Já escrevi por aqui Meu Medo da EaD, que teve uma repercussão muito grande, mas agora registro um medo ainda maior. Decidi escrever este post para deixar mais clara minha posição exposta no post anterior, I Encontro Nacional de Tutores da EaD, e principalmente porque o assunto não saiu da minha cabeça de ontem para hoje.
Aqui vai uma historinha – qualquer semelhança com a realidade é proposital.
Uma disciplina presencial e semestral numa Instituição de Ensino Superior (IES) tem 6 professores, cada um com 3 turmas, total de 18 turmas. Cada turma tem uma média de 50 alunos e as aulas duram 4 horas por semana.
Com a possibilidade aberta pelo MEC de as IES oferecerem 20% de sua carga horária em Educação a Distância (EaD), essas disciplinas passam a ser oferecidas à distância, com os professores (agora tutores) mantendo seus 50 alunos por turma, realizando diversas atividades de interação durante o semestre e elaborando instrumentos de avaliação adequados à nova situação. Esse era o cenário interessante para onde a coisa caminhava, mas que logo esvaneceu.
Reestruturação: há agora 400 alunos por “turma”, as atividades e provas são de múltipla escolha e o tutor (agora não mais professor) não deve mais realizar atividades de interação (mesmo porque não daria tempo), apenas enviar avisos motivacionais para os alunos, informando que o conteúdo da aula x está disponível, que o prazo para realizar a atividade de múltipla escolha está vencendo etc. Ah, a remuneração não diminuiu (apenas porque a lei impedia), mas o professor passou a receber menos horas-aula por seu trabalho – agora apenas 2, não mais 4. Ou seja, ele recebe agora 2 horas-aula de remuneração por 400 alunos, quando antes recebia 4 horas-aula por 50 alunos.
A IES obviamente não precisa mais dos 6 tutores; 1 deles agora é suficiente para dar conta da nova função “docente”: o tutor oficial da disciplina. Os outros 5 são demitidos.
Numa próxima etapa, nem mais do tutor remanescente a IES precisa – ela pode agora contratar um recém-formado para dar conta da função que é muito mais de monitor do que de tutor ou professor. O último tutor é dispensado. Chega-se ao cúmulo de utilizar um mesmo “tutor” (agora monitor) para diversas disciplinas, muitas das quais ele não domina nem mesmo o conteúdo.
Esta é a história da adoção da EaD nas IES particulares em nosso país. São poucas as exceções e variações.
A questão então é: quem saiu ganhando?
Os professores obviamente não. Os 6 foram dispensados, e o pior é que esse processo ocorreu com mais intensidade nas disciplinas de humanas, que envolvem tradicionalmente alto grau de interação entre professores e alunos. Tenho vários colegas formados em Filosofia, Sociologia, História, Letras, Comunicação etc. que foram demitidos (por causa dessa EaD), não conseguiram se colocar rapidamente (porque o mercado encolheu, já que o processo ocorreu em diversas IES) e acabaram mudando de emprego: estão tentando hoje ganhar a vida como corretores de imóveis, vendedores, cabeleireiros etc., ou continuam simplesmente desempregados. Os professores perderam, mas atordoados com as mudanças geradas pelos progressos da tecnologia, e culpando-se por não conseguirem acompanhar as novidades, além de não terem mais remuneração para o próprio sustento e talvez até pela falta de mobilização da classe, não conseguem se organizar para reagir.
Eu tenho sofrido calado com a hipótese de que a sociedade sentirá os efeitos dessa “EaD” quando novas gerações estiverem formadas nesse modelo, sem a mínima formação em humanas. Inserimos Filosofia e Sociologia de volta nos nossos currículos de Ensino Médio mas tiramos as matérias de humanas do ensino superior. Estamos “formando” uma geração capenga no ensino superior com essa “EaD”.
