta.

    Sem dúvida, a preocupação com a própria subsistência é totalmente legítima. Principalmente porque, em geral, não envolve só a gente, mas a nossa família, muitas vezes nossos filhos, nossos pais etc. Talvez a maior degradação para um ser humano seja se sentir impotente para combater a fome de seu filho.

    Entretanto, na verdade não é apenas a questão da manutenção do emprego que cala as pessoas. Às vezes, nossa leitura da realidade não é muito clara, e sem clareza gaguejamos. As pessoas são diferentes, e muitas têm uma personalidade mais retraída, não costumam falar muito. Não fomos todos criados com o costume de falar e de questionar as coisas. Há também, no caso dos professores, uma marcante falta de união. Muitas vezes, um professor só está interessado em pegar aulas do outro, e todos sabem que se falarem muito, tem uma fila de calados esperando atrás.

    Mas, Vinícius, tem uma questão que é a da consciência. É dilacerante você realizar seu trabalho consciente de que está sendo explorado, de que está sendo enganado etc. Por isso, muita gente se apaixona pelo carrasco.

    O problema, no fundo, não vem apenas do professor, mas muito mais de quem coordena um grupo. A administração participativa já é, há muitíssimo tempo, quase que uma unanimidade, tanto na teoria quanto na prática administrativa. Não tem mais sentido nenhum elaborar um planejamento, para determinado departamento, sem contar com a participação das pessoas que dele fazem parte. Quando você convida as pessoas que estão abaixo de você, na hierarquia, a participarem da elaboração do planejamento, em primeiro lugar as suas idéias acabam, sempre, sendo aperfeiçoadas, o plano sai melhor; mas, além disso, você consegue envolvimento, você consegue motivar as pessoas, consegue coesão no grupo. No limite, um produto bem elaborado não precisa de marketing (no sentido de publicidade e propaganda), porque desde o início o processo todo foi bem feito, as necessidades bem identificadas no mercado, a produção feita em função dessas necessidades etc., então não há necessidade de comunicação: o produto se vende sozinho, boca a boca. Da mesma maneira, no limite um projeto elaborado de maneira participativa não precisa de comunicação nem de reforço, porque as pessoas já sabem o que têm que fazer, já têm um senso de missão etc.

    Infelizmente, nem sempre isso ocorre; muitas vezes, ainda, as coisas chegam de cima para baixo, ou de fora para dentro, e são impostas a um grupo. Aí, o que fazer, principalmente no caso em que o plano é completamente absurdo, vai contra seus princípios? Ficar quieto para defender o seu emprego? Depende de quanto pesa a consciência. Mas há caminhos alternativos, Vinícius, antes do enfrentamento e da perda do emprego. As pessoas podem tentar conversar, um papinho não costuma levar ninguém a perder o emprego. É possível também reagir montando uma dissidência, é da dissidência que surgiram grandes partidos, grandes empresas, até mesmo países: aí ninguém perde o emprego, ao contrário, gera emprego para muita gente. A união do grupo pode também ser importante: se ninguém aceita dar aulas em determinadas condições de exploração (e não aparecer ninguém de trás da fila para estragar tudo), o grupo consegue alguma coisa. Mesmo que haja enfrentamento, mas com uma mínima união (inclusive mobilizando os alunos), nem sempre é o professor que perde o emprego, mas sim aqueles que fizeram a coisa mal feita desde o começo. Vemos muitos casos assim por aí, muitas vezes é a razão e a ética que vencem, quando um grupo consciente se une contra injustiças. No limite, existe a opção da greve, legítima e legal.

    O problema principal, Vinícius, é que a universidade (supostamente) é um dos últimos redutos em que se preza (ou deveria prezar) o senso crítico, o desenvolvimento de visões alternativas sobre a realidade. E, como professores, nossa responsabilidade é sermos os guias desse processo. Temos que ensinar os alunos a ler a realidade, que é sempre complexa, e exercitar seu senso crítico, e inclusive a reagir quando necessário.

    E aí é que está o problema do professor se calar quando alguma coisa é imposta a ele e vai contra os princípios em que ele acredita – ele estará agindo justamente contra o que tem que ensinar! Como ele pode então ensinar? O professor não é um soldado, que deve simplesmente receber ordens e obedecer cegamente, senão pode ser expulso da organização. Ele é um ser crítico por natureza, uma de suas funções é justamente ensinar os outros a serem críticos. Então, se ele fala uma coisa, mas faz outra, tudo fica comprometido. A segurança do trabalho não justifica o silêncio, porque assim ele se transforma em um ser humano fragmentado, em frangalhos, cindido psicologicamente, esquizofrênico. Falo, mas não faço!

    O professor deve educar seus alunos para justamente construir e habitar este espaço do contraditório, do qual você mesmo falou. Aqui, neste blog, ele existe, Vinícius. O que não pode acontecer é ele ser extinto em uma universidade, porque os professores estão apenas preocupados com o seu emprego.

