Resposta à Carta Aberta ao SBGames de 25 de junho de 2021

Esta é uma resposta que eu, individualmente, e não em nome da organização do SBGames, redigi à Carta Aberta ao SBGames, datada de 25 de junho de 2021, assinada por alguns pesquisadores e publicada aqui.

Menciono algumas passagens da Carta, que comento em seguida, no intuito de esclarecer alguns pontos para seus potenciais leitores e, em alguns momentos, oferecer um contraponto.

Organizar um espaço orgânico como este, com a proposta de rotatividade entre os gestores de suas trilhas (os chairs), tem seus ônus. Infelizmente, este trabalho crucial não é remunerado, mas gratificado em forma de crescimento no setor, redes de contatos e outras formas, abrindo margem para relações de exploração. (p. 1).

Em primeiro lugar, cabe lembrar que a participação de pesquisadores na maior parte dos eventos acadêmicos, se não em todos, seja na organização, seja na avaliação da artigos, não se dá de forma remunerada, mas voluntária. Além disso, é legítimo fazer uma leitura de que todas as nossas interações, pessoais e profissionais, abrem margem para relações de exploração. Entretanto, essa não deveria ser uma discussão direcionada especificamente ao SBGames, mas a todas as atividades que desempenhamos de forma não remunerada, se bem entendi essa passagem da Carta.

“[...] não acreditamos que censura, silenciamento e ostracismo sejam mecanismos/ferramentas de resolução de tais tensões.” (p. 1). Eu também não acredito e ninguém da organização do SBGames acredita nisso.

Este ano teríamos todas elas sob gestão e supervisão de novos chairs já convidados e em concordância de aceite para o evento, porém fomos surpreendidos de maneira amarga e desagradável: com a exclusão da atividade de Jogos Diversos e o desligamento sem notificação dos que seriam originalmente os chairs delegados pelos seus pares na sucessão da organização de algumas das trilhas. (p. 2).

Os chairs das trilhas do SBGames têm mudado, em geral, todos os anos. As escolhas são normalmente feitas pelos organizadores do evento naquele ano. Eu desconheço que tenha havido “[...] chairs convidados e em concordância de aceite para o evento [...] delegados por seus pares [...]”, mas se houve alguma falha de comunicação neste sentido, estou à disposição para conversar, como Chair da Trilha de Educação e autorizado pela organização geral do evento, para entender o que aconteceu e fazer as correções necessárias. Na verdade, temos bastante trabalho (voluntário), e quem quiser participar será mais do que bem-vindo!

De outro lado, Jogos Diversos não foi excluído do evento, nunca houve essa intenção nem haveria motivo para isso; parece-me ter havido uma falha de comunicação, que já está sendo corrigida.

“Frisamos a importância da transparência e do profissionalismo para a organização de um evento de tamanha dimensão.” Todos os que participam e já participaram da organização do SBGames concordam plenamente com essa afirmação.

“Viemos aqui também conversar por meio desta carta, uma vez que todas as outras tentativas de diálogo já foram previamente utilizadas sem sucesso.” Quais foram as tentativas de diálogo? Com quem? Novamente, eu me coloco à disposição para conversar sobre o assunto. Até agora tentei contatar ou contatei quatro pessoas: uma que não respondeu minha mensagem no Instagram, outra que disse “eu assinei a carta em apoio”, outra que simplesmente divulgou a carta, e para outra deixei uma mensagem em resposta a um post no Facebook. Novamente, coloco-me à disposição de quem quiser enviar um WhatsApp para conversarmos: 11 99978 8659

Há algum tempo que nós, que desenvolvemos pesquisas focadas em humanidades, questionamos a quase nenhuma contrapartida que nossa presença recebe do evento, e o quão inacessível o SBGames é em aspectos como valores elevados de taxas de inscrição e a escolha de locais turísticos como sedes em detrimento de pólos acadêmicos e de desenvolvimento de jogos em nosso país. Essa configuração exclui principalmente estudantes de graduação e pequenos criadores de jogos, nos fazendo questionar o comprometimento da organização em realmente fomentar um cenário diversificado e inclusivo para o desenvolvimento de jogos no Brasil. (p. 2).

