A Edexcel é uma empresa inglesa que fornece diversos tipos de certificação e com a qual a ABED organizou uma parceria para oferecer certificação a profissionais de EaD no Brasil.
Em Maio de 2009, durante o 7º SENAED, foi realizada uma apresentação da parceria, já firmada. Mailings e o site da ABED, além de outros eventos e meios de comunicação, foram também utilizados para ratificar a parceria.
Desde que comecei a ouvir falar da parceria, preferi esperar um pouco para ver como o processo todo seria conduzido e como o mercado valorizaria essa certificação. Entretanto, durante a apresentação da parceria no 15º CIAED, nesta semana em Fortaleza, e na Assembleia da ABED realizada logo em seguida, houve uma reação em cadeia.
Em primeiro lugar, é possível questionar a necessidade (e a legitimidade) de a ABED certificar profissionais de EaD no Brasil. Outras associações similares à ABED fazem isso ao redor do mundo? O mercado e os profissionais de EaD brasileiros precisam de mais um tipo de certificação, além dos cursos livres, cursos de especialização, mestrados, doutorados etc. que já são oferecidos no país?
Se a resposta for sim a essas perguntas, seria então necessário perguntar – a própria ABED não poderia fornecer essa certificação? A ABED não é (ou deveria ser) uma associação que reúne os principais profissionais de EaD do país? Esses profissionais, devidamente organizados, não seriam capazes de coordenar um projeto de certificação? Não seria possível que um comitê organizado pela própria ABED conduzisse esse processo de certificação, valorizando assim seus próprios associados, pessoas físicas e jurídicas?
Mas digamos que não; a ABED, seus diretores, seus associados etc. não são capazes de certificar ninguém em EaD. Poderíamos ainda perguntar: não temos órgãos competentes no país que poderiam apoiar a ABED? Para citar alguns, Universidades (inclusive mais voltadas ao mercado corporativo, como FGV, IBMEC, cursos de especialização, MBAs etc.), MEC/SEEd, Capes, empresas (como SENAI, Sebrae, SESI etc. que realizam trabalhos maravilhosos em EaD) etc.? A ABED não poderia fazer uma parceria com essas instituições?
Se a resposta a essa pergunta for não – nem a ABED consegue certificar sozinha, nem consegue certificar em parceria com essas instituições nacionais, que são então consideradas incapazes de certificar profissionais de EaD no nosso país – talvez se justificasse a necessidade de recorrer a uma empresa estrangeira.
O primeiro problema é que todos esses passos parecem ter sido pulados; não houve discussão com a comunidade sobre nenhum desses pontos, essas questões não foram levantadas. E, pelo que ficou claro na Assembleia da ABED durante o CIAED em Fortaleza, nem mesmo os diretores da ABED foram consultados (nem devidamente informados) sobre as reflexões em relação a todas essas perguntas e sobre essas decisões.
Tudo isso, obviamente, coloca sob suspeição o processo de Certificação que está sendo oferecido pela Edexcel em conjunto com a ABED.
Mas, mesmo imaginando que todas essas reflexões, conduzidas de maneira democrática, levassem à conclusão de que seria necessário a ABED recorrer a uma empresa estrangeira para realizar certificações de EaD no Brasil, ainda seria preciso perguntar: por que não escolher a empresa estrangeira democraticamente, num processo similar a uma licitação? E por que, aliás, não escolher uma empresa focada especificamente em certificação na área de EaD?
A Edexcel é uma empresa privada com fins lucrativos. Seria essa a melhor escolha? Não há outras opções no mercado internacional que poderiam orientar a ABED em um processo de certificação?
