The Horizon Report – 2008

O Horizon é um relatório produzido colaborativamente pelo NMC (New Media Constortium) e pela Educause, duas instituições dedicadas ao uso de Tecnologias da Informação no Ensino Superior, que inclusive fazem parte dos links de EaD deste blog.

A pesquisa procura identificar e descrever tecnologias emergentes que deverão ter um impacto sensível no ensino, na aprendizagem ou na expressão criativa em organizações focadas no aprendizado. São previstos horizontes de 1 até 5 anos.

São 6 as tecnologias avaliadas pelo relatório (selecionei apenas alguns dos exemplos mencionados em cada uma delas):

1. Grassroots Video – tempo para a adoção: menos de 1 ano

Hoje praticamente qualquer um pode capturar, editar e compartilhar pequenos video clips, utilizando equipamentos baratos (como celulares) e softwares gratuitos e livres. Sites de compartilhamento de vídeos crescem bastante, como YouTube, Google Video, Viddler e Blip.tv. O que costumava ser difícil e caro, e requeria servidores e redes de distribuição de conteúdo, agora se tornou algo que qualquer um pode fazer facilmente, praticamente sem custo.

As instituições focadas em ensino têm disponibilizado vídeos na Net, como na iTunes U, além de que a produção de video clips tem se firmado como atividade realizadas pelos próprios alunos.

FixMyMovie, por exemplo, melhora a qualidade do seu vídeo digital e o otimiza para distribuição online.

Alguns sites de compartilhamento permitem stream ao vivo, como UStream, Mogulus e Stickam.

Outros exemplo interessantes indicados são o curso Learning from YouTube e o site Video Toolbox, com links para mais de 150 ferramentas disponíveis online para a produção/edição/distribuição/etc. de vídeos.

É interessante que essa proliferação de vídeos amadores é motivo de críticas do Michael Moore, em seu A Educação a Distância: uma visão integrada (o que comentei em detalhes no Second Life e Web 2.0 na Educação) e também por Mauri Collins e Zane Berge, em artigo que resenhei ontem neste site. Mas o Horizon parece nos dizer que já está mais do que na hora de perder o medo do uso do vídeo amador e caseiro em educação!

2. Collaboration Webs – tempo de adoção: menos de 1 ano

As novas ferramentas de colaboração são pequenas, flexíveis, gratuitas e não requerem instalação, colocando em dúvida a necessidade dos tradicionais ambientes de aprendizagem.

Dentre elas podem ser citadas os Office Lives (que tenho comentado intensamente neste blog), Splashup (fotos), Jumpcut (vídeos), Sketchcast (capturar um sketch com narração de áudio), publicar apresentações ou slideshows (Slideshare e Slide) e redes sociais (Ning, mashups, Facebook etc.).

O relatório cita várias referências interessantes, como Educational Uses of Google Docs & Spreadsheets, que analisa o uso educacional do Google Docs & Planilhas

3. Mobile Broadband – tempo de adoção: 2 a 3 anos

O mercado de dispositivos móveis tem se mostrado extremamente inovador, os preços têm baixado sensivelmente e esses dispositivos têm sido cada vez mais utilizados para acesso à Internet. Eu já andei discutindo neste blog o que se denomina m-learning (mobile learning).

Celulares podem ser usados p.ex. em Engenharia para monitorar remotamente estruturas, equipamentos e processos em tempo real. O relatório cita diversos projetos sendo desenvolvidos com dispositivos portáteis em universidades.

4. Data Mashups – prazo de adoção: 2 a 3 anos

Analisei o potencial pedagógico dos mashups no Second Life e Web 2.0 na Educação. Esses aplicativos combinam dados de diferentes fontes em uma só ferramenta e estariam transformando a maneira como compreendemos a informação.

São mencionadas ferramentas de autoria de mashups, como o Google Mashup Editor e o Yahoo! Pipes.

É também mencionada a importância da prática de geotagging, ou seja, adicionar metadados geográficos a imagens, websites ou outras mídias.

O poder dos mashups para a educação está na maneira como eles nos ajudam a tirar novas conclusões ou discernir novas relações pela união e administração de grande quantidades de dados.

Bibliotecas têm utilizado criativamente o Meebo (que uso neste blog) para que os bibliotecários possam receber mensagens instantâneas para buscas no catálogo, reservas etc. (leia um post sobre o assunto).

