FILATRO, Andrea. Design instrucional contextualizado: educação e tecnologia. São Paulo: SENAC, 2004.
O livro é fruto da pesquisa de pós-graduação da autora, na Faculdade de Educação da USP.
O texto é precedido de uma Nota do Editor, de um Prefácio escrito pela professora Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida e de Agradecimentos.
Na Apresentação, além de apresentar a estrutura geral da obra, a autora expõe a opção de sua pesquisa pela aprendizagem de adultos, e do uso do design instrucional, especificamente associado à Internet, para aperfeiçoar seu processo de ensino e aprendizagem. O título da obra é definido como:
“[...] a ação intencional de planejar, desenvolver e aplicar situações didáticas específicas que incorpore, tanto na fase de concepção como durante a implementação, mecanismos que favoreçam a contextualização e a flexibilização.” (p. 21).
Na Introdução: O cenário educacional atual, a autora realiza uma breve discussão sobre a sociedade da informação, analisando também alguns dados da situação do acesso à tecnologia no Brasil. Apresenta também alguns conceitos como os de educação continuada ou permanente, aprendizagem por toda a vida, hipertextualidade, AVAs (ambientes virtuais de aprendizagem), dentre outros
O campo de atuação do design instrucional é definido num sentido amplo:
“Envolve – além de planejar, preparar, projetar, produzir e publicar textos, imagens, gráficos, sons e movimentos, simulações, atividades e tarefas relacionadas a uma área de estudo – maior personalização dos estilos e ritmos individuais de aprendizagem, adaptação às características institucionais e regionais, atualização a partir de feedback constante, acesso a informações e experiências externas à organização de ensino, favorecendo ainda a comunicação entre os agentes do processo (professores, alunos, equipe técnica e pedagógica, comunidade) e o monitoramento eletrônico da construção individual e coletiva de conhecimentos.” (p. 33)
No Capítulo 1, Sociedade, educação e tecnologia, a autora analisa brevemente como a globalização, a informatização e a sociedade da informação forçam a modificação da educação.
No Capítulo 2, Educação on-line, a autora discute os conceitos de educação, ensino, didática e aprendizagem, dentre outros, e define educação on-line, como:
“[...] uma ação sistemática de uso de tecnologias, abrangendo hipertexto e redes de comunicação interativa, para distribuição de conteúdo educacional e promoção da aprendizagem, sem limitação de tempo ou lugar (anytime, anyplace). Sua principal característica é a mediação tecnológica pela conexão em rede.” (p. 47).
Para a autora, o conceito de e-learning não implicaria, necessariamente, a comunicação em rede. E ela ainda sugere a importância do fenômeno do Edutainment (education + entretainment).
São então apresentados 2 quadros adaptados de outros autores: (1) padrões de utilização das tecnologias de informação e comunicação na educação on-line, e (2) padrões e fatores determinantes do uso da web na educação.
O capítulo termina com a oposição entre (a) um modelo informacional de educação on-line, “em que a apresentação do conteúdo é a principal maneira de garantir a motivação e a aprendizagem dos alunos” (p. 53), que no fundo reproduz os modelos de educação tradicional baseados em livros e apostilas, sem aproveitar o potencial interativo da Internet, e (b) um modelo imersivo, que conta com o trabalho artesanal do professor, e privilegia a interação e o uso da Internet.
O Capítulo 3, Design Instrucional, inicia-se com uma discussão conceitual para justificar a opção da autora pelo uso da expressão design instrucional, e não, por exemplo, projeto ou desenho instrucional, educacional, pedagógico ou didático.
É então apresentado um quadro comparativo entre a ciência da informação e o design instrucional, para ilustrar que o conceito de design instrucional não se restringe ao tratamento, publicação e entrega da informação, e é então proposta uma nova definição de design instrucional:
“[...] a ação intencional e sistemática de ensino, que envolve o planejamento, o desenvolvimento e a utilização de métodos, técnicas, atividades, materiais, eventos e produtos educacionais em situações didáticas específicas, a fim de facilitar a aprendizagem humana a partir dos princípios de aprendizagem e instrução conhecidos.” (p. 65)
Um novo quadro é então apresentado, para ilustrar as fases do design instrucional convencional: análise, design, desenvolvimento, implementação e avaliação, seguido de uma pequena discussão desse modelo.
