Ontem à noite teve arraiá!
Hoje fiz a minha apresentação sobre o Second Life como ambiente de aprendizagem para uma platéia seleta – só gente muito boa. Vou, é claro, escrever com calma na volta tanto sobre a rodada de hoje, quanto sobre o evento todo, que realmente tem sido muito muito legal. Mas queria registrar um detalhe de hoje.
Na platéia, estava o Marco Silva, autor do clássico Sala de Aula Interativa. Conversamos quando nos encontramos na Unisinos, depois no Endipe, e ele participou do capítulo do curso Second Life na Educação no Rio de Janeiro. Tem se mostrado sempre muitíssimo interessado no uso do Second Life em educação – afinal, ele não é bobo, sempre antenado!
Ele fez uma pergunta no final: disse que se sente desnorteado quando me ouve dizer que os nossos alunos não vão freqüentar os Ambientes de Aprendizagem tradicionais que estamos preparando para eles – que bem agora que estaríamos aprendendo a usar fóruns, chats etc., tudo estaria ruindo. Quando um educador estaria começando a arrumar a bagunça, vem alguém para bagunçar de novo. Eu disse para ele que percebo claramente esse desnorteamento no olhar dele, todas as vezes em que nos encontramos pessoalmente, e que esse olhar aliás me traz bastante gás para as pesquisas com o Second Life em educação!
Ele perguntou também qual a diferença entre ministrar um curso no Second Life e no Moodle – não é possível usar textos, sons, vídeos etc. no Moodle, e então reproduzir a mesma experiência que no Second Life?
A segunda pergunta vou fazer por email para todos aqueles que participaram da primeira e segunda versão do nosso curso ABC da EaD no SL, e abrir um post separado só para ela. Ela adquire uma conotação especial, pois é feita pelo nosso teórico da interatividade online, que inclusive tem se mostrado muito aberto e interessado nas experiências em mundos virtuais 3D. Vamos ter então que responder à altura.
Agora queria falar do primeiro comentário, na verdade desenvolvê-lo um pouco mais.
Estamos semeando desertos, porque os ambientes de aprendizagem que estamos supostamente preparando para os nossos alunos, não serão habitados. Eles não se sentirão bem neles, pois são muito diferentes dos ambientes que eles utilizam na Internet hoje, para se comunicar. São muito diferentes dos vídeo-games, que eles jogam. Serão habitados apenas por obrigação, mantendo de novo a idéia de que a escola é chata, o estudo tem que ser penoso, nunca lúdico.
O entusiasmo que vemos por aí com os AVAs, em congressos e publicações, são na verdade o registro do entusiasmo dos migrantes digitais que encontram um lar nessa bagunça que é o mundo online e virtual. Mas estamos preparando com entusiasmo um território que não será habitado pelos nossos alunos, pois eles não serão lares para eles. Ficarão desertos. Chame um jovem para um congresso, para dizer o que ele acha do Moodle, do Blackboard etc.
As experiências pedagógicas no Second Life, em mundos virtuais em geral, ou mesmo com games em educação, são tentativas de explorar um território que terá sentido para os nossos alunos, onde será possível desenvolver a educação do futuro – futuro bem próximo. Trata-se de nos prepararmos para os nossos alunos – em vez de celebrar o nosso encontro com o virtual. Da mesma maneira que a IBM tem explorado vorazmente o Second Life, para se preparar para os seus futuros funcionários.
Estamos na verdade preparando um terreno para a diversão dos migrantes digitais – nós, professores, mas não para os nossos alunos. Estamos de novo preparando o campo do ensino, não do aprendizado.
Escolas vazias e AVAs desertos – esse é o cenário da educação, se não experimentarmos.
Prezado Mattar, que lan-house providencial para nós.
Em relação as questões abordadas, tenho um viés que gostaria de colocar: Não estamos novamente confundindo o canal com a mensagem, colocando a tecnologia como centro da discussão quando o centro da discussão deveria ser o conteúdo, ou o método?
De nada adiantam os AVas, Sls, sloodle, games, simulações, multimidias, hipermídias e o que mais vier a reboque, se o conteúdo e o método não forem adequados a prover, fomentar, incitar, despertar, provocar a APRENDIZAGEM.
[]s
Pois é, Breno, já tivemos uma discussão similar no post “Educação, não Tecnologia.” Eu tenho insistido realmente por outro lado – penso que, em primeiro lugar, não dá mais para separar a tecnologia da educação, o conteúdo do meio; mas, além disso, a reflexão aqui é justamente sobre uma plataforma, não está abordando conteúdo – um meio de comunicação. Mas retomamos isso.
Bem, realmente o meio interfere na mensagem. Mas penso, os AVA, simulações e cia não são justamente parte de um movimento para alcançar os alunos? Limitado admito, e acredito que serão desertos se essas ferramentas se tornarem um fim em si mesmas.
De certa forma, o que temos é a educação tentando se apropriar dos recursos da tecnologia para seus propósitos. Pelo que entendi sua proposta me parece uma versão digital do ensino sem escolas, sem um ambiente próprio, seria isso?
Imediatamente pensei em Maturana quando li o questionamento feito…
“tudo é dito por um observador” e “nós criamos o mundo no qual vivemos, vivendo-o” (está no livro Ontologia da Realidade)
penso… que quem observa e aceita os mundos virtuais como ambiente de aprendizagem, e tem a experiência de viver e conviver nestes mundos, consegue perceber e compreender suas potencialidades e a imensidão que separa um mundo virtual de um ava.
que bom que não se afastou do blog! … de mattar já se tornou um hábito rsrs
É, essa discussão é mesmo interessante, tanto que atrai os principais comentadores deste blog!
Breno, já li seu comentário no post Educação, não Tecnologia, e depois comento por lá, porque preciso voltar para ele.
Renato, depois me passe seu email, quero também te cadastrar como autor no blog. Eu nunca tinha pensado nessa expressão, “versão digital do ensino sem escolas”, apesar de ter resenhado por aqui o livro “Escola sem sala de aula”, mas a expressão é genial, vou explorá-la mais, apesar de nem ser esta a questão central deste post: os AVAs tradicionais são muito chatos para a geração web (ou como queira chamá-la), que joga videogames e usa mundos 3D. Os ambientes precisam ser mais adequados justamente para atingir esses alunos, provocá-los. Li hoje no ônibus, voltando de Caxambu, o capítulo da Lynn Alves sobre games em educação, no Educação a Distância: o estado da arte, e logo resumo, pois ajuda muito na nossa discussão.
o capítulo da Lynn Alves está muito bom, vai ser legal mesmo para a discussão!
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1)Eu quero saber quais sao os pontos comuns de 2009 para 2010?
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NO ANO DE 2010, FOI REALIZADO, NO BRASIL, O XV ENCONTRO NACIONAL DE DIDATICA E PRATICA DE ENSINO.CONSTRUA UM QUADRO COMPARATIVO ENTRE O ENFOQUE EM CADA UM DOS TRES GRANDES MOMENTOS DE ENDIPE (APONTANDO POR GODOY, 2009.E O ENFOQUE DE 2010…
A)QUAIS SAO OS PONTOS COMUNS?
B)QUAIS SAO AS PRINCIPAIS DIFERENCIA?AGUARDO AJUDA…
Ana, sua pergunta é em relação às diferenças dos últimos Endipes? Se é isso, o evento é muito grande, não tenho condições de compará-los, mesmo porque só dá para assistir uma ou outra apresentação.