qual a face rio do dodecaedro?
desabrocha a flor pânico
a mão raiz destroça a terra
a cauda rio rega incessante
espatifar de grãos miniatura
o silêncio navalha
o corte profundo no tempo
o silêncio
o rio que amassa
o silêncio navalha
o seco rapto dos nossos leões
o silêncio
o espelho e o espeto do tempo
o bosque rio assedia
- não há mãos, meu deus –
o corredor de grãos miniatura
o tesouro é o corredor
fluido
fluido
o bosque talvez uma só das faces.
o rio talvez o todo dos grãos.
desabrocha a flor pânico
a cauda rio incessante
e as garras dos nossos leões?
o dodecaedro são minhas duas visões
sem sufoco as taxi-girls voadoras
o tempo esvai-se em círculos serpentes
a cauda rio engole o bosque
(não se podia esperar pelos leões
habituar a esperar por nossos leões?)
nunca via as outras onze faces
nunca vi a onça, o lince
(o rio pânico tesouro
fluido
tem garras mãos)
inofensivo
o rio descarta cristais estalactites em lavas
João Mattar
Raízes, 1996