Objetivos de aprendizagem, conteúdo, conteudista, design instrucional e tutor são algumas das palavras e expressões que me amedrontam em EaD.
Fico surpreso de perceber, cada vez mais, que as pessoas e instituições só enxergam na EaD a produção de conteúdo, só conseguem imaginar a EaD como a entrega de um conteúdo pronto para o aluno. Pouquíssima gente enxerga a EaD como uma atividade de interação, colaboração e construção de conhecimento, com a atuação ativa de um aututor – um professor que organiza e/ou produz conteúdo, medeia a interação, propõe atividades em função do perfil e do ritmo da turma e assim atua como um parceiro-guia no processo de aprendizagem. Venho escrevendo sobre isso há anos, mas parece que cada vez se ouve menos a mensagem.
EaD é sinônimo, hoje, de uma grande chance de ganhar dinheiro, porque dá para “trancar” centenas de alunos num AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem) qualquer, para consumir um conteúdo produzido por um conteudista, organizado por um designer instrucional e trabalhado por um web designer, com um tutor atuando como um monitor-robô. Esse é o modelo que pode gerar muito dinheiro, porque atingido o número de alunos que cubra o custo da produção do conteúdo, tudo vira lucro, já que o tutor é pago indecentemente para atuar como professor – no sonho-limite, nem precisaremos mais de pessoas, tudo estará automatizado! Imaginar que a educação possa se transformar nisso, que esse modelo passe a dominar a EaD, me dá muito medo, pavor.
Contra esse modelo, eu estou do lado dos que criticam duramente a EaD, principalmente quando é assim usada para formação de professores, como a recente posição do CONAE.
O professor Luís Henrique Sommer, no artigo Formação inicial de professores a distância: questões para debate, publicado no Em Aberto Vol. 23, No 84 (2010), cita e comenta várias passagens deste post.
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Bom dia João. Oportuna esta discussão. considerei a proposta do CONAE, em relação a EaD, um retrocesso dentro de uma filosofia da educação “construtivista, colaborativa e conectada”. Mas tenho que concordar com voce de que, dentro da situação atual da educação (não apenas a EaD) como fonte de lucro financeiro (ahhh se fosse lucro cognitivo), a posição conservadora do CONAE faz sentido.
Breno, quem elaborou e discutiu o documento do CONAE provavelmente está vendo esse tipo de EaD que se prolifera, tanto na iniciativa privada quanto pública. Então, contra isso temos mesmo que lutar. A EaD, utilizada em combinação com a educação presencial, dentro da filosofia que você indica (construtivista, colaborativa e conectada) é um outro universo, que com certeza seria incorporado e aceito. Mas não é isso o que tem sido feito por aí, e então não podemos defender a EaD simplesmente por defender a EaD.
oi, mattar
ainda bem que vc tem medo desta coisa medonha… eu estava preocupado com vc, pensando que vc podia ter perdido a lucidez… numa das faculdades em que leciono, estão “preparando” os professores para se tornarem tutores de EaD… eu estou fora: fico imaginando como atender virtualmente dezenas de alunos sobre temas e questões de filosofia… para ganhar menos do que se ganha em sala de aula, o que já não é muito… enfim, o professor, para ser honesto, consigo mesmo e com os outros, deve decididamente se incluir fora dessa…
ab.,
edg
Pois é, Edson, o problema é que EaD não é apenas isso. Infelizmente esse modelo perverso tem se proliferado no nosso país, mas há outros modelos muito interessantes, que permitem inclusive trabalhar com filosofia a distância.
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Meu Prezado Mattar
Já tivemos oportunidade de conversar sobre os riscos do exagero no uso da EaD de forma indiscriminada. Tenho certeza de que nem eu, nem você desconsideramos o importante papel que a EaD pode desempenhar na eficiência da entrega de conteúdos aos alunos, visando a construção de conhecimento objetivo.
No entanto, a componente mais importante do conhecimento, o conhecimento subjetivo, aquele que interage com o objetivo na construção de uma capacidade de ação eficaz, a EaD, lamentavelmente, não consegue dar conta.
Imaginar que a EaD seria capaz de suprir todas as necessidades do conhecimento do aluno é desconsiderar o que existe de mais desafiador no papel de educador: ser o conhecimento é uma construção individual e um produto social simultaneamente.
A objetividade obtida pelo uso exclusivo de EaD em alguns cursos, produzirá uma massa de autômatos incapazes de produzir ação eficaz e tomada de decisões, ou seja, terão informações, mas não terão construído conhecimento. O prejuízo será da sociedade pela impossibilidade de construir novo conhecimento, pois o conhecimento se constrói a partir do conhecimento existente.
Forte abraço
Fernando Goldman
Fernando, acho que é importante diferenciar duas coisas: a questão dos limites da EaD e os limites dos modelos de EaD. Eu também concordo que perdemos algumas coisas com a EaD, em relação à educação presencial, apesar de que também ganhamos outras, e a combinação entre presencial e a distância é muito poderosa. De qualquer maneira, considero que seja possível fazer uma EaD de qualidade, que consiga formar pessoas capazes de produzir conhecimento etc. A outra questão é o modelo que usamos para isso, e este meu post está mais focado nisso, numa crítica dos modelos que têm sido utilizados. Do jeito que temos feito EaD no Brasil, em boa parte das instituições de ensino privadas e públicas, caímos no problema que você aponta. Mas insisto que acho importante chamar a atenção que isso acontece com esse modelo de EaD, há modelos muito criativos, inovadores, que apostam na interação, na construção de conhecimento, e que nos levam a caminhos totalmente diferentes, tanto para os alunos quanto para os professores. É nessa EaD que acredito, é ela que pratico.
Olá amigos, vem aí a 2ª Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB). As inscrições acontecem de 1 de junho a 6 de agosto.
