Escrevi há pouco tempo por aqui O mundo visto por uma luneta, em que discuto a prática de escolas e universidades obrigarem seus professores a inserir, em todas as disciplinas, avaliações no modelo do Enem e do Enade. Isso acaba introduzindo no processo de ensino e aprendizagem ruídos não pedagógicos, externos ao processo.
Mas o problema não se resume à imposição desses elementos externos ao sistema de avaliação. Além da manipulação de alunos que prestam os exames, com a não aprovação proposital de diversos, muitas instituições sequer têm aulas no último semestre, reservado apenas para o exame, que acaba se transformando em um exame da ordem, segundo Celso Napolitano (presidente da Fepesp) – cf. MEC dá prazo para universidades explicarem variação da nota do Enade.
É importante que os Conselhos de Educação e o MEC tenham números para orientar políticas públicas na área, e a sociedade, para orientar suas escolhas, assim como é legítimo que as instituições se preparem de alguma maneira para esses exames, já que os resultados dos seus alunos acabam impactando em seu reconhecimento pelo mercado. Mas a situação tornou-se surreal e a ordem das coisas acabou invertida – primeiro o Enem ou Enade, e depois, no que sobrar, a formação dos alunos, com o processo de ensino e aprendizagem dominado não pelas necessidades e características dos alunos, das disciplinas e dos cursos, mas pela obsessão das instituições em tirar uma nota alta nesses exames. Como afirma o consultor Carlos Monteiro, a crescente valorização dos rankings, vinculados a esses resultados, resulta em uma tragédia, em função da alta competição.
Os vilões do Enade não são, portanto, a UNIP e as outras 30 instituições que supostamente o MEC estará auditando. O que precisamos mesmo é rever, enquanto projeto de nação, a sistemática, os objetivos e outras questões relacionadas a esses exames, e até mesmo a justificativa para sua realização (nos moldes atuais), sob o risco de nos tornarmos um País da Educação… mas para questões de múltipla escolha, para o Enem e para o Enade!