Comunicação e Expressão – quarta semana de aula

Mais uma semana de aula!

Continuo insistindo que os alunos se acostumem a escrever no Word (ou outro processador de textos que tenha a opção de correção ortográfica), ante de passar qualquer coisa para um email, um fórum como os do Blackboard etc. Mas muitos ainda não se acostumaram, principalmente no caso de mensagens pequenas, em que achamos que não vamos cometer erro nenhum.

Assistimos no YouTube parte de um programa do Jô Soares, sobre erros de Ortografia:

O importante, é claro, não é ridicularizar quem comete um erro no uso da língua, mas ser capaz de identificar que erro ocorreu (ortografia, concordância, pontuação etc.) e, principalmente, ser capaz de corrigir e explicar para a pessoa qual é a forma correta de escrever, e, mais importante ainda, por quê. Mas em um dos fóruns no Blackboard, um aluno fez um comentário meio despretensioso, mas muito interessante: as pessoas escrevem com erros de ortografia, mas continuam se comunicando. Afinal de contas, se o objetivo principal do uso da linguagem é a comunicação, e se mesmo as mensagens com erros funcionam, qual é o problema? É uma questão que pretendo explorar mais durante o curso, uma bela questão de prova, porque também não tenho a resposta pronta. É óbvio para todos que é preciso escrever correto, principalmente no trabalho e na universidade, mas afinal de contas qual é o grande problema de um ou outro errinho, se a mensagem é transmitida com sucesso para o receptor?

Aproveitando o tema de Ortografia, postei em um fórum do Blackboard uma notícia incrível: Aos 101 anos, aposentado aprende a ler, que gerou muitas reações, principalmente na direção de reconhecer que Sebastião Domingues Oliveira é um exemplo para aqueles que não gostam de estudar ou que dizem que não têm tempo, uma verdadeira lição de vida.

Revimos o trabalho que alguns grupos tinham feito sobre o poema Catar Feijão, do João Cabral de Melo Neto. O poema é muito interessante para trabalhar em análise e interpretação porque começa com uma comparação entre o ato de catar feijão e escrever (escolher palavras), duas coisas que aparentemente não teriam nada em comum, mas são aproximadas de uma maneira muito bonita. Então, nossa tendência passa a ser ler o poema todo como uma comparação dos pontos em comum entre essas duas atividades estranhas. Mas logo aparece uma diferença: o papel não é como a água do alguidar. O papel é “água congelada”, pois nele as palavras não bóiam. Enquanto a água já faz parte do trabalho de separar os feijões bons dos runis (as pedras afundam, as cascas e sujeiras bóaim etc.), o papel não ajuda em nada – podemos jogar as palavras nele, mas temos que fazer todo o trabalho. Mas como fica no caso dos processadores de texto? Eles não são tão planos como os papéis, têm alguma profundidade como a água e fazem uma parte do trabalho (principalmente com os corretores ortográficos e gramaticais). Aí vem um ponto interessante do poema: o grão imastigável. Como, a partir da surpreendente aproximação inicial, nossa tendência é achar pontos em comum entre catar feijão e escrever, e como o grão é uma coisa negativa no feijão (uma pedra que não foi separada dos feijões bons), há uma tendência em dizer que o grão na frase seria uma palavra errada, alguma coisa negativa que o escritor não conseguiu separar adequadamente. Essa é talvez a primeira imagem que venha à mente, quando lemos a idéia de um grão imastigável, e imaginamos qual seria o seu correspondente na escrita e leitura. Mas não é isso o que o poema diz: ele diz que o grão pode ser uma palavra de destaque, um neologismo etc. que chame a atenção do leitor, tire-o da zona de conforto de uma leitura fluviante, flutual (uma brincadeira de trocas de prefixos e sufixos – flutuante, fluvial). Portanto, quem analisa corretamente o sentido do “grão imastigável” no poema leu o texto; quem diz que o grão imastigável é algo negativo, não leu – analisou essa parte final do poema em função da comparação inicial – mas uma das funções da análise e interpretação é justamente chamar a atenção do leitor para o texto, evitando que ele viaje e fuja dele. Então, este poema é muito bom para isso.

Como todos já sabem, eu defendo intensamente o uso de ferramentas informais na educação. Mas tivemos um problema interessante na disciplina. Como lemos dois poemas do João Cabral, direcionei os alunos para a maior comunidade do poeta no orkut, com mais de 20.000 membros. Coloquei inclusive um post por lá, para ver se animava a festa. Mas o que aconteceu? De repente, sem aviso prévio, a comunidade mudou de nome e de tema, e virou:

[photopress:capture001ps.gif,full,vazio]

E agora todos os posts que falavam do João Cabral foram deletados. Aí me surgiu a dúvida, e quero ajuda para respondê-la: como fica esse “risco” na educação? Se comunidades como as do orkut, ou outros recursos da web, estão nas mãos de pessoas que podem fazer o que quiserem e quando quiserem, inclusive simplesmente deletar todo um histórico de discussões que tenha envolvido várias pessoas, como devemos lidar com isso? O argumento das instituições de ensino, de que os ambientes de aprendizagem devem ser fechados e seu controle precisa estar nas mãos das instiuições e dos professores, não dos alunos e dos usuários em geral, não fica assim justificado?