Eu coordenei a Trilha de Cultura no SBGames, fiquei alguns anos afastado, voltei a coordená-la há vários anos e sugeri a criação da Trilha de Educação, o que ocorreu há alguns anos. Temos então diversas trilhas no SBGames que exploram as humanidades, apesar de o evento ser organizado pela SBC — Sociedade Brasileira de Computação. A quantidade de artigos submetidos para educação já superam há muitos anos a quantidade de artigos submetidos para computação. A Trilha de Cultura era a que mais recebia trabalhos no SBGames, mas hoje a Trilha de Educação é a que mais recebe trabalhos. Portanto, a afirmação de que as pesquisas focadas em humanidades recebem quase nenhuma contrapartida no evento não corresponde de maneira alguma à realidade.

É legítimo discutir valores de inscrição para eventos, mas eu sempre mencionei o SBGames como um evento que tinha valores de inscrição baixos, por tudo o que oferece. Pesquisando o site do SBGames 2020, do qual não participei, encontrei as seguintes informações: “Como ouvinte que poderá assistir gratuitamente ao vivo em plataformas abertas todas as apresentações de artigos, as discussões, os keynotes e as apresentações dos festivais”. A inscrição para graduandos, que dava direito, além de tudo o que a participação como ouvinte oferecia, a “formular perguntas, obter certificado e participar de atividades especiais como a feira de empregos e fórum de talentos”, custava R$ 22,00. Portanto, me parece, novamente, não corresponder de maneira alguma à realidade a afirmação de que o SBGames pratica “valores elevados de taxas de inscrição” que excluam “estudantes de graduação e pequenos criadores de jogos”. De qualquer maneira, cabe ressaltar que os valores arrecadados com as inscrições são sempre revertidos para a organização e realização do evento.

Quanto aos locais do evento, são feitas anualmente propostas por pesquisadores e associações de todo o Brasil, que são apresentadas nas plenárias que encerram os eventos, onde em geral, inclusive, são oficializadas as escolhas. Portanto, não há nenhuma escolha em função de polos turísticos e em detrimento de polos acadêmicos e de desenvolvimento de jogos no país. Novamente, essa afirmação não corresponde de maneira alguma à realidade, basta rever os locais em que já foram realizados todos os eventos.

É de nossa intenção mudar esse cenário, oferecer novas vozes, narrativas e perspectivas. Vemos como necessário, debruçadas/os sob esse fato, uma oxigenação do setor. Então também convidamos as/os colegas a voltarem as atenções a outras propostas e alternativas de evento que melhor representem as preocupações de todos. (p. 3).

O SBGames nunca se propôs a ser o monopolizador dos eventos sobre os estudos de games no país. Além disso, uma oxigenação em qualquer setor é sempre válida, assim como outras propostas e alternativas de eventos. Entretanto, o SBGames esteve sempre aberto a acolher novas vozes, narrativas e perspectivas, assim com a se oxigenar.

Portanto, novamente, coloco-me à disposição dos signatários da Carta a conversar (WhatsApp 11 99978 8659) e procurar atender às demandas, independente de qualquer outro tipo de organização. Vou atualizando aqui no post quem me contatou, para deixar tudo bastante transparente.
ATUALIZANDO EM 7/7/2021: ninguém entrou em contato comigo, nem ninguém aceitou conversar comigo.

Lembro ainda que as chamadas para envios de trabalhos para o SBGames, que neste ano será novamente realizado online por causa da pandemia, continuam abertas, inclusive para pesquisadores das áreas de humanidades. Confira aqui o site do evento. Todos os organizadores, chairs e outros pesquisadores estão trabalhando duro, e voluntariamente, há vários meses, e contamos com a participação de todos!

João Mattar
Professor
TIDD — Programa de Pós-Graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital (PUC-SP)
Mestrado Interdisciplinar em Ciências Humanas (Unisa)
Chair da Trilha Educação — SBGames 2021

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