A Michigan State University oferece um conjunto de ferramentas para criar rapidamente mashups com recursos interativos para o aprendizado de línguas.

O Interactive Map é uma ferramenta de autoria desenvolvida pela Johns Hopkins University para a criação de atividades digitais e mashups.

Mishmash of Mashups é um post de Wayne Hodgins que discute o uso educacional dos mashups.

5. Collective Intelligence – prazo de adoção: 4 a 5 anos

Nos próximos anos, teremos aplicações educacionais que explorem tanto a inteligência coletiva explícita (como a Wikipedia ou projetos de tags comunitários) como a implícita (dados coletados a partir das repetidas atividades de várias pessoas, incluindo padrões de busca, localização de celulares num período, fotografias digitais geocodificadas e outros dados que são obtidos passivamente). Os mashups de dados e a informação gerada pela inteligência coletiva expandirão nossa compreensão de nós mesmos e o mundo tecnologicamente mediado que habitamos.

São mencionados a Cellphedia, Freebase, um vídeo de um painel sobre o tema e um artigo sobre a intersecção vídeo/conteúdo aberto/educação, dentre vários outros links.

6. Social Operating Systems – prazo de adoção: 4 a 5 anos

Sistemas operados socialmente basearão sua organização em rede ao redor de pessoas, e não de conteúdo. Essa simples mudança conceitual promete profundas implicações para a academia, e para as maneiras como pensamos sobre conhecimento e aprendizado. Sistemas operados socialmente serão a base para novas categorias de aplicativos que tecerão as conexões e dicas implícitas que deixamos em todos os lugares enquanto vivemos nossas vidas, e as utilizarão para organizar nosso trabalho e nosso pensamento ao redor das pessoas que conhecemos.

As ferramentas disponíveis hoje, como Facebook e MySpace, não reconhecem o que se denomina “social graph” – a rede de relações que uma pessoa possui, independente de sistemas de rede ou catálogos de endereços, as pessoas que efetivamente conhecemos, com quem nos relacionamos ou com quem trabalhamos.

Exemplos de aplicativos que colocam as pessoas no centro são Xobni (programa de emails), Yahoo Life! (veja também um vídeo) e Open Social. Mas os sistemas operados socialmente estariam apenas no estágio conceitual.

O relatório afirma que colocar as pessoas e as relações no centro do espaço informacional terá uma influência profunda em todos os níveis da academia. Modificará a maneira como nos relacionamos com o conhecimento e a informação; a maneira como pesquisamos e avaliamos a credibilidade; a maneira como educadores e estudantes interagem; e a maneira pela qual os estudantes aprendem a ser profissionais nas disciplinas que escolhem. Eu confesso que não tenho tanta facilidade para enxergar esse impacto na educação.

*

O relatório identifica também desafios críticos para as organizações de aprendizado, que devem ter um impacto significativo no ensino, no aprendizado e na criatividade nos próximos cinco anos:

a) Necessidade de inovação e liderança em todos os níveis da academia, em função das constantes mudanças nas pesquisas e no aprendizado. É essencial que a comunidade acadêmica como um todo abrace o potencial de práticas e tecnologias descritas no relatório. A experimentação deve ser encorajada e suportada por políticas. Eu tenho defendido isso ardentemente em tudo o que escrevo e falo: em EaD precisamos de líderes criativos, não de burocratas.

b) A educação superior tem sido cada vez mais requerida para produzir serviços, conteúdo e mídia para dispositivos móveis e pessoais. Esta é uma oportunidade para a educação superior alcançar seu público onde ele estiver.

c) O aprendizado colaborativo tem forçado a comunidade educacional a desenvolver novas formas de interação e avaliação. Essas experiências colaborativas geram a necessidade de se repensar critérios de avaliação do progresso acadêmico e definir propriedade intelectual.

d) A academia se depara hoje com a necessidade de oferecer instrução formal para a alfabetização em informação, visual e tecnológica, assim como para a criação de conteúdo significativo com as novas ferramentas disponíveis. Entretanto, essas competências não são em geral ensinadas formalmente aos alunos. O desafio, portanto, é desenvolver um currículo e critérios de avaliação que incluam maneiras de aplicar essas competências a formas de comunicação alternativas, como pequenos vídeos digitais, blog ou ensaios fotográficos. É isso o que procuro discutir em profundidade no Second Life e Web 2.0 na Educação.

