Fuga em Outro

qual a face rio do dodecaedro?

desabrocha a flor pânico
a mão raiz destroça a terra
a cauda rio rega incessante
espatifar de grãos miniatura

o silêncio navalha
o corte profundo no tempo
o silêncio
o rio que amassa
o silêncio navalha
o seco rapto dos nossos leões
o silêncio
o espelho e o espeto do tempo

o bosque rio assedia
- não há mãos, meu deus –
o corredor de grãos miniatura

o tesouro é o corredor
fluido
fluido

o bosque talvez uma só das faces.
o rio talvez o todo dos grãos.

desabrocha a flor pânico
a cauda rio incessante
e as garras dos nossos leões?

*

o dodecaedro são minhas duas visões
sem sufoco as taxi-girls voadoras

o tempo esvai-se em círculos serpentes
a cauda rio engole o bosque
(não se podia esperar pelos leões
 habituar a esperar por nossos leões?)

nunca via as outras onze faces
nunca vi a onça, o lince
(o rio pânico tesouro
 fluido
 tem garras mãos)

inofensivo
o rio descarta cristais estalactites em lavas

João Mattar
Raízes, 1996

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