Quem me acompanha sabe que tenho uma posição muito crítica em relação às condições de trabalho dos tutores em EaD no Brasil. O salário é indecente e o tutor é quase sempre convidado a atuar passivamente, como um monitor, não como professor. Isso reforça um modelo de EaD conteudista, fordista, industrial e instrucional, que acaba afastando muita gente da EaD, mas que não é o único modelo possível de se fazer educação a distância. Ao contrário, há um modelo oposto, que dá mais importância à interação do que à produção de conteúdo, mas que, por sua vez, exige processos de formação de professores, profissionais pagos decentemente etc.
Fiquei muito interessado quando ouvir falar do I Encontro Nacional de Tutores da Educação a Distância. Mas aí, quando fui olhar os convidados, fiquei literalmente de queixo caído:
Fredric Litto (Presidente da Abed)
Ligia Futterleib (Diretora do Grupo e-Educa)
Denise Martins de Abreu-e-Lima (Coordenadora UAB-UFSCar e Presidente do Fórum dos Coordenadores da UAB)
Sergio Amaral (Coordenador do Lantec – Unicamp Laboratório de Novas Tecnologias Aplicadas na Educação)
Ricardo Holz (presidente da Associação Brasileira de Estudantes de EaD)
Stavros Panagiotis Xanthopoylos (diretor da FGV Online)
Celso Costa (diretor de educação a distância da CAPES e responsável pela UAB, também convidado)
Todos é claro profissionais de muito respeito e que certamente terão muitas contribuições a oferecer durante o evento. Ué, mas não é um Encontro Nacional de Tutores de EaD? E cadê os tutores? Onde estão aqueles que atuam como professores?
Do jeito que a coisa está organizada, quem terá voz no encontro dos tutores são os empregadores, os coordenadores, os políticos, aqueles que justamente perpetuam esse modelo que explora os tutores no Brasil. Quem patrocina o evento? COC!
Não seria importante, para equilibrar um pouco os discursos, haver no mínimo 50% de voz dos tutores, daqueles que realmente trabalham como tutores e sentem na pele as exigências que lhes são feitas, da perspectiva daqueles que são críticos do modelo de tutoria perpetuado no Brasil? Ou é um encontro para sacramentar que o tutor é uma marionete controlada de cima, que deve se separar cada vez mais da figura do professor?
Parece tudo meio invertido. Vou entrar em contato com a ANATED para bater um papo e tentar entender o que está acontecendo. Porque está me parecendo mais um evento para domar e domesticar tutores do que um encontro de tutores. Se a ANATED decidir manter o Davos, proponho um Fórum Social Nacional online e gratuito sobre tutoria no mesmo dia, com um programa bem legal e interativo. Há a opção de assistir ao Encontro Nacional de Tutores de EaD à distância, mas é paga!
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“Porque está me parecendo mais um evento para domar e domesticar tutores do que um encontro de tutores.” Mas não é isto
“Porque está me parecendo mais um evento para domar e domesticar tutores do que um encontro de tutores.” Mas não é isto que estão acostumados a fazer com os professores?
Olá Mattar,
Aproveito este espaço para informar a você e aos leitores que a pauta do evento será divulgada somente no dia 07/02, no site http://www.anated.org.br/encontronacional não deixe de conferir!. Porém, já antecipo que teremos 2 mesas exclusivas formadas por 3 tutores (1 de IES pública e outros 2 de privadas). Também estamos fazendo um grande esforço para trazer um professor-tutor da Universidade Nacional de Educação a Distância da Espanha – UNED para palestrar, porém ainda por confirmar. Só aí já temos 8 tutores, contando comigo. Também gostaria de ressaltar que o tema escolhido: “Tutoria: O braço forte das instituições. O porto seguro dos alunos” é justamente para “destacar” que precisamos fazer uma reflexão sobre o modelo atual, o qual está mais voltado para a entrega de material “físico”, deixando de lado o material “humano” que está à frente deste processo educacional. Por isso a importância de todos estarem presentes. Espero ter contribuído para o esclarecimento e contamos com a participação de todos.