Todos sabem que decisões “democráticas” podem se alongar infinitamente em longas e ineficientes discussões (um dos custos da colaboração), mas houve uma unanimidade de que no mínimo os processos precisam ser mais transparentes. O que se questionou em todos os cantos durante o CIAED, na última quarta-feira (após as discussões que ocorreram na terça à noite), é se os caminhos para essas decisões não deveriam ser mais explícitos, possibilitando a participação de mais pessoas, associações, instituições e empresas, já que a oferta de uma certificação pela ABED é um assunto extremamente sério, que pode influenciar a paisagem da EaD no país.
O que eu fiz, até aqui, foi resumir um pouco o desconforto que ouvi pelos corredores do Hotel Praia Centro na última quarta-feira.
Outra questão foi levantada com insistência: quais critérios foram utilizados para escolher as pessoas que estão participando do processo de certificação, pela ABED, considerando-se principalmente que os diretores da ABED não foram consultados? Não seria necessário, independente do processo e da forma de certificação adotada, e da utilização ou não da parceria com uma empresa (privada ou não, nacional ou não), montar um conselho amplo e representativo da EaD no Brasil para garantir a legitimidade do processo? Um time que incluísse pessoas de diferentes setores e inclusive de diferentes Estados? Quem escolheu quem vai nos avaliar, para emitir o certificado – e como essa escolha foi realizada?
Enfim, por tudo isso, a Assembleia da ABED decidiu sabiamente que o processo deveria ser discutido em uma reunião de diretoria. Ou seja, o processo de certificação está temporariamente suspenso, e a reunião será na próxima sexta, 09/10. Talvez nenhuma das decisões tomadas durante o processo seja ilegal, mas foi quase unanimidade a avaliação de que o processo está contaminado. Então, esperamos que a ABED cancele o que foi feito até agora, mesmo levando-se em consideração o custo e o trabalho das pessoas envolvidas, e inicie uma discussão mais democrática de como deve ser conduzida uma certificação oferecida pela ABED – questionando, inclusive, se ela se faz necessária.
A ABED terá, assim, a oportunidade de corrigir um erro cometido, pois ela tem obviamente responsabilidade em relação a seus associados e inclusive ao mercado de EaD no Brasil, e não pode sinalizar para o mercado com uma Certificação que não foi discutida nem mesmo com seus diretores. A passagem a seguir está disponível em seu site:
“4. Qual a importância em obter o certificado ABED&Edexcel de Gestor de Programas de Educação Flexível e a Distância?
O certificado confere ao outorgado o reconhecimento, pela comunidade de profissionais brasileiros de educação a distância, da demonstração de aptidão para executar satisfatoriamente atividades como gestor em programas de educação a distância. Além do Brasil, a chancela garante portabilidade e reconhecimento internacional das competências certificadas no mercado de trabalho de diversos países da Comunidade Européia, Estados Unidos, África do Sul, Emirados Árabes, China e Índia. “
Ora, que reconhecimento o certificado conferirá ao outorgado, pela comunidade de profissionais brasileiros de EaD, se nem mesmo os diretores da ABED foram consultados sobre o processo? Como é possível afirmar que o certificado conferirá ao outorgado “a demonstração da aptidão para executar satisfatoriamente atividades como gestor em programas de educação a distância” se não houve discussão com a comunidade sobre a certificação? O que significa “portabilidade e reconhecimento internacional” na Comunidade Europeia, nos Estados Unidos, África do Sul, Emirados Árabes, China e Índia – não seria importante deixar isso mais explícito? É a ABED que está afirmando isso para todo o mercado de EaD no Brasil, e esse tipo de compromisso não pode, obviamente, ser assumido sem que importantes pessoas e instituições de EaD no país tenham participado do processo para a oferta de Certificação.
