REISER, Robert A. A History of Instructional Design and Technology: Part II: A History of Instructional Design. ETR&D, Vol. 49, No. 2, 2001, pp. 57–67. Resenha de João Mattar.
A primeira parte deste artigo foi publicada na mesma revista, volume 49, number 1, sobre a história da mídia instrucional. Esta segunda parte explora a história do design instrucional, especialmente nos Estados Unidos.
Diferentes expressões são utilizadas para se referir ao design instrucional: the systems approach, instructional systems design (ISD), instructional development e instructional design.
As origens do design instrucional remontam ao desenvolvimento de programas de treinamento militares na Segunda Guerra Mundial, incluindo critérios para seleção de pessoal. Após a Guerra, os esforços foram estendidos para outros setores, com a criação p.ex. da American Institutes for Research. São também publicados livros com os primeiros modelos de design instrucional. O movimento de instrução programada, influenciado pelas ideias de Skinner, é bastante importante na época.
Robert Mager publica em 1962 Preparing Objectives for Programmed Instruction, hoje na terceira edição, que orienta a formulação de objetivos através da descrição dos comportamentos desejados do aprendiz, as condições sob as quais os comportamentos devem ocorrer e os critérios ou padrões pelos quais os objetivos devem ser avaliados. Mas antes dele já havia uma preocupação com a descrição dos objetivos de aprendizagem de uma maneira comportamentalista. Em 1956, p.ex, Benjamin Bloom et al publicam Taxonomy of Educational Objectives.
Glaser (1963) é o primeiro a utilizar a ideia de criterion-referenced measures (testes referenciados a critérios), que podem ser usados para avaliar o comportamento de entrada dos alunos, e assim determinar a extensão de aquisição dos comportamentos que os programas de instrução procuravam ensinar.
The Conditions of Learning (Robert Gagné, 1965) é outra publicação importante da época, que descreve cinco domínios ou tipos de learning outcomes (resultados da aprendizagem): informação verbal, habilidades intelectuais, habilidades psicomotoras, atitudes e estratégias cognitivas, cada um dos quais exigindo um conjunto diferente de condições para promover aprendizagem. Gagné explora também eventos de instrução ou atividades de aprendizagem, relacionando-os aos resultados esperados da instrução, assim como um processo de análise hierárquica nas habilidades a serem adquiridas, denominado task analysis (análise de tarefas).
O lançamento do Sputnik pelos russos, em 1957, também exerceu influência sobre o desenvolvimento do design instrucional, já que o governo norte-americano injetou muito dinheiro para o aperfeiçoamento da educação de matemática e ciências nos Estados Unidos. Desenvolve-se também o conceito de avaliação formativa, que inclui testes e revisões durante o processo, ao contrário da avaliação sumativa, em que o teste dos materiais instrucionais é realizado somente depois que eles estão terminados.
Nos anos 1960, diversos modelos de design instrucional foram desenvolvidos combinando as noções de especificação de objetivos, testes referenciados a critérios e análise de tarefas, movimento que cresceu na década de 1970 nas áreas militar, corporativa e acadêmica, com a criação de cursos universitários de design instrucional. Nos anos 1980, entretanto, há um declínio do uso do design instrucional no ambiente acadêmico, mas o uso de microcomputadores abre um novo horizonte, a produção de material instrucional multimídia.
O campo de atuação dos designers instrucionais cresce consideravelmente nos anos 1990, influenciado pelo movimento de tecnologia do desempenho (performance technology movement), que explora soluções não instrucionais para resolver problemas. Outra influência importante durante a década é a teoria do construtivismo. Cresce também o campo de trabalho para desenvolver sistemas de suporte ao desempenho eletrônico, que fornecem ajuda para os trabalhadores desempenharem algumas tarefas no momento em que eles precisarem daquela ajuda. Passam a ser utilizadas também estratégias de prototipagem rápida. O uso da Internet em EaD afeta também diretamente o campo do design instrucional, criando novos campos de trabalho, assim como o crescente interesse por gestão do conhecimento.
O artigo termina com uma ampla bibliografia.
Apesar de o artigo ser cada vez mais genérico, quanto mais vamos chegando perto do final do século, é possível fazer algumas constatações bastante interessantes. O nascimento do design instrucional está comprometido com o treinamento de militares para a guerra e o behaviorismo de Skinner. Parece que a ideia de objetivos, resultados, atividades e tarefas de aprendizagem, habilidades e comportamentos dos alunos, que muita gente considera inovações contemporâneas, tem aí a sua origem. Até mesmo o início da produção de materiais instrucionais para computadores parece comprometida com o comportamentalismo de Skinner.