Os alunos obviamente não ganharam. A justificativa das IES é que eles estão agora sendo preparados mais adequadamente para o mercado de trabalho, onde o e-learning impera, e estão também sendo formados no uso de tecnologia. Mas este modelo de EaD fordista, conteudista e instrucional não é o único modelo de EaD que existe; ao contrário, se é adequado para algum contexto, é para a autoinstrução rápida em algum tema específico, mas muito pouco para a formação em humanas ou em diversas outras áreas do ensino superior. Esses mesmos alunos poderiam estar fazendo EaD com professores, participando de atividades interativas, em turmas menores, sendo desafiados com avaliações adequadas etc. Mas estão fazendo provas de múltipla escolha de filosofia no computador! Os alunos perderam, mas não têm base de comparação para entender o que está ocorrendo em nosso país, sendo martelados com o discurso de que precisam se adequar a um modelo de educação moderno, que são passivos, que querem tudo mastigado. Ficam então mobilizados e não reagem – isso faz parte da estratégia.
Os tutores, por sua vez, tampouco têm base de comparação, pois entraram nisso tudo já com o bonde andando e são pintados (pelos empregadores) como mais modernos que os professores que não aceitam a EaD, que não sabem usar tecnologia etc. Se os tutores de EaD exigirem ser tratados como professores, em todos os sentidos (financeiramente, seguindo a legislação, pedagogicamente etc.), já que eles realizam a função de professores, essa situação não se perpetuará, a justiça do trabalho p.ex. interromperá esse absurdo. Professores e tutores têm que falar em uníssono, como uma só voz, já que são a mesma classe. Nem os professores podem aceitar que os tutores substituam seu trabalho com uma remuneração inferior a 10% do que eles recebem, nem os tutores podem aceitar realizar um trabalho que vale (que já é institucionalizado) mais de 10 vezes, que deles sejam exigidas tarefas incompatíveis com sua formação etc.
O MEC? Bom, o MEC é o pai da criança, porque no fundo adotou o modelo na UAB – Universidade Aberta do Brasil, pagando para um tutor menos de 10% do que o próprio governo paga para um professor, numa universidade estadual ou federal. Se o próprio governo faz isso, chancelado pelo seu Ministério da Educação, o que não farão as instituições de “ensino” particulares? Como o “tutor” é agora uma nova classe profissional, ratificada pelas ações do próprio MEC, todas as conquistas de décadas dos professores, como sindicatos, legislação, direitos trabalhistas etc., são jogados na lata de lixo e não precisam mais ser respeitadas com a manobra. E é sempre bom lembrar que esse modelo da UAB foi adotado pelo MEC justamente com o objetivo de formar professores presenciais para o ensino médio em nosso país, onde seríamos carentes e sensíveis quando fazemos uma previsão para as próximas décadas. É surrealista mesmo, caro leitor, e isso mostra a preocupação do MEC com a formação dos professores – na verdade, o MEC consegue assim números para suas planilhas, que demonstrariam seus resultados no desafio de formação de professores. E também é bom lembrar que a justificativa das IES para as provas de múltipla escolha é que elas preparam os alunos para o ENADE, também obra do MEC.
Quem ganhou com isso, portanto, foram em última instância apenas as IES particulares, que adotaram a EaD como uma estratégia de lucratividade, sem preocupações propriamente pedagógicas. Ganharam alguns coordenadores de EaD, que recebem bônus pelo lucro que conseguiram gerar para os sócios ou acionistas das IES. Planilhas são o produto “pedagógico” que esses coordenadores apresentam para ter direito à sua remuneração adicional, baseada na lucratividade gerada.
Alguns meses depois de ter escrito este post li essa passagem na CFESS Manifesta especial Educação não é fast-food, que cai como uma luva aqui (depois da inserção, continua o post original):
Trata-se de denunciar quem se beneficia com a educação à distância: de um lado os “tubarões” do ensino, que ficam cada vez mais ricos e que têm um único objetivo – vender uma mercadoria. E de outro lado, o governo, que se desobriga da execução da política pública de educação e acena com a mão do mercado o EaD como única saída. Desse modo, o ensino de graduação à distância assume a condição de um novo fetiche social, pois, em nível da aparência do fenômeno, apresenta-se como democratização do acesso, o que esconde sua essência mercantil.
Não é à toa que muita gente não gosta da EaD. Uma EaD envolta em tantas manobras, em tanto desrespeito a alunos e professores, e à própria educação, não pode agradar a quem encara a educação com seriedade. Foi realmente um golpe de mestre, mas ainda temos pessoas sérias que fazem educação no país, que reagem, resistem e criticam o que está acontecendo.