Esses desafios são um reflexo do impacto de novas práticas e tecnologias nas nossas vidas. São indicativos da natureza mutante da maneira como nos comunicamos, acessamos a informação e nos conectamos com os outros.

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O relatório aponta também tendências que afetarão as áreas do ensino, aprendizado e expressão criativa nos próximos 5 anos.

a) O uso crescente da Web 2.0 e redes sociais, combinado com a inteligência coletiva e mass amateurization, está gradualmente mas inexoravelmente mudando a prática da pesquisa. A proliferação das ferramentas que permitem co-criação, mashups, remixes e auto-publicação instantânea está refazendo o modelo tradicional de publicação acadêmica e traz implicações para as carreiras dos professores. Ferramentas da Web 2.0 e redes sociais têm sido cada vez mais adotadas para uso educacional (e nunca é demais insistir no Second Life e Web 2.0 na Educação: o potencial revolucionário das novas tecnologias).

b) A maneira pela qual trabalhamos, colaboramos e nos comunicamos está se desenvolvendo, inclusive em função da globalização e das ferramentas que conectam aprendizes e pesquisadores por todo o mundo.

c) Dispositivos poderosos e cada vez menores têm sido introduzidos, associados à facilidade de acesso a conteúdos e sua portabilidade.

d) O gap entre a percepção da tecnologia por parte dos alunos e dos professores continua a se aprofundar. Alunos e professores continuam a enxergar e experienciar a tecnologia muito diferentemente. Os alunos têm utilizado tecnologias sociais como Facebook (aqui o Orkut), apesar de essas ferramentas serem ainda um mistério nas universidades. Os professores em geral não conhecem ferramentas como Google Docs ou Swivel, ou têm dificuldades em integrá-las aos processos educacionais. É um perigo as organizações focadas em aprendizado ignorarem as expectativas dos alunos.

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O relatório aponta ainda o que chama de metatendências, que se repetiram nestes cinco anos de pesquisa (um relatório foi produzido em cada ano, este é o quinto):

1. Abordagens em desenvolvimento para a comunicação entre humanos e máquinas;

2. O compartilhamento e a geração coletiva do conhecimento;

3. A computação em 3 dimensões (como Open Croquet ou Second Life);

4. Conectando as pessoas pela rede;

5. Games como plataformas pedagógicas;

6. O deslocamento da produção de conteúdo para os usuários;

7. A evolução de uma plataforma ubíqua.

Essas 7 metatendências são discutidas em mais detalhes no Horizon wiki.

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Minimalismo Tecnológico & Second Life

Não apenas nos debates sobre o uso do Second Life em Educação que venho travando com o professor Wilson Azevedo nas duas principais comunidades de EaD do Orkut, mas também em outras ocasiões, ele utiliza ardentemente na defesa de suas idéias o argumento do ‘minimalismo tecnológico’. O tema sempre me interessou, mas ao mesmo tempo nunca desejei que a obsessão por um mínimo de tecnologia me aprisionasse e impedisse de testar o potencial pedagógico de novas ferramentas, que hoje surgem a todo momento. Além de que, como dizia o McLuhan, “o meio é a mensagem”, então não considero a tecnologia apenas um suporte para a transmissão ou construção de conteúdo – na verdade, nenhum software é pedagogicamente neutro, e aprender tecnologia é também aprendizado. Sinto também há bastante tempo que cada vez mais os alunos que chegam à universidade resistem ao uso mínimo de tecnologia – ou seja, pouca tecnologia gera pouco interesse pelo estudo. Enfim, sempre tive uma impressão de que o minimalismo tecnológico era também um minimalismo conceitual, uma excessiva simplificação da questão, pedagogicamente falando, e a simplicidade podia ter o sentido contrário do desejado, limitando (e não ajudando) o aprendizado.

Comecei recentemente um curso sobre Ensinar e Aprender no Second Life numa universidade norte-americana. Uma das minhas professoras é Mauri Collins, a mesma que cunhou a expressão “minimalismo tecnológico” há bastante tempo, e que inclusive ministrará um interessante curso pela Aquifolium (coordenado pelo Wilson) a partir do final de Fevereiro: Desenvolvimento de Material Didático para Educação Online: uma abordagem minimalista.

Portanto, a confusão está armada: a mãe do argumento utilizado pelo Wilson, na crítica ao uso do Second Life, é a minha professora sobre (e no) Second Life. Mas não é só isso! O pai do argumento, Zane Berge, também tem aparecido nas aulas no Second Life. Nos debates entre mim e o Wilson, eu poderia usar a autoridade dos meus professores no Second Life e o Wilson a autoridade dos defensores do minimalismo tecnológico – mas eles são as mesmas pessoas!!

