Da Desobediência Civil: quando o brasileiro realmente irá mostrar a sua cara – Regina Célia Pedroso

Vários movimentos sociais existiram, existem e existirão no Brasil. Alguns, como por exemplo no início do século XIX, lutavam por reivindicações legítimas, como a Revolta do Contestado ou mesmo a Revolta da Vacina. O Estado opressor sobrepunha-se aos direitos individuais, concentrando o poder e praticando a política patrimonialista. Passaram-se décadas de governos autoritários, ditaduras, pretensas aberturas democráticas e por fim a Constituição de 1988 que prevê direitos até então nunca imaginados pelos cidadãos brasileiros. Mera utopia – mero engodo – mera enganação – tudo uma grande farsa, será que para perpetuar teoricamente direitos que na prática nunca existiram e nunca existirão?

Sou uma mulher revoltada, parafraseando aqui o título do belo livro de Camus “O Homem Revoltado”, pois vejo apenas trevas no panorama político brasileiro. Com certeza, um ou outro político deve ser honesto ou coisa que o valha, porém este não tem voz, é silenciado e expurgado pelos meios midiáticos, que também colaboram para o espetáculo degenerativo da prática pública em nosso país. Somos explorados de todas as formas; pagamos impostos altíssimos, somos cerceados no nosso direito de locomoção pelo rodízio idiota de carros na cidade de São Paulo (que é claro, beneficia apenas quem tem mais de um automóvel) e ainda querem nos enganar que é uma questão de emissão de poluentes; tivemos recentemente mudada a alíquota de cálculo do Fundo de Garantia por tempo de serviço, claro, para recebermos correção monetária menor; políticos usam a máquina burocrática e desviam dinheiro público sem a menos vergonha; para se tirar um simples passaporte, cidadãos submetem-se à fila horrorosa da Polícia Federal, que poderíamos até apelidar de nova polícia política do governo Lula. Enfim, exemplos aqui poderia eu redigi-los aos milhares. Mas será que todos temos consciência do que está acontecendo em nosso país?

Quando será que o POVO, na verdadeira acepção da palavra, irá revoltar-se? Vejo injustiças por todos os lados – o individualismo reina marcante num mundo comandado pelo consumismo desenfreado e pelo visual da beleza física e da aparência perfeita. Amigo, se vc está fora desse padrão, conforme-se ou então irá sofrer muito!

Não quero mais obedecer autoridades legitimamente eleitas e que mandam e desmandam de forma ilegítima; não quero mais pagar os impostos que venho pagando para que este dinheiro seja desviado em benefício de uma matilha de lobos famintos por riqueza e propriedades; não quero mais viver nesta país que vivo do jeito que está.

Quero, sim, uma sociedade justa e digna onde possa criar minha filha e ensiná-la os valores e a moral que devem permear o Homem em sua existência. Será que isso eu conseguirei alcançar?

Vamos desobedecer aqueles que não merecem o poder de mando. Vamos obedecer à voz dos que têm o que dizer e o que reivindicar.

Para encerrar esse manifesto pela desobediência civil, cito aqui uma frase de Norberto Bobbio, onde ele diz que o homem ama a liberdade e a igualdade, porém prefere o poder e a hierarquia.

Regina Célia Pedroso

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9 respostas a Da Desobediência Civil: quando o brasileiro realmente irá mostrar a sua cara – Regina Célia Pedroso

  1. Odele Souza disse:

    Olá Regina,
    Concordo com suas colocações. É preciso estar anestesiados – ou alienados – para não se revoltar contra o que vemos e presenciamos todos os dias neste nosso Brasil. Vejo pessoas quietas e conformadas e me pergunto por que não se revoltam, por que se calam diante de tanta injustiça, de tanto descaso, de omissão, de desmandos e corrupção. Você, entre tantas outras coisas, às quais tem direito, quer um país mais digno onde possa criar sua filha, e eu, entre tantas outras coisas, às quais tenho direito, quero um país onde eu não me sinta refém do medo a cada vez que meu filho sai à rua para ir à Universidade, para trabalhar ou mesmo se divertir e eu não sei se ele será assaltado ou sofrerá outro tipo de violência numa esquina qualquer. Difícil ficar calada. Impossível não se revoltar.
    Um abraço.

  2. Wanderlucy disse:

    Olá, Regina:
    Muito bom seu manifesto.
    Quero solidarizar-me a ele.
    Está cada vez mais difícil viver neste país pois, ainda que vejamos injustiças pelo mundo todo, aqui a situação é escandalosa demais.
    Ser correto e justo é exceção que faz de nós idiotas perante a sociedade.
    Será que podemos ser esperançosos diante de características tão perniciosas da naturea humana?
    Termino citando um trecho da “República” de Platão:
    “A menos que alguém, por um instinto divino, tenha aversão à injustiça ou dela se abstenha devido ao saber que alcançou, ninguém mais é justo voluntariamente, mas que devido à covardia, à velhice ou a qualquer outra fraqueza, censurará a injustiça, por estar incapacitado de a cometer.”

  3. João Mattar disse:

    Caramba, se o Platão estiver certo estamos perdidos!
    Eu acho que vou morrer meio bobo, mas continuo acreditando no ser humano. Eu conheço muitas pessoas que me parecem acreditar e praticar a justiça. Ultimamente, venho mesmo me decepcionando, mas ainda acho que esta não é a regra. A competição é fogo, nos faz perder a cabeça, e muitas vezes achamos que alguém está sendo injusto, enquanto a outra pessoa deve pensar a mesma coisa de nós. É realmente muito difícil trabalhar em equipe, mas se não tivermos confiança nas pessoas não é possível fazer nada. Acho legal a mobilização, a resistência, mas tenho muito medo do pessimismo total. Muito medo mesmo.