A discussão sobre EaD e tutoria no Brasil não pode simplesmente passar uma borracha nessas questões, ignorando-as como se elas não existissem ou fossem coisa do passado. Elas precisam ser discutidas por professores, tutores, alunos etc., pois nem o MEC nem as IES acenam com qualquer intenção de mudança na situação atual, já que ela é lucrativa e confortável para os dois lados.
Então você pega a programação de palestrantes de um evento que se intitula I Encontro Nacional de Tutores da EaD, organizado por uma entidade que se intitula Associação Nacional dos Tutores da Educação a Distância, e vê que dela praticamente só participam Coordenadores e Diretores de IES e outras instituições, além de convidados do MEC. Não há um só professor entre os palestrantes e só há um tutor – o presidente da entidade! Quem patrocina o evento? O COC. Cadê a voz dos tutores e dos professores? Ficará restrita a mesas-redondas. Cadê a voz dos professores que são críticos do modelo? Não será ouvida.
O problema não é apenas que o modelo “está mais voltado para a entrega de material ‘físico’, deixando de lado o material ‘humano’ que está à frente deste processo educacional” (como diz o Luis Gomes, Presidente da Anated, no seu comentário ao meu post anterior), o problema não é só de valorização de conteúdo e desvalorização de material humano: é ainda anterior a isso, é trabalhista, de exploração, ideológico. Uma associação e um evento de tutores que não entende isso (ou finge que não entende), que se estrutura dando voz a quem perpetua esse modelo perverso de EaD, não tem representatividade para a classe. Nenhum tutor nem nenhum professor pode considerar-se representado pela associação. Ela não está a serviço dos tutores e professores, mas sim daqueles que desejam perpetuar até onde der essa grande farsa que os está explorando ao limite, gerando assim lucros e dividendos.
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Alguns breves comentários de quem não está a par da conjuntura que envolve hoje a EAD, mas que há muito reflete sobre as grandes questões envolvendo a macro-educação:
Deixando de lado as questões trabalhistas e me atendo ao problema pedagógico, penso que o futuro da EAD deverá envolver a ampla utilização das redes sociais. O Facebook é um exemplo de rede social que constantemente inova na oferta de aplicativos. Daí para redes sociais aplicadas, ou mesmo no interior das grandes redes, que ofereçam aplicativos que permitam interações ricas entre os internautas e alunos também do ensino formal (encaremos as atuais redes sociais como ‘ensino informal’), penso que é um pulo. Nesse contexto, não penso que a proporção de 400 alunos por professor seja um absurdo, mas somente nesse contexto. Mark Zuckerberg e sua equipe de, talvez, 50 funcionários não ‘ensinam’ (de certa forma) cerca de 2 bilhões de alunos? 1 professor pra cada… 40 milhões de alunos…
Claro, não quero aqui colocar ensino formal e informal no mesmo patamar, mas sempre me opus ao muro de Berlim que nossas universidades (fiz pedagogia na USP) construíram ente os dois lados. E o resultado tá aí. A grande revolução da educação contemporânea – a revolução da comunicação – passa ao largo dos muros da escola brasileira, especialmente da escola pública. As Lan houses ensinam mais…
Resumo: eu defendo a) uma maior interação entre ensino formal e informal; b) que os professores sejam formados no amplo conhecimento dessas redes para que possam utilizar-se delas (construindo aplicativos também) como ferramenta para dinâmicas de aprendizagem ‘horizontal’ (e não somente vertical). Dinâmicas entre alunos (aprendizagem horizontal) apenas acompanhadas e mediadas pelos professores; c) aulas magnas, com professores de renome, via teleconferência; d) encontros presenciais livremente combinados entre os alunos, como atualmente já se dá a partir das redes sociais abertas.
Essas são algumas poucas reflexões a respeito. Não quero, porém, diminuir a importância das questões trabalhistas. Até porque trata-se aqui de dar todo o apoio à categoria profissional dos professores nesse processo de transição para uma educação mais global e tecnológica. Educação Fordista, mas também Mcluhiana.
Só acrescentando mais um aspecto ao EAD industrial – pegue os cursos de qualquer grande IES apresentados nos moldes online – a estrutura, os exercícios, os bonecos falantes (interativos) são todos exatamente iguais, seja o curso de administração, marketing, filosofia, história, matemática, corte costura ou mecãnica quantica!