Durante o tempo que for necessário, portanto, pretendo explorar a minha dúvida que agora virou existencial, e que aliás começamos a discutir no Blackboard do curso na Boise State University: haveria um conflito entre explorar e ensinar no Second Life e manter uma postura tecnológica minimalista?

A própria Mauri propôs 3 textos para esquentar o debate, que vou resenhar e comentar neste post. Na verdade, vou fazer um pouco o papel de advogado do diabo, principalmente porque tenho os autores do outro lado para debater e defender suas posições (então, me ajudem na acusação, vamos testar até onde o argumento deles se sustenta).

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COLLINS, Mauri P.; BERGE, Zane L. Guiding Design Principles for Interactive Teleconferencing. (faltam as figuras nesta versão do artigo)

Este artigo foi apresentado em 1994 na Pathways to Change: New Directions for Distance Education and Training Conference, na University of Maine at Augusta. Ou seja, se quisermos contextualizá-lo, temos que levar em consideração que estamos ainda antes do boom da web, no final dos anos 90. Por exemplo, numa passagem do texto eles afirmam que “o conteúdo não pode interagir, dialogar ou responder”, o que sabemos que não faz mais sentido hoje, com exercícios nos ambientes de aprendizagem (ou fora deles), RSSs, mashups etc. Discuti isso brevemente em um post recente.

Os autores falam das novas tecnologias (na época) que permitiriam novas formas de ensino e aprendizado. Refletem também sobre o conceito de interação e diferenciam a interação síncrona da assíncrona, relacionando então mídias e tipos de interação.

E então surge a famosa definição de minimalismo tecnológico em EaD:

“We are defining technological minimalism as the unapologetic use of minimum levels of technology, carefully chosen with precise attention to their advantages and limitations, in support of well defined instructional objectives.”

“Definimos minimalismo tecnológico como o uso não-apologéticoo de níveis mínimos de tecnologia, cuidadosamente selecionados com atenção precisa para suas vantagens e limitações, como suporte a objetivos instrucionais bem definidos.”

Mas a definição não vem assim solta. Antes eles falam do movimento artístico denominado minimalismo, da filosofia pragmatista norte-americana e do lema “menos é mais” em tecnologia educacional. E mais à frente afirmam:

“There is wisdom in technological minimalism–the more bells and whistles a delivery technology has, the more expensive and complex the equipment needed, the greater the limitations on student access, the greater the claims on time and travel (e.g. to live videoconference sites), the more extensive the technical support needed and the greater the chance of inopportune equipment failure.”

Haveria uma sabedoria implícita na idéia do minimalismo tecnológico – custo menor, possibilidade de utilizar equipamentos mais simples, menos limitações para os alunos, menor necessidade de pólos, menor necessidade de suporte técnico e menos chances de falhas nos equipamentos. Além da minimização da possibilidade de a atenção do aluno ser tirada do aprendizado para resolver problemas de tecnologia.

O artigo ainda continua, com interessantes reflexões sobre as maneiras de desenvolver material para educação a distância e inclusive ministrar cursos. Mas sobre o minimalismo tecnológico, é só isso.

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COLLINS, Mauri P.; BERGE, Zane L. Technological Minimalism in Distance Education. 2000.

Este é um texto mais recente, mais curto e bem mais “panfletário”. Então vou acompanhá-lo parágrafo a parágrafo.

Instituições de ensino têm feito altos investimentos em equipamento e infra-estrutura, sem evidências de que isso resulte em ganhos no aprendizado. Além disso, os alunos parecem preferir cursos com pouca multimídia (é feita uma menção a um artigo para sustentar a posição, mas eu tenho sérias dúvidas sobre esta conclusão).

O minimalismo tecnológico serviria como guia para a escolha entre tecnologias que se provaram robustas, disponíveis e relativamente baratas. Na verdade, as tecnologias se renovam hoje numa velocidade intensa, o que talvez torne essa conclusão questionável. Mas, dessa maneira, tomado ao pé-da-letra, o minimalismo tecnológico não nos permitiria testar o potencial pedagógico de novas tecnologias, que ainda não se mostraram robustas, disponíveis ou baratas. O parágrafo critica ainda o crescimento no uso da tecnologia de streaming de vídeo, que teria acrescentado apenas custo ao aprendizado. Aqui não é citado nenhum artigo para sustentar a posição, sobre a qual também tenho sérias dúvidas. Vídeos e animações bem utilizadas trazem possibilidades pedagógicas que não conseguimos atingir simplesmente com texto ou tecnologias mais simples. A coisa toda muda, não se trata apenas de acrescentar um pouco de tecnologia, de um lado da balança, e então medir o resultado do outro, para ver se vale a pena.

