Comunicação e Expressão – quinta semana de aula

Mais uma semana de aula, já foi praticamente 1/3 do percurso!

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Escolhi dois comentários (postados aqui no blog) que mostram que o meu objetivo com a disciplina está sendo atingido:

“Gostaria de comentar que está muito bacana a disciplina, deixando o aluno à vontade com muitas opções de atividades e facilitando no nosso aprendizado.”

“Achei muito interessante trabalhar sua materia na web, a informação está entrando a todo momento (vários inputs [...]

Estou gostando muito da matéria e da forma de lecionar (via laboratório) confesso que não havia tido aulas assim, nem no colegial e nem no ensino tecnico.”

Vamos lá, vamos fazer a diferença!!!!!”

Facilitar o aprendizado é o novo papel do professor – moderador e orientador, não mais o falador que detém o conhecimento, diz tudo e faz depósitos na cabeça do aluno.

Várias atividades disponíveis” é o que se chama de aprendizado distribuído – o aluno tem que se acostumar a aprender em diversos lugares, em qualquer lugar. E “deixar o aluno à vontade” significa respeitar também a idéia de estilos de aprendizagem distintos – alguns gostam mais de ler, outros mais de fazer exercícios, outros mais de escrever, outros mais de música, outros são mais visuais etc. Em função desses diferentes estilos de aprendizagem, cada um acaba percorrendo um caminho próprio no seu aprendizado – na Web e no mundo contemporâneo, não tem mais sentido tentarmos controlar o percurso do aprendizado, padronizá-lo e commoditizá-lo.

Vários inputs” completa as idéias de aprendizado distribuído e estilos de aprendizagem: como há várias atividades, em lugares diferentes, os alunos acabam recebendo e acessando informações em locais distintos, além da sala de aula (emails, avisos, textos, fóruns no Blackboard, blogs, exercícios, materiais multimídia, links etc.). Há sem dúvida um risco de haver uma sobrecarga de informações – mas o professor deve funcionar como um mediador para evitar isso, além de que temos de nos acostumar a lidar com essa sobrecarga de informações, comum para todos hoje, e principalmente com a idéia de que aprendemos hoje de diversas fontes, que brotam incessante e simultaneamente.

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De língua, estudamos preposições e crases.

À é a combinação da preposição “a” com o artigo feminino “a”, e portanto só pode exisitir antes de palavras femininas. Há alguns erros comuns no uso de crases, que podem ser facilmente corrigidos simplesmente lembrando dessa questão do feminino, como uso de crase antes de verbos (à fazer, à contar… – verbo não tem gênero!) e antes de palavras masculinas (à pé, à cavalo etc.). Além disso, a substituição do “a” por “para a”, ou pelo masculino (“ao”, trocando a palavra seguinte por masculina), resolve praticamente todas as dúvidas. Crase é um daqueles pseudo-problemas da língua, com o qual nos confundimos mais pelo medo do que pela seu grau efetivo de dificuldade.

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Fizemos a interpretação do Samba de uma nota só, que tínhamos ouvido pela primeira vez na aula passada. Vou fazer algumas gravações da música (só da melodia, só da harmonia, de tudo, com improvisação etc.) e colocar por aqui. É uma música interessante para estudar não só em jazz ou bossa nova, mas também em Comunicação, pois ela fala de amor, fala de pessoas que falam falam e não dizem nada, passa uma mensagem de simplicidade (não é preciso de muito para ser feliz, para passar uma mensagem etc.) e, ao mesmo tempo, fala também da melodia, de como a música está organizada (e, portanto, é altamente metalingüística).

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Como atividade para a semana, propus a análise da famosa comparação do Saussure, entre a língua e o jogo de xadrez, no seu genial Curso de Lingüística Geral. Como vários alunos ainda estão trabalhando na leitura e interpretação do texto, já que nesta semana propus a primeira atividade à distância para algumas turmas, falo da comparação por aqui na próxima aula. Mas de qualquer forma aqui vai o texto (ele está discutindo os conceitos de sincronia e diacronia, neste momento do livro):

Ferdinand de Saussure, Curso de lingüística geral, p. 104-105 (fico devendo a edição e os dados completos da referência, logo atualizo)

