Os Usos da Mitologia Grega – Ken Dowden

DOWDEN, Ken. Os usos da mitologia grega. Trad. Cid Knipel Moreira. Campinas, SP: Papirus, 1994. Resenha de João Mattar.

Mitos inicialmente querem dizer discurso. Quando surge logos, entretanto, eles perdem espaço e se transformam em ficção, marca dos velhos poetas. Fábula é o termo latino para mito. A história, que aponta para o verdadeiro, passa a se opor ao mito. Alguns autores distinguem os seguintes termos de mitos, que Dowden não distinguirá na obra: saga, lenda, contos populares e contos de fada. Muitas obras mitológicas foram perdidas, mas sabemos que existiram.

Em 500 a.C. surgem os mitógrafos, que passam a fornecer um logos para o período mítico. Antes disso, os mitos eram transmitidos oralmente e depois registrados em vasos, esculturas etc., além de com a escrita, pelos poetas épicos e genealógicos. Dowden chega até a Metamorfose de Ovídio.

A Guerra de Troia e Homero tiveram um papel crucial, pois são registros mais de história, sobre os homens, do que sobre a criação, a origem das coisas e os deuses. Os heróis aí representados teriam vivido em tempos remotos, na pré-história local.

Os mitos gregos se distinguem das mitologias orientais pois não foram propagadas por sacerdotes. Não são portanto nem história, nem entretenimento, nem religião.

Dowden realiza também uma atenta leitura das abordagens sobre a mitologia: historicismo, alegoria (F. Creuzer), alegoria natural e mitologia comparada (F. Max Müller), teoria do mito-ritual de Cambridge (W. Robertson Smith, Sir J. G. Frazer, Jane Harrison, F. M. Cornford, A. B. Cook e Gilbert Murray), nova metologia comparativa (Georges Dumézil), psicanálise (Freud, Jung etc.), estruturalismo (Claude Lévi-Strauss), moderna relação mito-ritual, Escola de Roma (Brelich etc.), Escola de Paris (J.-P. Vernant, P. Vidal Naquet e M. Detienne).

No capítulo 3, O Mito para os Gregos, Dowden explora críticas ao mítico, da filosofia, história e genealogistas. Ocorre uma racionalização do mito, embora o próprio Platão, p.ex., construa mitos em suas obras.

No capítulo 4, O Mito e a Pré-História, Dowden explora o mundo micênico e defende que não é possível confiar nos mitos para colher informações históricas.

No capítulo 5, Mito e Identidade, Dowden mostra também que não é possível, através dos mitos, confiar nas informações sobre grupos, povos e tribos pré-gregas. Sua função principal não era portanto descrever fatos históricos, mas criar identidade.

Dowden continua mostrando que os mitos não podem ser consideradas fontes confiáveis para religião, geografia, rituais e as sociedades.

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