O uso de vídeo, áudio e animações realmente não garante um ganho automático no ensino e no aprendizado. Mas daí, não podemos concluir que essas tecnologias não devam ser utilizadas em educação. É uma questão de lógica básica, uma falácia: se o aumento de A não garante sempre a melhora de B, então não-A. É ainda criticada a dificuldade de acesso e a necessidade de treinamento e suporte no uso de sistemas complexos, que aumentam as chances de erro, mas com a tendência para a convergência de muitos softwares (que a maioria dos nossos alunos universitários já dominam), mesmo isso pode hoje ser questionado.

O parágrafo seguinte critica sistemas de satélite e tv, que exigem sincronicidade, perdendo-se assim uma das vantagens da EaD (mas no artigo anterior os autores tinham discutido bastante a importância das atividades síncronas). Aqui me parece que há uma confusão que quero explorar com mais cuidado logo mais: Educação a Distância não é sinônimo de atividades 100% a distância; atividades a distância não são sinônimo de atividades assíncronas; atividades assíncronas não são sinômino de estudo individual; mas isso tudo não tem relação direta com minimalismo tecnológico!

A falta de acesso a tecnologia estaria ampliando o abismo da separação digital, e os minimalistas tecnológicos defendem o uso de tecnologias gratuitas. Mas gratuito não é sinônimo de simplicidade tecnológica. Na verdade, a Web 2.0 oferece inúmeras ferramentas gratuitas, além de inúmeras outras vantagens para a EaD que explorei no Second Life e Web 2.0 na Educação. Mas isso não significa que não é preciso treino e, principalmente, explorar essas ferramentas para determinar o seu uso pedagógico ótimo. Portanto, tamanha preocupação com o uso de tecnologias que não sejam as mínimas possíveis talvez não tenha mais tanto sentido, e o minimalismo tecnológico pode estar sendo utilizado como desculpa para a preguiça de professores que não estão dispostos a aprender (pois por mais simples que seja, uma ferramenta de Web 2.0 precisa de um pouco de treinamento, de reflexão pedagógica etc.). E uma questão essencial é a seguinte: para ser professor dessa nova geração, é preciso se atualizar tecnologicamente, muito além dos níveis supostamente mínimos de tecnologia.

A tecnologia não é a cura para todas as doenças da educação (como, aliás, a EaD também não é), mas isso não quer dizer que temos que fugir das novas tecnologias como se fossem o demo.

A escolha, para o minimalismo tecnológico, deveria ser o nível mínimo de tecnologia necessária para atingir o objetivo. Esse lema é interessante porque ele parece simples mas pressupõe várias coisas: que seja simples comparar níveis de tecnologia, para determinar qual seria o nível mínimo e máximo adequado; que o nível de tecnologia não influi no objetivo (ou seja, que o meio não é a mensagem); e, principalmente, que seja possível determinar com certeza qual é o objetivo. Mas hoje pensamos em currículos que não estejam prontos, em objetivos que não estejam pré-determinados e sejam construídos em conjunto pelos próprios alunos durante o curso etc. (falei disso bastante no ABC da EaD e no Second Life e Web 2.0 na Educação). E aliás, por que não pensar em níveis de tecnologia diferentes, que os alunos possam escolher no curso em função de seus estilos de aprendizagem? Por que obrigatoriamente limitar o nível de tecnologia de um curso ao mínimo, se alguns (ou muitos?) alunos podem preferir mais tecnologia, podem se sentir mais motivados a aprender se houver mais tecnologia em jogo? Por que obrigar um aluno a se submeter a um nível de tecnologia que o instrutor acha o mais correto para o aprendizado (talvez para ele)?