Como se um modelão só, desse conta de tudo. Até as piadas são as mesmas e igualmente sem graça. Não se trata de educação a distância, mas de apostilão a distância, tão reducionista quanto pode ser um sistema que não considera o que se passa com o aluno, tratado como massa e não como indivíduo.
Precisamos de soluções para atender a grandes grupos no país – concordo, mas com certeza ela não está neste modelão emburrecedor.
Bom, eficiente e de baixo custo, é possível sim, só dá um pouco mais de trabalho – tem que mudar o paradigma pra valer e não só maquiar de “mudernidade”.
Quando teremos uma legislação específica para esse novo profissional?
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IBIDIN, talvez o caminho não seja uma legislação específica para este profissional – talvez o caminho (mas para isso teremos que brigar muito) seja reconhecer que este profissional é um professor, para quem já existe uma legislação específica, fazendo-se ajustes em relação ao ensino online. Ajuste, aliás, que já está sendo negociado por sindicatos mesmo para os professores presenciais, que começaram também a ter muito mais trabalho do que tinham antes, face ao uso de ambientes de aprendizagem, emails etc. Considerar o tutor uma categoria separada da categoria dos professores é interesse do MEC e das IES, mas não é dos alunos, dos professores nem mesmo dos tutores.
Como pesquisadora em EaD, tenho as mesmas preocupações.
Glaucia
Prezado João Mattar,
Que lucidez a sua sobre a decadência da EaD no Brasil. E olha que ela ainda é uma criança por aqui, mas já está sendo manipulada, banalizada e de certa forma, violentada pelos modelos e métodos utilizados em nome da massificação da educação, em nome da racionalidade econcômico-pedagógica.
Concordo com você: acho que o título do evento está errado – encontro nacional de tutores da EaD?
Não seria um encontro da apologia à exploração do professor da EaD?
E o incrível é que nesses eventos camuflados os convidados de honra são os representantes do MEC e da classe dominadora.
Mas nem tudo está perdido, ainda temos professores que acreditam na sua missão transformadora, questionadora, que faz educação porque gosta, por acredita nela, incondicionalmente, como a única forma de mudar o mundo, de fazer justiça social e formar pessoas para a cidadania, a pesquisa, o trabalho e a vida.
Poderia passar horas falando revoltado sobre essa situação surreal, mas para mim basta dizer que educação não é levada a sério neste país, definitivamente não é.
Mais do que ter medo da EaD, eu tenho medo é deste país, que reduz a educação a nada.
Muito bom artigo e como também o comentário do Eri
Daria um bom post, quem se habilita: O Pesadelo da Educação no Braisl
Prezado Mattar, realmente daria um bom post. O profissional tutor realmente não é levado muito a sério. Sou do mesmo pensamento do Enilton. Os bons tutores que ainda atuam é porque acreditam na educação, independente das condições, quantidades de estudantes que atendem e valores em reais.
Seria ótimo fazer uma pesquisa de norte a sul, das diversas experiências de tutoria pelo Brasil. Sem máscara.
Olá
de fato a questão é preocupante e temos discutido bastante a esse respeito. A própria representatividade de tutores separada da de professores é um grande equívoco.
Acredito ser necessário o monitoramento dos acessos e interações feitos pelos alunos para ser possível um real perfil de cada um, isso pode ser feito por um monitor… mas é essencial a interação aluno-aluno e aluno-professor (que costuma ser chamado na EaD de tutor).
Escrevemos um artigo a esse respeito em 2009, descrevendo o papel do professor-tutor (professor que atua na modalidade a distância); caracterizando sua ação docente e sua importância no processo educacional.
(http://www.diaadia.pr.gov.br/ead/modules/mydownloads_01/visit.php?cid=7&lid=56).
Caro João
Na IES, na qual coordeno o Núcleo de Educação a Distância, o professor/tutor tem o mesmo tratamento trabalhista e pedagógico que o professor conteudista da disciplina semipresencial e recebe por hora/aula de acordo com sua formação (especialista, mestre ou doutor) e são todos formados (no mínimo especialista) na disciplina que tutora.
