Redes Sociais & EaD

Breve reflexão sobre o uso de “redes sociais” em EaD, que gravei a pedido da ABED para o 5º Encontro CIEE/ABED de EaD, cujo tema era Redes Sociais em Educação.

Na mediação da excelente palestra da Adriana Clementino, acrescentei dois pontos principais.

Em primeiro lugar, apesar da seriedade, qualidade, legitimidade e importância dos discursos sobre a cibercultura e redes sociais, precisamos também de discursos (e práticas) mais focados em educação, EaD e tecnologia, que podem p.ex. ser encontrados no campo de estudos da Tecnologia Educacional. No Brasil, a expressão acabou assumindo uma conotação negativa, mas é essencial que pesquisadores e professores estejam explorando (pedagogicamente) o uso de tecnologias específicas em educação – e não apenas circulando ao redor de discursos mais amplos e genéricos. Neste ano eu me filiei à ABT – Associação Brasileira de Tecnologia Educacional e participei do 3º Congresso Brasileiro de Tecnologia Educacional. Precisamos de uma associação de tecnologia educacional forte em nosso país, como temos nos Estados Unidos p.ex. a AECT, a Educause e o NMC. Estou nessa batalha – associe-se também!

Acrescentei também que, além de me parecer mais útil e adequado conceitualmente em educação falar de ferramentas da web 2.0 do que de redes sociais, essas novas ferramentas ou redes exigem um design que deixe de ser instrucional e se torne educacional. A equação “conteudista + di + tutor” não é mais adequada para a EaD dessa geração que cresce em rede. Precisamos de um design educacional baseado p.ex. no construtivismo e no conectivismo (cf. Constructivism and Connectivism in Education Technology) e não instrucional, orientado principalmente a objetivos de aprendizagem e produção de conteúdo. O DI (ou DE) deve ser um ferramental nas mãos dos professores, não de profissionais que ditem o que eles devem fazer.

Encerrei minha participação no 2º Fórum de Educação a Distância do Poder Judiciário com a imagem abaixo, que é uma combinação entre uma imagem que me parece representar bem a nossa situação (não só em educação) e conceitos de uma passagem de Roderick Sims em Beyond instructional design: making learning design a reality:

“Por exemplo, em geral enxergamos os papéis associados com design centrados em conteúdo ou instituições – designers instrucionais, administradores de projetos, artistas gráficos e especialista em redes. Mas onde estão os designers para aprendizado ou os arquitetos da interação? Onde estão os especialistas em ambientes colaborativos? Operamos em um contexto colaborativo centrado no aprendiz, mas nossos modelos de design são ainda baseados em paradigmas presenciais e centrados no professor. Se desejamos atingir o potencial e os benefícios plenos que um ambiente online permite, precisamos repensar as filosofias e as práticas que trazemos para o ambiente de design.”

Não é para enxergar bem o texto, é de propósito, porque eles ainda estão escondidos por aí:

[photopress:Alem_do_DI.jpg,full,vazio]

No fundo, precisamos formar professores como autores, designers educacionais e tutores, e não des-habilitar a função da mediação e interação, fragmentando-a em pequenas tarefas distintas e especializadas. Todos temos que ser formados em autoria, design educacional e tutoria.

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15 respostas a Redes Sociais & EaD

  1. Daiana Trein disse:

    Concordo João, é preciso pensar nestas questões. Para criar design educacional é necessário ir muito além do conhecimento técnico e instrucional.

    Busco ser uma designer educacional, em uma realidade de design instrucional.

  2. Esse é um tema muito interessante e deverá crescer em importância nos próximos anos, haja vista essa geração acostumada a se comunicar através da tecnologia e, principalmente, de redes sociais.

    No Brasil eu percebo um certo comodismo na utilização de ferramentas ultrapassadas de EAD, como por exemplo, o Moodle. Ok, milhares irão defender o Moodle, mas ele é da era da internet 1.0. É uma ferramenta que você gasta mais tempo gerenciado conteúdo do que aprendendo.

    Eu, particularmente, acredito muito na mistura de redes sociais e EAD, e por isso mesmo, estou gerenciando um projeto de uma Rede Social de aprendizagem, o http://atepassar.com.

    Apesar da rede Atépassar ser voltada para concursos públicos, o site apresenta elementos de aprendizagem em redes sociais. Vale a pena se cadastrar e ver o trabalho que estamos desenvolvendo.