No Capítulo 4, Paradigmas dominantes de ensino-aprendizagem: contribuições para o design instrucional, a autora traça a história do design instrucional em paralelo ao desenvolvimento das teorias da educação, centrando-se no comportamentalismo, no cognitivismo e no (sócio)construtivismo, em que se estabelece a idéia de comunidades de aprendizagem.
Novos quadros mostram: (a) relações entre construtivismo e pós-modernismo, e (b) interconexão entre paradigmas de ensino-aprendizagem (Skinner, Piaget e Vigótski) e tecnologia da computação.
Para finalizar, são ainda visitadas correntes teóricas como a da andradogia, do brasileiro Paulo Freire e da dimensão humanista (cujo expoente seria Carl Rogers).
O Capítulo 5, O papel do contexto no design instrucional, analisa os pressupostos básicos de um novo modelo de design instrucional, descrito como ‘situado’, ‘flexível’, ‘reflexivo’, ‘recursivo’ ou ‘construtivista’. É interessante que cada um desses termos, citados pela própria autora, aponta para aspectos pedagógicos bastante distintos, o que poderia nos levar a questionar a validade do conceito (supostamente mais amplo) de DIC – Design Instrucional Contextualizado. Talvez o ‘contexto’ não seja a única questão, nem mesmo a mais importante, nas exigências mais modernas para o design instrucional, e talvez o privilégio dado a esse termo possa mascarar a diversidade das pressões didáticas, muitas vezes contraditórias, da pós-modernidade. Se essa leitura estiver correta, talvez essa confusão conceitual seja ainda responsável pela implementação de projetos confusos, que no fundo não resolvem os desafios essenciais do design instrucional, e que acabam servindo para colocar em prática modelos de EaD que, justamente, o DIC critica e gostaria de superar. Ou seja: o conceito muito genérico de ‘contexto’ acaba dando origem a experiências que, no fundo, contradizem boa parte daquilo que o DIC defende, e reafirmam aquilo que ele critica. Isto é a minha leitura, não discutida pela autora. Esta seria uma explicação mais branda do que simplesmente dizer: os proponentes do DIC pregam uma coisa, mas colocam em prática o seu oposto.
A autora em seguida analisa, brevemente, o que teria gerado historicamente a descontextualização dos processos de design, e ressalta então a importância da personalização e da participação dos alunos na produção, e não apenas no consumo da aprendizagem, assim como a importância do design instrucional on-line promover a oferta de maiores possibilidades de escolha para o aluno.
No início do Capítulo 6, O modelo de desenvolvimento do design instrucional contextualizado, a autora propõe a figura do fractal para representar o DIC, que aliás é a bela capa do livro.
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Ela traça, então, uma comparação do DIC com cada uma das fases tradicionais do design instrucional (análise, design e desenvolvimento, implementação e avaliação), defendendo em geral menos rigor e maior flexibilidade em cada uma dessas fases.
Segundo a autora, no DIC a contextualização se efetiva pela interação, o professor é liberado das funções de palestrante ou atribuidor de nota para as de mentor ou coach, e assim alcançaríamos sistemas de design instrucional mais versáteis e personalizáveis.
No Capítulo 7, A função do designer instrucional, que tem apenas 7 páginas, são discutidas as novas funções do designer instrucional, que é descrito como um modelador do futuro, um construtor, que atuaria no cruzamento entre a educação, a arte, a tecnologia e a administração, sendo capaz de gerenciar equipes e projetos. É também feita uma menção às competências fundamentais do designer instrucional, definidas pelo IBSTPI – International Board of Standards for Training, Performance and Instruction.
O Capítulo 8, O design instrucional no contexto da sala de aula, realiza um estudo de caso da disciplina Ensino a Distância, no curso de pedagogia da Faculdade de Educação da USP.
Em Perspectivas, a autora retoma várias questões abordadas durante o livro, explorando as aparentes oposições automação/personalização e auto-estudo/interação, além do conceito de aprendizagem aberta. Ela defende que as decisões pedagógicas devem ser tomadas em função de uma multiplicidade teórica, não de uma única teoria.