Não creio que a luta seja para definir legislação específica para tutor, e sim, respeitar a legislação já vigente para o professor, independente se vai atuar em disciplinas presenciais ou mediadas por tecnologias online.
Tenho um procedimento básico na leitura de livros/teses/dissertações/textos sobre a EaD. O primeiro deles é buscar no Lattes o currículo de quem está escrevendo e se a pessoa coordenou a implantação e/ou implementação de EaD em uma IES. Se não conhece o processo a fundo, não perco tempo lendo, pois o “senso comum” só faz com que algo tão importante (digo vital) como a educação (mediada ou não por tecnologia online) seja vista com olhar ingênuo, isto é, distanciado da realidade.
Nesta “teia de relações” somos um dos responsáveis pela busca da excelência na educação no nosso país, no nosso “microcosmo” de atuação e não temos o direito de sermos ingênuos.
Nada ainda é definitivo em EaD no Brasil. Pessoas muito sérias estão trabalhando para encontrar estratégias para adequar a EaD a nossa cultura de aprendizagem, precisamos de profissionais de todas as áreas (não só professores) buscando soluções, não podemos perder o foco.
O que realmente me preocupa em todo este processo é que buscam “culpados” sendo que precisamos buscar “soluções”.
Tem muita gente dizendo um monte de bobagens por aí sem ter vivenciado a EaD minimamente.
Abraços,
Oi Professor João!!
Quando vejo notícias assim, fico pensando nos caminhos da Educação e da Humanidade. Diante desse contexto, cabe perguntar “a quem interessa que a Educação em nosso país tome este rumo?!”
As vezes, tenho ‘vergonha de ser brasileira’, pq somos muito ‘burros’, nos deixamos levar por qualquer modismo estrangeiro, com repercussão midiática.
Ah como estamos longee de alcançar uma Educação de Qualidade no Brasil….
Melhor nem comentar mais…
Apenas, escrevo para sugerir que professores com tua força, se unam e lancem uma Campanha Nacional contra estes ‘pseudoprojetos educacionais’!! Isso tem que ser alardeado! As pessoas precisam ser esclarecidas ou continuarão confundindo ‘alhos’ com ‘bugalhos’ e pondo todas as iniciativas de Educação Online ‘no mesmo saco’…
Aproveito deixar uma sugestão, se permite: seus posts são sempre tão relevantes e seria bom podermos disponibilizar em nossos blogs um link com o título de seu post, que sabe seu selo.
Grande []!!! Tudo de Melhor!!
Maria Estela, não sei muito bem o que significa “mesmo tratamento trabalhista e pedagógico que o professor conteudista da disciplina semipresencial”, mesmo porque teríamos que entender o que você chama de “professor conteudista da disciplina semipresencial” na sua IES. Entendo que um tutor precisaria receber o mesmo tratamento de um professor, não necessariamente de um conteudista. Aliás, a questão do conteudista geraria outra discussão bastante complexa, que mereceria no mínimo um espaço em um post separado, não apenas aqui nos comentários. Concordo com você que a luta tenha que ser para aplicar a legislação já existente, com as modificações necessárias, para o trabalho do tutor, que afinal de contas é um professor. Pelo que entendi do seu comentário, para ter autoridade para falar de EaD uma pessoa precisa ter coordenado a implantação e/ou implementação de EaD em uma IES. Eu não vejo dessa forma. Penso que há muitos olhares valiosos na EaD, que vêm do aluno, do tutor, do professor (mesmo dos que estão de fora) etc. Se dermos voz em EaD apenas aos coordenadores (ou como queira chamá-los), isso não preserva um discurso de vários lados, nem mesmo a visão do próprio tutor. Conhecer o processo a fundo, penso eu, não significa conhecer apenas do ponto de vista da impelmentação de EaD em uma IES, aí estaríamos novamente dando a palavra só para quem está por cima. Não sei se foi isso o que você quis dizer, mas um tutor, por exemplo, não está “distanciado da realidade”; aliás, em EaD, ele pode estar muito mais próximo da realidade do que um coordenador que, este sim, muitas vezes está distante dos alunos, distante do processo pedagógico etc. Não estou é claro fazendo nenhuma referência a você ou sua IES, que não sei qual é, mas apenas aproveitando suas palavras para refletir. É claro que não precisamos apenas de professores para ditar os rumos da EaD, mas num encontro de tutores precisamos pelo menos de alguns professores palestrantes para equilibrar as perspectivas, e na EaD (que afinal de contas é educação) também precisamos de professores – mas em muitos modelos, como o que mencionei e que impera no Brasil, eles foram expulsos do processo de ensino e aprendizagem. Não entendi muito bem a questão do “culpados” e “soluções”, mas o mais importante, sem dúvida, é buscar soluções. Paula, pode usar meus posts à vontade!
