Como citar este post de acordo com as normas da ABNT:
MATTAR, João. Learner‐interface interaction in distance education (resenha). De Mattar, 10 maio 2020. Disponível em: http://joaomattar.com/blog/2020/05/10/4386/. Acesso em: 10 maio 2020 (substituir pela data do seu acesso).
Esta é a resenha do artigo:
HILLMAN, Daniel C. A.; WILLIS, Deborah J.; GUNAWARDENA, Charlotte N. Learner‐interface interaction in distance education: an extension of contemporary models and strategies for practitioners. American Journal of Distance Education, v. 8, n. 2, p. 30-42, 1994.
Este é um dos artigos clássicos na história da educação a distância, com mais de 1.500 citações no Google Acadêmico no momento em que estou escrevendo este post.
Hillman, Willis e Gunawardena partem do pressuposto de que a interação é um componente essencial da educação.
Em seguida, remetem o leitor a outro artigo clássico, Three types of interaction (MOORE, 1989), que define e discute três tipos de interação especificamente em educação a distância: aluno-conteúdo, aluno-professor e aluno-aluno.
Os autores consideram, entretanto, que esses três tipos de interação não levariam em conta o que ocorre quando um aluno precisa usar tecnologias para se comunicar com o conteúdo, negociar significado e validar o conhecimento com o professor e outros alunos, um tipo de interação específica da educação a distância. Seria necessário, portanto, reconhecer também a interação que ocorre entre os alunos e as tecnologias usadas em EaD. Assim, na tipologia iniciada por Moore, estaria faltando considerar um quarto tipo de interação: aluno-interface, que o artigo desenvolve.
A comunicação mediada por tecnologias diferenciaria a educação a distância da educação presencial. Em EaD, a interação aluno-interface precederia as outras três interações mencionadas por Moore e, por consequência, afetaria sua aprendizagem, ou seja, a proficiência de um aluno em mídias específicas se correlacionaria positivamente com o sucesso de seu aprendizado em educação a distância.
A interação aluno-interface envolveria um processo de manipulação de ferramentas para realizar tarefas. Independentemente do nível de proficiência de um aluno, a incapacidade de interagir com sucesso com tecnologias inibiria seu envolvimento ativo na transação educacional. E essa interação seria distinta da interação aluno-conteúdo:
“[...] o aluno de uma aula de educação a distância que estuda disciplinas não técnicas, como psicologia, história da arte ou habilidades de inglês, está, na verdade, fazendo dois cursos: um ensina o conteúdo e o outro ensina a interface.” (p. 35).
O aluno precisaria, inicialmente, desenvolver um modelo mental que permita que ele se torne proficiente nas interações interface-aluno com a tecnologia mediadora.
E essa interação poderia ser facilitada por atividades instrucionais que ajudem o aluno a se sentir confortável com a interface, aceitando a tecnologia e, consequentemente, o conteúdo. Interessantes as atividades instrucionais que os autores sugerem, na época, para esses objetivos: gamificação (na verdade, em inglês a palavra usada é gameplaying), responsabilidade rotativa pela interação com as mídias entre os alunos, e projetos que requeiram o uso da tecnologia para interagir com outros alunos.
Isso poderia ser feito de três maneiras: familiarizar e permitir que os alunos interajam com a tecnologia paralelamente ao trabalho com o conteúdo; em sessões de orientação ou workshops separados de orientação tecnológica, como pré-requisito para os alunos cursarem uma disciplina a distância específica; ou uma disciplina que todos os alunos a distância devessem concluir antes de se matricular em um curso de educação a distância.
Os autores apresentam então um caso que conduziram, no qual concluíram que, enquanto alguns alunos preferem atividades relacionadas ao conteúdo do curso, outros preferem um ambiente mais descontraído. Além disso, ressaltam a importância de os alunos poderem tirar dúvidas e praticar durante o curso, e não apenas nessas atividades prévias.
Hillman, Willis e Gunawardena concluem que os três tipos de interação propostas por Moore (1989) não abarcariam todas as interações no ambiente educacional em educação a distância. O uso cada vez mais comum de sistemas de comunicação de alta tecnologia em EaD exigiriam, portanto, a conceitualização de um tipo adicional de interação: a interação aluno-interface.
Muito bom sr. Professor
A resenha nos dá uma brilhante explicação de diferentes tipos de interação segundo os autores citados, principalmente da interação aluno-interface. Gostei imenso da parte que mostra que esta interação pode ser facilitada por atividades institucionais como o caso de gameplaying, sugerida pelo autores.
Ramos Correia
João, muito interessante e direta sua resenha sobre os artigos. De fato, penso que a interface do aluno é tão importante quanto o conteúdo. Se o aluno não se sentir à vontade com a “ferramenta-meio”, as interações serão prejudicadas e o contato com o conhecimento, colegas e professores também. E isso vai gerar uma experiência de aprendizado negativa. Gostei muito e estou indo para os artigos. Abraços.
Penso que essa questão da interação, aluno-interface, se choca com uma premissa de que a educação a distancia aumentaria o acesso a educação. Isso ocorre porém não de maneira universal como é no imaginário de alguns, e não apenas por falta de interesse em buscar esse tipo de conteúdo, mas pela falta de contato com interfaces, com meios tecnológicos que avançam constantemente, como a “alta tecnologia” citada ao final da resenha.
Esse tipo de interação é importantíssima e deveria ser mais levado em conta nas aplicações pois é algo que acaba ficando a cargo do aluno de se auto-desenvolver.