Colegas:
Nossa aula de hoje foi no auditório da Unisinos. As belas fotos do post foram enviadas pela Tete (fiquei tão entretido hoje que não tirei foto nenhuma da aula!)
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Foi uma pena que não pudemos dar uma volta pela ilha toda, mas procurem conhecer a ilha quando puderem: é muito interessante, assim como todo o trabalho que eles fazem por lá.
Disponibilizei um podcast sobre a aula e o cap. 3 do livro, quem não ouviu por lá pode ouvir por aqui!
Vou fazer um resumo do que discutimos, porque algumas questões me parecem muito importantes e queria continuar a discussão por aqui. Fiquei impressionado quando revi a gravação do histórico da aula.
Falamos um pouco sobre a EaD no ensino fundamental e médio no Brasil, se funciona mesmo etc. Existem problemas de acesso à tecnologia, para adultos talvez funcione melhor do que para jovens, as crianças precisam mais de convívio social, a EaD pode ser usada para formar mão-de-obra para a indústria etc. Deixo isso para vocês comentarem.
Falei rapidamente também das universidades abertas e totalmente virtuais.
Aí passamos para a discussão do impostutor e do aututor, dois neologismos que criei e tenho utilizado há algum tempo. Distribuí um notecard com as citações do Michael Moore, que defende a divisão do trabalho em EaD, e outro notecard com citações do Otto Peters e Terry Anderson, que defendem que, com as novas tecnologias, não há mais a necessidade da divisão de trabalho tão rígida.
Sem dúvida, como vocês afirmaram, o trabalho em equipe é importante, tudo depende sempre do público-alvo (da disciplina, do tipo de projeto etc.), um conjunto teórico pré-definido ajuda, um tutor pode se adaptar a um conteúdo, se o conteúdo for bom é realmente melhor etc., mas o problema é que o tutor, em muitos projetos de EaD, tem simplesmente sido usado como mão-de-obra barata, como disse a Fada.
Conteúdo não é conhecimento, como também foi dito. Mas mais do que isso: a questão é saber, nos projetos de EaD, se a balança pende mais para o lado do conteúdo ou para o lado da interação. O Quintino disse: “Quando o curso ‘se basta’ o tutor não precisa intervir.” Depois acrescentou: “Quanto melhor elaborado o conteúdo, menor é a participação do tutor nos nossos cursos online”. E insistiu mais à frente: “Acredito que muito dos conteúdos passados não precisam do tutor, mas tem outros que sem o tutor não dá certo. Por exemplo…. ensinar 5S ou EPI não precisar de tutor.”
O que eu tenho defendido é o seguinte: o peso no conteúdo tira o valor do tutor, o peso na interação aumenta o valor do tutor. A procura dos alunos pelos tutores pode ser baixa, como disse o Breno, mas isso já pressupõe um modelo de tutor passivo, ou do tutor que no fundo é apenas um monitor, aquele a quem alguém tem que procurar quando tiver dúvidas. Não o tutor animador da inteligência coletiva, como defende o Pierre Lèvy.
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E o aututor, outro neologismo que tenho utilizado, é uma solução que procura compensar os dois lados da balança. Como disse a Fada, o aututor está ligado à idéia de criatividade, e o impostutor apenas à de reprodução do conhecimento. Quando eu perguntei ao Ijuí: “mas você não é professor?”, ele me respondeu: “não, sou apenas tutor!”. Mas afinal de contas, um tutor então não é um professor? Estão utilizando por aí o nome ‘tutor’ para uma nova categoria salarial, que ganha menos que um professor . Ora, mas então onde está o professor na EaD? Sobram cursos prontos, de prateleira, enlatados, e faltam mediadores para a aprendizagem dos alunos. Aí podemos pensar também na produção de alunos enlatados!
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Como disse o Quintino, “cada turma deveria ser tratada como um projeto. Assim não teríamos alienação.”. Ou: “Acredito que podemos conciliar divisão do trabalho com satisfação do tutor no processo de construção do conhecimento. Para tanto, trabalhar com as turmas como sendo um projeto, uma equipe em sinergia. Por isso mesmo, um conteúdo pronto com atividades prontas é inviável, pois não permite isso.” O aututor realmente não precisa fazer tudo, podemos ter equipes de multi-aututores, sem alienação. Ele não precisa fazer tudo nem ser alienado. Mas a divisão exagerada do trabalho em EaD, com a extinção da função do professor, não pode ser aceita como uma regra absoluta e imutável em educação a distância.