Vejo no uso da tecnologia como a única, e talvez a última, saída para recuperarmos a educação no Brasil e nos aproximarmos de alguns países do primeiro mundo.
Mas, a cada dia isso parece mais utópico. Enquanto nos EUA os cursos de pós graduação já são realizados mais de 50% em ambientes virtuais com uso intensivo de novas tecnologias… aqui discutimos a sua regulamentação…
João, relendo os comentários e ponderações aqui registrados, e entendendo a EaD como parte integrante de um Sistema Educacional, e não como uma modalidade educacional, fico pensando:
Por que dessa nossa discussão? Por que inventaram a função da tutoria na EaD?
Qual a diferença entre professor conteudista e professor tutor?
O projeto pedagógico é o elemento mais importante na implantação da EaD?
Por que referenciais de qualidade e não indicadores de qualidade na EaD?
Acredito que algumas dessas perguntas tenham respostas em uma análise mais profunda da trajetória da EaD no país a partir da LDB, 1996. Nessa caminhada, observa-se que o avanço das TICs impös ao governo e às IES brasileiras ações rápidas para que se tornasse viável acompanhar o descompasso entre o impacto desse avanço na educação e a burocracia reguladora da educação no país. Nesse contexto, fez-se muita bobagem, à titulo de regulação em nome da qualidade, utilizando-se de Decretos, em várias versões e níveis, inclusive para descaracterizar o verdadeiro papel do professor, na versão do papel do tutor e que por insegurança, talvez, ou ignorância tornou-se o centro das atenções nas políticas e diretrizes do MEC. Sem contar o caráter esquizofrênico dado aos Polos presenciais.
Essa é a minha visão crítica da trajetória da EaD no país. Infelizmente. Temos muito ainda que aprender sobre a educação a distância em sua verdadeira essência, mas não podemos cruzar os braços e assistir à sua banalização. Educação pressupõe diversidade, pressupõe visão sistêmica, e como tal dever ser encarada com respeito.
Movimentos como esse encabeçado por você pode ser uma das soluções para abrir espaço, sem restrições de cargos nem funções na EaD para que possamos ouvir sugestões da comunidade educacional brasileira em suas várias instâncias.
Não acredito em soluções sem a participação crítica de todos os personagens envolvidos no processo.
Olá João.
Realmente seu artigo tocou em um ponto central do problema que enfrentamos de credibilidade e qualidade de EAD no Brasil, Foi na veia, como diriam..
O que nunca entendi direito, por mais que me expliquem, é o tutor ser tratado como bolsistas, e não como professor. A começar pelo MEC (Veja edital abaixo). Sei que o Brasil tem legislação trabalhista muito fechada, mas não é um caminho perigoso? Será que em outros países é diferente?
O pior é que a situação geral da educação no Brasil é feita de soluções temporárias. No Paraná são 9.500 professores temporários para a rede pública, só para começar as aulas hoje. Nas faculdades Estaduais, Paranaenses pelo menos, existe uma classe que é tratada como “quase” professores, os colaboradores. Que carregam literalmente piano em contratos anuais. Acredito que o número não deva ser pequeno. Há cursos tocados quase que 50 % por professores colaboradores.
