Horizon Report 2009

JOHNSON, L.; LEVINE, A.; SMITH, R. The 2009 Horizon Report. Austin, Texas: The New Media Consortium, 2009. Resenha de João Mattar.

Eu tinha analisado por aqui o Horizon Report 2008, relatório produzido em conjunto pelo NMC – New Media Consortium e pela Educause, e agora está disponível o 2009, em versões web e pdf.

Executive Summary

O Horizon Report 2009 é o sexto da série, que procura identificar e descrever tecnologias emergentes que devem causar um impacto amplo no ensino, no aprendizado, na pesquisa e na expressão criativa em organizações focadas no aprendizado. No horizonte de 1 ano, são mencionadas dispositivos móveis e computação nas nuves; de 2 a 3 anos, geo-tudo e web pessoal; de 4 a 5, aplicações com consciência semântica e smart objects.

O relatório aponta também tendências essenciais que devem afetar a aprendizagem nos próximos anos:

(a) a crescente globalização continua a afetar a maneira como trabalhamos, colaboramos e nos comunicamos, e as tecnologias desempenham um papel primordial nessa tendência;

(b) a noção de inteligência coletiva está redefinindo como pensamos sobre ambiguidade e imprecisão;

(c) experiências e afinidade com games como ferramentas de aprendizagem é uma característica universal crescente entre aqueles que entram na educação superior e na força de trabalho – é mencionada a pesquisa Teens, Video Games, and Civics, que mostra que o uso de games é praticamente universal entre os jovens (confira o questionário). Por isso, os métodos tradicionais de estudo não conseguem mais envolver os alunos.

d) ferramentas de visualização têm tornado a informação mais significativa e os insights mais intuitivos, sendo então necessária uma alfabetização visual;

e) telefones móveis têm se beneficiado de inovações sem precedentes, em função da competição global.

São também apontados desafios críticos para as organizações de aprendizagem:

a) Há uma necessidade crescente de instrução formal em novas habilidades essenciais, incluindo alfabetização em informação, alfabetização visual e alfabetização tecnológica. Os alunos precisam ser adeptos da tecnologia, colaborar com colegas, compreender design básico e códigos.

b) Os alunos são diferentes, mas muito material educacional não é. Métodos de avaliação, de ensino, ferramentas e materiais precisam se modificar para se adequar ao aluno de hoje.

c) Mudanças significativas estão ocorrendo nas maneiras como a pesquisa acadêmica tem sido conduzida, havendo a necessidade de inovação e liderança em todos os níveis da academia. O formalismo e a estrutura da pesquisa acadêmica soam estáticos e mortos para os novos alunos.

d) Espera-se, especialmente da educação pública, que meçamos e provemos, por avaliação formal, que nossos alunos estão aprendendo.

e) A educação superior está enfrentando uma grande expectativa para usar dispositivos móveis e oferecer serviços, conteúdo e mídia através deles. Essa é uma oportunidade para a educação superior atingir seus participantes de uma maneira nova e interessante.

No mês que vem (03/2009) deve sair o primeiro Horizon Report para a educação básica e o ensino médio.

Time-to-Adoption: One Year or Less

Mobiles

Um único dispositivo móvel pode hoje fazer ligações, tirar fotos, gravar áudio e vídeo, armazenar dados, música e vídeos, e interagir com a Internet, tornando questionável a necessidade de um computador pessoal. Dispositivos móveis nos mantêm em contato com informações e atividades que desejamos enquanto estamos em movimento.

São mencionados aplicativos como TinEye Music e Snap-Tell, que gravam fotos, Shazam, que grava música, mas oferecem também diversos serviços complementares.

São citados vários exemplos de uso de dispositivos móveis em educação: SpaceTime e QuickGraph, calculadoras gráficas que mostram gráficos em 2D e 3D; iStanford e iGFU, aplicativos que fornecem uma série de informações sobre o campus universitário; iPhone in Medicine faz uma revisão de recursos que podem ser utilizados em medicina; MAAP – Mapping the African American Past agora inclui uma versão para mobile; a Seton Hall University conduz Mobile Initiatives sobre o uso de mobiles no ensino, aprendizagem e redes sociais; pesquisadores do Centre for Applied Research at SIM University desenvolveram o SMSRS – Short Messaging Service Response System, que incorpora SMSs dos alunos aos sites dos cursos.