Por falar em ferramentas informais, o trabalho de construção dos blogs das turmas continua. Estão assim neste momento, e todos podem dar sugestões:

Engenharia da Produção – VO – manhã (tinha sido criado no início um outro, que agora foi substituído por este; talvez já tenha sido criado o de Elétrica e Civil da manhã, depois posto por aqui)

Sistemas de Informação – VO – noturno – já tem imagens muito bonitas e referências ao Museu da Língua Portuguesa, visita que todos deverão fazer, como atividade do semestre

Engenharia da Produção – VO – noturno – este foi o pioneiro e é o que está mais desenvolvido, já tem uma função para a classe, e logo terá para pessoas de fora. A turma já criou inclusive uma comunidade no orkut.

Sistemas de Informação – Centro – noturno – brincamos na última aula de colocar vídeos do YouTube no blog, então o que está lá agora, do bêbado de bicicleta, é apenas um teste!

Por falar em vídeos, falamos bastante do YouTube nesta semana. É uma ferramenta incrível, que diversas universidades vêm explorando para uso pedagógico, sobre o que pretendo escrever por aqui nesta semana.

Lembramos as 10 classes gramaticais da língua portuguesa, e eu defendi que os principais problemas da escrita estão localizados no uso de 4 classes gramaticais ou morfológicas: verbos, pronomes, preposições e conjunções, que então vamos estudar separadamente nas próximas aulas. Nos outros casos, os erros comuns são pontuais: alguns plurais (cidadãos), alguns feminimos ou masculinos (como no caso de palavras compostas) etc. Mas o que essas 4 classes têm em comum? Todas têm função de ligação na língua. Preposições ligam palavras, conjunções ligam orações, verbos ligam sujeito e predicado, e pronomes ligam e substituem palavras e orações. Eu defendo que, para melhorar a escrita, precisamos trabalhar com atenção o uso de palavras de ligação na língua, para que nossos textos tenham mais sentido, que não sejam simples aglomerados de palavras (ou feijões)!

A atividade da semana foi analisar a música Samba de uma nota só, um clássico da bossa nova e repertório obrigatório para todo mundo que estuda jazz, não apenas no Brasil. No YouTube, há várias gravações interessantes, como esta antológica, que reúne Jobim e Toquinho:

Esta música é impressionante, em primeiro lugar porque a melodia fica praticamente em uma nota só durante vários compassos – você consegue encontrar outro exemplo assim? Além disso, pode-se perceber a metalinguagem na letra, que, além de falar de amor e outras coisas, fala também de como a música está construída. Por isso, é possível ler a letra e imaginar o que está acontecendo na melodia, mas é também possível olhar para a melodia, mesmo sem entender nada de música, e enxergar lá a historinha que a letra está contando. Você consegue dar um outro exemplo assim?

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Por fim, os alunos já começaram a visitar o incrível Museu da Língua Portuguesa. O site também é interessante, leve mas com muitas informações, mas tem dois problemas muito graves: não indica o horário para as visitas (ou é difícil achar essa informação por lá) e não tem a informação de que mostras estão ocorrendo no museu – ou seja, parece que há uma questão não resolvida de atualização de informações no site, o que é um pecado.

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5 respostas a Comunicação e Expressão – quarta semana de aula

  1. Carina Marchi disse:

    Olá Professor,

    Muito bom colocar a matéria passada em aula no site, isso facilita muito a nossa vida!!!

    Bom final de domingo e uma Boa Páscoa!!!

    Beijos

  2. leonardo goya disse:

    oi professor,

    Muito interessante colocar o resumo das aulas no blog. Nós desenvolvemos o tema em sala de aula e depois podemos conferir todo material em seu blog, como por exemplo o poema catar feijão e a música samba de uma nota só. Muito legal. Até a próxima aula.

    Abraços

  3. Ricardo Grangeiro disse:

    Olá professor.
    Também acho muito interessante este canal de comunicação.

    Estou estudando alguns vídeos para postar em nosso blog, que venham de encontro com nossas atividades, em breve estará disponível.

    Abraços.

  4. Egivaldo Emidio disse:

    Olá professor,
    Gostaria de comentar que está muito bacana a disciplina,deixando o aluno à vontade com muitas opções de atividades e facilitando no nosso aprendizado.

    Abraço

  5. Pingback: De Mattar » Comunicação e Expressão - quinta semana de aula

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