As duas culturas – e uma segunda leitura
C. P. Snow
EDUSP, São Paulo, 2ª. edição, 1995 – 128 páginas (R$ 19,00)
Resenha por Wanderlucy Czeszak
Este pequeno livro traz uma palestra proferida originalmente por C.P. Snow na Universidade de Cambridge, em 1959. Passados quase cinqüenta anos, o texto continua provocativo e polêmico.
Myriam Krasilchik, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, na apresentação do livro ressalta que, “segundo o autor, os humanistas não conhecem conceitos básicos da ciência e os cientistas não tomam conhecimento das dimensões psicológicas, sociais e éticas dos problemas científicos”. Essa dicotomia tem trazido graves implicações para o desenvolvimento mundial, sobretudo no âmbito educacional, trazendo como conseqüência o crescimento do fosso que separa países ricos e países pobres.
O autor acredita que a vida intelectual de toda a sociedade ocidental está cada vez mais dividida entre dois grupos polares: literatos e cientistas, mais representativamente, os físicos.
O autor sugere de forma polêmica que “se os cientistas têm o futuro dentro de si, a cultura tradicional reage com o desejo de que o futuro não exista. É a cultura tradicional diminuída minimamente pelo surgimento da cultura científica, que governa o mundo ocidental”.
Segundo o autor, assim como o mundo viveu a Revolução Industrial no século XVIII, marcada pelo uso gradual das máquinas substituindo homens e mulheres nas fábricas, vivemos hoje a revolução científica, nascida daquela e marcada pela aplicação da ciência real à indústria, tendo se iniciado com o uso industrial das partículas atômicas.
O ponto mais importante da revolução científica é que as pessoas dos países industrializados estão ficando mais ricas e a dos países não industrializados, na melhor das hipóteses, estão estacionadas, o que vem aumentando o fosso entre ricos e pobres, mantendo o mundo numa situação que não pode continuar, segundo o autor.
O autor alerta para o fato de que “estamos numa daquelas situações em que o pior crime é a inocência. Já que o fosso entre os ricos e os pobres pode ser eliminado, ele o será. Se tivermos a vida curta, se formos ineptos, incapazes de boa vontade ou de interesse próprio esclarecido, então ele pode ser eliminado com o acompanhamento de guerras e fome”.
Segundo o autor, para a solução dos problemas das diferenças entre ricos e pobres, os países ricos precisam agir com capital, homens e educação: investimento em projetos envolvendo o envio de pessoas qualificadas para formar e instrumentalizar os países pobres para o desenvolvimento.
C.P. Snow finaliza sua palestra ressaltando que “a educação não é a solução total para esse problema, mas sem educação o Ocidente mal pode começar a competir. (…) A bem da vida intelectual, a bem do nosso país que corre um perigo especial, a bem da sociedade ocidental que vive precariamente entre os pobres, a bem do pobre que não precisará ser pobre se houver inteligência no mundo, é imperativo que nós, os americanos e todo o Ocidente encaremos a nossa educação de uma maneira nova”.
Eu diria que a Educação a Distância por meio da internet é o principal caminho para essas mudanças.
A segunda parte do livro é dedicada a uma segunda leitura da palestra, escrita quatro anos depois, na qual C.P. Snow, mantendo o tom irônico e provocativo, faz comentários e rebate críticas feitas a sua palestra que, segundo ele, rendeu mais discussões e polêmicas que ele poderia supor.
Este livro é uma leitura curta e fácil que pode trazer muita discussão frutífera para a sala de aula.