O artigo termina afirmando que, deixando a tecnologia de lado, os professores e os alunos poderiam se concentrar no que mais interessa: ensino e aprendizagem. Isso é uma daquelas frases prontas que muita gente gosta de repetir em congressos, muitas vezes para encerrar com ares de sabedoria uma discussão sobre o assunto. Mas aqui, de novo, parece que é óbvia e natural a separação entre tecnologia (ou forma, de um lado) e educação (ou conteúdo, de outro). Parece-me que há uma exagerada ingenuidade nessa crença: há um conteúdo que queremos transmitir (ou mesmo construir), pré-determinado, e para ele há um nível mínimo de tecnologia a ser utilizado. Se eu utilizar mais tecnologia, estaria apenas gastando e tirando o foco desse conteúdo. Como se a tecnologia não alterasse, radicalmente muitas vezes, esse próprio conteúdo. Como se fosse ainda possível pensar, especialmente em EaD, a educação separada da tecnologia. Como se aprender a utilizar novas ferramentas não fosse, por si só, um aprendizado extremamente importante, inclusive para a vida profissional de qualquer um de nós. Como se ficar do lado da tecnologia mínima signficasse uma grande vitória, ou uma grande escolha. Como se, face ao constante progresso da tecnologia, fosse mais sábio parar no tempo.

Todas essas questões eu discuto com bem mais profundidade no meu Filosofia da Computação e da Informação, que está sendo avaliado por uma editora para publicação. Quero resolver isso o mais rápido possível e publicar o livro nos próximos meses, porque ele cai como uma luva para todas essas discussões.

*

FILIP, Barbara. Technological Minimalism and Sustainability Strategies – Lessons Learned from Teaching Online.

A autora discute a opção pela simplicidade para um curso internacional a distância para países em desenvolvimento. Não surpreende que a simplicidade seja a escolha, face à diversidade do público-alvo. Para Barbara, quanto mais ferramentas não essenciais são adicionadas ao curso, mais provável se torna que mais participantes não sejam capazes de utilizá-las. A questão aqui seria definir o que seriam “ferramentas essenciais”. Mas o artigo vai mais longe, defendendo que o minimalismo tecnológico, nascido nos Estados Unidos, seria ainda mais importante para os países em desenvolvimento. Interessante que isso pode ser lido do ponto de vista do colonizador – já que estamos para trás, que o colonizador continue a nos ajudar a ficar ainda mais para trás!

A autora classifica como minimalismo tecnológico o uso de e-mails (no lugar de ambientes de aprendizagem) e de CD para permitir o acesso rápido ao material do curso. Apesar de o uso de CDs exigir que o material do curso esteja pronto antes do seu início (praticamente impossibilitando assim a construção do design do curso durante seu próprio desenvolvimento), utilizar CDs me parece realmente muito interessante, principalmente pelo custo extremamente baixo da mídia, da gravação do material e do envio pelo correio. Mas não tenho muita certeza do que isso tenha muito que ver com o minimalismo tecnológico (não ter que baixar o material da Net é conveniência e tempo, não exatamente recusa a usar tecnologias mais modernas). Nem no caso de e-mails, e a própria autora comenta a necessidade de habilidades para administrar mensagens com eficácia nas caixas de entrada, enquanto nos ambientes de aprendizagem isso já teria sido supostamente aperfeiçoado e simplificado para o usuário. De qualquer maneira, não apenas e-mails, como também blogs, wikis, google docs, mashups etc. tendem a decretar a morte dos ambientes de aprendizagem fechados – mas isso não significa escolher o nível mais baixo de tecnologia, mas sim as mais adequadas e naturais ao aluno-usuário de hoje, independente do seu nível de sofisticação.

O não uso de recursos visuais e áudio é justificado pela autora tanto pela necessidade de mais pessoas (e conseqüente aumento nos custos – o que perde sentido com a figura do aututor, que tenho tanto defendido) quanto das dificuldades dos próprios alunos, por não terem softwares e habilidades necessárias (o que com a Web 2.0 também tem cada vez menos sentido, já que os softwares são grátis e livres, e os alunos já chegam à universidade dominando muitos deles).

As ferramentas utilizadas no curso avaliado no artigo por Barbar foram eClass e Yahoo groups.

O artigo termina com uma interessante reflexão sobre o que a autora chama de rapid prototyping e reciclagem, a possibilidade de re-organizar o curso em seu andamento e de pensar mais na produção de projetos dos alunos do que na transmissão de conteúdo.