Aliás, Quintino, você poderia disponibilizar para a gente um curso da WebAula, para que pudéssemos entrar juntos e avaliar o material. E, também, escrever um post sobre a WebAula, que eu coloco com o maior prazer no meu blog. Fiquei impressionado com o que aprendi do Marcos, no Congresso da ABED, e o que pesquisei depois sobre vocês.
Como disse a nossa fada: “o problema parece ser custo… então, o tutor é usado como mão-de-obra barata, que vai repetir o conteúdo, sem acreditar nele…”. Perfeito Fada!
Há também outra questão interessante, lembrada pela Tetis, do controle por parte da instituição de ensino. A educação parece caminhar para uma maior flexibilidade, mas isso é um pesadelo para as instituições de ensino. Quando exponho por aí a idéia do aututor, os administradores entram em pânico, justamente pela ameaça da perda de controle; do processo de aprendizagem dos alunos elas já perderam o controle, agora tentam se prender desesperadamente ao processo de ensino, controlando ao máximo o professor (ou, no limite, um conteúdo perfeito sem professor). Por isso as ferramentas da Web 2.0, que vamos discutir na próxima aula, assustam tanto – para controlar, é melhor usar os ambientes de aprendizagem fechados! Qual deveria então ser a função de uma instituição de ensino, nesse novo cenário? No modelo do impostutor, produzir conteúdo e controlar seus impostutores mal pagos através de ambientes de aprendizagem fechados; no modelo do aututor, treinar seus professores para produzirem conteúdo e serem bons tutores.
Mais de uma pessoa ficou preocupada também com a questão do controle sobre o conteúdo produzido, se ele vai ser modificado etc. O Petrus disse: “Se vc fosse conteudista gostaria de ver seu trabalho alterado?”. Vamos falar disso na aula sobre Direitos Autorais, mas de qualquer forma no modelo de aututor não existe mais o “autor” ou o “conteudista”. E a idéia de remixagem é a marca da Web.
Não cheguei a falar sobre a idéia de Ambientes Pessoais de Aprendizagem, em que o próprio aluno produz o conteúdo e organiza o seu ambiente de aprendizagem da maneira mais adequada ao seu estilo de aprendizagem. Vamos falar de ferramentas na aula que vem, como o Netvibes (os mashups), que servem para isso. Aí a coisa vai bem mais longe – não ficamos mais discutindo se o professor autor ou aututor deve produzir conteúdo, mas passamos a admitir que não temos mais condições nem mesmo de competir com a capacidade de nossos alunos produzirem conteúdo.
Fiz uma reflexão durante a aula que acho nunca tinha feito daquela forma – no ensino presencial, temos uma distinção clara entre currículo (ou programa) e conteúdo do curso (que o professor organiza etc.) Em EaD, parece que essas duas coisas se misturaram inadvertidamente – é preciso um programa, um currículo, mas isso não significa o conteúdo do curso pronto, inclusive as atividades prontas. Aí, caímos no impostutor. A Bete disse: “o problema é q na EAD as coisas têm que ficar planejadas antes do curso… e no presencial elas vão sendo planejadas.” Será? É isso que estou questionando aqui, é esse pressuposto que me parece foi assumido sem muita reflexão pela teoria e prática da EaD. Alguns autores, ao contrário, já defendem a idéia de um design instrucional que se desenvolve durante o próprio curso, o que seria possível graças às novas tecnologias. É uma idéia muito interessante, que, aliás, eu tenho usado na prática.
A Rozangela perguntou: “Erectus, vc diz que o tutor que não elabora o conteúdo, terá dificuldades para ser tutor, certo? como ficam então os professores do presencial, eles geralmente não escrevem conteúdo.” Os professores presenciais podem ou não ter escrito seu próprio conteúdo, podem ser autores de livros ou de apostilas, mas esse “conteúdo” na verdade não é um conteúdo imposto para eles usarem no curso, e sim uma bibliografia sugerida, um material de apoio, que ele pode utilizar como quiser na aula, em função da turma, do desempenho e das dificuldades dos alunos etc. Há uma diferença sutil mas muito importante aqui. De qualquer maneira, o tutor não precisa necessariamente ser autor de “conteúdo”, ele precisa ser o autor do seu curso: escolher os materiais que quer usar, produzir alguma coisa se achar conveniente, propor atividades adequadas a sua disciplina e a sua turma etc.
