Para onde caminhamos na educação (por Wanderlucy Czeszak)

Caros colegas:

Tive a oportunidade de aproveitar a indicação dada pela Carmem Maia e assisti à palestra cujo tema era “Para onde caminhamos na Educação”, proferida pelo Prof. José Manuel Moran, da Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo, no dia 23/03/2007, no Centro de Integração Escola e Empresa, localizado no Itaim Bibi, em São Paulo.
Segue abaixo um apanhado do que foi dito na palestra do Prof. Moran. Espero que aproveitem!

O Prof. Moran começa enfatizando a questão das divergências de interesses que prejudicam o desenvolvimento no campo da educação.
O que para um é fundamental para outro não é.
É complicado ver que há muitos elementos que não caminham a favor do desenvolvimento da educação.
Uma coisa fica clara: a sociedade muda mais rapidamente que a escola e a universidade.
Ainda que haja atualmente mais consciência de que as coisas não podem ficar como estão, só consciência não muda nada.
O abismo entre a escola e a sociedade é hoje maior do que nunca e a maioria só percebe a superfície do que está acontecendo. Há falta de sintonia entre o que o aluno espera e o que a gente oferece.
Vivemos numa década revolucionária. Passamos da internet discada às cidades digitais. Há mobilidade, flexibilidade, interconectividade em todos os campos e temos hoje à nossa disposição ambientes que estão interferindo profundamente na educação, como: Skype, Youtube, TV por IP (free IPTV – www.freeiptv.org), Second Life (www.secondlife.com).
A Educação é hoje marcada pelo aperfeiçoamento do modelo industrial, mas ainda não estamos revolucionando; estamos ainda insistindo no modelo industrial.
Ainda que tenhamos melhores tecnologias de gestão, de apresentação, de acesso (laboratórios), estamos efetuando melhoras apenas na periferia do conhecimento.
Tem havido muitas iniciativas pontuais inovadoras (projetos colaborativos) mas elas ainda não são assimiladas pelo status quo, apresentando um aspecto apenas pontual, não afetando a todos.
Temos modelos empresariais de conteúdo e web padronizados, entretanto apenas reproduzimos o tradicional com um viés moderno.
A preocupação em se fazer uso das tecnologias para baixar custos tem sido detectada sobretudo na EAD, que tem cada vez mais assumido mercado e moda. Deslumbramento é tão perigoso quanto preconceito.
A tele-aula tem sido vista como a grande “descoberta” em EAD, cujo objetivo maior é multiplicar a aula de um professor reconhecidamente competente para baixar custos.
Tem-se pensado em outros recursos além das plataformas educacionais de alto custo, que tornem a EAD mais viável financeiramente, como o uso do Moodle. O caso, por exemplo de Ponta Grossa – PR, merece destaque: www.escolabr.com (Ponta Grossa – PR)
Novas ferramentas, como o Breeze, têm sido utilizadas, possibilitando uma aula que vá além do modelo tradicional do texto escrito.
O ensino presencial tem sofrido mudanças, como conseqüência do advento da EAD, como a disseminação do ensino semi-presencial progressivo e irreversível.
Estamos caminhando para isso, não há como fugir.
O objetivo é que se busque a implementação desses novos modelos educacionais para todos.
A porcentagem do EAD no presencial deve ser variável, pois cada curso tem um perfil.
Modelos massivos focados no conteúdo e atividades têm sido bastante difundidos. São modelos bem bolados do ponto de vista econômico, no entanto, do ponto de vista pedagógico, são bastante questionáveis.
A EAD sofre, muitas vezes, preconceito porque ela própria dá margem ao preconceito, colocando em prática modelos mal desenvolvidos e cheios de equívocos, deixando que o aluno faça da EAD uma espécie de bico, mantendo o tutor mal-formado, além do excesso de alunos por tutor, tornando seu trabalho burocratizante e sem qualidade.
O mantenedor vai com muita sede ao pote: preocupação excessiva com lucros depõe contra EAD de qualidade.
Têm surgido também modelos mais focados em aprendizagem ativa e colaborativa. O aluno fica um tempo na universidade e um tempo na empresa. Não se trata de um estágio. Este modelo deve evoluir. O exemplo de Universidade de Roraima merece especial atenção.
Tem havido a multiplicação dos modelos tele-aula, pólos e atividades on-line.
Diversas formas de educação on-line, desenvolvendo-se uma maior aproximação e integração com os modelos presenciais.
Entretanto, ainda são grandes as dificuldades, sobretudo por conta da cultura escolar tradicional e a regulação excessiva. É preciso incentivar a experiência. O MEC vai a reboque da escola.
Além disso, a educação não deve ser considerada apenas como negócio, mas sim como bem social. As instituições estão sendo entregues para o capital estrangeiro.
A escola privada parece não ser um bem público e há graves tensões entre o público e o privado.
Temos também o fato de sermos um país latino, ibérico, que copiou o pior da Ibéria: autoritarismo, controle e desconfiança do outro. Numa sociedade desconfiada e desigual, é difícil construir um país.
E por fim, temos a cultura do aluno que é de consumidor que paga e quer receber um produto. É preciso quebrar esse paradigma. A escola vem errada desde o início, centrando no professor o poder e a fala. Essa educação passiva tem conseqüências na universidade.
Eixos norteadores de mudanças:
- Propostas pedagógicas e organizacionais mais reflexivo-interativo-valorativas
- Ambientes ricos de aprendizagem presencial e digital.
- A cidade e o mundo como multi-espaços de aprendizagem.
Diretrizes:
- Menos aulas e mais encontros.
- Acompanhar/gerenciar o processo de pesquisa, de compreensão e de aplicação.
Desafios:
- Desenho pedagógico, organizacional, tecnológico, arquitetônico de escola e universidade inovadoras.
- Pensar uma escola pública diferente, mais próxima do aluno, que também inclua a todos digitalmente.
Pesquisas e novas oportunidades:
- tecnológicas: ambientes 3D integrados e ricos em soluções para a aprendizagem.
- pedagógicas: projetos inovadores para diferentes níveis de alunos e situações. É preciso mudar efetivamente a escola e a universidade, experimentando soluções que envolvam a escola e a empresa.
- gerenciais: organização dos diferentes espaços, tempos, formas de ensinar e aprender.
Grandes Desafios:
- Somos a ponte entre os velhos modelos e outros que ainda estão em construção.
- Preparamos mudanças para uma sociedade muito diferente da atual.
- Temos desafios maravilhosos: propor uma nova educação para uma nova sociedade.
Ao final, o Prof. Moran cita Rogers, incentivando o educador a investir continuamente em seu próprio desenvolvimento: “Eu sinto prazer em envelhecer aprendendo”.

