Nestes dias dei uma rápida passada em alguns livros, que no fundo deixei para ler com mais calma depois, então seguem apenas algumas anotações – as resenhas dos que li seguem nos próximos posts.
ELIADE, Mircea. Imagens e símbolos: ensaio sobre o simbolismo mágico-religioso. Trad. Sonia Cristina Tamer. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
Reunião de algumas publicações de Eliade, referência em estudos sobre religião, que incluem: simbolismo do centro, do lasso e das conchas; estudos sobre a Índia; e reflexões sobre simbolismo e história.
DETIENNE, Marcel. A invenção da mitologia. Trad. André Telles e Gilza Martins Saldanha da Gama. Rio de Janeiro: José Olympio; Brasília, D.F.: UnB, 1992.
Uma reflexão bastante ampla sobre a mitologia, que não me interessava para o que estou lendo e tenho que escrever no momento.
VERNANT, Jean-Pierre; VIDAL-NAQUET, Pierre. Mito e tragédia na Grécia Antiga. Trad. Bertha Halpem Gurovitz. São Paulo: Brasiliense, 1991. Vol. II.
Enquanto o vol. I analisava a tragédia em seus aspectos gerais, e especificamente Orestia de Ésquilo, e Édipo Rei e Filoctetes de Sófocles, este volume analisa Sete contra Tebas de Ésquilo, Édipo em Colono de Sófocles e as Bacantes de Eurípedes, além de estudos sobre o tema trágico e o deus mascarado da ficção trágica, e apresentações de conjunto de Ésquilo e Sófocles.
CORNFORD, F. M. From religion to philosophy: a study in the origins of western speculation. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1991.
Clássico de uma referência mundial no estudo da transição mitologia/filosofia, acabei não relendo porque preferi ler o seu último livro, Principium Sapientiae, que revisita o tema.
HAMILTON, Edith. The Greek way. New York: Norton, 1993.
Uma apresentação popular e bem pouco acadêmica, p.ex. com muito poucas notas, que cobre diversos aspectos da Grécia: arte, escrita, Píndaro, Atenas, Aristófanes, Heródoto, Tucídides, Xenofonte, tragédia, Ésquilo, Sófocles, Eurípides, religião etc.
DIEL, Paul. O simbolismo na mitologia grega. Trad. Roberto Cacuro e Marcos Martinhos dos Santos. São Paulo: Attar, 1991.
Leitura psicológica dos mitos, identificados com o subconsciente. Haveria uma semelhança entre a criação do mito e do sintoma psicótico. O herói combateria os nossos monstros. A mitologia seria assim, a pré-ciência psicológica, pela qual se interessaram Freud, Jung e Adler. O livro está dividido em 2 partes: teoria e aplicações. Os mitos tratam dos desejos; são metafísicos e éticos. Diel fala também da banalização, no sentido de perda da alma, da vida.
CARREIRA, José Nunes. Filosofia antes dos gregos. Apartado: Europa-América, 1994.
Devo retornar ao texto e então crio um post separado. Carreira destaca inicialmente a importância da poesia para o Oriente. Na Introdução, ele explora as formas com que se exprime a sabedoria no Oriente: listas, provérbios, enigmas e questões impossíveis, debates, fábulas, instrução, monólogos, diálogos, poemas didáticos e discursos didáticos. Além disso, a sabedoria oriental aparece também em gêneros já estabelecidos, como hinos, salmos, profecias e narrativas. Parte então para o estudo da filosofia no Egito, na Mesopotâmia e na Bíblia. Os capítulos exploram a Teoria do Conhecimento (3 capítulos); Ontologia no Egito; Filosofia Natural e Cosmologia; Filosofia Moral (3 capítulos); Justiça de Deus e Teologia (2 capítulos); e Política (2 capítulos).
BURNET, John. O despertar da filosofia grega. Trad. Mauro Gama. São Paulo: Siciliano, 1994.
Também devo retornar ao livro e criar um post separado.
Na Introdução, o autor afirma que Homero canta para os aqueus, o que não ocorre mais com Hesíodo, que retoma o passado. Burnet é o defensor da tese do milagre grego. Para ele, não há origens mitológicas na ciência jônica, face p.ex. à falta de conhecimentos do Oriente e à incapacidade de ler egípcio. Antes dos gregos, só os indianos teriam tido filosofia. A matemática egípcia e a astronomia babilônica também teriam tido bem menos influência sobre os gregos do que acreditamos:
“Podemos recapitular dizendo que os gregos não receberam do Oriente nem sua filosofia nem sua ciência. No entanto, assimilaram do Egito certas regras de maldição que, quando generalizadas, deram origem à geometria, e com a Babilônia aprenderam que os fenômenos celestes tornam a se apresentar em ciclos. Essa amostra de conhecimento sem dúvida tinha muito a ver com a ascensão da ciência, pois para os gregos sugeria questões com as quais nenhum babilônio jamais sonhara.” (p. 31-32).
Burnet destaca a importância da observação e da experimentação para os jônios, apesar de provavelmente muitos registros terem se perdido. Os gregos teriam sido os primeiros a utilizar o método da ciência.
Os capítulos seguintes analisam a escola milésia, ciência e religião, Heráclito, Parmênides, Empédocles, Anaxágoras, os pitagóricos, os eleatas mais jovens, Leucipo, e ecletismo e reação, além de um curto anexo sobre o significado de physis.
CORNFORD, Francis Macdonald. Antes e depois de Sócrates. Trad. Valter Lellis Siqueira. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
Também devo criar um post separado para este livro, assim que retornar a ele. É um conjunto de palestras de Cornford, portanto sem referências.
No Cap. I, “A ciência jônica antes de Sócrates”, Cornford afirma que com Sócrates a filosofia volta-se da natureza para o homem. A filosofia começa como Tales de Mileto, uma das colônias jônicas da costa da Ásia Menor. Os gregos teriam tido a capacidade de transformar problemas em matemática e astrologia em astronomia. Descobriram também o objeto como exterior e o universo como natural, com a negação do espiritual como distinto do material. O politeísmo antropomórfico é substituído pela objetividade e a cosmogonia se desvincula da teogonia. Há um movimento da cosmogonia para a natureza das coisas.
“A princípio, ele [o homem] projeto elementos de sua personalidade nas coisas exteriores a ele. Então, a imaginação grega desenvolveu esses elementos, transformando-os nas personalidades humanas completas de deuses antropomórficos. Mais cedo ou mais tarde, a inteligência grega estava fadada a descobrir que esses deuses não existiam. Assim, a mitologia superou-se e desacreditou a própria existência de um mundo espiritual. A ciência não chegou à conclusão de que o mundo espiritual fora erroneamente concebido, mas à de que tal mundo não existia: nada era real além do corpo tangível composto por átomos. O resultado foi uma doutrina que os filósofos chamam de materialismo, e os religiosos, de ateísmo.” (p. 26).
Os capítulos seguintes tratam de Sócrates, Platão e Aristóteles.
Olá!
Estou visitando seu site e vi esta postagem que foi escrita há 5 anos. Bem, gostei das diversas referências e creio que isto é coisa rara de encontrar, pois há muito material sobre tudo, mas pouca bibliografia que junte, por exemplo, Burnet e Vernant (um a favor e outro contra o “milagre grego”). Assim, é muito feliz sua iniciativa. Espero que possa, novamente, indicar uma bibliografia atualizada, caso tenha contatado outros autores neste tempo decorrido.
Sds!