Luis Gomes
Presidente da Anated
Associação Nacional dos Tutores da Educação a Distância
Luis, como dizia por aqui, eu já tinha me programado para te ligar na segunda-feira, para não incomodar no final de semana, então nos falamos por fone durante a semana. Imaginei que haveria mesas com tutores, mas o meu questionamento foi sobre os palestrantes, que têm mais destaque no evento. Penso que precisamos de tutores e professores brasileiros como palestrantes, não apenas debatendo em mesas paralelas. Além disso, eu ia também escrever sobre o tema. “O braço forte das instituições” chama a atenção (novamente) para as instituições, não para a situação dos tutores. A questão não é apenas deixar de lado o material humano no processo educacional, mas a indecente remuneração que o tutor recebe, as obrigações a que ele é submetido, as exigências, sua formação etc. Seria natural e imprescindível, na minha opinião, que todas essas questões estivessem claramente destacadas na programação, não apenas como temas para mesas, inclusive com a fala de tutores ou professores que têm posição abertamente contra o modelo de EaD preponderante no Brasil. A menção ao aluno é claro que é importante, mas uma reunião nacional de tutores, novamente na minha opinião, precisaria (no momento em que vivemos no Brasil) ter como tema principal essas questões que apontei, ter a voz dos tutores em primeiro plano, ter um programa de apoio a eles, e não “de cima”.
Pois é professor, mais uma vez a tutoria me parece ser relegada ao seu lugar na base da cadeia alimentar. Porém, nada impede que a comunicação com os tutores, no entanto, possa acontecer através do processo telepático, essa sim seria uma ação que sem dúvida levaria em consideração o fator economia na dimensão estrutural do evento. A verdade é que, se a proposta nacional é de valorizar o profissional docente, então, será que o tutor se adequa a esta categoria? Será que não se torna uma ação perigosa dar voz a esta categoria?
José severino
José, você tem razão, escrevi inclusive sobre isso agora no Facebook. Há uma questão prévia a tudo isso: se já temos professores, com legislação, sindicatos etc., por que criar uma nova categoria? Por que não considerar que o tutor é um professor? Por que pagar menos de 10% para a função do tutor, quando comparado ao professor? Na verdade o que tentei deixar claro aqui é que isso não está sendo discutido na estrutura proposta para o Encontro, que não só os tutores, mas os professores não têm voz entre os palestrantes. Tudo é muito estranho. Parece que se quer, com o evento, talvez a associação etc., passar uma borracha em toda essa discussão e sacramentar um modelo de exploração em EaD. E aí, já tenho dito várias vezes: fico do lado daqueles que criticam a EaD, dos professores que são contra a EaD etc. Vou de qq maneira tentar conversar com o Luis Gomes durante a semana, para entender melhor quais são os objetivos de tudo isso. Senão, um Fórum Social Online gratuito seria uma boa opção para fazer um contraponto a Davos.
E eu gostaria muito de ter sido convidado para poder partilhar o que venho pesquisando e que foi objeto do meu mestrado (Interação online: o desafio da tutoria).
Tenho discutido sobre esta sua inquietação Mattar, mas poucos querem escutar… e eu sei, sem falsa modéstia, que iria contribuir muito com a discussão que você coloca acima.
Um abraço,
Fernando Pimentel
Mas tutores (ou aqueles que pesquisam o que os tutores fazem) não foram convidados como palestrantes! Fernando, sua dissertação está disponível online? Passe para a gente o link.
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Dissertação online…
http://fernandoscpimentel.blogspot.com/p/dissertacao.html
mas estou tentando colocar em outro repositório…
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Sinceramente, espero que isso aconteça uma vez que há a necessidade de criarmos certos protocolos que dêem aos tutores bases para discutirem sobre sua própria prática. Professor, quem sabe se assim como no documento do fórum das estatais pela educação construiram-se as bases para a UAB, não começa a gora a surgir um documento que regulamente a ação da tutoria?
Vamos ver, José. Tentarei de todas as formas estar por lá.
Caro João Mattar,
A problemática que você expõe é o motivo pelo qual não me inscrevi no referido evento. Como tutora, já estou saturada desse discurso de adestramento que é imposto aos tutores. De fato, nós somos o braço forte das instituições, mas o que falta para sermos tratados como tal? O que falta para sermos ouvidos de verdade?
Marta, e a metáfora “braço forte das instituições” é bem infeliz. Afinal, o braço é movido pelo cérebro, não pensa, não tem autonomia. Para sermos ouvidos? Braço não fala!
Observação muito pertinente, professor.
A que conclusões será chegaram através das discussões no evento? Estou curiosa. A propósito, sou a favor de Fórum Social de Tutores! Quando teremos um? =)
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