  3. Pedro Moreira de Godoy disse:

    Realmente os microblogs (Twitter) são interessantes para o uso de interação para EaD, haja visto a interação que algumas pessoas fazem, como por exemplo no Houaiss, com a discussão de termos da Língua Portuguesa. Concordo que o Orkut e o Facebook sejam limitados mesmo para o uso como uma rede social com finalidade de EaD. Não querendo ficar no mais do mesmo, mas, há algum tempo eu venho criticando esse EaD conteudista, que não se utiliza de tecnologia, com ferramentas de interação com as diversas mídias, ambientes virtuais 3D entre outras ferramentas.

    Por outro lado, muitas instituições nem usam os conceitos de Redes Sociais para EaD em suas bases tecnológicas e de conhecimento. Costumo definir em concordância com Marcos Silva (2002), em sua obra ‘Sala de Aula Interativa’, que a EaD deve ter interação de conhecimento, social-virtual e interatividade, que segundo o autor, não se restinge apenas ao aspecto das bases tecnológicas, vai muito além disso. Segundo o autor, existe interatividade entre seres humanos, no aspecto comunicacional, onde o EaD seria Interativo (inter+ativo) ou “[...] que permite o destinatário interagir, de forma dinâmica, com a fonte ou emissor” (Dicionário Aurélio). Nesse sentido, esse EaD permitiria a Socialização Presencial e á Distância. Portanto, além do uso das Redes Sociais, acredito que o EaD deve ter socialização presencial, nem que seja na abertura da turma, em um ou outro momento para fortalecimento dos laços afetivos e motivacionais e no encerramento do curso.

    Sou favorável ao uso de Redes Sociais, microblogs, videologs, Second Life e todo e qualquer mídia que permita um EaD Interativo. A questão que faço é: “As instituições ‘fordistas’ querem esse EaD (Educação) num ambiente virtual interativo? Ou o EaD que querem é apenas para reduzir custos e impedir o diálogo entre os pares, criando turmas de 900 alunos com um tutor, sem um ambiente interativo?”… e vou além, há que se discutir os papeis dessa nova Pedagogia Interativa, desse professor-tutor, que também deve ser um designer. Há que se pensar na formação humana e técnica desses novos educadores e nas legislações, tanto na área trabalhista para esses profissionais. Enfim, obrigado pela oportunidade de refletir e discutir acerca desse assunto tão emocionante que é a Educação, seja ela presencial ou a distância. Um ciberabraço,

    Referências
    SILVA, Marco. Sala de Aula Interativa. 3. ed. Rio de Janeiro: Quertet, 2002.

  4. Pedro Moreira de Godoy disse:

    ERRATA… onde se lê o EaD, leia-se a EaD… a Educação a Distância (EaD).

    Geralmente escrevo o EaD (Ensino) e esqueço de falar a EaD (Educação). Esse meu erro/vício vem da minha teimosia em achar que a maioria das instituições que eu conheço só possuem ‘Ensinagem à Distância’ e nem se quer sabem as bases para chamarmos isso ou aquilo de Educação.

    “Processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social” (Dicionário Aurélio).

    Falta mais socialização virtual interativa nesses cursos ministrados pela modalidade de ‘Ensinagem à Distância’ para que de fato possamos tê-los como uma experiência de Educação à Distância (EaD).

  5. Joao Mattar disse:

    Perfeito, Marcos, o Moodle é um LMS, apesar de + flexível, e já temos hj ferramentas suficientes para não precisarmos + de LMSs. Já twittei sua rede e fez bastante sucesso no Twitter, vou twittar de novo neste domingo, no #eadsunday. Daiana e Pedro, vivemos um modelo instrucional, em empresas e instituições de ensino, por isso é uma batalha constante. Temos que repetir o lema sempre, Pedro, tem q ser piquete contínuo.

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  7. Discussão mais do que necessária, que precisa ser ampliada e fortalecida.
    A interação ou a não interação podem acontecer nos dois ambientes, presencial e virtual. Numa sala com mais de 50 alunos, e um professor falando, falando e falando não há interação de melhor qualidade do que numa sala virtual. Não é o meio, mas a utilização que damos a ele que conta. É com certeza a filosofia embutida nas práticas que precisa ser amplamente des(-)vendada e re (-)velada.
    abs

  8. Joelma De Riz disse:

    João, adorei o texto!