Sugestões de leituras:

The Future of the Internet III – previsões sobre tecnologia e seus papéis para o ano de 2020.

Next Generation Mobile Networks: Industry Leaders on Challenges Ahead – resumo de comentários de vários líderes da indústria em uma sessão na NGMN Industry Conference em Junho de 2008.

Time to Leave the Laptop Behind – artigo que explora a tendência, entre homens de negócios que viajam, de utilizar mais smartphones do que laptops.

Voice in Google Mobile App: A Tipping Point for the Web? – post que discute reconhecimento de voz para ser utilizado com Google Mobile App for iPhone.

Delicious: Mobile – recursos adicionais para este tópico do relatório.

Cloud Computing

Muitos aplicativos web distribuem seu poder de processamento, aplicações e sistemas por várias máquinas, tornando o armazenamento de dados e ciclos de processamento extremamente baratos. São mencionados 3 tipos distintos de serviços de computação nas nuvens.

As reflexões que o relatório traz sobre o uso da computação nas nuvens para a educação, explorei com o Valente no nosso Second Life e Web 2.0 na Educação. São mencionadas 2 ferramentas que ainda não explorei: splashup, para edição online de fotos; e SlideRocket, para compartilhamento de apresentações.

São mencionados vários exemplos de usos educacionais: Science Clouds, um projeto voltado para ciências; Earthbrowser, para meteorologia; Cloud Computing Testbed, da University of Illinois at Urbana-Champaign, em computação; Into the Cloud: Our 5 Favorite Online Storage Services, post sobre serviços de armazenameto de arquivos; Open Science Grid, voltado para ciências; Parallel Computing with Mathematica 7, computação; e Virtual Computing Lab at North Carolina State University, também computação.

Leituras complementares:

Cloud Computing Expo: Introducing the Cloud Pyramid – artigo sobre os tipos de serviços permitidos pela computação nas nuvens.

How Cloud Computing is Changing the World – artigo sobre as mudanças em nosso pensamento geradas pela computação nas nuvens.

The Cloudworker’s Creed – post muito interessante que introduz o conceito do cloudworker (trabalhador nas nuvens), o profissional da informação do futuro.

The Tower and the Cloud: An EDUCAUSEAUSE eBook, livro indispensável de que já tinha falado no post Web 2.0 na Educação.

Use of Cloud Computing Applications and Services – relatório sobre usuários de aplicações baseadas nas nuvens.

Web 2.0 and Cloud Computing – post que descreve 3 tipos de computação nas nuvens e considera o impacto de cada um nos negócios.

Delicious: Cloud Computing – recursos adicionais sobre o tópico.

Time-to-Adoption: Two to Three Years

Geo-Everything

Tudo na Terra tem uma localização que pode ser expressa por 2 coordenadas, e com as novas ferramentas de geolocalização é muito simples determinar e capturar a localização exata de objetos físicos (e de onde, p.ex., fotos são tiradas), e então trabalhar com esses dados. São mencionados aplicativos como Radar, Buzzd, Trak, Twinkle, Collage, Mobile Fotos, Photo Finder – ATP Electronics, Nikon GP-1, GPS Trackstick, Google Maps, Google Earth e Flickr Maps.

Geolocalização automática e a posterior manipulação dos dados obtidos abre oportunidades para pesquisas de campo em ciências, ciências sociais, estudos de observação social, medicina e saúde, estudos culturais e outras áreas. Bancos de dados abertos como os listados na Academic Info podem agora ter seus dados visualizados em uma variedade de formatos. É também mencionado Drop.io Location, recurso para dispositivos móveis. São ainda mencionados usos educacionais em literatura, medicina e aprendizado baseado em games (cf. Local Games Lab).

Várias aplicações e referências para geo-tudo são mencionadas: CommunityWalk, Geocoding with Google Spreadsheets (and Gadgets), Geonames, The Mapas Project, Mediascape, Next Exit History e Paintmap.

Leituras adicionais: 7 Things You Should Know about Geolocation, Geotagging Photos to Share Fieldtrips with the World, How Your Location-Aware iPhone Will Change Your Life, Location Technologies Primer, Notes from the Classroom: Exploring Literary Spaces via Google Earth e Delicious: Geo-Everything.