Se puder, nos ajude a Divulgar! =D
A Olimpíada, composta por cinco fases online e uma presencial, é destinada a estudantes do 8º e 9º anos do ensino fundamental e demais séries do ensino médio, de escolas públicas e privadas de todo o Brasil.
Para orientar a equipe, formada por três estudantes, é obrigatória a participação de um professor de história.
A Olimpíada começa no dia 19 de agosto, dia nacional do historiador, data que celebra o nascimento e o centenário da morte do jornalista e historiador Joaquim Nabuco.
A iniciativa é do Museu Exploratório de Ciências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em 2009, a ONHB inscreveu mais de 15 mil participantes e reuniu cerca de 2 mil pessoas na final presencial.
Mais informações acesse o site “www.mc.unicamp.br”
Equipe Organizadora
olimpiadadehistoria@gmail.com
João… eu ando bem apreensiva, pois também acredito e pratico EAD baseada em metodologias possibilitam a construção do conhecimento, a colaboração e a interação.
Atualmente estou trabalhando com e-learning corporativo e tentando encontrar uma forma de continuar com as práticas colaborativas… mas confesso que não é fácil, o mercado não dá espaço e tempo para a colaboração e para troca, querem e-learning do tipo FAST FOOD sabe?
Difícil…
Mais do que medo, venho da experiência de trabalhar em sistemas em que esta “EAD”, a do design instrucional, da massificação, conteúdista, etc, etc, etc, tomou conta de organização e pior ainda, faz sucesso, vende, como alguns defendem.Portanto conheço seus efeitos e defeitos por dentro e por fora
Educação a distância pode ser muito mais, pode ser um caminho para a inteligência , autonomia e desenvolvimento humano e isto não quer dizer perder de vista as necessidades das organizações. Mesmo porque as organizações sem inteligência não sobreviverão e a inteligência, quer gostem ou não está nas pessoas.
Caro prof. Mattar, acabo de ler o artigo do prof. Sommer sobre a formação de professores via modelos questionáveis de EAD. Instigado pelas citações ao seu post, ocorreu-me de comentar que, nos mesmos moldes de exploração em escala do conteudismo delivery criticado, tive experiência semelhante com a própria Anhembi Morumbi, em um curso de especialização em gestão de empresas – fiquei desapontado logo na primeira disciplina quando me vi relegado a alguns objetos expositivos em tecnologia flash, atividades pré-formatadas, e um processo desprovido de interação ou de comunicação ativa por parte do tutor/professor/coordenador. Realmente, nós, profissionais com respeito a certos valores comprometidos com uma educação efetiva, realmente inovadora e sobretudo de qualidade, ficamos perplexos com isto acontecendo na educação superior (“pavor” foi um termo bem empregado para sugerir uma percepção a altura do que deveríamos moralmente sentir). Paciência… e resistência de todos nós, para não nos curvarmos ao modelo ultramercantilista em expansão – que contamina até mesmo grandes e reputadas universidades -, e para que sejamos capazes de demonstrar alternativas, fazer frente a isso; conceber soluções educacionais efetivas e criativas, especialmente no sentido de propiciar modelos econômicos sustentáveis, rentáveis, mais conscientes na relação com todos os players (fornecedores, funcionários, clientes etc).
Petronio, concordo com tudo o que você diz.
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João você já ouvir falar do Conectivismo? Segundo esta teoria a cognição a aprendizagem não é um dom somente do ser humano, ela pode também ser compartilhado entre artefatos. Ou seja, são mais rápidos e mais eficientes.
Sim, Amarildo, acho o conectivismo muito interessante, tenho publicado sobre a teoria e inclusive realizado algumas experiências.
Olá Mattar!
Sou aluna do mestrado em educação e minha dissertação é sobre Prática Educativa dos tutores em EaD. Gostaria de salientar que seu blog e seu livro “Tutoria e Interação em Educação a Distância”, foram um referencial muito importante para minha escrita, pois partilhamos das mesmas ideias sobre a tutoria que merece ser valorizada. Já fui tutora, por isso meu interesse nessa temática. Grata!!!
O Ensino a Distância está se tornando uma ferramente muito complexa para aqueles que dispõem de um rotina massante. Muitas pessoas procuram o EaD por terem pouco tempo, mas acredito que a forma como o ensino está sendo ofertado, está completamente errado. O EaD exige muito mais do aluno, portanto acredito que ele não possa ser destinado para pessoas que tem pouco tempo, e sim pessoas que tenham interesse em aprender utilizando uma metodologia diferente, onde o aluno tem que ter participação ativa muito mais que os demais envolvidos neste sistema. A metodologia que são oferecidas hoje no ensino distância, não prende a atenção dos, alunos todo semestre é a mesma coisa, tem sempre a mesma proposta pedagógica, e aquilo que no início parecia se interessante e inovador se torna massante como a rotina daquela pessoa. Acredito também que se houvesse uma interação maior com o aluno, se os tutores não fossem “robôs” o EAD poderia dar uma guinada, porém os tutores não recebem como professores e isso os limitam a realizarem exatamente as propostas engessadas que as IES disponibilizam.
Olá Professor!!
Realmente, ofertar curso na modalidade EAD, pode até dar uma ilusão de lucro.
Hoje, atuo como Tutora Presencial e posso endossar suas palavras quando diz “que o tutor é pago indecentemente para atuar como professor “. Sinto a pressão por parte dos alunos que não entendem o papel do tutor. Assim como pelo peso das responsabilidades desta função.
Acredito que esta modalidade de ensino ainda esta em processo de desenvolvimento, com isso, esta estabelecendo sua estrutura na sociedade que por sua vez, ainda tem preconceitos.
O caminho é longo, mas acredito que o futuro da educação será através desse método.