ALVES, Rubem. A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir. 10. ed. Campinas, SP: Papirus, 2001. Resenha por João Mattar.
Faz tempo queria resenhar este livro. Todo o texto está envolvido por um excesso de encantamento, resultante da visita de Rubem Alves à Escola da Ponte, em Portugal, em 2000. O livro reúne 6 crônicas (o mais valioso do livro) publicadas por Alves no Correio Popular de Campinas e um inédito do autor; o Prefácio de Ademar Ferraira dos Santos; um texto do jornalista Fernando Alves; um texto coletivo dos profissionais de educação da escola; um testemunho do consultor Pedro Barbas Albuquerque; uma entrevista de José Pacheco e um programa de estágio na escola. Ou seja, não foi planejado como livro, e portanto fica desigual, além de que em vários momentos parece haver um exagero poético no texto por causa do encantamento. E a Escola da Ponte é pequena, tem poucos alunos, mas em muitos momentos são feitas generalizações que talvez não se sustentem para projetos maiores. Mas há momentos interessantes nas reflexões (principalmente de Rubem Alves) que gostaria de discutir, inclusive fazendo uma ponte para a EaD.
Na Escola da Ponte não há aulas, não há classes, não há turmas, alunos de diferentes idades participam dos mesmos grupos, não há currículo (o currículo não é o professor, mas o aluno, o verdadeiro sujeito do currículo). Os alunos decidem democraticamente as regras e mostram a escola para os visitantes. Tudo isso é muito interessante.
Mas a parte que mais me interessa no texto é, já na primeira crônica, quando Rubem Alves reflete sobre a linha de montagem nas escolas (o que Otto Peters também fez na avaliação da EaD). As comparações são interessantes: nossas escolas (e o mesmo podemos dizer de nossas universidades) estão organizadas como linhas de montagem. A qualidade do produto final é a sua igualdade: o ideal é que todos saiam iguais.
Por isso, os alunos não agüentariam fazer lição de casa. É o que Roland Barthes chamou de ‘preguiça infeliz’:
“O aluno se arrasta sobre a lição de casa. Não quer fazê-la. A vida o está chamando numa outra direção mais alegre. Mas ele não tem alternativas. É obrigado a fazer a lição. Por isso ele se arrasta em sofrimento.” (p. 49).
E interesse ainda maior tem a discussão que ele faz dos currículos, da qual vou apenas citar algumas passagens:
“Programas são entidades abstratas.” (p. 49).
“Quero uma escola que vá mais para trás dos ‘programas’ científica e abstratamente elaborados e impostos.” (p. 55)
“Pensamos que as coisas a serem aprendidas são aquelas que constam dos programas. Essa é a razão por que os professores devem preparar seus planos de aula. Mas as coisas mais importantes não são ensinadas por meio de aulas bem preparadas. Elas são ensinadas inconscientemente.” (p. 66)
Combustível novo para a discussão sobre o aututor, os currículos em EaD, o fordismo etc.
Professor, isso me lembra a improvisação tal como no jazz!
Abraço.
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Não li o livro ou mesmo o artigo dedicado ao assunto ,porém há muitos anos atrás já tinha ouvido falar da escola da Ponte e lecionando em um colégio técnico encontrei esse livro nas prateleiras ,sinceramente não consegui ler e nem me facinou o assunto.Mas lhe pergunto a Escola da Ponte ainda hoje é eficaz?.quanto a descobrí-lo nas WWW foi pelo curso em EAD que faço na Unitau ,que aliás é muito bom .
Um abraço
Arnaldo,
a escola da ponte está em pleno vapor e continua lindamente eficiente!
abraços
Arnaldo, achei os pontos que destaquei do livro interessantes. Não tenho mais informações sobre a Escola da Ponte, mas o professor Wilson Azevedo, na Aquifolium Educacional, costuma oferecer cursos à distância sobre o tema, dê uma olhada. Abração