Technologically Assisted Literature from Hyper-Text to Cybernetic Poetry

Este foi o título da comunicação apresentada no Simpósio Globalizaton.com do Congresso da AILC por Kathleen L. Komar, da University of California – Los Angeles.

Os avanços da tecnologia geraram novos métodos para compor textos literários e estariam nos forçando a reexaminar alguns dos nossos pressupostos teóricos básicos sobre a literatura.

O foco do trabalho da professora Komar é a poesia eletrônica. Ela questiona: de que maneira a poesia gerada por computadores programados com algoritmos desafia nossa visão de como a poesia funciona? De que maneira devemos interpretar esta nova poesia? Quais são os novos paradigmas interpretativos que precisaremos utilizar nesse ambiente em constante modificação?

Num primeiro momento, ela analisou o software de Ray Kurzweil’s, Cybernetic Poet, que produz poemas a partir do estilo de diversos poetas. Poderíamos chamar o resultado do software de poesia? Esses textos teriam sentido?

Para Komar, nos poemas assim produzidos os autores continuam a existir, e seriam Kurzweil e seus programadores, incluindo sua experiência estética e seu gênio matemático. O autor não teria desaparecido, mas introduzido outra camada de regras, as regras matemáticas dos algoritmos, acima das regras da forma literária. Os seres humanos não estariam removidos do processo, mesmo porque o estilo de outros poetas é utilizado na produção da poesia, o que poderia ser chamado de ‘poesia prostética’. Os poemas produzidos pelo software não violariam nossas sensibilidades como leitores de poesia. Nesse sentido, nossa teoria da recepção precisaria apenas realizar pequenos ajustes em relação a suas versões anteriores.

Em outro exemplo, no artigo “Is it Literature—or Art?”, N. Katherine Hayles descreve textos projetados no espaço e então deformados por aqueles que entram nesse espaço utilizando um equipamento eletrônico especial. Neste caso, o leitor pode modificar o texto e rearranjá-lo em três dimensões. O ato de ler, aqui, transforma-se de uma atividade intelectual, que ocorre na imaginação, para uma interação corporal com o texto. Nosso sentido de leitura modifica-se, torna-se um jogo entre nossos corpos e nossa imaginação com palavras que não se encontram apenas na página.

Estes ‘textos’ colocam em questão nossa sensação usual de controle e autoridade (no sentido de um autor que cria). O autor em todos esses exemplos é múltiplo: poetas contribuem com estilo e formas, ou muitas mentes contribuem para a composição do poema e mesmo para o espaço que o contém. Tanto o controle do autor quanto do leitor são diminuídos por serem multiplicados entre diversos participantes e mesmo projetados em espaços que acomodariam múltiplos leitores simultaneamente.

Autores múltiplos não é uma novidade, e poderíamos nos lembrar do OULIPO. Entretanto, a poesia eletrônica introduz o nível da linguagem da máquina e do programador, que não estaria evidente na superfície da linguagem do texto. Em poesia eletrônica, a estrutura profunda do texto pode permanecer obscura para a maioria dos leitores.

Para Komar, a máquina não seria capaz de desejo poético, o que nos forçaria a repensar a questão da intenção do autor. E nosso desejo de completude como leitores deve então dar lugar ao sentido de processo e exploração. Nossa posição como leitores e a do autor além de nós tornam-se mais interconectadas, pois nós mesmos ajudamos a moldar o texto no ciberespaço pelas escolhas que fazemos, o que também diminui nosso senso de controle como leitores ou intérpretes de textos. Esse tipo de poesia não seria artefato, mas antes processo, pois não estaria estabilizada em um texto, pois literalmente se modificaria enquanto a lemos.

Segundo Komar, entretanto, continuamos a ser a consciência humana dentro da máquina e dentro do texto. Tenho trabalhado esta questão tanto em artigos quanto com meus alunos, analisando softwares que compõem pinturas (como o AARON do próprio Kurzweil) quanto músicas. Percebo que há sempre uma confusão nas nossas inquietudes sobre a produção artística do computador: estaríamos preocupados com o processo ou o resultado, para definir os limites da arte? Se pensarmos no processo, podemos identificar diferenças claras entre o processo de produção de arte pelo ser humano e pela máquina, então teríamos fronteiras preservadas. Mas se atentarmos apenas para o resultado, seria ainda possível diferenciar a produção humana da produção do computador? Além disso, quando dizemos que o autor ainda está presente na máquina, podemos pensar também que a própria produção do ser humano é de alguma maneira pré-definida, tanto pelo meio quanto pela genética. Seria ainda necessário afirmar que o computador não é capaz de produzir arte sozinho?

Segundo Komar, no século XXI, de qualquer maneira, tecnologia e literatura começam a se fundir, e assim a teoria da literatura e a própria literatura são agora obrigadas a conviver e colaborar com áreas que antes eram consideradas suas opostas, como matemática, programação, design e computação. Podemos, assim, pensar em uma nova forma de teoria receptiva para o século XXI, para um mundo pós-humano.

Durante a apresentação, além das referências já feitas, foram também mencionados os seguintes textos:

- AARSETH, Espen J. Cybertext: perspectives in ergodic literature. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1997.

- HAYLES, N. Katherine. How we became posthuman: virtual bodies in cybernetics, literature, and informatics. Chicago: University of Chicago, 1999.

- HAYLES, N. Katherine. My mother was a computer: digital subjects and literary texts. Chicago: University of Chicago, 2005.

- O ensaio de Brian McHale: “Poetry as Prosthesis”.

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