Questões complicadas, que eu também deixo para o debate, são a remuneração do tutor e o número de alunos por turma. Percebo, como já falei, que em São Paulo vivemos alguns casos de capitalismo selvagem na EaD, mas fora de São Paulo tenho conhecido muitas pessoas que têm extrema preocupação com essas questões, e consciência muito grande de que elas são questões essenciais, que não podem simplesmente ser decididas por um burocrata com lápis e papel!
A Eliane, da Unisinos, perguntou como fica esta questão no SL. Seria um desafio transformar o conteúdo para a EaD em 3D. Eu entendo que o SL seja uma ferramenta valiosíssima para o aututor, aquele professor que pode produzir conteúdo e utilizá-lo como tutor. O nosso vizinho sapinho banana também acha – disse ele, durante a aula (e depois bati um papo com ele sobre isso), que o SL desmente as idéias do Moore.
O Breno citou ferramentas como o YouTube, o TeacherTube e o SlideShare, e justamente essas ferramentas, dentre outras, são o tema da nossa próxima aula.
Acabei não falando de outros pontos do capítulo, como universidades corporativas, treinamento governamental, design instrucional e atividades em EaD, que deixo então para vocês lerem e discutirmos por aqui, se acharem necessário.
Ufa, agora algumas orientações Gerais:
a) Quando chegarem atrasados na aula, evitem falar oi ou bom-dia etc. e sempre que quiserem orientações, tentem usar as mensagens privadas.
b) Quando passo um notecard para vocês, ele vai para o seu inventário, em notecards. Acostumem a usar isso, pois vamos usar mais notecards durante o curso. Dependendo da forma que você recebe o notecard, ele abre direto ou você precisa ir no inventário e dar um duplo click nele.
c) Quem ainda não resolveu a questão de ouvir o streaming ou o chat de voz, procure tentar resolver isso fora das aulas. No espaço De Mattar, normalmente eu e o nosso vizinho, o sapinho, estamos por ali e podemos tentar ajudar. Durante a aula, fica difícil resolver isso. O streaming de voz deve estar ativado em Edit/Preferences/Audio e Video, e o de chat de voz em Edit/Preferences/Voice Chat.
d) Procurem também treinar a focar nos objetos, fora da aula, pois pretendo usar mais datashow nas aulas. Utilizem Alt e os controles de câmera, tentem treinar um pouco fora das aulas o uso dos controles de câmera.
e) Outra coisa importante que é legal treinar fora da aula é sentar.
f) Quem ainda não me adicionou como amigo no SL, me adicione: Erectus Amat. Façam uma busca por esse nome, em pessoas, e Add Friend.
g) Quem ainda não está recebendo as msgs do grupo do curso pelo SL é porque ainda não está adicionado ao grupo. Me avise para eu adicionar.
h) Depois que falarem nos microfones, procurem fechá-lo. Microfones abertos incomodam.
Até quinta, logo passo as orientações.
João Mattar
JOÃO que SHOW !! Muito bom e enriquecedor o esquema de aula, e também a discussão ocorrida no SL …
Parábens !!
Espero encontrá-los em AVEIRO …
Bom dia, Professor e todos. Acho que desenvolver um conteúdo a medida que o curso se desenvolve não dá muito certo. Deve-se ter um planejamento adequado e de qualidade, como um roteiro, pelo menos. Porém, por outro lado, deve-se estar aberto a mudanças durante o curso. Seria, por exemplo, inviável, trabalhar desenvolvendo um curso dia-a-dia de acordo com os alunos, quando a turma fosse muito grande…seria um caos…diferentemente do ensino presencial, entende? Acredito que não se deva “jogar fora” toda a experiência com o ensino tradicional…seria como começar do zero algo que já está em um milhão, apesar de que sempre se pode recomeçar…rs. Mas, acho que se deve ir abrindo as mentes mais duras, que não aceitam a EaD como forma séria de ensino, com exemplos, com RESULTADOS! Então, se por um lado essa idéia for sendo bem assimilada, e por outro se for trabalhando em tornar efetivo e real a EaD, com certeza haverá uma soma de idéias e um equilíbrio bom. O que, naturalmente, acabará afastando aqueles que só pensam em “money” e não estão nem aí para os resultados. É minha opinião. Abraços ao senhor, Erectus, e a todos que passaram uns minutinhos para ler isso.