    A discussão sobre autonomia na educação tem sido realizada tendo como foco a pessoa que aprende: repetimos a todo o momento que os estudantes precisam ser mais autônomos, mais autoguiados e auto-responsáveis. No entanto, me parece que esse modelo fábrica a que os educadores foram submetidos e que você traz de forma tão clara nesse texto me faz pensar que os educadores também estão precisando de entrar num movimento autoempoderamento. Ensinar e aprender são processos tão viscerais, que é extremamente frustrante quando nós os vivenciamos apenas parcialmente.

    Não estou ignorando o fato de que alguns educadores ainda não se aproximaram das ferramentas tecnológicas no nível em que a sociedade contemporânea requer. Alguns precisam muito de ajuda (e outros a recusam). Porém, se essa ajuda de outras áreas vêm como um processo que minimiza uma autonomia necessária que o educador deve ter, aí as coisas se complicam…

    Então, é preciso que essas tantas janelas da imagem se abram, até para permitir que essa troca entre educador & outros profissionais seja rica para ambos os lados, menos podante como tem sido hoje.

    Abraço!

  9. T disse:

    As plataformas desenhadas e utilizadas no Brasil seguem modelos oriundos de onde? mas considero um pergunta simplória.
    O que escreveram da Pedagogia interativa é muito bonito.(Pedro de Godoy)
    Há que diferenciar dentro da Didática. O que um professor utilizar, apesar da teoria Conectvista ser aplicável para todos on line, p/ certos eixos curriculares (não desejo falar disciplinas) decerto não será facilmente utilizado por um outro eixo, nas exatas por exemplo, isso na aplicação do conteúdo, haveria outra palavra?, vamos trocar, na aplicação do conhecimento necessário para aquele nível onde se encontra o aluno.
    Mas na forma de interagir via ferramentas em formatos diferentes.Quer dizer : quais as ferramentas que ajudam ao professor X a levar o curso adiante, seja ele presencial, bimodal ou online.
    Quando em Fóruns, descubrir como levar o aluno a retornar e expor as suas dúvidas é algo que é difícil p/ os professores responsáveis, pois ainda seguem direcionamentos da sua formação presencial, e por isso recorrem ao DI como facilitador.
    Mas a Educação universitária resiste ao incerto depois de estagnar por tanto tempo.
    Se por um lado os recém formados ainda nada sabem, estacionaremos nisso de “alguns pedem ajuda outros são resistentes”
    Interagir anda mais lentamente do que o partilhar, mas se iniciam a partilhar já é grande coisa,já é um meio caminho.
    Por vezes penso que é geracional e sem dúvida de que deve ser.
    Agora pontuar AINDA ensinar e aprender, para mim ainda é separação, divisão..

    Ensinar A aprender, ficaria bem melhor de ambos os lados..Concordo c a Daisy, pois a interatividade pode ser difícil até em uma mesma casa, quanto mais em ambientes de aprendizagem, qualquer q seja ele.
    Há professores online ou Ead que realmente instruem e nem desejam saber do DI, para eles ainda é a Ementa, objetivos, conteúdos e avaliação.
    mas nós vamos jogar fora esta experiência? não!

    Aí sim, é repensar o novo, e saber mais do que no antigo presencial como aplicar, respeitar o tempo do aluno, o que não significa aguardar por longo tempo.
    ferramentas extra ajudam, mas na verdade a educação anda tão sucateada que ainda indago se existem alunos com desejo de aprender.
    Os artefatos tecnológicos seduzem, mas na verdade exigem muito mais do aluno, muitos necessitam ainda ver para crer e criar.
    Quem me diz que a escola de ontem não era e é e foi uma rede social? hierarquica, punitiva etc.
    As redes sociais comuns on line abriram os olhos, cultivar o que elas ensinam para a escola de hj, seja ela qual for, necessita arte, mas independe do Desenho, depende da arte! de gostar de gente e de gostar de ser professor.

  10. T disse:

    analisando bem, é só um exemplo da variedade direcionado a um foco.

  11. Pingback: De Mattar » Blog Archive » Retrospectiva 2010

  12. Camila Andriotti disse:

    Olá João Mattar, adorei o tema e gostaria de escrever sobre isso.
    Poderia me auxiliar com bibliografia sobre o tema??ou sites que posso encontrar este assunto??
    obrigada

  13. João Mattar disse:

    Camila, faça uma busca p.ex. por “redes” aqui no blog: vai encontrar com certeza muita coisa.

  14. Camila Andriotti disse:

    Obrigada, estou pensando em escrever um artigo sobre isto.

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