A Torre

Daquilo que sabes conhecer e medir, é preciso que te despeças, pelo menos por um tempo. Somente depois de teres deixado a cidade verás a que altura suas torres se elevam acima das casas.” Friedrich Nietzsche

quando ismália pôs-se a ver
ao invés da lua
as mãos de nossa senhora
todos eram profetas na terra:
— vai pirar, vai pirar!

quando as ditas mãos
puseram-se a acariciá-la
em suas noites viúvas
os bardos bradaram:
— está pirando, está pirando!

as poucas visitas
que ainda frequentavam a casa
e eram muito bem recebidas
notaram que no meio das conversas normais
e do sofá grande da sala
ismália punha as mãos da lua por baixo da saia
e começava a se masturbar…
saíam dizendo os boquiabertos:
— já pirou, já pirou!

*

numa das crises
ismália foi pirar
num hospital psiquiátrico

*

esquizofrenia paranoide com distúrbios no conteúdo do pensamento, apresentando também dístúrbios motores e afetivos, além de distúrbios de sensação em menor grau

num belo dia, ismália sumiu.
dizem que nesta ismália tinha um rio
e que ela caminhou lentamente em sua direção,
lentamente,
numa noite de luar,
e foi caminhando lentamente,
lentamente,
até virar iara

FacebookTwitterGoogle+Compartilhar
Esta entrada foi publicada em Escritos. Adicione o link permanenteaos seus favoritos.

Uma resposta a A Torre

  1. Ana Maria Cardoso disse:

    Que bacana, professor

    A tua expressão não tem limite né? poema ousado e o desenlace é sublime..

    grata, professor plural

Deixe uma resposta para Ana Maria Cardoso Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

*

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <strike> <strong>