Flutuação da Alma – Spinoza

Algumas passagens em que Spinoza desenvolve os conceitos de flutuação da alma e inconstância nos juízos, que podem ser aproximados dos conceitos de fluxo da consciência e mente seletiva em William James:

Se imaginamos que uma coisa, que habitualmente nos faz experimentar um afecção de tristeza, tem qualquer traço de semelhança com outra que habitualmente nos faz experimentar uma afecção de alegria igualmente grande, odiá-la-emos e amá-la-emos ao mesmo tempo. (Ética, III, Proposição XVII, p. 194)

Aquele estado de alma que nasce de duas afecções contrárias chama-se flutuação da alma, a qual está para a afecção como a dúvida para a imaginação; e a flutuação da alma e a dúvida não diferem senão segundo o mais e o menos. [...] o corpo humano é composto de um grande número de indivíduos de natureza diversa e, por consequência, pode ser afetado de maneiras muito numerosas e diversas por um só e mesmo corpo e, inversamente, uma vez que uma só e mesma coisa pode ser afetada de numerosas maneiras, poderá, portanto, afetar também uma só e mesma parte do corpo de maneiras múltiplas e diversas. Por estas explicações, podemos conceber facilmente que um só e mesmo objeto pode ser a causa de afecções múltiplas e contrárias. (Ética, III, Proposição XVII, Escólio, p. 194)

Se imaginamos que alguém ama, ou deseja, ou odeia o que nós próprios amamos, desejamos, ou odiamos, só por esse fato, é com maior força que amaremos, etc. Se, ao contrário, imaginamos que ele sente repugnância por aquilo que amamos, ou inversamente, experimentamos, então, a paixão chamada flutuação da alma (Ética, III, Proposição XXXI, p. 201).

Homens diferentes podem ser diversamente afetados por um só e mesmo objeto; e um só e mesmo homem pode, em tempos diferentes, ser afetado diversamente por um só e mesmo objeto. (Ética, III, Proposição LI, p. 212)

O corpo humano é afetado pelos corpos exteriores de um grande número de maneiras. Portanto, dois homens podem, ao mesmo tempo, ser diversamente afetados, e, por consequência, podem ser diversamente afetados por um só e mesmo objeto. Além disso, o corpo humano pode ser afetado, ora de uma maneira, ora de outra, e, consequentemente, pode ser afetado diversamente por um só e mesmo objeto em tempos diferentes. (Ética, III, Proposição LI, Demonstração, p. 212)

ESPINOSA, Baruch de. Ética. Trad. e notas Joaquim de Carvalho. In: Baruch de Espinosa. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Col. Os Pensadores). p . 77-307.

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