Eu me pergunto: será que um uso adequado das tecnologias da Web 2.0, sem medo de se aventurar em níveis acima do nível mínimo, não poderia nos levar a pensar em um minimalismo do conteúdo? Ou seja, utilizar um nível mínimo de conteúdo pronto para os cursos, e incentivar o aprendizado e uso de novas ferramentas, para a produção de conteúdo durante o curso? Sem tanta preocupação com o conteúdo (há conteúdo de sobre por aí para praticamente qualquer curso que se deseje ministrar) e sem tanto medo da tecnologia?

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EDTECH 597: Teaching and Learning in Second Life – 2nd Class – 31 Jan. 2008

A segunda aula do curso EDTECH 597: Teaching and Learning in Second Life, na quinta passada (31/01) foi bastante interessante (e corrida).

Nos apresentamos novamente,

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criamos um Notecard com informações pessoais e o depositamos em um objeto (de onde todos os alunos depois puderam copiar os cards dos colegas), tivemos que fazer uma atividade em 25 minutos (no meu caso, visitar o Sweden Institute e descobrir a resposta para uma pergunta – que estava escondida em um slide em uma sala…), voltamos para a EdTech Island e avaliamos a atividade

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e criamos (em grupos) uma t-shirt.

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Após a aula, completamos nossas informações no Blackboard e no Second Life (profile) e então parti para visitar todos os lugares sobre os quais tínhamos algumas perguntas para responder.

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A primeira visita possível era ao Swedish Institute.

Na entrada você pode ouvir um áudio da Radio Sweden com entrevistas, comentários etc. relacionados à Suécia, e sua presença política e econômica no mundo. Há também um painel com teleportes para outros locais no SL que tenham relação com a Suécia.

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É também possível assistir a um vídeo ao vivo antes de entrar no Instituto.

Na entrada, um globo

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o colocará dentro de um mapa interativo, com indicações para as embaixadas, consulados e missões da Suécia pelo mundo. Genial! Clicando em cada um, você pode ir para a página da Net correspondente.

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Há ainda obras de arte, mostra de fotos etc. no primeiro andar, e no segundo há uma sala em homenagem ao cientista sueco Carl Linnaeus. No datashow de lindas imagens estava a resposta para a pergunta – o que ele disse sobre o espetáculo da natureza:

“The spectacle of nature confers a foretaste of heavenly bliss.”

De lá, você pode também se teleportar para o Linnaeus Garden. Na entrada, um vídeo muito legal sobre a Suécia, do site Sweden.se:

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A outra visita era ao Marrocos, em que você ouve músicas interessantes.

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Você deve tirar os sapatos para pisar no carpete da mesquita.

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Tirar o sapato, mesmo que no mundo virtual, é um tipo de exercício de respeito e cultura que é bem diferente de simplesmente ler sobre o tema.

Há também campos de futebol e um bonito mercado, em que eu tinha que descobrir a resposta para uma pergunta – mas não consegui!

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O próximo destino foi uma Galeria de Arte em Dresden (Alemanha), uma cidade destruída na Segunda Guerra.

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Para entrar e fazer um audio-tour, você deve colocar os fones de ouvido.

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A atividade era achar um quadro na galeria, do filósofo grego Diógenes no mercado, pintado por Jacob Jordaens.

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Enquanto aprecia o quadro, você pode fazer um audio-tour virtual.

Quem Diógenes estava procurando no mercado? Uma pessoa honesta!

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Na visita ao Snowdonia National Park, em Gales, eu tinha que pegar um trenzinho para realizar a atividade, mas ele não passou (ou eu bobeei – rs!).

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A próxima visita foi ao Castelo Kumamoto, no Japão.

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Na parte de cima, tinha uma luneta com slides do castelo real.

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Por fim, tinha que visitar uma cidade ciberpunk e descer para o submundo (ainda não cheguei lá).

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As duas primeiras leituras sugeridas para a semana eram: Culture Shock & The Problem Of Adjustment To New Cultural Environments, que explora a sensação de choque cultural quando visitamos uma nova cultura (em que passamos da fase da lua-de-mel, em que o novo é sempre maravilhoso, à fase dos estereótipos – em que tudo no outro é negativo, até o ajuste final) e Culture Shock in Second Life, que explora o choque gerado pelo Second Life. Tem uma passagem muito interessante no segundo texto, em que Stephanie Booth afirma:

“So, even though Second Life is an entirely on-the-computer thing, it clearly activates the pathways in our brains that we use to deal with physical space and beings.”

