Currículo Unificado para o País

Um projeto do MEC quer unificar currículo das escolas no país, com o objetivo de reduzir a desigualdade na aprendizagem de alunos de regiões pobres e ricas. Dentre outras coisas, o projeto pretende determinar o número de livros que o aluno terá que ler por mês em cada série e uma lista de atividades a serem aplicadas pelo professor em sala de aula.

“Professor tem que ter rotina. A aprendizagem não pode ter improvisação”, afirma a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda, que diz ainda: “O currículo vai organizar a formação do professor, definir o material didático e a programação da TV Escola. Vai balizar o aprofundamento da formação do professor”.

O secretário de Educação da Paraíba, Afonso Scocuglia, por sua vez, afirma que: “Tudo vai girar em torno disso, o livro didático, a formação de professores.”

A Austrália, que segundo a reportagem vai começar a colocar em prática um currículo único, levou mais de 3 anos para discuti-lo. Por aqui, pelo que dá para entender, a “discussão” deve levar menos de 1 ano.

Fernando de Almeida (PUC-SP) diz que o currículo não pode engessar a atividade do professor na sala de aula, tirando sua autonomia. Mas há alguma possibilidade de isso acontecer, se o projeto for colocado em prática?

O Otto Peters faz uma leitura muito interessante do fordismo na história da EaD em 2 clássicos: Didática do ensino a distância e A educação a distância em transição. Tenho desenvolvido também os conceitos de Taylorização e Fayolização da EaD.

Costuma-se dizer que as práticas inovadoras que temos utilizado em EaD têm influenciado as práticas da educação presencial, na sala de aula. E têm mesmo. Começamos a experimentar pesado com conteúdo e conteudistas, tutor, design instrucional, objetivos e objetos de aprendizagem, planos de ensino padronizados, testes de múltipla escolha e provas padronizadas, habilidades e competências, “Universidade Aberta”, educação fast-food etc., que começam a invadir também agora a educação presencial. Isso não é privilégio da EaD, mas temos cada vez mais experiência em aplicar tudo isso ao ensino.

Tudo isso tem obviamente contribuído para tirar a autonomia do professor e engessar não só seu trabalho, mas a aprendizagem do aluno e a educação como um todo. Em muitos pontos, parece que o projeto vai contra tendências da educação contemporânea, como flexibilidade, interação, colaboração, participação do professor (e dos alunos) no processo de ensino e aprendizagem, autoria e autonomia etc.

Minha experiência de vida, pessoal e profissional, como aluno e como professor, me diz claramente que não é por esse caminho que conseguiremos reduzir a desigualdade na educação, e pior, os efeitos colaterais serão fatais para uma país que precisa dar um salto na educação, difíceis de superar quando nos dermos conta do caminho errado que escolhemos para nossa nação. Tomara que eu esteja redondamente enganado.

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2 respostas a Currículo Unificado para o País

  1. Novamente atacam a consequencia e não a causa. O problema é a falta de um currículo unificado? Na impossibilidade técnica e política de mudar a alternativa é devanear!

  2. João Mattar disse:

    Realmente, Breno, se há um desnível brutal de renda no país, se algumas escolas têm equipamentos de primeiro mundo e outras não têm nem cadeiras ou salas de aulas decentes, se os professores de muitas escolas não têm condições dignas de trabalho, muito menos salários dignos, como se pode considerar que é um currículo unificado que vai corrigir isso?

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