Segundo Turno

Ao contrário do que as pesquisas indicavam, chegamos em 2010 ao segundo turno para a escolha do presidente do Brasil nos próximos 4 anos, que será Dilma Rousseff (PT) ou José Serra (PSDB).

Mesmo com a sensível queda nas últimas semanas, a candidata do PT sai com uma grande vantagem, mais de 13.000.000 de votos. Mesmo se boa parte dos votos de Marina Silva no primeiro turno migrarem para Serra, e ele conseguir convencer boa parte dos que não votaram, votaram nulo ou branco a votar nele, será um milagre que ele seja eleito.

Já votei no PT e inclusive simpatizava com o Lula, mas há vários anos voto no PSDB, partido ao qual inclusive sou filiado. Eu vivi na pele o confisco do Plano Collor, pós inflação mensal beirando os 100%, e acompanhei de perto como o governo de Fernando Henrique Cardoso conseguiu equilibrar a economia do Brasil. Não é justo criticar muito o governo do PT na gestão da economia nos últimos 8 anos, mas as coisas já estavam razoavelmente organizadas. O grande desafio já tinha sido enfrentado – e vencido – pelo governo do PSDB.

Apesar de as estatísticas serem sempre manipuladas, é natural que no governo do PT tenha melhorado a distribuição de renda no país, que tenha havido crescimento em programas sociais etc. Também não me parece inaceitável que uma pessoa vote no PT porque recebe bolsa família.

O que me parece inaceitável é eleger como presidente o representante de um partido político que tem se envolvido seguidamente em escândalos de corrupção. Só para citar alguns: mensalão, pagamento para marketeiros por fora (e pelo exterior), casa civil (várias vezes) etc. etc., isso para não mencionar casos bem mais graves, em respeito às pessoas envolvidas. Esse dinheiro não vai para o povo, vai para o bolso de alguns privilegiados. Tudo isso tem levado inúmeros PTistas a debandar, como a própria Marina Silva, afinal a bandeira ética que marcava o partido já foi desmascarada há bastante tempo. Naturalmente, quem vota no PT rapidamente aparecerá com uma lista de escândalos que envolveram o PSDB, e que seriam tão ou ainda mais graves. Cada um enxerga o que quer enxergar. Tenho inclusive ouvido cada vez mais o argumento de que nenhum governo é santo, que corrupção existe em qualquer lugar etc. etc. Essa parece ser uma das respostas prontas que os eleitores do PT dão para si mesmos, para justificar seu voto. Não consigo, entretanto, enxergar nenhum tipo de comparação possível, e acho inadmissível eleger um governo de um partido envolvido em tantos casos de corrupção.

Esses, é claro, não são os únicos motivos que me levarão a votar em José Serra no segundo turno, e inclusive a me envolver intensamente em sua campanha. O discurso muitas vezes autoritário do PT, incluindo críticas a liberdades essenciais como a da imprensa, e a simpatia e proximidade com governos autoritários são mais alguns dos motivos que não me deixam nada à vontade em ser governado por esse partido. A intransigência em relação a posições contrárias e o estilo de oposição nada colaborativa do PT também não me agradam em nada. As alianças, ah, as alianças, com tudo o que teve de ruim antes de FHC, que o governo do PSDB precisou consertar. Saindo dos partidos e indo para as pessoas, não vejo termos de comparação entre os 2 candidatos, não enxergo a candidata Dilma com capacidade de governar um país por 4 anos no mesmo nível que Serra. Aliás, parece que nem seu braço direito e substituta na Casa Civil ela conseguiu escolher bem.

José Serra não é um candidato simpático, o PSDB escolheu muito mal seu candidato a vice, foi mal na campanha do primeiro turno, não explicitou suas propostas para o país (que no fundo não são muito diferentes das propostas do PT), a aliança com o DEM não é nada louvável etc. etc., mas no segundo turno temos que fazer uma escolha – não entre o que acharíamos ideal, mas entre 2 candidatos. Não votar, votar branco ou nulo não é pop, não é alternativo, não é descolado – é na verdade dar voto para o candidato que estiver em primeiro lugar. Da eleição do segundo turno sai um presidente: Dilma ou Serra.

Respeito totalmente a liberdade que cada um tem para escolher seu presidente e respeito totalmente a liberdade de escolha de quem votará na Dilma. Cada um tem o direito e a liberdade de avaliar e escolher o candidato e o partido que considera mais adequados para governar o país nos próximos 4 anos. O PT governou o país por 8 anos e acertou em muitas coisas. Admiro, amo e convivo com muitos PTistas, e admiro muitos políticos do PT. Partidos políticos não podem servir para nos separar – deveriam supostamente servir para equilibrar melhor as coisas e garantir um país melhor. Como disse Aécio Neves: “Eu tenho comigo na política: não é por alguém estar em outro campo e disputar uma eleição contra você que é seu inimigo ou só tenha defeitos. Tampouco alguém, por estar do seu lado, está cercado apenas de virtudes”. Vote em quem você considera o melhor candidato, o melhor partido e a melhor coligação – mas vote. Se você não votar, votar nulo ou branco, pode achar que está dizendo não, que está registrando seu protesto contra a palhaçada etc. etc., mas no fundo estará ajudando a escolher um presidente. Muito provavelmente, pelo que indicam as pesqusias, você estará ajudando a escolher Dilma Rousseff, do PT, para governar o Brasil nos próximos 4 anos. Se é isso que você quer, se é essa a sua escolha, vá em frente. Se não é esse o candidato que você prefere que seja o presidente do Brasil nos próximos 4 anos, então você precisa votar.

