Aplicativo remixado pelo usuário

Li nestes dias no ReadWriteWeb um artigo curto mas muito interessante: Why You Should Let Users Define Your App.

“O cliente sempre tem razão” significa, na superfície, que devemos oferecer um bom serviço ao consumidor. Mas num nível mais profundo, significa que se os seus consumidores fizerem com o seu serviço coisas com em que você nunca tinha pensado, acompanhe a onda.

O Google Maps seria um exemplo. É o que aconteceu também com o Twitter, que começou como um espaço para anotar os pequenos acontecimentos das nossas vidas, mas está se transformando em uma plataforma para discussão séria e notícias fresquinhas. No meio do caminho, bloggers, jornalistas etc. começaram a utilizá-lo para um propósito para o qual, nem mesmo hoje, a própria empresa que criou o aplicativo indica. Aliás, é o que tem ocorrido com as ferramentas Web 2.0 para educação: boa parte delas não foi criada para objetivos pedagógicos, mas temos encontrado excelentes usos educacionais para elas.

Provavelmente, o sucesso do Twitter foi gerado por essa abertura que deixa que os consumidores o definam.

A indústria de games é conhecida por permitir que seus consumidores definam novos usos para seus produtos. Os desenvolvedores de games em geral permitem que os usuários criem modificações para os jogos, o que os direciona para caminhos novos e inexplorados. Nos últimos anos, muitos jogos passaram a ser criados com designs não-lineares e abertos, que permitem que os usuários progridam pelo jogo por caminhos que mesmo os desenvolvedores não imaginavam.

De certa maneira, as modificações em jogos de computadores são análogas aos movimentos de mashup na Internet. Ao oferecer aos usuários APIs abertas, os criadores de aplicativos web deixam que seus consumidores levem seus aplicativos para direções nas quais eles não pensaram. O acesso aberto à arquitetura e aos dados de seus produtos, e a permissão para que os usuários os remixem, podem gerar masuhps que transformem seu aplicativo em uma “killer app”.

Podemos aproveitar o raciocínio um pouco mais para as nossas reflexões sobre EaD. Venho utilizando faz tempo os conceitos de aututor e impostutor, já passei pelas idéias de docência online independente, de produção de conteúdo pelos próprios alunos e de ambientes pessoais de aprendizagem. Com as ferramentas web 2.0, é provável que a importância dos ambientes de aprendizagem tradicionais, como o Blackboard e o próprio Moodle, diminua sensivelmente. Mas aqui talvez seja possível ir ainda um passo além: não temos aqui um aluno que apenas montas seu ambiente de aprendizagem e produz seu próprio conteúdo – podemos pensar em um aluno que utiliza ferramentas mas que também as modifica, gerando então novos usos para elas. Um aluno que, no seu processo de produção de conteúdo e na arquitetura de seu ambiente de aprendizagem, remixa aplicativos, gerando novas aplicações pedagógicas para ferramentas, aplicações que nem quem as desenvolveu, nem seu próprio professor ou seus colegas, imaginavam.

Ou então é possível pensar nisso: deixe que os alunos remixem conteúdos, remixem aplicativos e montem seus ambientes de aprendizagem, deixe que seus alunos criem caminho de aprendizagem que nem você mesmo tinha imaginado.

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6 respostas a Aplicativo remixado pelo usuário

  1. Breno disse:

    Bom dia professor,
    Muito boa sua abordagem neste blog, nos faz pensar em repensar algumas possibilidades de interação em ambientes não presenciais, e nem precisa ser web 2. Meus alunos criam blogs mas será que isto é sufciente, sera que eles não podem ir muit mais além se eu soltar as redeas…….

  2. João Mattar disse:

    Pois é, Breno, eu achei este artigo bem interessante, mesmo que ele não fale diretamente de educação, porque pensei justamente nisso – será que não seguramos muito a rédea dos alunos, será que não queremos controlar o processo de aprendizado deles etc., justamente porque soltar as rédeas parece caminhar contra a função do professor. No post seguinte, em inglês, reflito um pouco também sobre isso, no Second Life.

  3. A primeira vez que ouvi falar em PERSONALIZAÇÃO foi em 2000, durante uma pós QUE Fem TIC. Naquela época estudávamos as mudanças que poderiamos fazer nos sites que utilizávamos para obter serviços (compras, informações, etc.).

    Dali pra frente lembro que o Yahoo passou a permitir uma série de mudanças e cresceu o conceito de Web 2.0, as possibilidades do Second Life…

    É interessante a idéia de “deixar” a criatividade dos alunos fluir. Porém, pensando como pesquisador tenho vários questionamentos sobre este assunto. O principal (e você já sabe disso) diz respeito à AVALIAÇÃO. Estruturada, sistemática, consistente.

  4. João, veja que interessante: Escrevi o comentário acima antes de ler o texto em inglês, no qual você também fala sobre Avaliação. Muito interessante!

  5. João Mattar disse:

    Pois é, Illan, eu realmente não acho que a questão esteja resolvida. Mas não tenho dúvidas de que estamos vivendo um processo de mudanças, e precisamos no mínimo tentar entender o que está acontecendo. Prazer revê-lo por aqui!

  6. Pingback: De Mattar » Comunicação e Expressão - sexta semana de aula

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