Pensando assim, até que entendo a visão do Mec em tratar o tutor como bolsista. Na verdade ele já faz isso no presencial, mas pelo menos um pouco mais “direitinho” fazendo contratos temporários como prevê a legislação, enquanto na EAD seremos sempre os bolsistas…
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EDITAL:
Bolsas
A remuneração dos profissionais que atuam nos cursos de formação inicial e continuada e nos polos de apoio presencial do Sistema UAB é feita por meio de bolsas de estudo e pesquisa concedidas pela CAPES/MEC e pagas pelo FNDE/MEC, conforme disposto na Resolução CD/FNDE nº 26, de 5 de junho de 2009.
http://www.uab.capes.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=73&Itemid=29
NO MESMO SITE:
TUTOR
Tutor
Tutor é o profissional selecionado pela IPES vinculada ao Sistema UAB para o exercício das atividades descritas a seguir. No entanto, cabe às instituições de ensino determinar, nos processos seletivos de tutores, as atividades a serem desenvolvidas para a execução dos Projetos Pedagógicos, de acordo com as especificidades das áreas e dos cursos.
São atribuições do Tutor:
Mediar a comunicação de conteúdos entre o professor e os estudantes;
Acompanhar as atividades discentes, conforme o cronograma do curso;
Apoiar o professor da disciplina no desenvolvimento das atividades docentes;
Manter regularidade de acesso ao Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA e responder às solicitações dos alunos no prazo máximo de 24 horas;
Estabelecer contato permanente com os alunos e mediar as atividades discentes;
Colaborar com a coordenação do curso na avaliação dos estudantes;
Participar das atividades de capacitação e atualização promovidas pela instituição de ensino;
Elaborar relatórios mensais de acompanhamento dos alunos e encaminhar à coordenação de tutoria;
Participar do processo de avaliação da disciplina sob orientação do professor responsável;
Apoiar operacionalmente a coordenação do curso nas atividades presenciais nos polos, em especial na aplicação de avaliações.
Bolsa para Tutor:
O Tutor deve possuir formação de nível superior e experiência mínima de um ano no magistério do ensino básico ou superior. Caso não comprove essa experiência, deve comprovar formação pós-graduada ou vinculação a programa de pós-graduação para poder exercer a função e fazer jus a bolsa mensal no valor de R$ 600,00 (seiscentos reais).
Ana, então ele faz tudo o que um professor faz, é um professor, tem que ser tratado como professor.
Veja você João, o próprio edital colocas as funções do Tutor como de um professor, só não pode considerá-lo e pagá-lo como tal.
SE existem processos seletivos para Professores temporários é necessário concursos para efetiva-los; o processo seletivo é muito típico do “habitus” de protelar , por conveniência política resoluções que a população necessita.
E nestes processos seletivos o vínculo não pode ultrapassar 03 anos, pois assim cria-se um vínculo “indesejável para quem contratou….
é muito insano..
João, excelente artigo! Infelizmente, o próprio MEC chancela esse desrespeito às leis trabalhistas. Mas há instâncias às quais podemos recorrer e penso que devemos fazer isso de forma organizada. Se essa Associação de Tutores não pode nos representar, penso que nós, profissionais que pesquisamos e adotamos tecnologias para promover a aprendizagem, podemos fazê-lo sem esses rótulos de associação disso ou daquilo! Acho que isso seria mais um movimento, objetivo, direto. O Ministério Público está aí e penso que podemos acioná-lo para um diálogo sobre essas bizarrices! Abraço e parabéns pela exposição tão clara desse cenário que não se sustenta, seja do ponto de vista do trabalho docente, seja do ponto de vista da aprendizagem que o País precisa promover para figurar numa condição melhorzinha no cenário mundial!
Enquanto a Educação no Brasil não for tratada como “prioridade” por nossos representantes eleitos com o voto dos cidadãos brasileiros, estamos a mercê de paliativos emergenciais para resolver as carências acumuladas por anos de descuidos.
João:
Sou da área de humanast e quando ali essa matéria fiquei surpresa porque é realmente nossa realidade.
Prezado Mattar, vejo que seu post terá uma repercussão muito grande principalmente para os professores tutores presenciais nas EaDs por esse Brasil afora. O que tenho percebido e agora nessa matéria ficou ainda mais é a total desconfiança da maioria com relação a EaD. Poucas IES estão levando a sério Educação a Distância. A maioria está vendendo como se fosse uma mercadoria comprada em qualquer esquina e sem garantia nenhuma. Por outro lado, o MEC pouco tem feito para coibir essa falta de respeito pelo maior envolvido, que é o ser HUMANO, que precisa de um ensino de alta qualidade. Precisamos urgentemente tomar as providencias para mudar este cenário atual ou teremos cada vez mais uma população sem cultura e sem conhecimento…Valeu. Um grande abraço.
