A palestra do Emílio Voigt, das Faculdades EST, durante o 13 Congresso da ABED, foi muito interessante e a sala estava bastante cheia. Ele começou pedindo desculpas porque trabalhava com EaD há alguns anos, então estaria um pouco desacostumado a falar presencialmente, mas foi muito bem, tanto que na saída ouvi elogios a sua oratória – tinha gente querendo fazer curso para conseguir falar como ele.
Encontrei com ele após a apresentação (já tínhamos conversado antes) e disse que comungamos dos mesmos interesses, então precisamos manter contato. Ele será muito bem-vindo ao nosso grupo e poderá enriquecer muito as nossas discussões. O professor Valente tem feito pesquisas muito próximas às do Emílio, então os dois precisam se conhecer.
Emílio examinou a utilização crescente da Web 2.0 na EaD, o que temos também discutido intensamente por aqui, foi tema da minha apresentação com a Carmem no Congresso e é um capítulo do nosso ABC.
Mas as reflexões e inquietações de Emílio, além de caminharem na mesma direção das nossas, com muita qualidade e fundamentação, trouxeram também muitas contribuições e provocações. Além de analisar o uso pedagógico de blogs, wikis e podcasts, o predomínio do Moodle entre os ambientes virtuais de aprendizagem (“a escolha da atualidade”, segundo ele) e a ubiqüidade da aprendizagem, ele abordou três interessantes conceitos que particularmente me interessaram, me estimularam a refletir bastante, e que ajudam ainda mais a desenvolver a idéia do aututor.
a) Tudo é matéria-prima para ser usada e remixada.
Com a Web 2.0, diversos conteúdos são criados e mantidos de forma dinâmica pelos usuários e comunidades, e, portanto, não são mais considerados acabados nem com uma finalidade específica. Ao contrário, tudo é visto como matéria-prima, que pode ser retrabalhada em função dos interesses e das necessidades dos usuários. Daí a idéia de remixagem, que para Emílio é a palavra-chave desta tendência. A idéia da versão beta permanente também representa bem essa tendência.
Nesse sentido, na Web 2.0 o usuário não é mais pensado apenas como recipiente passivo, mas simultaneamente como produtor e desenvolvedor de conteúdo. Para a EaD, isto significa que o aluno passa também a ser autor e produtor de material didático.
Portanto, a Web 2.0 questiona não apenas a separação entre usuário e autor, como também a separação entre aluno e autor. O que não dizer então da divisão entre o professor autor e o professor tutor, que a nossa idéia do aututor questiona?
b) Ambiente Pessoal de Aprendizagem – APE
Ambientes virtuais fechados seriam ilhas isoladas, então surgiu a idéia de Personal Learning Environment – PLE, ou Ambiente Pessoal de Aprendizagem – APE, que seria um conceito, não um sistema. O APE ressalta a participação do indivíduo na organização do seu próprio aprendizado, que é contínuo e, portanto, não pode ser proporcionado por uma única fonte. Não faz mais sentido, portanto, o aluno trabalhar apenas com conteúdos e ferramentas pré-fabricados, pois ele precisa de liberdade para configurar seu próprio ambiente de estudo. Novamente, temos aqui a idéia de que o aluno se torna produtor de conteúdos e materiais didáticos. O Netvibes, de que o professor Valente tanto falar, seria apenas um exemplo desta tendência. Eu já tenho defendido a idéia de que, no futuro breve, os ambientes de aprendizagem tendem a se tornar commodities, como os browsers.
Na bibliografia do trabalho do Emílio, há uma referência para checarmos:
ATTWELL, Graham. Personal Learning Environments – the future of eLearning? eLearning Papers, Vol 2, Nº 1, January 2007.
c) Microcontent
Microcontents são pequenas quantidades de informação, pequenos objetos de aprendizagem que podem ser utilizados, reutilizados e remixados em diferentes situações e contextos. Exemplos seriam: um post em um blog, um parágrafo de texto, um email, um formulário, uma questão etc..
Há também uma referência bibliográfica no trabalho do Emílio para discutirmos por aqui:
Incomodam-me um pouco duas questões ligadas aos microconteúdos: a sua descontextualização (o que o professor Marcos Telles analisou recentemente em um post em seu blog – por que os objetos de aprendizagem não deram certo?: Learning Objects: o fim de um sonho!) e a fragmentação e miniaturização do conhecimento (que pode transformar os educandos em sábios-idiotas, que têm acesso a muita informação mas não conseguem conectá-las).
Para concluir, dentre outras preocupações, Emílio lembrou do risco de a Web 2.0 (3.0 etc.) acabar formando uma elite bem informada, que conhece e domina essas novas ferramentas, e o restante da população, que não conseguiria acompanhá-las. Por isso, eu defendo que uma de nossas funções, como educadores, é justamente de experimentar pedagogicamente com todas essas ferramentas e apresentar os resultados a nossos alunos e colegas, o que tambem defendeu o professor Moore em sua fala.
Olá João,
fico muito lisonjeado com seus comentários sobre minha apresentação. Também postei algo sobre sua apresentação e seu livro no blog coordenado pelo Wilson. Não fiz de forma tão detalhada como você, mas isto não significa falta de importância e nem diminui a qualidade. Veja em:
http://abed2007.blogspot.com/2007_09_03_archive.html
Um abraço e parabéns pelo aniversário do blog!
Emílio, tô ligado no blog de vocês! Logo que vi seu comentário sobre a minha palestra por lá, eu coloquei um link para o seu post (no meu).
Mas, Emílio, me diga uma coisa: o que você acha da questão dos micro-conteúdos e da falta de contexto?
O Marcos Telles discutiu esta questão no mês passado no blog dele, coloquei agora o link aí em cima.
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Vejo a E A D como uma forma de ajuda pra pessoas que não tem condições de sair de casa diariamente pra uma faculdade normal,também para quem não tem condições financeiras .