The Personal Web

O volume de informações disponível na web é hoje imenso, e para lidar com isso há ferramentas e serviços para organizar e configurar esse conteúdo dinamicamente como widgets, tags, feeds, agregadores etc., permitindo que o usuário customize a web de acordo com seus próprios interesses, criando ambientes pessoais de aprendizagem.

São mencionados serviços de produção colaborativa com foco em educação, como Flat World Knowledge (de que já falei por aqui) e WeBook (em que você produz um texto colaborativamente primeiro na web, que depois pode ser publicado caso seja bem avaliado). Apesar dos problemas relacionados a direitos autorais, propriedade e revisão, essas ferramentas de produção de conteúdo colaborativas têm sido cada vez mais utilizadas. Professores podem editar textos, e alunos e professores podem desenvolver produções em grupo. São também mencionados os “catálogos de links online”, como Delicious e Diigo, que utilizam tags para salvar os links, e Zotero, para organizar referências bibliográficas em browsers. Swurl e FriendFeed organizam o material publicado por uma pessoa em um stream de atividade, permitindo que os alunos, p.ex., organizem seus porfólios online. Um usuário pode ser também compartilhado por todos em um curso. Um ferramenta em desenvolvimento para esses objetivos, voltada para a educação, é FRESCA, da California State University.

O site do curso Advanced Library Research, no Buffalo State College, fornece informações básicas sobre como utilizar ferramentas para bookmarks acadêmicos e aplicativos portáteis. O Open Publishing Lab, no Rochester Institute of Technology, desenvolve uma série de projetos interessantes em novas mídias e publicações. Uma pesquisa na Montclair State University está investigando o potencial do uso de PageFlakes para ensino de italiano.

São ainda mencionados vários exemplos de aplicações educacionais da web pessoal:

First-Year Composition at UWF é o site da University of West Florida para ensino de composição.

Omeka é uma plataforma muito interessante de publicação, gratuita e de código aberto, para pesquisadores, bibliotecários, arquivistas, profissionais de museus, educadores e entusiastas culturais.

OpenSophie é um software de código aberto para produção e leitura de documentos midiáticos em rede.

São ainda mencionados algumas comunidades de blogs acadêmicos em universidades, como: UMWBlogs, da University of Mary Washington; UcalgaryBlogs, da University of Calgary; Blogs@Baruch, do Baruch College, City University of New York; The Blogs at Penn State, da Pennsylvania State University; e UBC Blogs, da University of British Columbia.

SmARThistory, um site bem interessante de história da arte, que se propõe a ser um substituto de livros-texto para a disciplina.

Stories that Fly, histórias digitais sobre aviação geral.

Leituras adicionais sugeridas:

Datagogies, Writing Spaces, and the Age of Peer Production, artigo que descreve o uso de tecnologias p2p por professores para criar e discutir pedagogia e recursos, sugerindo que um tipo diferente de aprendizado ocorre nessas comunidades. Há no artigo uma lista de diversos wikis utilizados para educação.

The Evolution of Personal Publishing, de que eu já tinha falado por aqui em Blogs, Redes Sociais e MicroBlogs.

Free Digital Texts Begin to Challenge Costly College Textbooks in California, artigo que discute a posição dos fornecedores de textos digitais de código aberto e gratuitos no mercado geral de livros-texto.

Personal Learning Environment Diagrams é uma coleção muito interessante de representações visuais de diferentes descrições de ambientes pessoais de aprendizagem, apresentadas em uma página wiki.

A Widget Onto the Future descreve widgets e apresenta exemplos de alguns desenvolvidos especificamente para a educação.

Delicious: The Personal Web expande dinâmica e colaborativamente os recursos apresentados neste tópico.

Time-to-Adoption: Four to Five Years

Semantic-Aware Applications

Aplicações com consciência semântica são ferramentas desenvolvidas para utilizar o significado da informação na Internet para fazer conexões e fornecer respostas que exigiriam muito mais tempo e esforço. Há abordagens com e sem tags para o desenvolvimento dessas ferramentas.

São mencionadas ferramentas de busca: TrueKnowledge, Hakia, Powerset, SemantiFind e SearchMonkey; ferramentas para gerar conexões entre pessoas ou conceitos: Calais, Zemanta, TripIt; e para propaganda: Dapper MashupAds e BooRah.