Há ideias interessantes sem dúvida, p.ex. com Gagné, quando ele explora as diferenças entre informação verbal, habilidades intelectuais etc.; a importância de se testar materiais instrucionais durante o processo de seu desenvolvimento, e não apenas no final; e as estratégias de prototipagem rápida. Mas o rápido histórico traçado por Reiser mostra um design instrucional envenenado por sua ligação umbilical com o treinamento. Não é de se estranhar, portanto, que por tanto tempo muitos professores tenham se colocado frontalmente contra esses modelos de design instrucional: afinal, eles são educadores, não treinadores. Aliás, a palavra professor não aparece nenhuma vez no texto (a não ser na biografia do autor!) e a palavra teacher aparece apenas duas vezes, uma para ironizar professores como mídias ultrapassadas e outra vez de raspão. Learning aparece muito pouco mas intruction povoa o texto intensamente. E interaction não aparece nenhuma vez. Fica claro, portanto, que pelo menos esta história do design instrucional é a história de métodos de instrução, do lado do instrutor, e não de mediação pedagógica ou de aprendizado.
Esses modelos nasceram quando os alunos não tinham na Internet à sua disposição, como hoje, praticamente a resposta para todas as suas perguntas, materiais instrucionais dos mais diversos tipos para praticamente qualquer conteúdo pelo qual se interessem. Cabe perguntar se, no cenário de hoje, tem ainda sentido em falar de objetivos de aprendizagem e tarefas de aprendizagem, ou, sendo ainda mais radical, se com a Internet tem ainda sentido em produzir material instrucional.
Com o uso da Internet e o movimento de redes sociais e games que vivemos, esses modelos de design instrucional servem-nos ainda menos. Precisamos de novos modelos, alimentados pela filosofia do construtivismo, da cultura digital, do aprendizado baseado em games, dos mundos virtuais, do mobile learning e da realidade aumentada. Tema que continuarei a perseguir durante este semestre.
Este nosso curso tá ficando bom …… Uma ótima semana!
Se segura aí, grande Breno!
Não resta dúvidas que o DI tem heranças skinneriana, mas também tem piegtiana e vigostyskiana… e deve contiunar sendo influenciado pelas descobertas no campo da psicologia, como também tem incorporado ao longo dos anos as diferentes mídias.
Não vejo necessidade de atualizar o DI enquanto processo, mas sim as suas estratégias pedagógicas. o DI já encontra-se engajado na atualização de suas práticas, o que é totalmente aceitável, já que práticas behavioristas estão em descompasso com a condição do conhecimento neste momento. No entanto, não podemos desconsiderar as contribuições dos comportamentalistas, pois ainda têm seu valor em determinados contextos de aprendizagem. Ao invés de pensar nas teorias da aprendizagem e educacionais de forma excludente, prefiro pensar num processo de adição de camadas de conhecimento sobre o mesmo assunto, que é aprendizagem humana.
O que acho que tem faltado aos profissionaius de DI atualmente é a competência para se apropriar de tecnologias interativas sem perder o foco da aprendizagem, da cognição.
Como foi levantado ontem no #eadsunday, não é tão fácil incorporar as novidades tecnológicas ao currículo, isso requer muito planejamento, conhecimento do pontencial pedagógico das tecnologias, mas sobretudo conhecimento de como as pessoas aprendem, o que geralmente fica em segundo plano neste momento de frenesi que estamos vivenciando hoje com o surgimento quase que diário de novidades tecnológicas. O termo contrutivismo banalizou-se, tão quanto o termo interatividade, quem sabe esse tema não vinga lá no #eadsunday e possamos refletir mais um pouco sobre os fundamentos dessa concepção de conhecimento.
Abs
Pingback: Twitter Trackbacks for De Mattar » Blog Archive » A History of Instructional Design and Technology: Part II: A History of [joaomattar.com] on Topsy.com
Eri, se você continuar aparecendo por aqui nas próximas semanas – e vou escrever bastante – não sei no que isso vai dar (no bom sentido!). Estou terminando a resenha de 1 cap. de outro livro, acho que avancei bastante na discussão, gostaria muito de ouvir sua opinião.
Vou ficar acompanhando aqui os post porque sei que vc trará – como sempre- coisas boas e de fina estampa pra gente.
Abs
Pingback: De Mattar » Blog Archive » Instructional Design - Introdução