Sentindo-se à vontade, mostre seu suporte a José Serra no Twitter, Facebook etc.

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8 respostas a Segundo Turno

  1. Maria disse:

    Não sou Dilma e muito menos SERRA!

    João, qual a sua intenção?

    Infelizmente, você caiu no meu conceito com esse post.

    Tentar influenciar na urnas é demais!!

  2. Paulo Alexandre Filho disse:

    O comentário acima soa como patrulhamento ideológico, mas democracia não é coisa simples.

    Também sou ex-petista militante. Não votei em Dilma, nem em Marina e muito menos em Serra. Sou ex-petista, mas continuo anti-tucano, pois não imagino que perder a crença no PT signifique (no meu caso) uma guinada capaz me me converter em simpatizante daquilo que se convencionou a chamar de direita.

    O PT está afundado em escândalos, o que não é novidade também no ninho tucano. O PT está alinhado ao que há de mais podre na política nacional, tendo alianças com figuras que desonram a boa política. O PSDB não é um exemplo oposto disso, afinal, a quadrilha que cerca o tucanato é barra pesada.

    Infelizmente, ao contrário do prof. João, não troquei um lamaçal por outro e isso me deixa a cada dia sem opção como eleitor e sem expectativas como cidadão. Isso é desalentador.

  3. João Mattar disse:

    Maria, minha intenção principal, se é que é possível pensar nisso no post, é mostrar que não votar, votar nulo ou votar branco significa na verdade dar seu voto para quem está na frente. É uma pena que expor nossa preferência política signifique cair no conceito dos outros. Como eu mesmo digo no post, respeito muito quem tem opções diferentes da minha. Paulo, pelo que eu disse, acho que fica claro que eu não considero que troquei um lamaçal por outro. Reconheço problemas no candidato e no PSDB, mas não tenho dúvidas sobre a minha escolha.

  4. João Mattar disse:

    Outra coisa, Paulo: votar no segundo turno não significa que você tenha que ser simpatizante, você simplesmente precisa escolher entre duas opções, essa é a regra do jogo. E não votar, votar nulo ou branco de qualquer maneira significa uma escolha, não tem jeito. Seu voto (mesmo que branco ou nulo) ou não voto no final vai para alguém, para quem está na frente. Outra coisa ainda – não concordo obviamente com a referência a quadrilha, mas isso daria uma longa discussão, lista de nomes, avaliação sobre a atuação de cada um etc., que acho não cabe aqui.

  5. Paulo Alexandre Filho disse:

    Enfim, o contexto e o debate político no Brasil são complicadíssimos. Paixões ou descrença acabam sendo inevitáveis. Mas uma coisa é certa: nós, meros eleitores, não devemos fazer dos debates políticos mais um motivo de desagregação. Discordar é válido e é até necessário. Transformar divergências políticas em muralhas que nos separam é coisa inútil. Acho que na verdade podemos ter – mesmo discordando partidariamente – mais causas em comum do que parece indicar este debate vago.

    Creio que partidos não são confiáveis, lideranças políticas “profissionais” não são confiáveis, discursos e tramas pelo poder são instáveis, no entanto, causas verdadeiras pairam sobre tudo isso. Muitas vezes os eleitores podem ser mais coerentes que os eleitos. Resta-nos não cair nas armadilhas das paixões com rótulos ou bandeiras e então ser tucano ou ser petista acabará sendo irrelevante.

  6. João Mattar disse:

    Paulo, concordo em praticamente tudo com você. Apenas não gosto da ideia de que partidos políticos não são confiáveis, lideranças políticas “profissionai” não são confiáveis etc. O jogo é esse, infelizmente ele se faz por partidos políticos e lideranças, então se queremos participar do jogo, e não ficar apenas de camarote, temos que fazer política por esses canais. Há, é claro, espaço para fazer política de várias outras maneiras, mas agora, em época de eleição, somos obrigados a escolher e votar. O camarote e o voto de protesto é apenas uma ilusão, na verdade sustentam quem ficar na frente.

  7. Paulo Alexandre Filho disse:

    Eu não votarei nulo. Votarei em Dilma mesmo, pois não creio que me abster seja solução para resolver meus dilemas políticos. No primeiro turno votei em Plínio, mesmo nem sendo adepto ao radicalismo de PSOL. Afirmei minha desconfiança em relação aos partidos justamente porque eles são voláteis e instáveis, além de relativizarem suas ações de acordo com contingências pontuais. Enquanto não vermos ser concretizada uma reforma política séria, com definições sobre a atuação partidária, tais agremiações não merecerão a plenitude de nossas crenças, logo, seus expoentes e avatares também estão sujeitos à desconfiança. O debate proposto aqui é bastante válido, mesmo que fuja da proposta esquemática do blog, afinal, cidadania e política precisam ser discutidas em qualquer ambiente. Parabéns pela iniciativa.

  8. João Mattar disse:

    Paulo, tanto aqui quanto no Twitter e principalmente no Facebook, estão ocorrendo debates interessantes, onde estou aprendendo muito. Também tenho achado muito legal.

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