Lembro perfeitamente onde assisti ao jogo Brasil x Itália de 1982: no quarto do meu pai. Depois do jogo chorei bastante e desci para jogar ping-pong. Eu tinha 18 anos.
Já assisti de novo a esse jogo algumas vezes, sempre esperando que o placar pudesse mudar. Hoje, mais de 31 anos depois, assisti de novo ao jogo, quase inteiro – peguei quando já estava 1 x 0 para a Itália, mas no comecinho. Então quero deixar registrada minha leitura da Tragédia do Sarriá.
Em primeiro lugar, o Brasil de 82 era realmente um time de classe. Os laterais, o Luizinho e os meio campistas sabiam tocar muito bem a bola, que não parava. Mas especialmente nesse jogo, o Júnior não foi tão bem, e o Serginho e Éder tampouco. Esse, me parece, foi um dos motivos da derrota. Não tivemos ataque e não tivemos a colaboração intensa do Júnior no meio de campo.
No segundo gol da Itália, teve aquele passe bobo do Toninho Cerezo. Mas não foi só o passe que foi bobo: havia 3 brasileiros que deixaram o Rossi chegar no meio deles, carregar a bola e disparar. Foi um erro coletivo. Aí virou 2×1 para a Itália.
No segundo tempo, aquele golaço do Falcão. Esperou, 3 italianos foram para a direita, carregou um pouco mais a bola e disparou uma bomba, incrível.
Aí vem uma injustiça histórica: dizem que o Brasil não soube segurar o empate, que o Telê só sabia jogar no ataque etc. Bobagem!
O Paulo Isidoro entrou logo em seguida no lugar do Serginho, ou seja, um meia no lugar de um centroavante. Aumentamos a marcação no meio de campo.
Mas não foi só isso. Mantivemos a bola bastante no ataque, não ficamos parados na defesa, tivemos domínio de bola, chances de marcar mais um.
Mas aí, o lance do escanteio. Eu não lembrava: foi uma jogada boba, até displicente, em que o Luizinho cabeceou para trás, displicentemente, quando não precisava, e o Valdir Peres foi displicente na bola, podia ter evitado o escanteio. Pareceu tudo em câmera lenta, com uma postura de sobriedade da seleção.
E no escanteio, uma cabeçada, um chute… e o Rossi (junto com outro) sobram sozinhos na frente do gol. Falha de marcação e/ou falha do Júnior, que não saiu com o resto da defesa para deixar os italianos em impedimento.
Aí fomos para o ataque, mas é preciso dizer que a Itália se defendia bem e era muito perigosa no contra-ataque, no jogo todo. Mas tivemos chances, uma cabeçada do Oscar incrível, muito forte, que o Zoff pegou em cima da risca, por muito pouco não entrou. Teve também um gol anulado da Itália, não dá para ter certeza de que estava impedido.
Foi-se um sonho. Olhando para trás, quase 32 anos depois, dá para perceber que a Itália era muito forte e encarou o Brasil de frente. Que nem todos jogaram bem no Brasil. Que tivemos chances e bobeamos em alguns momentos infantilmente – e eles foram cirúrgicos, não perdoaram. E que não perdemos porque não soubemos jogar na defesa.
Foi um jogo milimétrico.
João
Ainda tem duas coisas muito importantes: a desistencia do Tita no dia do embarque e a contusão do Careca já na Copa. Eles faziam parte do time principal que disputou toda eliminatoria e ganhou quase todos os amistosos de forma magistral. Mas naquele dia em especial ninguem ganhava da Italia. Coisas do futebol.
Seu texto me fez pensar no senti ao ver a luta do Anderson Silva desta madrugada…