Fernanda. Eu não defendo exatamete que um conteúdo seja completamente desenvolvido durante um curso, que não haja planejamento nem qualidade, ou mesmo um roteiro, como você mesmo diz. Mas a coisa não pode também ficar engessada. O professor (reparem que cada vez menos a denominação ‘tutor’ faz sentido nesta discussão toda) tem que ter liberdade para usar o conteúdo que quiser, na hora em que quiser, propor atividades diferentes dependendo da turma, chamar outras pessoas para participar do curso, utilizar ferramentas da Web 2.0 que vamos ver na aula que vem etc. Tudo isso é muito contrário a uma EaD engessada, à idéia do impostutor etc.
A questão das turmas grandes eu deixei em aberto para vocês opinarem. Um modelo que gasta muito dinheiro com conteúdo não pode realmente pagar tutor, tem que colocar muitos alunos em uma turma, precisa continuar usando o conteúdo mesmo quando ele se torna obsoleto (para lucrar mais) etc. Um modelo que parte do princípio de que existe conteúdo suficiente para um curso na Web, que tem um aututor capaz de produzir conteúdo, que acredita que a capacidade dos alunos produzirem conteúdo é outra das novidades possibilitadas pelas novas tecnologias etc., aí pode pagar um tutor (como fazemos nas aulas presenciais, pagando um professor), que não seja massacrado com centenas de alunos por turma.
Quanto ao resto do que você fala, concordo integralmente.
Este espaço é super importante para resgatarmos toda a discussão da aula, além de sintetizar idéias e dar continuidade a algumas discussões.
Eu, por exemplo, não sei por que cargas d’água, perdi trechos do chat escrito. Havia momentos em que a tela ficava congelada. Aqui pude recuperar trechos perdidos da discussão.
A possibilidade de acesso à memória tecnológica é, sem dúvida, um dos maiores trunfos da EAD por computador.
Além disso, o ambiente on-line nos possibilita uma discussão refletida, como a que estamos fazendo aqui, que é uma forma de respeitar o ritmo individual das pessoas, ampliando a participação.
Quanto às questões levantadas pela Fernanda, não podemos perder de vista outra riqueza proporcionada pelos ambientes virtuais de aprendizagem: a possibilidade de interação e compartilhamento. É nesse sentido que as aulas (evidentemente partindo de um planejamento prévio do professor)vão se construindo, seguindo rumos por vezes inusitados, já que cada turma é diferente da outra. E é aí que entra o professor bem preparado: ele tem de provocar, cutucar os alunos para que eles avancem, pesquisem, tenham curiosidade e desejo de ir além. E no final da aula, cabe também ao professor fazer o fechamento, sintetizar o que foi discutido, “dar nome aos bois”, mostrar à turma o que foi construído com aquela discussão, retomando o ponto de onde a turma partiu e aonde chegou.
abçs a todos
Tetis Cazalet
Acredito que a discussão tutor x conteudista x professor é uma herança do fordismo, e, assim, como EDUCADORES, na perspectiva do Paulo Freire, devemos lutar pela perspectiva do diálogo na EaD. Isso significa, na prática, que precisamos, como educadores, nos despojar, “do alto do nosso saber”, do orgulho inerente a essa posição, e trazer a perspectiva do aluno ao conteúdo. Não sofreríamos nenhum prejuízo com isso, ao contrário, poderíamos despertar o prazer pelo aprender, essencial à produção de conhecimento, coisa escassa neste país, e tão importante ao desenvolvimento.
abraços a todos
Boa tarde a todos.
Não tenho conseguido participar do SL, mas tenho acompanhado a discussão por aqui e o grupo está de parabéns.
Quero apenas deixar registrado que concordo com as colocações sobre a flexibilidade para o professor trabalhar com o conteúdo. Vivo isso na pele e é terrível trabalhar com plataformas prontas e conteúdos completamente engessados, mesmo por que cada turma tem características próprias que precisam ser levadas em consideração, para que a aprendizagem seja efetiva.
Abraços
Claudia Morrisey
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