E tem gente que ainda não se rendeu ao uso da web em educação!
Comecei por aqui um resumo semanal das aulas que ministrei neste semestre na Anhembi Morumbi, na disciplina Comunicação e Expressão, mas acabei perdendo um pouco o fôlego. Fico devendo, de qualquer forma, um fechamento incluindo todas as semanas que ficaram em aberto.
Depois de uma longa pesquisa, escolhi um texto para usar na prova N2 da disciplina, Leitura e Escrita na Era das Mídias, do Sérgio Luiz A. da Rocha, Doutorando ProPEd/UERJ, que foi apresentado no último ENDIPE. O texto trata, mesmo que não diretamente, de um tema que discutimos durante o curso, a influência do Internetês na escrita da nova geração.
Mandei um email para o Sérgio hoje e hoje mesmo ele me respondeu, aceitando participar por aqui de um debate sobre o texto, com os meus alunos (que poderão então debater o texto que será usado na prova com o próprio autor) e quem mais aparecer por aqui. E autorizou também disponibilizar o texto aqui no blog.
Então, está aberto o debate!
Sérgio, eu reli seu texto e tive certeza de que fiz uma ótima escolha!
Você poderia falar um pouco mais do ecossistema comunicativo do Martín-Barbero?
O que você acha da alfabetização que ainda é a marca das nossas escolas, centrada apenas na leitura e escrita (texto)?
No curso, praticamente todos os alunos que foram questionados disseram que o internetês prejudica a escrita e o domínio da língua, e o seu texto questiona isso. Pode falar um pouco disso também?
Eu não conhecia as fanfics, nem as web novelas e as fan arts. Achei muitíssimo interessante, queria saber quem já acompanhava esse tipo de comunidade, e alguns sites para a gente consultar. É incrível porque os participantes lêem muito, vêem os filmes e ainda escrevem muito, no caso do Harry Potter, e inclusive num processo de criação muito interessante, grupal. Penso que não só os autores não se preocupam com questões de direitos autorais, como devem incentivar essas comunidades, pois funcionam como um marketing indireto.
Por fim, você pode falar um pouco mais do público da oitava série que você analisou. Se mudarmos de classe social, uma escola pública, as práticas também mudariam?
Sei que para comentar tudo isso daria um outro artigo, então sinta-se à vontade para comentar o que puder.
Olá João,
Fico extremamente feliz com seu elogio.
Gostaria de inciar nossa conversa lembrando que todas estas reflexões são o resultado de um esforço coletivo do grupo coordenado pela professora Maria Luiza Magalhães Oswald do ProPEd/UERJ, que tematiza a relação do jovens com os produtos da indústria cultural japonesa (mangás, animês e vídeo-games).
Acho também interessante que iniciemos nossa conversa a partir de sua proposta de pensar a questão do ecossistema comunicativo.
De maneira geral, e simplista, podemos dizer que Barbero chama a atenção para o fato de que na atualidade vivemos imersos em um mar de informação e de imagens, proporcinados pela expansão das mídias.
Daí podemos derivar uma série de conseqüências. Talvez a mais importante é a de que o acesso ao mundo hoje não se faz mais apenas através do impresso, da escrita.
Uma criança ao entrar na escola, já possui uma gama enorme de informações, derivadas de seu contatos com os mais variados tipo de mídias (e que não para de crescer durante o período escolar).
Enquanto a cultura do impresso se organiza de forma linear e centralizadora, exigindo a habilidade da leitura, as informações disponibilizadas pelas mídias o são de forma não linear, descentralizadas e não exigem, ao menos em princípio, habilidades específicas.
A escola, e como professor em séries fundamentais tenho de reconhecer em minha própria prática esta traço, constitui toda a sua estratégia a partir da centralidade do escrito.
Barbero é um autor muito importante porque acentua o ponto crítico desta questão, ou seja, que tal organização escolar, fundada no escrito, estrutura um determinado modo de produção do saber.
Esta questão é crítica porque o autor aponta para a necessidade de compreendermos como as novas gerações estão contruindo estas novas formas de acesso ao mundoe , portanto, novas formas de organizar a produção do saber. Neste sentido, o uso pedagógico dos meios é um paliativo que não toca a questão de fundo. Qual seja, de perceber as novas formas de apropriação do conhecimento que estão sendo gestados a partir da relação das novas gerações com este ecossistema comunicativo.
Cabe salientar que Barbero não advoga o fim da escrita. Ele reconhece a importância do trabalho escolar de alfabetização a partir da leitura e da escrita, mas uma alfabetização que não se feche sobre si própria, abrindo uma possibilidade de dialogo com outras forma de pensar a realidade que incluam o audiovisual e a informática.
Sobre a questão de que há uma relação direta entre o uso do internetês e a deficiência no uso da norma culta, penso que devemos relativizar um pouco mais nossas opiniões. Penso sempre no espaço e na sua linguagem específica. Há uma forma específica de comunicação em espaços tais como MSN, Orkut, etc. Assim, como uma pessoa que escrevia um telegrama era forçada a utilizar uma linguagem específica.
O problema pode ocorrer sim para aqueles que só utilizam estes suportes e escrevem constantemente em seu código, não exercitando outras formas de escrita. Ou seja, o problema não é do espaço, mas sim de seu uso reccorrente é único. Jovens que escrevem fanfics com os quais convivi escrevem muito bem sem utiliar o internetês.
Para os interessados em ler algumas fanfics indico dois sites. O http://www.fanction.net que congrega fanfics de séries de TV, animês, filmes, livros e o http://www.floreioseborroes.net especializado em Harry Potter.
Quanto a questão do público não saberia responder. De qualquer forma, mesmo que não existam estas práticas específicas como as fanfics, devemos considerar, como afirma outro autor, Roger Chartier, que há diferentes formas de escrita e de leitura. Alunos de escola pública escrevem em seus orkuts, mandam também e-mails para seus amigos, respondem aos velhos cadernos de perguntas. Estas práticas também devem ser valorizadas como formas de leitura e escrita.
Nossa…
Espero ter colaborado para nossa reflexão conjunta. Acho que esta sendo um execício bem legal refletir com vocês sobre estas questões.
Obrigado de verdade por esta oportunidade.
Espero que tenha contribuído para esquentar o debate.
Um grande abraço
Sérgio Rocha
Sem dúvida!
Na página que criei para cobrir o Congresso da ABED do ano passado, em Curitiba (http://blog.joaomattar.com/13abed/), comentei o trabalho “Orkut na Escola Pública Uma Nova Proposta para o Ensino de Língua Inglesa”, da Rita de Cássia Boldarine. Continuei depois acompanhando o trabalho dela, é muito interessante.
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