ANDERSON, Terry; DRON, Jon. Three generations of distance education pedagogy. IRRODL International Review of Research in Open and Distance Learning, v. 12, n. 3, 2011: Special Issue – Connectivism: Design and Delivery of Social Networked Learning, p. 80-97.
Faço a seguir um resumo e algumas reflexões sobre esse interessante artigo, que posteriormente traduzi na íntegra para a Revista EaD em Foco.
Anderson e Dron apontam para três gerações de pedagogias para EaD: behaviorismo-cognitivismo, socioconstrutivismo e conectivismo. Para os autores, as três pedagogias coexistem hoje e a EaD deveria explorar todas.
A pedagogia behaviorista consolidou-se na segunda metade do século XX, com destaque para Edward Watson, John Thordike e B.F. Skinner. Suas ideias impulsionaram o desenvolvimento do design instrucional e do ISD – Instructional Systems Design, e foram bastante usadas em treinamento, onde os objetivos de aprendizagem são em geral claramente mensuráveis e demonstráveis comportamentalmente.
Da tradição behaviorista emergiu a teoria cognitivista, a partir do final da década de 1950, cujos modelos se baseavam nas funções e operações do cérebro e em como os modelos computacionais eram utilizados para descrever e testar a aprendizagem e o pensamento.
O lócus de controle nos modelos behavioristas-cognitivistas é o professor ou o designer instrucional. É importante notar que esses modelos adquiriram proeminência em EaD quando havia limitadas tecnologias disponíveis que permitissem a comunicação muitos-para-muitos. Estão vinculados a um modelo de ISD onde os objetivos de aprendizagem são claramente identificáveis e declaráveis. O foco é a aprendizagem individual, com liberdade para o aluno seguir seu ritmo e com a presença da docência praticamente reduzida à produção de conteúdo e avaliação. Esse modelo pode ser ampliado em larga escala com custos baixos, o que seria demonstrado pelo sucesso das mega-universidades à distância.
A pedagogia socioconstrutivista da EaD, baseada em Piaget mas principalmente em Vygostsky e Dewey, desenvolveu-se em conjunção com as tecnologias de comunicação de duas mãos, que possibilitaram, no lugar de transmitir informações, propiciar oportunidades para interações entre alunos e professores.
O lócus de controle no sistema socioconstrutivista sai do professor, que se torna mais um guia que um instrutor, assumindo o papel essencial de desenhar as atividades de aprendizagem e a estrutura em que essas atividades ocorrem. Interações humanas, entretanto, são mais caras do que os modelos behavioristas-cognitivistas de EaD, o que colocaria um desafio econômico para sua utilização em larga escala.
A interação social é uma característica definidora das pedagogias construtivistas, com a importância da presença docente:
A pedagogias construtivistas de EaD moveram a aprendizagem à distância para além do tipo estreito de transmissão de conhecimento que podia ser encapsulado facilmente em mídia, pela utilização de aprendizagem síncrona e assíncrona, baseada em comunicações humanas.
Assim, as ricas interações aluno-aluno e professor-aluno podem ser vistas como uma ‘era pós-industrial’ da EaD, ou seja, pós-fordista.
Por fim, a pedagogia conectivista de EaD teria surgido recentemente, na era das redes, entendendo que há grande quantidade disponível de informações, sendo então o papel do aprendiz não de memorizar ou mesmo compreender tudo, mas de ter a capacidade de encontrar e aplicar o conhecimento onde e quando necessário. O conectivismo assume que muito do processamento mental e resolução de problemas pode e deve ser descarregado para máquinas.
Assim, a interação em EaD move-se para além das consultas individuais com o professor (pedagogia behaviorista-cognitivista) e das interações em grupos e limites dos AVAs (pedagogia construtivista). A presença cognitiva é enriquecida pelas interações periféricas e emergentes nas redes, em que ex-alunos, profissionais e outros professores são capazes de observar, comentar e contribuir com o aprendizado conectivista. A presença cognitiva conectivista é ampliada pelo foco na reflexão e distribuição dessas reflexões em blogs, posts no Twitter e webcasts multimídias.
Como na aprendizagem construtivista, a presença do ensino no conectivismo é criada pela construção de caminhos de aprendizagem e pelo design e suporte a interações, de forma que os alunos façam conexões com recursos de conhecimento existentes e novos. Entretanto, ao contrário de pedagogias anteriores, o professor não é o único responsável pela definição, geração ou atribuição de conteúdo. Em vez disso, alunos e professores colaboram para criar o conteúdo do estudo, e no processo re-criam esse conteúdo para uso futuro por outros, incluindo alunos ensinando aos professores e uns aos outros. No espaço conectivista, a estrutura está desigualmente distribuída e é em geral emergente, e emergência raramente leva a uma estrutura que é otimamente eficiente para atingir objetivos de aprendizagem.
A tabela abaixo mostra um resumo das principais características de cada uma dessas pedagogias para EaD.
Mais um texto resumo interessante que trata das três gerações de pedagogias para EaD: behaviorismo-cognitivismo, socioconstrutivismo e conectivismo.
Esta ultima surge na era das redes. Nesta o professor não é o único construtor do conhecimento, pois os “alunos colaboram para criar o conteúdo do estudo, e no processo recriam esse conteúdo para uso futuro por outros, incluindo alunos ensinando aos professores e uns aos outros”.
Muito interessante refletir sobre este conceito que afirma “o conectivismo assume que muito do processamento mental e resolução de problemas pode e deve ser descarregado para máquinas”.
Este é um desafio para a EaD, pois admite-se que o conhecimento veiculado não se encontra mais centrado na figura do professor, mas na rede de aprendizagem, no qual todos aprendem como todos.
Prof. João,
Estou em dúvida quanto ao significado da última frase de sua resenha, que transcrevi mais adiante. Acho que fiquei com uma compreensão vaga e talvez até equivocada. Será possível explicá-la com outras palavras?
“No espaço conectivista, a estrutura está desigualmente distribuída e é em geral emergente, e emergência raramente leva a uma estrutura que é otimamente eficiente para atingir objetivos de aprendizagem.”
Meus agradecimentos antecipados, OK?!
A estrutura vai se construindo no próprio processo, não é dada e fechada de antemão, por isso ela não serve exatamente para atingir objetivos de aprendizagem pré-definidos e rígidos.