    Eu não quero uma sociedade em que meu filho não possa dizer o que ele pensa. Quando o meu pai faleceu, há 3 anos, eu fiz uma bela reavaliação da minha vida, e uma das coisas que ficaram muito claras para mim é que, tanto quanto os bens materiais que eu pudesse deixar para os meus filhos, eu precisava também deixar exemplos, que aliás foi uma coisa que o meu pai deixou para mim. E uma das maneiras mais legais de deixar exemplos para os nossos filhos, é lutar por aquilo em que acreditamos, lutar muito, quanto mais acreditamos lutar ainda mais. Nenhum filho gosta de ter um pai covarde. E não só são os covardes que conseguem alimentar seus filhos. Eu fui criado sem apanhar, em um clima de relativa liberdade de expressão na minha família. Eu também exercitei em várias oportunidades, em minha vida, a administração participativa nos grupos em que coordenei até hoje. Eu acredito nisso, Vinícius, teórica e praticamente. Acredito que as pessoas têm que falar o que pensam, não podem se calar. E que precisam lutar muito quando este espaço não lhes é concedido. E quero ajudar a construir isso para os meus filhos.

  7. Parabéns João pela sua belíssima explanação. Só agora li e me surpeendi pelo conteúdo apresentado. Penso igualzinho a vc e acredito que o mundo só poderá ser melhor se tiver mais pessoas com esse perfil. Pois no final de tudo o que fica é o que fomos……como pessoas e nada mais.

  8. Wanderlucy disse:

    Apaixonante esta sua resposta ao Vinícius, João. Bateu lá dentro. Ensina todos nós a sermos pais melhores. Fez-me lembrar um pouco daquele filme “Em nome do pai”, você viu? O protagonista é o Daniel Day-Lewis: http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=103

  9. João Mattar disse:

    O Paulo Freire me ajudou a entender que há ainda mais uma explicação para o fenômeno: o oprimido é hospedeiro do opressor. O oprimido é ambíguo, dúbio, e muitas vezes age (inconscientemente) como opressor: tem medo da liberdade.

  10. Pingback: De Mattar » Paulo Freire e a EaD

  11. Fernanda disse:

    Os melhores Professores são aqueles que não param no que têm de ensinar, mas vão muito além da sua disciplina e conseguem crescer mais do que fazer crescer os seus alunos.

  12. Geraldo Prado disse:

    Compartilho com a Regina Célia Pedroso e parabenizo tmbém o João pela sua resposta sensata à questão colocada pelo Vinicius. O argumento do Vinicius é valido e, pouqissimas passagens, mas é muito limitado em relação à função do professor. Passei 53 anos em sala de aula (de 1957 a 2010) escutando frequentemente essas conversas de colegas em horas de intervalos nas salas dos professores dos diferentes estabelecimentos de ensino por onde passei, do antigo primário ao pós-doutorado. Sempre o professor é vítima porque ganha pouco e precisa sustentar a família, e o culpado pela baixa qualidade do ensino sempre é o aluno. Qaundo a escola está em áreas pobres no meio rural ou das periferias dos grandes centros, além da culpa ser dos alunos, acusam comente os colegas do magistério, é também das famílias que não tem ‘educação’. O professor sempre é ou herói ou coitado. Termino esta mensagem conclamando os colegas que me lerem e os que ainda estão em salas de aula, para tomarem o argumento do João e, se possível, discutirem em sala de aula porque nele está refletido, na minha opinião, o ‘eterno’ problema da discussão do nosso ensino em nível nacional. (não quero nem alertar para o problemas das corporações mercatis de formação de professores que se encontram física e virtualmente espalhadas por este paisão).
    Geraldo Prado

  13. Geraldo Prado disse:

    (corrigindo o comentário anterior).
    Compartilho com a Regina Célia Pedroso e parabenizo tmbém o João pela sua resposta sensata à questão colocada pelo Vinicius. O argumento do Vinicius é valido e, pouqissimas passagens, mas é muito limitado em relação à função do professor. Passei 53 anos em sala de aula (de 1957 a 2010) escutando frequentemente essas conversas de colegas em horas de intervalos nas salas dos professores dos diferentes estabelecimentos de ensino por onde passei, do antigo primário ao pós-doutorado. Sempre o professor é vítima porque ganha pouco e precisa sustentar a família, e o culpado pela baixa qualidade do ensino sempre é o aluno. Qaundo a escola está em áreas pobres no meio rural ou das periferias dos grandes centros, além da culpa ser dos alunos, acusam os colegas do magistério, é também das famílias que não tem ‘educação’. O professor sempre é ou herói ou coitado. Termino esta mensagem conclamando os colegas que me lerem e os que ainda estão em salas de aula, para tomarem o argumento do João e, se possível, discutirem em sala de aula porque nele está refletido, na minha opinião, o ‘eterno’ problema da discussão do nosso ensino em nível nacional. (não quero nem alertar para o problemas das corporações mercatis de formação de professores que se encontram física e virtualmente espalhadas por este paisão).
    Geraldo Prado

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