Using constructivism in technology-mediated learning: Constructing order out of the chaos in the literature

Kanuka, H., & Anderson, T. (1999). Using constructivism in technology-mediated learning: Constructing order out of the chaos in the literature. Radical Pedagogy, 1(2). Resenha de João Mattar.

O excelente artigo traça inicialmente o caminho teórico do instrutivismo ao construtivismo, criticando o aspecto sistemático do instrutivismo, que não corresponderia à maneira como aprendemos. Na visão do construtivismo, os educadores deveriam usar tempo para compreender as perspectivas reais e atuais dos aprendizes e, baseando-se nessas informações, incorporar atividades de aprendizagem que tenham relevância real para cada aprendiz. O instrutivismo nos afastaria do pensar crítico, com sua proposta de seguirmos modelos de design de sistemas instrucionais, livrando-nos assim de enfrentar a complexidade do mundo problemático, ambíguo e em constante mutação, em que temos que atuar.

Em seguida, os autores fazem uma revisão das principais teorias construtivistas que influenciaram o aprendizado mediado por tecnologias, procurando organizá-las em duas dimensões: compreensão da realidade como objetiva/subjetiva e concepção do conhecimento como construção social/individual. A combinação entre esses dois contínuos resultaria em quatro tipos de construtivismo: (1) Construtivismo Cognitivo ou Crítico (realidade objetiva e construção individual do conhecimento); (2) Construtivismo Radical (realidades subjetivas e construção individual do conhecimento); (3) Construtivismo Situado (realidades subjetivas e construção social do conhecimento); e (4) Co-Construtivismo (realidade objetiva e construção social do conhecimento). Esta é a figura utilizada no artigo:

[photopress:Epistemological_constructivism_positions.gif,full,vazio]

Segue uma descrição de cada posição, incluindo implicações para a prática.

(1) Construtivismo Cognitivo ou Crítico (realidade objetiva/construção do conhecimento individual): inclui posições como as de Piaget (teoria da acomodação), Festinger (teoria da dissonância cognitiva), Schmidt (teoria da reestruturação cognitiva) e Mezirow (teoria da transformação da perspectiva). Essas teorias da aprendizagem preocupam-se com as mudanças que ocorrem como resultado de novas informações, que são inconsistentes com as crenças atuais do sujeito. Sem negar a importância da interação social, o foco dessas teorias é o desenvolvimento da compreensão do indivíduo. Contradições internas e conflitos instigariam a busca pelo conhecimento. Atividades poderiam envolver comparação e contraste entre posições opostas, e discussão dessas visões conflitantes pela argumentação, como por exemplo estudos de caso, debates, resumos, interação com colegas etc., com o professor desempenhando o papel de catalisador.

(2) Construtivismo Radical ou Extremo (realidades subjetivas/construção do conhecimento individual): construímos realidades individuais, não existe uma realidade compartilhada. Por consequência, deveria haver poucas orientações específicas para a instrução. Ao invés de catalisadores, os educadores deveriam desempenhar o papel de guias ou coaches no processo, para que os aprendizes sejam capazes de selecionar e desenvolver suas próprias estratégias de aprendizagem. A responsabilidade do aprendizado é do aprendiz, o papel do educador é apenas oferecer suporte. As atividades de aprendizagem devem ser autênticas, sem respostas instrucionais planejadas. Atividades que impliquem resolução de problemas colaborativamente e o desenvolvimento da metacognição seriam apropriadas. Os aprendizes devem desenvolver a habilidade para enxergar e resolver problemas, ou desempenhar tarefas, por perspectivas alternativas.

(3) Construtivismo Situado (realidades subjetivas/construção do conhecimento social): nossas visões de mundo, individuais, são construídas pela interação social, não como um processo individual. Novamente, é importante que o aprendiz lide com visões conflitantes sobre o mundo, para compreender múltiplas interpretações da realidade. Atividades de resolução de problemas colaborativamente seriam adequadas. Há uma referência ao trabalho de Spiro, que desenvolve a teoria da flexibilidade cognitiva:

Spiro, R. J. & Jehng, J. C. (1990). Cognitive Flexibility and Hypertext: Theory and Technology for the Nonlinear and Multidimensional Traversal of Complex Subject Matter. In D. Nix & R. J. Spiro (Eds.), Cognition, Education, and Multimedia: Exploring Ideas in High Technology. Hillsdale, N.J: Lawrence Erlbaum Assoc.