É interessante notar que, por todo o livro, a figura do designer instrucional é sempre vista como distinta e separada da do professor, apesar de autores como o próprio Otto Peters, citado várias vezes no livro, sugerirem que a pós-modernidade exige (e a tecnologia possibilita) a reunião dessas tarefas numa mesma figura, a do professor designer/autor/tutor de seus cursos.
O Apêndice: Tecnologias de apoio ao design instrucional contextualizado, apresenta brevemente algumas tecnologias que estariam sendo empregadas nos processos de ensino-aprendizagem on-line, como programas que auxiliam no processo de construção do modelo instrucional de um curso (como o Designer’s Edge), sistemas de autoria, ferramentas de autoria, LMISs, LMSs e outros softwares (programas informativos, tutoriais, exercício e prática, simulações, realidade virtual e jogos). Por fim, é feita uma menção a padrões como Ariadne, IMS, ADL/SCORM e IEEE LTSC.
O livro termina com um Índice Remissivo e, surpreendentemente, sem Bibliografia! As referências são feitas adequadamente durante o texto, mas uma lista de referências ao final de um trabalho acadêmico é não apenas uma recomendação da ABNT, como também um local onde o leitor pode percorrer rapidamente todas as obras citadas (e, na verdade, mesmo as não citadas, pois a função da Bibliografia é listar todas as obras utilizadas como consulta). Fica aqui uma sugestão para um Bibliografia comentada, numa próxima edição, já que vários autores e obras importantes são citados (e muitas vezes comentados) durante o texto.
O livro é muito bem estruturado e escrito, enriquecido por várias referências que demonstram a profundidade e seriedade da pesquisa, e cobre um assunto ainda pouquíssimo explorado na bibliografia em português, portanto é uma leitura importante para quem deseja se aventurar no fantástico universo da EaD, especialmente a on-line.
i’am really impressed!!
pagine piuttosto informative, piacevoli =)
Design instrucional é tema de novo livro da Pearson
Devido ao notável crescimento dos cursos baseados no ensino a distância nos últimos anos, estruturar e desenvolver cursos voltados especificamente para essa forma de ensino têm se tornado assuntos de interesse de diversos profissionais.
Com o propósito de ser um verdadeiro facilitador, este livro aborda, passo a passo, todos os aspectos do design instrucional relacionados a um curso on-line, como a construção de roteiros e storyboards, design de conteúdos multimídia, de interface e interação
Dirigido a todos os profissionais envolvidos com a educação a distância que buscam a capacitação em desenvolvimento e produção de conteúdo on-line, Design Instrucional na prática apresenta seu conteúdo por meio de dicas e exemplos baseados na vasta experiência da autora, que fazem desta uma obra indispensável.
Ficha técnica
Título: Design instrucional na prática
Autora: Andrea Filatro
Número de pág.: 192
Preço: sob consulta
Editora: Pearson Education
Selo: Prentice Hall
Sobre a autora: Andrea Filatro – Doutora e mestra pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Graduada em pedagogia pela FEUSP e especialista em gestão de projetos pela FIA. Professora convidada do curso de especialização em design instrucional para educação on-line da Universidade Federal de Juiz de Fora (parceria com Site Educacional). Consultora em educação on-line e educação a distância em instituições acadêmicas e corporações.
SOBRE A PEARSON
A Editora Pearson está presente em 50 países, oferecendo conteúdo de qualidade para estudantes e instituições de ensino em 13 idiomas. Instalada no Brasil desde 1996, a Pearson publica livros nas áreas de ensino da língua inglesa, com o selo Longman; informática, com o selo Makron Books; negócios, com o selo Financial Times/Prentice Hall, e universitária, com os selos Prentice Hall e Addison Wesley.
Eu ainda não conheço a versão editada pela Pearson, mas assim que tiver acesso ao livro prometo um complemento por aqui ou um post separado.
Estou estudando os dois livros de Filatro para utilização em TCC de curso de pós-graduaçã a distância, porque me encantei com a forma didática e de fácil aplicação. Me surpreendi com sua capacidade de explicações e textura gramatical e de assuntos. Parabenizo a autora pelo brilhante trabalho.
Atenciosamente, Odilia
Estou lendo os dois livros.
Parabéns pela resenha. Este livro está na minha lista de leituras.
Obrigada!!
Neuza
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