www.eca.usp.br/prof/moran

Wanderlucy Czeszak

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4 respostas a Para onde caminhamos na educação (por Wanderlucy Czeszak)

  1. Regina Célia Pedroso disse:

    Cra Wanderlucy e demais, muito interessante a síntese que vc fez da palestra do Prof. Moran – gostaria de também ter comparecido, pois às vezes necessitamos ouvir palavras que nos incentivam a ainda continuar a lecionar. O Prof. Moran com sua visão crítica e inovadora, com certeza tem muito a contribuir com as mudanças operacionais em muitas universidades. Penso aqui em criar e aplicar modelos que incentivem o professor a interagir mais com seus alunos, ao invés apenas dos administradores pensarem somente nos lucros advindos de seus clientes-alunos.
    Tenho dito: Enquanto ficarmos nessa de país subdesenvolvido, recolhendo as migalhas da Europa e EUA estamos fadados ao fracasso.

  2. regina disse:

    sou publicitária e gostaria de saber mais da opinião de profissionais da área (pontos forte e fracos sobre educação semi presencial)- levando em conta as dificuldades financeiras e claro a realidade da educação oferecida pelo governo.

  3. João Mattar disse:

    Regina, na verdade aqui no blog, em vários posts, temos debatido bastante a EaD e a educação semipresencial. Há uma categoria, EaD, que você pode selecionar do lado direito, e acessará todos os posts que estão classificados nessa categoria. Há bastante material, com intervenções de diferentes profissionais da área, mas se tiver perguntas específicas, pode postar por aqui ou mesmo me enviar um email, e terei o maior prazer em responder, ok?

  4. Pingback: De Mattar » Blog Archive » O Second Life morreu? (a velha questão que não morre…)

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