I
allegro mas sem rosto.
quando te imagino cítara, foges:
zarpas harpa multicor.
o infando som das cordas
flutuando aviõezinhos de papel
pela sala deserta, medonha.
o imenso dos zepelins sem donos.
quando te imagino beijos, corres:
voas aula néctar flor.
o inefável do punhal erguido,
o inegável do olhar perdido,
o inebriado olhar trêmulo.
o imenso do olhar sem dono.
II
larghetto escalpelo.
o fio de nylon freeway sem rumo.
o nó que cresce, rede, câncer destemido.
as cores que lambi não eram cores: cabelos.
as coisas têm umbigos – mais umbigos os novelos.
despetalei teu rosto, altar de cordas e corolas.
a espada narcisa volta-se para o fosso, incisiva.
um estranho brilho termina o túnel funil.
um estranho mago termina o túnel funil.
III
rapdsódia:
a existência trincheira.
Hoje é domingo e já ontem, sorrindo,
Tropeçou o touro travesso caindo
Forte profundo no buraco infindo…
rallentando…
Eu gosto dela mas eu gosto de mim.
Ela
Por tão delirante dólar, por isso,
Veste cachimbo e bigode postiço
De gato de bode e de delegado,
Que muge bem bravo, fantasiado
De Dona Chica, de apito de ouro,
E bate e bate e bate no touro
Com jarro com pau e com pirulito…
Mas bate o sino: que sarro!
Bate o sino pequenino,
Sina do mundo de barro dos fracos.
expressivo:
Hoje é domingo e tudo é tão lindo!
Dia de rima, da fé, de Maria,
Dia de fome, dia de bingo.
baixo cantado:
Hoje é domingo, vastíssimo mundo,
E eu me chamo mesmo é João:
Nem rima, nem solução…!
Nem rima, nem solução…
sumindo…
Nem rima, nem solução…
(Raízes, 1996)