Fiz aqui um resumo do que ouvi em off durante o CIAED. Sinto-me bem à vontade e imparcial de escrever porque tenho participado ativamente das atividades da ABED. A questão não é pessoal nem uma briga de interesses pessoais ou comerciais, é uma questão de a ABED demonstrar sua grandeza, assumir um erro cometido e, caso assim entenda sua diretoria, seus associados e/ou mesmo a comunidade de EaD no Brasil, reiniciar um processo de certificação mais forte e legitimado do que o que foi promovido neste primeiro momento. Principalmente neste momento em que a SEEd/MEC tem se mostrado democrática e extremamente aberta a sugestões da comunidade de EaD (vou ainda escrever sobre isso), trabalhando de uma maneira colaborativa, e temos a oportunidade de continuar a construção de um projeto coletivo.
Já li um post em um blog criado especificamente para discutir o tema, A ABED deve ser imparcial?, que levanta a interessante questão: “Você ficaria satisfeito em ver um concorrente seu, certificar ou não seus funcionários?”
Seria interessante que mais posts como esses, seguidos de comentários, proliferassem nos próximos dias, para que o maior número de pessoas pudesse expor sua opinião, e assim, na próxima sexta-feira, a ABED fosse capaz de fazer um levantamento de como o assunto está sendo encarado pela comunidade de EaD no país, para orientar sua decisão.
Eu acho super pertinente essas questões levantadas. Acredito que deva haver uma espécie de qualificação para os profissionais de EaD, e isso serviria também de guia para quem quer trabalhar na área. Eu mesmo adoraria ter um guia para saber as exigências necessárias para se qualificar. Mas espero que isso seja feito no Brasil e por brasileiros. Se não tivéssemos pessoas qualificadas para isso tudo bem, mas não é o caso.
Vou acompanhar as discussões nos próximos dias.
Um abraço,
Lys
Olá Prof. João. Parabéns pelo post. Como estive presente no 15 CIAED, e participei da assembléia e discussões, também não concordo que a ABED envolva empresas no processo de certificação exatamente para não viciar o processo.
Acredito que em todo o Brasil tenha profissionais de diversos segmentos e instituições que possam participar de um comitê de certificação de forma imparcial, sem o envolvimento de um ou outra empresa.
A ABED é grande o suficiente e possui insituições associadas competentes para contribuir em todo o processo. Não podemos desvalorizar o potencial brasileiro por esta certa mania de valorização do que é de fora.
Seu post, me fez questionar a necessidade e a legitimidade da certificação. Será mesmo que precisamos? E os profissionais que possuem pós latu e strictus sensus em EaD, isto por si só já não é uma certificação? Afinal de contas, o MEC já não certificou e deu aval a estas universidades e instituições que oferecem cursos nas áreas de EaD?
Não estaria sendo criado um novo mercado para de certa forma explorar os profissionais de EaD, pensando em uma possível valorização excessiva da certificação, e obrigando os profissionais já especialistas da área (com pós-graduação) terem de investir R$ 1500,00 para não se tornarem “expulsos” do mercado de trabalho?
Estas são minhas reflexões neste processo….
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Muito bom. Argumentos excelentes. Tomara que provoquem alguma alteração.
Sou contra qualquer envolvimento de empresa particular com fins lucrativos com a ABED (Associação Brasileira de Ensino a Distânicia) para certificar ou atuar de qualquer forma aproveitando da visibilidade e credibilidade desta instituição que foi conseguida com muito esforço e suor de todos profissionais que atuam no mercado de EAD.
No último congresso da ABED – 15º CIAED (Fortaleza) – houve uma racha na Assembléia no momento em que alguns integrantes da diretoria e associados em geral colocaram em pauta o modelo de Certificação que a ABED juntamente com a PEARSON / EDEXCEL estão querendo colocar no mercado de EAD. Após muitas discussões, ficou claro que este processo de certificação não obteve aval de vários diretores da ABED e o consenso é que o processo de certificação está contaminado, pois está envolvido e dependente de empresas particulares com fins lucrativos. Houve uma votação e o bom senso venceu. O assunto voltará para a diretoria da ABED que por sua vez irá conhecer todo o processo para se posicionar. A reunião extraordinária foi marcada para esta sexta – 09/10/09 ás 10:00hs em São Paulo na sede da ABED.
