Caros, ontem na passagem do 24 para o 25 de Natal fiz uma reflexão que não posso deixar de registrar aqui.
Vivemos em uma sociedade dos excessos. É claro que, principalmente em um país cruelmente desigual como o nosso, o excesso pende somente para um lado, bem pequeno inclusive. Mas não é exatamente disso que estou falando.
Damos muitos presentes para as pessoas e no fundo elas não precisam da maioria das coisas. Com a informação acontece a mesma coisa: temos informação sobrando, muito mais do que precisamos para viver. E não conseguimos nos localizar nem no meio de tantas coisas nem no meio de tanta informação.
Assim, fica fácil perdermos o foco. E ainda reclamamos quando diagnosticamos as crianças como hiperativas: elas não conseguem se fixar em nada porque nossa sociedade não dá a chance de focalizarmos nada, de atenção e de concentração. Ao contrário, precisamos justamente desenvolver essa capacidade suicida de pular logo de uma coisa para a outra, de uma informação para a outra, sem fruir de nada, sem compreender nada, senão ficamos para trás.
A sociedade do excesso nos brinda com isso: a perda do foco nas coisas principais da vida. Precisamos de muito menos para viver bem. O desafio é justamente este: no meio de tanta oferta, escolher apenas aquilo que é essencial para uma vida feliz – a nossa caixa de ferramentas existencial (o que não é fácil, porque no meio de tanta oferta, uma escolha adequada já levaria mais de uma vida!), e depois resistir à tentação de abandonar o que escolhemos (o que também é difícil, porque as coisas e a informação tornam-se perecíveis, e novas tentações surgem a todo momento, muitas que provavelmente encaixariam bem na nossa caixa de ferramentas existencial).
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Penso que, do viés humano, o pior do excesso metabolizado no micro, é, com isso, a denúncia que faz da privação do Outro, que, claro, é o super macro.
Adalberto, você vai traduzir?
Imagine-se, João, na varanda de sua cobertura na Vieira Souto, de frente para o mar, observando o pôr-do-sol, com um copo de uísque e duas pedras de gelo na mão direita, e um amendoim torrado e salgado na mão esquerda, ouvindo seu som em 5 canais dolby estéreo, que ressoa nos 1200m2 de sua moradia. Ao olhar para a sua direita, não muito longe de você, vê um trabalhador arcado de cansaço, chegando do trabalho em seu barraco de madeira de construção, com duas divisões, cozinha e quarto, o uniforme de PM bem enrolado e escondido numa sacola de supermercado, que ele joga num canto, quase acertando a cabecinha de seu terceiro filho, com poucos meses de idade, com uma febre que não passa com nenhuma reza, e a saudade de sua mulher morta em tiroteio de traficante com a milícia. Este homem não tem varanda, lógico, mas, morando a certa altura de seu morro, apoiado no batente da porta de entrada, com um córrego líquido de esgoto molhando seus pés, da posição em que está, e que você também está, têm seus olhares se cruzados. E os dois se perguntam: “Por que tanta diferença?” Você no seu excesso escancarado, mostrando sem querer mostrar tudo o que você tem, e o PM disfarçado, nada tendo para mostrar, a não ser sua privação e miséria.
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