O filósofo escocês David Hume (1711-1776) é um pensador fantástico. Sempre que volto a lê-lo fico impressionado com sua cultura, seu estilo, sua capacidade de reflexão e lidar com uma quantidade e variedade incrível de ideias, sua habilidade para criar imagens e metáforas ricas etc. Aqui vão 3 insights que pesquei numa releitura de final de ano.
Um século antes da teoria da evolução de Darwin, refletindo que a origem do universo seria mais adequadamente atribuída à geração animal ou vegetal do que à razão ou ao design, Hume sugere que a natureza possui capacidade de auto-organização, tendendo para a complexidade:
É evidente que o mundo é mais semelhante a um animal ou vegetal do que a um relógio ou tear; assim, é mais provável que sua causa se assemelhe à causa dos primeiros, que é a geração, ou vegetação. Podemos inferir, assim, que a causa do mundo é alguma coisa similar ou análoga à geração ou vegetação. (1992, p. 94)
Sua clássica e direta reflexão sobre paixão e razão:
A razão é, e deve ser, apenas a escrava das paixões, e não pode aspirar a outra função além de servir e obedecer a elas. (2001, p. 451)
Por fim, sua reflexão sobre a importância da liberdade de imprensa, tema recorrente no debate político brasileiro atual:
Compreende-se que ficaríamos sob a ameaça do poder arbitrário, caso não tivéssemos o cuidado de impedir seu progresso, e se não houvesse um método fácil de espalhar o alarma de uma ponta a outra do reino. O entusiasmo do povo precisa ser frequentemente instigado, a fim de refrear as ambições da corte; e o medo de que esse entusiasmo seja instigado precisa ser usado para evitar essas ambições. Nada contribui tanto para este fim como a liberdade de imprensa, graças à qual é possível usar todo o saber, a inteligência e gênio da nação em favor da liberdade, e exortar todos a defendê-la. Portanto, enquanto a parte republicana de nosso governo puder conservar sua preponderância sobre a monárquica, ela terá naturalmente o cuidado de manter livre a imprensa, pois esta é importante para sua própria preservação. (1973, p. 260)
HUME, David. Diálogos sobre a religião natural. Trad. José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
HUME, David. Tratado da natureza humana: uma tentativa de introduzir o método experimental de raciocínio nos assuntos morais. Trad. Deborah Danowski. São Paulo: UNESP, 2001.
HUME, David. Ensaios morais, políticos e literários. In: George Berkeley; David Hume. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Coleção Os Pensadores).