Na minha opinião, ver a ABED se curvando diante de uma empresa corporativa com fins lucrativos que usará da certificação de profissionais EAD um mote para formação de um mercado imenso com o objetivo de geração de caixa (afinal são R$ 1.500,00 por participante renováveis de 5 em 5 anos…), não dá! É achar que o mercado nacional é muito ingênuo! Essa certificação de gestores EAD é apenas o início. Depois terá a certificação de tutores, de designers instrucionais, de ilustradores, etc. Será um super mercado em formação e uma clientela garantida que confia e acredita na ações da ABED. Fiquei sabendo que algumas pessoas já montaram escolas de formação desses profissionais para ajudar a obter a certificação. Já é o mercado indireto se movimentando…. Nada contra a ABED realizar esta certificação, mas penso que deveria ser livre de qualquer interesse particular e com taxas que paguem apenas os custos, algo acessível a todos. Também me pergunto se o mercado precisa desse tipo de certificação, afinal logo logo teremos especializações e MBA´s para o segmento EAD nas universidades de renome o que certamente terá muito mais crédito.
O fato desta certificação ser válida no exterior, na minha opinião, só vai contribuir para que haja exportação de mão de obra qualificada, visto que o EAD do Brasil está entre os melhores do mundo.
Esse assunto está sendo amplamente discutido em blogs e no twitter.
Acho este debate democrático e convido a todos a postarem suas opiniões.
- http://certificacaoabed.blogspot.com/2009/10/abed-deve-ser-imparcial.html
- http://blog.joaomattar.com/2009/10/03/certificacao-abededexcelpearson/#comments
Bom dia.
Professor, eu estudo na Anhembi Morumbi e gostaria de entrevistá-lo a respeito de cyber-ativismo e jogos de empresa, passando desde a evolução do acesso à informação até mudanças da maneira de lecionar; os novos recursos didáticos.
A entrevista pode ser por e-mail ou pessoalmente, o que lhe for mais conveniente.
Favor entrar em contato no meu e-mail: a_rigonatti@hotmail.com
Ola Mattar,
Confesso que esta opção da ABEd de certificação me pegou de surpresa já no ano passado, mas como as coisas não caminharam desde o 14 ciaed, eu achei que o projeto estava amadurecendo junto com a EaD no Brasil. Agora, sem mais nem menos caiu do galho, assutando e arrepiando muitos profissionais da área.
A certificação tem sido uma opção/alternativa/imperativo em muitas áreas profissionais. Tenho um contato maior com as certificações ISO voltada a empresas e certificações PMI, IPMA, SCRUM, TenSteps para a área de projetos, além dos cinco S e dos belts na certificação de profissionais de diversas áreas.
Estas ceritficações tem, todas, a chancela de uma entidade internacional com representações, em diversoso formatos organizacionais, nos paises onde atua, e esta entidade é especifica de sua área de atuação.
Feitas estas considerações, por um não expert em certificação, não desceu redondo a alternativa de certificação disponibilizada pela ABED. Careço de detalhes quanto a certificação em EaD a nível internacional (o que acontece em outros paises?) e sua importância para profissionais e empresas do setor. Além de não ter informações sobre a necessidade desta ceritifcação ser requerida pelas empresas que atuam em/com EaD no Brasil, e se temos maturidade para esta solução de competências em EaD no Brasil.
Outra carcaterística importante das certificações (tomando o PMI e o IPMA an área de Gestão de Projetos como exemplo) é de que elas visam atestar a experiência e competências, em diversos níveis, do profissional/empresa além manter o profissional/empresa atualizado em sua área de atuação com programas de recertificação. Falo isto porque a formação superior pode ser necessária, mas não é suficiente para a certificação, visto que ao sair de uma graduação ou de uma pós graduação, o profissional esta formado teoricamente, com alguma prática em muitos casos, para começar a desempenhar uma função em sua área de formação. A certificação vai além disto, avaliando a questão de competências (não só conhecimento, mas habilidades, atitudes e experiência) necessarias para o profissional ter um reconhecimento diferenciado em sua área de atuação, exigido pelo mercado.