Dentro da política da educação, a EAD se apresenta como uma modalidade importante, sendo fundamental a definição de princípios, diretrizes e critérios que se mostrem como referenciais de qualidade.
A educação no Brasil vem sendo MALTRATADA desde a época da escravidão,e agora que estamos caminhando para o desenvolvimento da mesma, inserindo a Ead de maneira generalizada no ambiente educacional brasileiro nossos governantes não estào dando a devida importancia para esse marco que pode mudar para sempre a história da educação no Brasil.
MUITO EQUILIBRADAS AS PONDERAÇÕES TRAZIDAS EM VOSSO ARTIGO, PROFESSOR JOÃO MATTAR. INFELIZMENTE OS PÉSSIMOS EXEMPLOS TEM SERVIDO DE ESPELHO PARA A NOSSA SOCIEDADE, TANTO QUE O CORESS E A PRÓPRIA OAB VEM SE POSICIONANDO CONTRA A EAD EM SEUS CURSOS. NÃO HÁ COMO REVERTER O PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DA EAD EM NOSSOS CURSOS DE GRADUAÇÃO, MAS O MODELO A SER SEGUIDO NÃO PODE SER MAIS O “FORDISTA” E ENGESSADO, SENÃO CONTIUNUARÁ A HIPOCRISIA EDUCACIONAL: OS PROFESSORES FINGEM QUE ENSINAM; OS ALUNOS FINGEM QUE APRENDEM. SO A EAD IMPLEMENTADA, FISCALIZADA É QUE IRÁ MUDAR ESTE REFERENCIAL.
A Ead hoje em dia , é tida como uma realidade nas grandes universidades brasileiras ,que prometem com esta modalidade de ensino levar os cursos superiores a todas as classes sociais.É possível perceber que o acesso ao ensino superior pelos cursos a distancia vem crecendo consideravelmente,uma vez que o custo dos cursos superiores a distancia acaba viabilizando a entrada de pessoas que antes não tinham condições financeiras para engressarem nos mesmo.Outra vertente tida como vantagem nos cursos Ead é justamente o quesito Á DISTANCIA,que possibilita a algumas pessoas (que antes não tinham tempo para frequequentarem um curso presencial ) realizarem estes cursos dentro das empresas nas quais trabalham,dentro de seus escritórios e até mesmo dentro de suas próprias casas.
Caro prof. João, seu artigo é realmente o tocante da realidade do EaD. Fui tutora em uma instituição de ensino, que contratou aproximadamente 100 profissionais com titulação mínima de especialista no final de 2010. E aos poucos ficaram claras as condições de trabalho oferecidas por esta IES, que inicialmente alegava a estes tutores e alunos que toda a situação era provisória para adequação do sistema..etc. até que 10 meses depois, após receber a renovação da licença, 40% da tutoria foi demitida sem justa causa e sem nenhum respeito ou consideração a estes profissionais. Os mesmos saíram de férias e no dia em foram convocados a retornar as suas atividades, foram levados ao anfiteatro do polo e demitidos coletivamente sem nenhuma explicação, e sem direito a semestralidade e agora gozam do desemprego. Pois, como sabemos professores não são contratados em qualquer período do ano.
O que é realmente triste é ver esta instituição monopolizando o ensino e pelo que vemos contando com o apoio de alguns aliados como o MEC, que não cumpre seu papel em fiscalizar e certamente facilitam a esta IES o caminho para encobrir as irregularidades. Estes profissionais só serviram de laranjas para que esta IES cumprisse uma pequena parte das exigências do “Termo de Saneamento”, que orientava a contratação de 300 professores – tutores e destes só foram contratados 1/3 além de outras exigências não apresentadas, mas ainda assim a IES não recebeu a visita do MEC, mas conseguiu a renovação da licença, interessante não é?
Infelizmente, toda a perspectiva e motivação para agregar ativamente neste processo foi substituído pelos sentimentos de decepção e frustação na descoberta do verdadeiro interesse que está por trás de muitas IES, “produção em massa” ou podemos dizer “Venda de diplomas”? O que confirma o desrespeito pelos professores e alunos.