Carta Aberta ao MEC sobre a Extinção da SEED

São Paulo, 22 de Fevereiro de 2011

Carta Aberta ao MEC sobre a Extinção da SEED

Caro Ministro Fernando Haddad:

A comunidade que atua com EaD no Brasil foi surpreendida, no início de 2011, com a notícia da extinção da SEED – Secretaria de Educação a Distância. Ao final de 2010, ninguém que trabalha com EaD sabia dessa intenção do MEC. Para uma comunidade comprometida tão intensamente com a qualidade na educação, o fato de a decisão não ter sido debatida, nem devidamente comunicada e justificada, tendo sido recebida pela imprensa, teve uma repercussão extremamente negativa, como o senhor pode imaginar.

A SEED vinha sendo a via de contato de nossa comunidade com o MEC, participando ativamente dos eventos de EaD e demonstrando sensibilidade às demandas da área. Por isso mesmo, ninguém até hoje soube explicar os motivos dessa decisão. A falta de discussão, justificativa e comunicação adequada de uma decisão tão importante para quem trabalha com EaD no Brasil gerou inclusive inúmeras especulações.

A extinção representaria uma avaliação negativa das atividades da SEED? Nesse caso, fica parecendo que o MEC optou por jogar fora não só a água do banho, mas também a própria bacia, junto com a criança. Inúmeros profissionais e instituições estariam capacitados para dar novos rumos à SEED, que não serão aproveitados com a sua extinção.

Outra especulação é de que o MEC considera não ter mais sentido a existência de uma Secretaria voltada apenas para a EaD: estaríamos maduros o suficiente para misturar a educação presencial e à distância. Esta não é, entretanto, a visão de todos os que trabalham com EaD em nosso país. Há inúmeras críticas a projetos como a UAB – Universidade Aberta do Brasil, a como está sendo conduzida a formação à distância de professores no Brasil, ao modelo de tutoria implantado pela SEED etc. Para muitos, não parece que o Brasil esteja suficiente maduro para pulverizar e fragmentar os diversos projetos coordenados pela SEED para diferentes órgãos que, em muitos casos, não terão cultura de educação à distância. Na visão de muitos, a extinção da SEED seria um retrocesso numa área quem vem sendo considerada essencial pelo próprio governo.

Por fim, o fato de a SEED ter tido uma postura bastante dura em relação ao controle de qualidade dos cursos de EaD, e de esse mercado estar despertando interesse cada vez maior de poderosos grupos de investidores, gerou rumores de que a decisão do MEC tenha sido tomada em função de lobby em favor do capital, e não da educação.

Venho portanto, através desta, solicitar que a extinção da SEED seja revogada e que as intenções do MEC em relação à EaD sejam adequadamente debatidas com nossa comunidade, para que assim possamos construir colaborativamente a direção da educação em nosso país.

Atenciosamente

João Mattar
Professor e Especialista em Educação a Distância
joaomattar@gmail.com
(11) 9978 8659

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14 respostas a Carta Aberta ao MEC sobre a Extinção da SEED

  1. China disse:

    Excelente carta.
    Mesmo que não tenha efeito prático será boa por botar alguns bodes na sala…

    Sent from android mobile

  2. Pingback: Twitter Trackbacks for De Mattar » Blog Archive » Carta Aberta ao MEC sobre a Extinção da SEED [joaomattar.com] on Topsy.com

  3. T disse:

    Muito bom, gracias!

  4. Marco Silva disse:

    De fato João Mattar, a carta coloca alguns bodes na sala. Parabéns pela excelente iniciativa! Por favor, nos mantenha informado sobre possíveis desdobramentos dessa sua carta ao Ministro da Educação.

    Lamento essa iniciativa do Ministro. Quero crer que a SEED não tenha sido exterminada por sua última gestão que, por incompetência, apagou a luz e fechou a porta. Como disse vc, jogaram fora a água, a bacia e a criança. Uma burrice lastimável!