(4) Co-Construtivismo, Interação Social Simbólica ou Construtivismo Social (realidade objetiva/construção social do conhecimento): segundo os autores, é a forma de construtivismo preponderante. Enfatiza a influência dos contextos sociais e culturais na aprendizagem, que seria construída nesses contextos utilizando a linguagem. O que é aprendido não pode ser separado de como é aprendido, ou seja, o aprendizado não está apenas no indivíduo, mas faz parte do contexto inteiro. Baseada na premissa de que o conhecimento é um processo sóciolinguístico dependente do conteúdo e da cultura onde ocorre, essa visão defende que utilizamos uma linguagem conversacional para negociar significados, que resultam em conhecimento e compreensões compartilhados. Esses significados compartilhados e negociados seriam, por consequência, a realidade compartilhada pelos membros desse grupo. Como no caso do construtivismo radical, essa visão propõe poucas orientações específicas para o design instrucional, e uma metodologia de ensino essencial seria a discussão. Os aprendizes devem também ser encorajados a testar suas ideias contra visões e contextos alternativos. A instrução ancorada (anchored instruction) deve ser utilizada como oportunidade para criar ambientes compartilhados para exploração, e o aprendizado cooperativo, em pequenos grupos, deve ser incentivado.

A divisão proposta é bastante interessante, mas tenho minhas dúvidas que ela consegue realmente organizar o caos. Não tenho certeza, principalmente, de que a divisão ‘realidade objetiva/realidades subjetivas’ sirva para definir muito bem essas posições – no fundo, penso que todas as teorias estão mais ou menos no meio desse contínuo, admitindo que haja uma realidade exterior, objetiva, mas que ela seja filtrada pela linguagem, pela cultura, por nossas estruturas psicológicas e mentais etc. No caso do construtivismo cognitivo, por exemplo, que acreditaria na existência de uma realidade externa, são propostas atividades de comparação entre visões distintas sobre o mundo.

Cabe também lembrar que, dependendo do conteúdo e da disciplina, precisamos de uma postura mais objetiva ou mais subjetiva. Para ensinar vários procedimentos da medicina, por exemplo, o pressuposto de que cada um constrói sua própria realidade seria uma tragédia para a sociedade, enquanto para desenvolver o senso crítico ou ensinar a filosofar, mostrar que há diferentes visões de mundo, inclusive conflitantes, construídas individualmente, é essencial.

Além disso, me parece também que a divisão entre construção individual/social do conhecimento não dá conta da separação entre as 4 posições, mesmo porque, no caso do construtivismo cognitivo e radical (em que ocorreria a construção individual do conhecimento), por exemplo, são propostas atividades de interação com os colegas. Além disso, também me parece que praticamente todas as posições reconhecem que o aprendizado é um processo tanto individual quanto social.

Os próprios autores, entretanto, afirmam que, apesar das diferenças entre as 4 visões estudadas, elas compartilham crenças como: o aprendizado é um processo ativo, e não passivo; a linguagem é um elemento importante no processo de aprendizagem; e o ambiente de aprendizagem deve ser centrado no aprendiz. Como o aprendizado é um processo ativo, o aprendiz deve fazer algo, mas deve também ser reservado um tempo posterior para a reflexão. O foco da educação, para o construtivismo, não está no conteúdo, mas no processo, então os educadores precisam conhecer seus aprendizes, para organizar esse processo.

Para encerrar, são apresentados e discutidos 3 exemplos de métodos instrucionais que facilitam princípios de aprendizagem construtivistas e podem ser bem traduzidos para ambientes de aprendizagem mediados por tecnologia: debate, estudo de caso e brainstorming.

Apesar de datado (em relação ao progresso tecnológico), o artigo é um esforço ainda atual para tentar organizar um esquema sobre as teorias construtivistas de aprendizagem.

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7 respostas a Using constructivism in technology-mediated learning: Constructing order out of the chaos in the literature

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    Adorei o esquema com as quatro tipos de construtivismo. Mas acrescentaria q no Co-construtivismo aparece uma visao Freiriana de educaçao, com contexto social e necessariamente politizado. ;)

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