Metodologias Ativas no Processo de Ensino e Aprendizagem

Ontem, na abertura oficial da Semana Acadêmica da Universidade Anhembi Morumbi, assisti à palestra do professor Álvaro José Magalhães Neves, da Universidade Federal de Viçosa: Metodologias Ativas no Processo de Ensino e Aprendizagem.

Ele analisou inicialmente uma imagem de uma aula (ou leitura?) na Idade Média (que não encontrei até agora). Os livros estão nas mãos dos professores, 2 alunos estão conversando e o único que parece prestar atenção é um cachorro! Como não havia livros para todos na época, fazia muito sentido uma aula em que o professor lesse e falasse, e os alunos, por sua vez, tivessem que copiar e memorizar. Álvaro lembrou inclusive que a introdução do livro foi considerada, por muitas universidades, cultura barata na época.

Entretanto, segundo Álvaro, o aluno só registraria alguma coisa na memória de longo prazo quando faz. Nesse sentido, ele apresentou o método de Peer Instruction, desenvolvido pelo professor Mazur, da Universidade de Harvard, onde Álvaro já esteve inclusive como pesquisador visitante.

Os ingredientes do método são:

  • estudo prévio (ou seja, incentivar o aluno a aprender com fontes primárias)
  • feedback constante aluno-professor
  • interação constante
  • o aluno tem que fazer

De acordo com o método de Peer Instruction, a aula deve começar com uma exposição de 7 a 10 minutos, seguida de uma ou mais perguntas. Álvaro fez uma demonstração durante a palestra com leitores da Turning Technologies, que permitem colher automaticamente as respostas dos alunos para um PC ou outros dispositivos.

O prazo de 10 segundos finais para as respostas eram animados com uma musiquinha. É possível saber inclusive quem respondeu o que, o que ajudaria o professor, mesmo depois da aula, a acompanhar o progresso dos alunos. Se você estiver em um laboratório, um formulário do Google Docs, p.ex., permite realizar as mesmas atividades. Segundo uma pesquisa apresentada por Álvaro, a própria expectativa de saber que responderão perguntas já geraria resultados diferentes, mobilizando os alunos, em comparação àqueles que apenas assistem a uma aula passivamente.

A partir do nível de acertos e erros dos alunos, a aula tomaria então diferentes rumos:

  • abaixo de 30% de acertos: o professor repete a exposição, obviamente com algumas diferenças
  • entre 30% e 70% de acertos: formam-se grupos de alunos que discutem os temas expostos
  • acima de 70% de acertos: o professor dá uma breve explicação sobre o tema e passa para outro

Álvaro apresentou trabalhos comparando o ganho de Hake em alunos que tiveram aulas pelo método de Peer Instruction e outros que tiveram aulas pelo método tradicional, com resultados muito mais positivos no primeiro grupo. As taxas de abandono seriam também menores, tanto em pesquisas realizadas em Harvard quanto em outra faculdade norte-americana.

Uma das explicações possíveis para os resultados positivos seria o ambiente colaborativo criado quando os alunos estudam em grupo, discutem diversos temas e assumem inclusive funções de professores. Além disso, depois de responder uma questão (e errar), o aluno estaria mais aberto para ouvir tanto o professor quanto seus colegas.

O desafio e o propósito do Peer Instruction, portanto, seria mobilizar o aluno a estudar. Álvaro falou por exemplo do que chamou de Just in Time Teaching, em que os alunos estudam e respondem questões na noite anterior à aula, p.ex., e o professor organiza assim a aula em função dos acertos e erros das respostas.

Apesar de incentivar o estudo em grupo e os próprios alunos assumirem funções de professores, além da utilização das respostas dos alunos para guiar as aulas, pareceu-me que o método propõe menos o learning by doing do que canta: na verdade, a proposta contina sendo de estudo por parte do aluno, não de projetos e elaboração de produtos, em que a aprendizagem está embutida no próprio fazer. As avaliações nas pesquisas apresentadas, pelo que foi possível perceber, pareceram ainda tradicionais. Ou seja, o Peer Instruction pareceu-me ativo, mas nem tanto!

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8 respostas a Metodologias Ativas no Processo de Ensino e Aprendizagem

  1. Pingback: Peer Instruction – Uma Metodologia Ativa para o Processo de Ensino e Aprendizagem « Cristiano Palharini

  2. IVETE PEREIRA DE BARROS [TDPED***20122] disse:

    É inquestionável a primazia de produção de todo o curso “Avaliação em EAD” do professor João Mattar, que nos remete à função “educativa”, descrita e objetiva dos mecanismos ideológicos inerentes ao fenômeno de ensino e aprendizagem interpretados descritivos e como estratégia organizada para um novo tipo de educação. Parabéns, professor Mattar, e a toda a equipe gestora deste grande projeto.
    A Educação Emancipatória agradece!

  3. MARIA AUXILIADORA DE SOUSA BESERRA disse:

    O processo de desenvolvimento das Metodologias Ativas principalmente no nível superior ainda é algo lento, precisa primeiro que gestores, educadores e todos que fazem a comunidade acadêmica reveja sua metodologia neste campo, assim sendo, é um processo de conscientização.

    • Ainda que com forte presença docente a frente da condução e planejamento do processo ensino/aprendizagem, esse método, inquestionavelmente, avança em relação ao tradicional, haja vista a indução ao estudo prévio a que o aluno é submetido, face à expectativa dele em relação aos questionamentos baseados nas fontes primárias orientadas como tema pelo professor.

  4. Anatalia Saraiva disse:

    Boa noite, J.Mattar,
    Creio ter achado a foto a qual você menciona no post. Na verdade, achei duas que fazem referência à sala de aula medieval. Será que acertei?
    Veja os links:
    https://jostwald.files.wordpress.com/2012/12/medieval-lecture.jpg
    http://cache4.asset-cache.net/gc/51241484-circa-1400-medieval-scholars-attend-a-lecture-gettyimages.jpg?v=1&c=IWSAsset&k=2&d=ZRQlAB%2FqXwFgNp2yERNFo0OxY5WzbFJrecvL9F4vKjuj0oCb6nziJEXimoCVXKP6

    Abraço,
    @anataliasmr

  5. Alexandre Visentin disse:

    A Revista Brasileira de Ensino de Física (RBEF) publicou, recentemente, um artigo de nossa autoria, onde descrevemos a aplicação do método Peer Instruction associada a demonstrações de funcionamento de circuitos elétricos. Além disso, utilizamos, como instrumento de apuração de respostas, o aplicativo Pickers. Nosso artigo pode ser acessado no seguinte link: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-11172017000200501&lng=en&nrm=iso&tlng=pt

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