Tenho meditado muito sobre o poder disruptivo das novas tecnologias (principalmente a Internet) para a educação, tanto em minhas palestras e posts neste blog quanto nos meus livros ABC da EaD e Second Life e Web 2.0 na Educação.
As universidades precisam alterar radicalmente seus modelos de negócio para enfrentar a competição da EaD online. Segundo Reed Hundt, numa recente conferência em Harvard, as universidades precisam “abraçar a experimentação maciça” para se manterem competitivas, quando mais e mais escolhas educacionais tornam-se disponíveis em função da Internet.
Segundo ele, o que ocorreu com a indústria de música e de jornais tende a ocorrer com a educação. No caso da música, pensava-se que era possível embalar várias músicas e obrigar os clientes a comprarem um pacote. Em educação, pensa-se a mesma coisa: eu monto um currículo com x número de disciplinas, e você é obrigado a fazer todas, mesmo as que não goste.
Agora que surgem instituições voltadas especificamente para a EaD, e os professores podem oferecer cursos online diretamente na Internet, o modelo tradicional das instituições de ensino está ameaçado.
O aluno pode hoje se tornar um aluno universal (criei esta expressão já no Metodologia Científica na Era da Informática, há mais de 10 anos): pode fazer um curso a distância em uma instituição, outro em outra, se quiser depois pode passar um período em uma instituição presencial e assim por diante.
Neste semestre, por exemplo, fiz o curso Teaching and Learning in Second Life na Boise State University; no semestre que vem, estou pensando em fazer o curso Web-based Multimedia Development, na San Diego State University. A Boise vai lançar o curso YouTube for Educators, ministrado no YouTube. As possibilidades para os alunos são infinitas, e é possível montar um programa de estudos personalizado, em diferentes instituições. Em EaD, um modelo de “pay by the course” (pague pelo curso), por exemplo, tem se firmado: você entra na web, clica na disciplina que lhe interessa, paga por cartão de crédito e está matriculado! Além da possibilidade de o aluno acessar diretamente o professor na Internet, sem a intermediação da instituição de ensino – o conceito de docência online independente.
Portanto, os modelos tradicionais de ensino estão ameaçados por esse excesso de canais de distribuição e pelas inúmeras maneiras com que o público pode atingir os fornecedores. E por isso, segundo Hundt, as universidades não sabem exatamente para onde caminhar. E o mesmo se pode dizer das editoras – isso já não é o Hundt quem diz, mas eu. A Internet é uma tecnologia intensamente disruptiva.
Um pequeno exemplo: por que é tão difícil usar os sites das instiuições de ensino, inclusive nas que oferecem EaD, e encontrar as informações que você deseja, ao contrário de sites como o YouTube, Orkut, Google etc.?
Interessante, realmente acho que uma tendência que se torna mais forte a cada dia é algo como uma modularização dos cursos. Na verdade me pergunto se a tendência não é justamente o aluno “construir” a sua profissão a medida que aprende e vai incorporando novos conhecimentos.
Eu por exemplo, começei como designer gráfico, depois me tornei webdesigner, estudei saúde e administração pública, estudo um pouco de RH e agora estou estudando design instrucional e EaD. Portanto me pergunto que raio de diploma isso renderia.
Inclusive também fiquei imaginando essa fragmentação do função de ensino. Na blogosfera o jornalismo se espalhou nos blogs de jornalistas. Será que no EAD as grandes instituições de ensino vão se fragmentar em professores e cursos diversos?
Fragmentação pode ter um sentido negativo e também positivo, Renato, o desafio me parece justamente ser transformar o fragmento em informação, conhecimento etc. E o fragmentário também parece ser marca de uma nova geração, de um novo tempo.
Agora, lendo o que você escreveu, lembrei da tendência dos cursos modulares e customizados, mesmo no ensino presencial, dos estudos individualizados, do aluno montar seu currículo etc. Disso também eu já falava no “Metodologia Científica na Era da Informática”. É algo que sempre me fascinou. No Brasil há algumas experiências neste sentido, mas fora é uma prática já quase obrigatória – o aluno participa ativamente da formulação do seu currículo, do seu projeto de estudo etc.
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Inclusive tomei seu artigo como referência, e inspiração, para um post no meu blog.