” … de todas as comparações que se poderiam imaginar, a mais demonstrativa é a que se estabeleceria entre o jogo da língua e uma partida de xadrez. De um lado e de outro, estamos em presença de um sistema de valores e assistimos às suas modificações. Uma partida de xadrez é como a realização artificial daquilo que a língua nos apresenta sob forma natural.
Vejamo-la de mais perto.
Primeiramente, uma posição de jogo corresponde de perto a um estado da língua. O valor respectivo das peças depende da sua posição no tabuleiro, do mesmo modo que na língua cada termo tem seu valor pela oposição aos outros termos.
Em segundo lugar, o sistema nunca é mais que momentâneo; varia de uma posição a outra. É bem verdade que os valores dependem também, e sobretudo, de uma convenção imutável: a regra do jogo, que existe antes do início da partida e persiste após cada lance. Essa regra, admitida de uma vez por todas, existe também em matéria de língua; são os princípios constantes da Semiologia.
Finalmente, para passar de um equilíbrio a outro, ou – segundo nossa terminologia – de uma sincronia a outra, o deslocamento de uma peça é suficiente; não ocorre mudança geral. Temos aí o paralelo do fato diacrônico, com todas as suas particularidades. Com efeito:
a) Cada lance do jogo de xadrez movimenta apenas uma peça; do mesmo modo, na língua, as mudanças não se aplicam senão a elementos isolados.
b) Apesar disso, o lance repercute sobre todo o sistema; é impossível ao jogador prever com exatidão os limites desse efeito. As mudanças de valores que disso resultem serão, conforme a ocorrência, ou nulas ou muito graves ou de importância média. Tal lance pode transtornar a partida em seu conjunto e ter conseqüências mesmo para as peças fora de cogitação no momento. Acabamos de ver que ocorre o mesmo com a língua.
c) O deslocamento de uma peça é um fato absolutamente distinto do equilíbrio precedente e do equilíbrio subseqüente. A troca realizada não pertence a nenhum dos dois estados: ora, os estados são a única coisa importante.
Numa partida de xadrez, qualquer posição dada tem como característica singular estar libertada de seus antecedentes; é totalmente indiferente que se tenha chegado a ela por um caminho ou outro; o que acompanhou toda a partida não tem a menor vantagem sobre o curioso que vem espiar o estado do jogo no momento crítico; para descrever a posição, é perfeitamente inútil recordar o que ocorreu dez segundos antes. Tudo isso se aplica igualmente à língua e consagra a distinção radical do diacrônico e do sincrônico. A fala só opera sobre um estado de língua, e as mudanças que ocorrem entre os estados não têm nestes nenhum lugar.
Existe apenas um ponto em que a comparação falha: o jogador de xadrez tem a intenção de executar o deslocamento e de exercer uma ação sobre o sistema, enquanto a língua não premedita nada; é espontânea e fortuitamente que suas peças se deslocam – ou melhor, se modificam; (…) Para que a partida de xadrez se parecesse em tudo com a língua, seria mister imaginar um jogador inconsciente ou falto de inteligência. Além disso, esta única diferença torna a comparação ainda mais instrutiva, ao mostrar a absoluta necessidade de distinguir em Lingüística as duas ordens do fenômeno. Pois se os fatos diacrônicos são irredutíveis ao sistema sincrônico que condicionam, quando a vontade preside a uma mudança dessa espécie, com maior razão sê-lo-ão quando põem uma força cega em luta com a organização de um sistema de signos.”

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As turmas já criaram seus blogs, e vamos continuar discutindo quais são as funções de um blog, como ele pode ser útil em educação etc. Mas vamos começar a falar também de outra ferramenta, o Twitter, micro-blog, um misto de chat, MSN, blog e redes sociais (como o Orkut). Quero testá-lo como ferramenta educacional durante o semestre. Coloquei um post sobre o Twitter nesta semana, Easter Twitter.


E vamos também partir para os vídeos. Coloquei nesta semana dois posts sobre o YouTube, ferramenta sobre a qual falamos em sala também nesta semana: YouTube na Educação e Aulas no (e sobre) YouTube. Gostaria que produzíssemos em conjunto alguns vídeos durante o semestre, para postar no YouTube. Idéias? Já temos algumas fotos de erros de ortografia tiradas pelos alunos, que podemos usar.

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8 respostas a Comunicação e Expressão – quinta semana de aula

  1. Ricardo Targino disse:

    Fala professor…sou seu aluno no curso de engenharia civil.
    Que beleza de blog em?? informação aqui pelo jeito não falta.
    Essa idéia do you tube é muito legal, nós podemos montar um vídeo de fotos só mostrando os diversos erros na língua portuguesa, e de fundo poderíamos por uma música contendo erros também,acho que ficaria bem legal.
    Um abraço

  2. João Mattar disse:

    Ricardo, vamos montar um vídeo sim, quem sabe essa será a nossa N2. Eu só não quis começar a disciplina com uma proposta de vídeo pronta, porque não sabia muito bem o que iria acontecer, mas as coisas estão caminhando bem. Vamos começar a falar do vídeo nas próximas aulas.

  3. Wellington disse:

    Ola pesooal

    Acho muito legal essa ideia de fazer um video, apontando os erros mais comum na nossa lingua

    Abraços

  4. Jaime Albuquerque disse:

    Prof. cheguei agora da faculdade, olha a notícia:
    “Colip propõe que reforma ortográfica aconteça em 2009, com ou sem Portugal”

    site: http://educacao.uol.com.br/ultnot/2008/03/27/ult105u6351.jhtm

    Algo que estavamos falando nas aulas passadas.

  5. João Mattar disse:

    Bom, pelo menos então durante o nosso curso, nada muda!!

  6. Pingback: De Mattar » Comunicação e Expressão - sexta semana de aula

  7. Danielle disse:

    Boa Tarde professor!
    Tudo bom?
    Bem não nos conheçemos, mas gostaria de lhe perguntar uma coisinha: Qual é a diferença entre “Comunicação e Expressão” e “Comunicação Expressão”?
    Estou no meio de uma escolha de opitativa, e estou em dúvida!
    ME AJUDE!!!!
    Obrigado
    bjos

  8. Joao Mattar disse:

    Danielle, voce precisa checar no programa, pelo titulo eu nao sei te dizer. Talvez haja diferenca na carga horaria. Procure conferir os programas e qualquer coisa me pergunte de novo por aqui. Abracos

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