    Na ausência de esclarecimentos oficiais, toda conjectura vale a pena…

    Abrs, Marco Silva

  5. Arine disse:

    Há de se considerar o programa E-Tec Brasil, estimulado pelo MEC e que precisa de uma forte avaliação. Coordenei o projeto em PE, e, embora fosse uma grande iniciativa, era necessário um diálogo eficiente.
    Boa carta!!!!

  6. liliane fontes disse:

    Estudo à distância e nem sabia da existência da SEED, mas não me envergonho de minha ignorância, estou procurando aprender e encontro aqui um especialista no assunto. A política tem me enojado tanto que às vezes procuro me abster para não enlouquecer. Apoio a carta do prof. João Mattar e queremos diálogo (vivemos democracia, ou não?). Se precisarem de assinaturas, contem comigo, sei que a maioria dos alunos EAD UNITINS apoiarão ” que as intenções do MEC em relação à EaD sejam adequadamente debatidas com nossa comunidade”. A Globo detonou a Unitins e não é bem assim, temos profs excelentes, o material didático é ótimo, fizemos estágios e relatórios, existe um AVA, ambiente virtual de aprendizagem, através do qual dialogamos com nossos profs e colegas, eu me sinto preparada para atuar no mercado como professora de Português e Espanhol, sei que isso depende do aluno, mas tenho tantos colegas que correm atrás de informações… Como em toda facul presencial ou ead, existem os que procuram adquirir conhecimentos e os que…. Não vamos deixar morrer essa idéia, ead é tudo de bom. Mandou muito bem nesta carta, apoio total!

  7. Luiz Matos disse:

    Prof. Mattar, que tal colocar a carta no site http://www.peticaopublica.com.br e coletar a assinatura da comunidade de EAD do Brasil?

  8. Daniel Ventura disse:

    Um belo discurso, professor.

    Concordo com o Luiz.

  9. João Mattar disse:

    Liliane, Luiz e Daniel: já pensei sim em colocar o texto como abaixo-assinado, mas antes gostaria de editá-lo a várias mãos. Já estou colhendo sugestões aqui e ali, quem tiver alguma pode registrar por aqui mesmo.

  10. Monique Quintanilha disse:

    Achei a carta muito boa!

    Temos como sugestão a questão da mercantilização da EAD e que a presença do SEED inibe parte desta prática. Outro fato é que muita gente ainda tem verdadeira repulsa a esta modalidade de ensino, e a junção com a educação regular pode causar um retrocesso, já que frente ao sistema atual, a educação à distância avançou a passos largos, mas não esta totalmente difundida.

  11. João Mattar disse:

    Monique, concordo totalmente.

  12. Paula Ugalde disse:

    Professor João Mattar, :)

    Ainda que novata e buscando uma colocação formal na Educação Online, ouso tentar contribuir com sua Excelente Iniciativa, que só agrega valor ao trabalho dos educadores-pesquisadores que, para além dos interesses econômicos [que gestados de modo sustentável, no 'ganha-ganha' é fundamental para a manutenção da competitividade de qualquer empreendimento], são essencialmente engajados e comprometidos com o alcance da qualidade educacional da EaD no País.

    Os argumentos dizem tudo, é lamentável que a medida arbitrária tenha ocorrido e não apenas os educadores, como a Sociedade Brasileira precisa inteirar-se e se mobilizar para que sejam tomadas medidas de contraponto a ação visivelmente equivocada e impulsiva, dentre outros.

    Esse sempre foi um dos grandes problemas do País, a descontinuidade dos projetos. Se a SEED foi avaliada como não conseguindo cumprir com as metas estabelecidas, tal deveria ter sido amplamente debatido, especialmente junto aos grandes educadores, que realmente poderiam ter contribuído para seu redesenho de modo a tornar suas ações mais efetivas.

    A medida é totalmente contraditória em um governo que se denomina e se propõe a uma gestão pública participativa, democrática, transparente e genuinamente interessada em fazer com que a educação avance em qualidade.

    E sua iniciativa pode contribuir para seu repensar e faço votos que assim o seja. Considero ótima a sugestão acima de que esta Carta seja encaminhada com assinaturas de apoio.