Vejo com bons olhos a inciiativa da ABED de abrir uma discussão (ou rediscussão segundo o email recebido da abed no dia de ontem) dentro de seus níveis estratégicos. Espero que nós, da comunidade, possamos acompanhar o desenrolar desta discucssão e mais do que isto, participar efetivamente ( e não como meras “tabulas rasas”) com sugestões dentro deste processo.
[]s
Olá Amigos da EaD,
Desde o primeiro suspiro desta certificação fiquei me perguntando, quem? como? quando? Para que vai servir? Daí, brilhantemente o prof. João esclarece ou, tenta, o que ocorreu nos bastidores do 15º CIAED. Também deixo a minha resposta a este post com a certeza que toda a comunidade da EaD no Brasil precisa discutir sobre o assunto e chegar a uma conclusão sobre a certificação e as possíveis certificadoras e também sobre o porque da certificação.
Um abraço a todos.
Fernando Maffra
São Luís – MA
Não concordo com a certificação. A CAPES já realiza um trabalho de avaliação de cursos de graduação e pós graduação. A certificação serviria para quê? Para tirar a credibilidade dos cursos já existentes?
Além do mais, a certificação foi praticamente imposta pois não contou com o aval da direção e muito menos dos associados! Acredito que a ABED possua uma grande lista de profissionais qualificados na área e que poderiam certamente realizar um trabalho de certificação CASO seja realmente necessário.
E se a direção e os associados decidirem que a certificação deve sair, na minha opinião isso precisa ser um processo democrático e que envolva as instituições mantenedoras da ABED…
Prezados,
gostaria de compartilhar algumas reflexões sobre a intenção do processo de certificação de gestores em EAD.
Me pergunto para que irá servir uma certificação em um mercado no qual não existem profissionais qualificados sobrando? Basta publicar uma vaga em um site de empregos na Internet para ver que não há pessoas com conhecimento e experiência mínimos neste perfil. Se houvessem profissionais sobrando, poderíamos começar a pensar em certificar, mas ainda assim, me pergunto, em que? Qual a metodologia de gestão de projetos educacionais que iria ser utilizada? Que práticas de gestão são específicas para EAD que justifiquem uma prova separada? Um argumento muito usado é o de que outras áreas possuem provas de certificação, mas, até onde conheço dessas provas, a certificação serve para afirmar que o profissional segue uma determinada metodologia, não que é bom ou ruim como gestor, mas sim que usa das práticas do PMI na gestão dos projetos, por exemplo. Assim, antes de se pensar em avaliar, temos que definir uma prática de gestão que funcione para todas as realidades de gestão e torcer para que muitos profissionais queiram utilizar a metodologia da certificação. Até lá, nossos gestores continuarão a se especializar em cursos de formação já aprovados pelo MEC e podem ser ótimos profissionais, sem a necessidade de um certificado que ateste isso.
Abraços, Julia Kenski
Prezado João, impecável histórico realizado em seu blog. Além das questões apontadas sobre o processo centralizador.
Acrescento que, além dessa forma “proprietária” de condução das decisões, há que se analisar a certificação em si. Para quê, por quem, em função do quê, servindo a quem.
Considero meu doutorado na área, numa Universidade (UFSC) cujo histórico de EaD é dos mais antigos desse país, fazendo inclusive escolas outras a partir dele, mais do que suficiente e legítimo para atuar na gestão em EaD.