Aplicações em educação são ainda raras, mas são mencionadas: Twine – uma rede social organizada ao redor de tópicos de interesse, WorldMapper – que produz mapas que se modificam visualmente em função dos dados que eles representam, as pesquisas desenvolvidas no Multimodal Information Access and Synthesis (MIAS) Center na University of Illinois at Urbana-Champaign, os projetos da Fundación Marcelino Botín em Santander – Espanha, o Powerhouse Museum of Science and Design em Sydney – Austrália que tem utilizado tags em seu catálogo de obras, o projeto protótipo de direito da Autonomous University de Barcelona, Cleveland Clinic que utiliza conceitos semânticos da web para buscar dados de pacientes, Semantic Mediawiki que é uma extensão do Mediawiki, Semantic UMW da University of Mary Washington, SemantiFind – um plugin de browser que funciona com a barra de buscas do Google, e SIOC.Me – ferramenta de visualização semântica.

Leituras complementares sugeridas:

An Introduction to the Semantic Web, um vídeo do YouTube:

On the Cusp: A Global Review of the Semantic Web Industry, post.

The Semantic Web in Education, artigo.

Semantic Web: What is the Killer App?, post.

Yahoo Embraces the Semantic Web — Expect the Internet to Organize Itself in a Hurry, post.

Delicious: Semantic-Aware Applications, recursos adicionais sobre este tópico.

Smart Objects

Um objeto que funciona como um link entre o mundo real e o mundo da informação, que tem consciência de si mesmo e de seu ambiente. Um objeto físico que inclui um identificador único que pode rastrear informações sobre o objeto. Pode-se visualizar um futuro em que as linhas entre um objeto físico e a informação digital tornar-se-ão pouco claras. Pode-se falar da “internet das coisas”, já que a busca por objetos no mundo real poderá ser realizada da mesma forma que na Internet.

Tikitag e Violet’s Mir:ror oferecem leitores de tags USB baratos, e as informações dos objetos (como livros) podem então ser manipuladas por computadores.

Bibiliotecas são um alvo óbvio para esses aplicativos. O projeto ThinkeringSpace, do Illinois Institute of Technology’s Institute of Design, tem experimentado além de smart tags, adicionando informações aos livros.

Semapedia é um projeto que pretende conectar objetos físicos à informação disponível na wikipedia utilizando códigos QR (quick response). O Attendee Meta-Data Project foi desenvolvido durante a 2008 HOPE – Hackers on Planet Earth conference para conectar as pessoas.

Pesquisadores e alunos na University of Arkansas criaram um ambiente de hospital simulado no Second Life para testar as implicações práticas e sociais de utilizar taggs e rastrear pacientes, funcionários, produtos etc. Na Purdue University, pesquisadores desenvolveram um pequeno smart object para injetar em um tumor.

Vários outros exemplos são mencionados: Arduino, uma plataforma; Home-Based Health Platform, para acompanhar pacientes; iPhone in Education: Using QR Codes in the Classroom, que explica e demonstra o uso de código QR para passar lições de casa para os alunos; UW Team Researches a Future Filled with RFID Chips, que está explorando os aspectos positivos e negativos de rastrear os movimentos de pessoas em um ambiente social.

Leituras adicionais sugeridas:

Internetting Every Thing, Everywhere, All the Time

The Net Shapes Up to Get Physical

Thinkering Spaces in Libraries

When Blobjects Rule the Earth

Delicious: Smart Objects

Enfim, um senhor relatório, que exige algumas horas de leitura, e várias para explorar todos os recursos mencionados.

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4 respostas a Horizon Report 2009

  1. Caramba De Mattar!!

    Este texto já é um clássico no seu blogue! devidamente guardado no delicious :-0

    abs

  2. Já estou referenciando o dito cujo na minha bibliografia da minha Tese de Doutorado !!
    Simplesmente EXCELENTE …
    Resenha e indicações excepcionais, como de sempre JOÃO !!
    Mais uma vez, PARABÉNS …

  3. Pingback: De Mattar » Blog Archive » M-learning revisitado

  4. Pingback: De Mattar » Blog Archive » Horizon Report 2011

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