    A EaD é nova no país e ainda que pesquisadores inovadores advoguem e demonstrem a necessidade de novos modelos, infelizmente prevalece a visão mercantilista e competitiva, em detrimento da educação formativa em várias iniciativas, apesar de contarem com profissionais de valor.

    Esta frase traz a gênese “Inúmeros profissionais e instituições estariam capacitados para dar novos rumos a SEED, que não serão aproveitados com a sua extinção.”

    Quanto a não ter sentido a desvinculação por estarmos “maduros o suficiente para misturar a educação presencial e a distância”, se é a ideia corrente, realmente como professora da educação básica, aluna da modalidade e findando especialização em EaD e ainda interagindo com vários profissionais que atuam na modalidade e ainda com os que atuam com TICs em salas presenciais, não tenho dúvidas de que temos muito a avançar em ambas e longe do entendimento e saberes generalizados sobre o fazer educativo de qualidade. Neste interím, sequer temos consensualizado o que seja educação de qualidade.

    Quanto as críticas a projetos como a UAB, estas deveriam entrar nos debates mas sugiro que com mais pesquisas e análises e avaliações individualizadas e acrescentaria, aliadas a pesquisas sobre a qualidade das iniciativas privadas, pois que, ainda que as iniciativas tenham liberdade para gestarem seus projetos, se pesquisadas com base nas pesquisas sobre o que seja educação de qualidade, também ouso afirmar que teríamos muitas outras críticas de pesquisadores a serem refletidas.

    A formação de professores no Brasil sempre foi problemática, não apenas na EaD e não penso que as críticas se devam apenas aos modelos de tutoria implantados pela SEED mas ao modo de pensar e gestar a Educação no País, que ainda traz – ainda que nas subjetividades de alguns conceptores, ideias cristalizadas remanescentes da Educação Bancária.

    Justamente a Educação Online bem concebida e desenvolvida, vem oportunizar a ruptura com esse impedidito paradigmático. Para isso, precisamos é de mais investimentos e de uma representatividade de peso, a exemplo da extinta SEED, sob o risco de estagnarmos mais ainda da area educacional.

    Quem estuda a distância e tem oportunidade de inferir nos discursos e ter considerada sua autoria – ainda que uma pequena totalidade e incompleta, mais desejo de vir-a-ser, já não se adapta a formação docente continuada presencial, que, apesar dos discursos progressistas, na maioria das iniciativas, segue a lógica do professor consultor como centro do processo. E nesse aspecto as boas iniciativas de Educação Online tem constribuído para desconstituir velhos discursos obsoletos e contrários as práticas. A Educação presencial tem muito a aprender com os pressupostos da Educação Online de qualidade, ainda que os mesmos precisem alcançar mais instituições e educadores. Logo, extinguir a SEED ‘é’ um retrocesso.

    O fato da EaD despertar o “interesse cada vez maior de poderosos grupos de investidores” pode ser bom mas desde que em boas iniciativas, que priorizam a educação. E acredito que seja possível aliar qualidade com ganhos, desde os projetos sejam sérios, bem gestados e avaliados continuamente.

    Aproveito para comentar que não consigo perceber inferência significativa dos alunos EaD e nem nas pesquisas que coletam tais dados. Vejo a necessidade de serem revistos os modos de avaliar a efetividade das ações educativas em todas as iniciativas e que essas deixem de ser gestadas internamente e passem a ser adequadamente avaliadas por avaliadores externos e qualificados.

    E assino embaixo o pedido do Professor João “Venho portanto, através desta, solicitar que a extinção da SEED seja revogada e que as intenções do MEC em relação à EaD sejam adequadamente debatidas com nossa comunidade, para que assim possamos construir colaborativamente a direção da educação em nosso país.”

    Ou, não havendo volta, que seja imediatamente criado uma nova Secretaria mas dedicada a Educação Online.

    []s e Obrigada por ter esse olhar e postura aberta e democrática de ouvir as diferentes vozes.

  13. Karina disse:

    Olá,
    preciso do número da legislação que extingui a SEED e passa a UAB para a CAPES. Já revirei a internet e não encontrei nada.
    Alguém pode me ajudar…
    Obrigada

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