Creio ser uma prepotência da ABED normatizar o que é da competência das instituições formadoras. Trata-se de uma postura corporativista, imatura para o momento da EaD. Desejaria que a ABED fosse capaz sim de orientar as competências de gestão em EaD, que aproveitasse o dinheiro dos congressos para produzir essa formação de competências e que pudesse, claro, ser consultada por quem desejar mais orientações sobre os papéis profissionais requeridos na educação a distância.
Receio a centralização, receio a meritocracia, receio a hierarquia e o poder que se pode colocar em mãos erradas, indo além das universidades, essas sim legitimamente credenciadas para formar-certificar.
A ABED que cuide do MEC, vigie, zele pelas boas avaliações, forme os avaliadores..está de bom tamanho.
Abs
M.Lucia
Minha visão sobre certificação é extremamente prudente. Quando em 1989 a Oracle me certificou como DBA, para a versão 6.0, a idéia era que eu estava apto a operar aquele produto no qual se deu a certificação. Ponto final.
A Oracle não perguntou se eu era bacharel em Computação, nem se possuia experiência nesse campo do saber. Simplesmente, paguei o curso, fui aprovado e certificado para a Oracle no mundo todo.
Em EAD a coisa é outra, não há produto. Estamos falando de uma modalidade de ensino. Não há consumidor ou cliente, mas sim aluno em aprendizagem. Sou capitalista convicto, mas como Adam Smith não sou burro.
Educação não é algo que se compre em gôndola de supermercado, menos ainda, seus profissionais não necessitam de certificação ISO ou algo do gênero. Não é por aí.
Peguei, como se diz, o bonde andando, mas pela clareza de suas colocações, consegui entender a amplitude do que se está discutindo e achei extremamente acurados os seus argumentos, e por essa razão concordo inteiramente que não se pode prescindir da retirada de pauta pela ABED do tema. Existem inúmeras empresas capacidtadas no Brasil para certificar (é necessário?) sem que se precise recorrer a uma entidade estrangeira ( e isso não é bairrismo). Muito menos sem haver antes uma ampla discussão com os atores envolvidos neste processo.
Olá Mattar,
Realmente. Suas colocações são exatas!
Só falta as empresas exigirem que seja colocado no topo dos sites um frame onde o mesmo passa a rastrear com o google analytics os visitantes do nosso site.
O fato mais sério é saber do processo de licitação para adotar tal procedimento. Os associados votaram ?
O Senac também foi pos este caminho quando instituiu um curso de Certificação Educacional Virtual onde o aluno obtia uma certificação de uma instituição do Canada, salvo engano meu.
Fico pensando agora que paguei em 2001 R$ 5.400 reais para fazer um curso na Brás Figueiredo para a plataforma do Windows 2000 Server e a cada ano seria obrigado a prestar o exame nos agenciados da Microsoft. Dois anos depois o curso não existia mais no extenso portfolio da empresa e ofereceram outro de atualização. Mas para quem faz o exame para obter a certificação da Microsoft é necessário sempre fazer atualizações e refazer novo exame sobre pena de perder a certificação.
Sabe dizer se tal fato ocorre também com esta certificação, úma vez que não existe certificação permanente.
Reportando a citação do site “farmaceuticovirtual” há uma interessante colocação sobre Acreditação Hospitalar, que poderia ser avaliado como uma contribuição para o processo de certificação para o EAD. Entretanto voce citou que não há “n pessoas no mercado e isto é outro fato também. Então, para que a certificação ???
“A Acreditação Hospitalar é uma metodologia de consenso, racionalização e de ordenamento dos hospitais e, principalmente, de educação permanente do pessoal de serviço e de seus líderes.
O primeiro passo para a sua viabilização é a existência do “Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar”, que estabelece os itens que devem ser avaliados de forma explícita e objetiva.
O segundo componente relaciona-se com a existência de uma “Organização Nacional de Acreditação”, com representações dos diversos segmentos sociais relacionados com a saúde.
