A Folha de São Paulo faz parte do PIG (Partido da Imprensa Golpista). Mas, quando é do seu interesse, os PTistas recorrem aos dados do Datafolha contra outros golpistas. É do que estão se gabando agora, em relação à Polícia Militar de São Paulo.
A PM-SP, sempre conservadora, informou que calculou 1 milhão de pessoas na manifestação de hoje na Avenida Paulista; já o Datafolha informa que calculou 210 mil. Cada instituição utilizou obviamente metodologias distintas, mas a diferença é muito grande. A PM informa que considerou ruas adjacentes (que estavam realmente bem cheias – eu estava lá), mas isso tampouco justifica a enorme diferença.
Então vamos brincar com as 2 fontes.
Se confiarmos nos números da PM, foi uma manifestação-monstro, de assustar, não comparável a nada que tenha existido no Brasil, nem que se pudesse imaginar.
Se tirarmos uma média entre as 2 fontes, ao redor de 600 mil pessoas, somente considerando o que ocorreu em São Paulo, hoje foi a maior manifestação que o Brasil já presenciou. Segundo o Datafolha, as Diretas-Já (16/04/1984) levaram 440 mil pessoas à Praça da Sé (eu era uma delas); a Marcha para Jesus (2012) levou 335 mil pessoas às ruas; e a Parada Gay (2012), 270 mil. E não estamos calculando nada do que ocorreu fora das imediações da Paulista, no resto do país.
Mas sejamos conservadores e aceitemos os dados do Datafolha: 210 mil pessoas estiveram hoje na Paulista. Foi a maior aglomeração medida pelo instituto em um ato político depois das Diretas-Já (quando, é bom lembrar, o PT estava do outro lado: do lado da passeata). Mas se somarmos o número de pessoas que protestaram em outras cidades do Brasil, hoje foi novamente a maior manifestação política na história do Brasil. Só para comparar, no auge das manifestações de 2013, o Datafolha registrou 110 mil pessoas nas ruas em São Paulo, ou seja, quase a metade de hoje. A violência de 2013, comparada às manifestações pacíficas de hoje, pode dar a sensação de que em 2013 tivemos mais gente nas ruas.
Alguém pode ainda argumentar: outras fontes, como p.ex. a Wikipédia (que não é confiável para esse tipo de informação), aponta médias bem maiores em algumas das passeatas das Diretas-Já (1 milhão no Rio e 400 mil em Belo Horizonte), e diz que a última, em São Paulo, teve 1,5 milhão de pessoas. Então, usando essa proporção de diferenças em relação aos números do Datafolha, a passeata de hoje em São Paulo teria tido ao redor de 715 mil pessoas, ou seja, teria sido a terceira maior da história do Brasil. Novamente, considerando só o que ocorreu em São Paulo. Acrescentando o resto do país, o número de pessoas nas ruas hoje talvez só não tenha superado o último comício das Diretas-Já em São Paulo.
Seja que números você decida utilizar em suas argumentações, hoje foi um dia histórico em São Paulo – e no Brasil. Se considerarmos o que aconteceu em todo o país, algo só comparável ao movimento das Diretas-Já. E se voltarmos no tempo e acompanharmos o crescimento dos protestos das Diretas-Já, de 31/03/1983 a 16/04/1984, os números de pessoas nas ruas tendem a crescer exponencialmente. Só para comparar, no auge das manifestações pedindo o impeachment de Collor, não há registros que se aproximem do número de pessoas que protestaram hoje no Brasil. No auge, ou seja, na última manifestação, em 18/09/1992 em São Paulo. Mas é provável que hoje tenha sido apenas a primeira.
Mas você tem o direito, é claro, de continuar indiferente a tudo isso, ironizando o 15 de Março de 2015.
Excelente análise, João! Em Porto Alegre tivemos em torno de 100 mil pessoas nas imediações da Avenida Goethe, informação confirmada pela BM e organizadores do movimento.
Oi Mattar, concordo plenamente que um movimento desse tamanho é simplesmente grande demais para ser ignorado ou desqualificado como sendo de uma “elite”.
Porém um pedaço que achei preocupante foram os gatos pingados reclamando de Paulo Freire. Parece que voltou a ser moda se perseguir o educador. Imagino que você ouviu sobre o ataque que o Olavo de Carvalho fez a ele e ao construtivismo em si.
Ok, o marxismo é uma influência de Freire, assim como de Vygotsky. Mas acredito que o legado deles para a educação vai além das preferências ideológicas deles. Portanto, considerando seu conhecimento sobre teorias de aprendizagem e que você não me parece ser um esquerdista, fiquei curioso sobre sua opinião em relação a essas críticas ao Freire e ao construtivismo.
Acredito que desmistificar o assunto seria algo importante nesses tempos polarizados.