  4. Wanderlucy disse:

    Segundo Platão, João, você tem “instinto divino”! hehehe
    Também conheço pessoas justas, mas raras são as vezes em que elas estão desempenhando funções de muito poder.
    Será porque o poder corrompe ou o contrário?

  5. João Mattar disse:

    O poder corrompe, disso não tenho dúvida.

  6. Caros João e Wander, acredito que o Poder (em sua instância máxima de mando ou até soberania, para os eleitos) chega a alterar as pessoas; porém acredito que a índolo e a moral não podem ser alterados. Pois quem já detém tal postura, nada irá mudá-los. Porém se o indivíduo é do tipo “jeitinho brasileiro”, quanto mais alto este chegar na escala do poder, mais utilizará os mecanismos que lhe são favoráveis para seu benefício próprio. E, sinceramente, acredito que a maioria da população segue a lei do “jeitinho brasileiro”. E apenas uma minoria tem um padrão de moral inabalável. Vejo o inverso que vc, João. Até pelos depoimentos que venho colhendo a respeito disso com meus alunos do curso de Direito. Pergunto individualmente a todos: por que está fazendo um curso de Direito? O que almeja em sua vida profissional? E a maior parte das respostas apontam para o exercício do PODER. Acredito que a juventude atual está corrompida para os exemplos vistos em nossa sociedade. E só o tempo poderá mostrar se estou errada.
    É isso aí: vamos batalhar pra mudar isso. Apesar que meu discurso às vezes só serve pra uma minoria mesmo.
    Abraços,
    Tenho dito: Temos que começar um movimento na internet cobrando punição para os “colarinhos brancos”.

  7. adalberto disse:

    Meus saudosos amigos
    Wander, Regina, João & cols.

    Tenho para mim, que somos levados ao equívoco onipresente de que o bem, ao final, vence. Isto é reforçado pelas mídias, especialmente de imagem e som. Também por aqueles pais, mestres e sacerdotes ingênuos, alienados de uma crítica saudável, confiável e realista.
    A história da Humanidade já provou cientificamente que a premissa inicial é enganosa. A Evolução Biológica por meio da Seleção Natural somente deixa passar os mais aptos. Assim, vejamos:
    Estou convencido que o bem é a ausência do mal. Portanto, aquilo que tem substância é o mal. O bem aparece quando aquele deixar alguma pequena fresta. O bem é a ausência do mal.
    Seja por defeito genético ou social, desta interação surgem indivíduos deficientes que escapam à Seleção Natural, burlando-a, e, qual foragidos, escondem-se em suas casas para não serem reconhecidos e eliminados por serem animais quase não-humanos, pelos outros quase-perfeitos.
    Digamos que, na prática policial, os defeituosos de boa vontade, tenham transgredido na faixa de 3 a 5 dos Dez Mandamentos. Os hígidos de corpo, mente e espírito são aqueles que já necessitaram ser tipificados nos Adendos, que transformaram as Tábuas da Lei em Vinte Grandes Pecados. O 20º deixa em aberto quaisquer outras possibilidades.
    Estes são os aptos. Como o ser humano não passa por um controle de qualidade, os defeituosos por franca anomalia recessiva são minoria em qualquer sociedade. Por isso mesmo, tornam-se um estorvo para os bem sucedidos, ricos em substância.
    O destino das minorias é a exclusão da Vida, vale dizer, é a Morte. A Maldade sempre venceu a Bondade, e por serem vitoriosos tornaram-se ininputáveis, transformam-se em exemplo, em Ídolos, em Chefes de Estado.
    Para aqueles que trabalham em Educação como nós, deveriam ensinar, desde o prezinho, essas verdades eternas. Quem vence na vida são, os mais destemidos, frios de ânimo no seu self-control, que não perdem as oportunidades que a vida lhes oferece, em prejuízo dos demais, que matar é algo trivial inerente à incerta vida humana, que somente os fracos choram, sentem culpa ou perda e têm aversão por sangue.
    Exemplos não faltam. Estes espécimes-deuses, a glória da Evolução Humana e da substância total, estão no Poder das Nações. Sua grande missão é exterminar os defeituosos.

    * * *

  8. Caro Adalberto, gostei de sua análise acerca da substância do poder. É real ao extremo e é isso que vejo ao analisar as mudanças estruturais da política brasileira. Lembro-me aqui de uma análise de Jean-Claude Schimit, onde le diz que os mais ricos e poderosos possuem verdadeiro ódio dos mais pobres e oprimidos, justamente por não entender como os excluídos são felizes em sua vida indignada e sem expressão. Porém aqui cabe também lembrar nessa sua análise acerca do poder, que a evolução natural também pode levar a uma incerteza nesse conceito de evolução, já que se as políticas atuais dos todos poderosos conduz o mundo ao desastre ecológico, logo, a evolução também pode ter uma interrupção; ou melhor, deixar de existir, já que o ser humano como tal também pode deixar de habitar o planeta. Dá pra viajar muito neste tipo de discussão. Acho que temos que marcar um café filosófico para discutirmos pessoalmente tudo isso. O que acham? Vamos marcar um encontro presencial pro final de julho, final das férias, quando todos já voltamos de nossas viagens. Vamos lá João Mattar, agende aí um encontro com a tchurma dos rebeldes,
    Abraços

  9. adalberto disse:

    Pois é, Regina, além de tudo ainda ficamos sem o planeta que os poderosos destruíram. E morremos todos.

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