Na lógica do processo de acreditação, não se avalia um serviço ou departamento isoladamente. Mesmo que um serviço do hospital esteja plenamente montado, com excepcional qualidade e que tenha alcançado um grau de complexidade compatível com o nível 3, por exemplo, a instituição será acreditada no nível 1 se os outros serviços não conseguirem alcançar níveis superiores a este.
O propósito deste enfoque é reforçar o fato de que as estruturas e processos do hospital são de tal ordem interligados, que o funcionamento de um componente interfere em todo o conjunto e no resultado final.”
Esta é uma visão prática e realista! É um fato e pronto.
E finalizando. No portal do E-MEC encontramos.
“Diplomas e certificados de cursos a distância emitidos por instituições estrangeiras Conforme o Art. 6º do Dec. 2494/98, os diplomas e certificados de cursos a distância emitidos por instituições estrangeiras, mesmo quando realizados em cooperação com instituições
sediadas no Brasil, deverão ser revalidados para gerarem os efeitos legais. A Resolução n.º 3, de 10/06/85 (Conselho Federal de Educação – atual Conselho Nacional de Educação) dispõe sobre revalidação de diplomas e certificados de cursos de graduação e pós-graduação expedidos por estabelecimentos estrangeiros de ensino superior. Tais normas, vigentes para o ensino presencial, são válidas também para cursos a distância”
Mudou alguma coisa na Legislação com referência a isto ?
Forte abraço,
Nuno MP Souza
O processo todo será revisto, numa decisão de gente grande que me fez sentir honrado de ser associado da ABED.
Olá, João
Estivemos juntos neste Congresso em Fortaleza e vc resumiu com muita exatidão o que foi transmitido e não consultado. Que legitimição é esta da ABED? Quais os estatutos apresentados acerca da certificação?
Se a ABED não acredita na própria ABED (seus diretores, associados..), se não é capaz de certificar ninguém em EaD, que feche suas portas! Mas, digamos que sim, pois conhecemos muitos profissionais sérios e capazes que lá atuam..então por que esta disparidade, estes interesses inclusos? E o MEC não se pronuncia?
Em pouco tempo teremos uma indústria de “acreditação” do ensino como temos na rede hospitalar. Quem serão os beneficiários? As empresas “acreditadas”, os profissionais “certificados”? Os não certificados não prestam! E o prazo de validade? Sim , falaremos em “prazo de validade” como qualquer mercadoria na prateleira do mercado. Escalonamento e padronização..entraremos no ciclo vicioso da indústria!!!
Mas todos esquecem que: Educação não é mercadoria!!!
Deixo aqui, querido, o meu desabafo..
Super bj e te aguardo nesta semana no Rio.
João,
Também recebi o informe da ABED. Nesse momento, creio que fica resolvida a parte das instituições/empresas que oferecem soluções para EAD (com a saída da Pearson). Na verdade, se ESSA não fosse preocupação inicial, o processo não estaria SEQUER passando por reavaliação. A minha dúvida ainda permanece em relação ao impacto para os profissionais atuando em EAD, pois fica claro pelo informe que não se cogita a suspensão da certificação.
Assim, perguntaria e gostaria que a ABED deixasse bem claro para seus associados e comunidade em geral:
- Há de fato a necessidade da certificação? Qual é a motivação e a justificativa?
- O que exatamente será certificado: afinal, quais os critérios e modelos de gestão em pauta?
Até onde entendi, a certificação deverá ser “atualizada” de cinco em cinco anos…
Ainda tenho muitas dúvidas…
[ ]
Renata Bonotto
Renata, pode haver realmente o questionamento sobre a necessidade da Certificação. Mas de qualquer maneira, se ela for oferecida pela ABED, não será em associação com empresa privada nem estrangeira, será formado um grupo representativo da EaD etc., ou seja, a mudança não envolveu apenas tirar o nome de uma empresa do processo. Como o processo da certificação seguirá daqui para a frente não sei, mesmo porque não participei da reunião. Mas imagino que seremos informados.
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