O Second Life, apesar de ser construído de bits, ativa os caminhos no nosso cérebro que nós usamos para lidar com o espaço e os seres físicos. Há um senso de localização, que justifica a imersão de que tanto se fala no SL, e que possibilita a simulação de uma maneira impossível de atingir apenas com texto e 2D.

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Tive uma dúvida sobre privacy (privacidade), que aliás é um dos temas das discussões no Blackboard nesta semana, então prefiro passar pela discussão para saber o que posso e não posso colocar por aqui (então este post está em construção até terça à noite, prazo para entregar as atividades da semana).

Um notecard que recebemos afirma que “há uma linha tênue entre ser social e invadir a privacidade de outro aluno.”

Segundo as regras do curso, se você escrever, blogar, tirar fotos ou filmar as aulas, não deve usar o nome de ninguém, nem de seus avatares, sem sua permissão expressa. Em geral, no Brasil essas regras se cristalizam depois, então quero entender isso melhor e vou entrar lá no Blackboard para debater com o pessoal.

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Mundos Virtuais & Trabalho

A Forrester, empresa voltada para a área de estratégias de negócios e tecnologia, publicou um relatório sobre o uso de mundos virtuais no trabalho: Getting Real Work Done In Virtual Worlds. Só dá para ler o resumo, que traduzi abaixo (o download do documento de 24 páginas custa US$ 279.00!!).

“Mundos Virtuais como Second Life, There.com e outras ofertas focadas em negócios estão prestes a se tornar valiosas ferramentas de trabalho. Grandes empresas e organizações do setor público — como BP, IBM, Intel e o Exército norte-americano — estão investindo pesado em tecnologias de mundos virtuais. Mas ainda é cedo, são dias pioneiros. Você praticamente tem que ser um gamer para usar muitas dessas ferramentas — o setup pode ser trabalhoso, a navegação em um ambiente 3-D requer prática, e as exigências de processador e banda continuam altas. Mas em cinco anos, a Internet 3-D será tão importante para o trabalho quanto a Web é hoje. Profissionais de gestão da informação e do conhecimento devem começar a investigar e experimentar com mundos virtuais. Utilizá-los para tentar replicar a experiência de trabalhar fisicamente ao lado de outros; permitir que as pessoas trabalhem com e compartilhem modelos 3-D digitais de objetos físicos ou teóricos; e tornar o treinamento e a assessoria mais realista, ao incorporar a comunicação não-verbal às interações síncronas em locais diversos.”

Gamers, é bom lembrar, os alunos que chegam às nossas universidades já são.

O relatório aprofunda-se nessa tendência e examina o que algumas organizações estão fazendo, como em saúde, treinamento e simulação.

A Sun Microsystems, por exemplo, está construindo um campus virtual, denominado MPK20, utilizando a infra-estrutura do servidor do game Darkstar e a ferramenta Project Wonderland 3-D para a construção de mundos virtuais. A idéia é que todos seus funcionários (dos quais metade trabalha hoje a distância) possam se encontrar e colaborar.

Os funcionários da Vivox, uma empresa de tecnologia que fornece voz integrada e serviços de comunicação para mundos virtuais, incluindo o Second Life, encontram-se no Second Life todos os dias úteis.

Pioneiros na Intel utilizam Qwaq Forums para aperfeiçoar seu trabalho em grupo.

E boa parte dos encontros internos da Linden Lab ocorre no Second Life.

O relatório também aponta que muitas pessoas, principalmente aquelas acima dos 30 anos, têm resistência pois vêem os mundos virtuais como jogos frívolos ou lugares para personalidades desviantes exibirem seus alter egos. É ainda necessária, portanto, uma mudança cultural.

Há ainda o desafio de integração dos mundos virtuais com outros softwares utilizados nas empresas para o trabalho.

O relatório sugere também que as experiências sejam feitas inicialmente com ferramentas mais simples, como a tecnologia de mundo virtual Qwaq ou a tecnologia para conferência virtual da Unisfair.

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Web Semântica

Já se utiliza com freqüência a expressão “web semântica”, apesar de seu significado ainda não ser muito claro. Alex Iskold publicou um artigo em 01/2008 no ReadWriteWeb, intitulado Semantic Web: What Is The Killer App?, que pode nos ajudar a construir um pouco esse conceito.

No início o artigo faz referências a outros posts interessantes sobre o tema, que não vou comentar aqui, e em seguida analisa diferentes aplicações das tecnologias semânticas. Vou mencioná-las rapidamente.

a) Natual Language Understanding

Apesar do sonho da Inteligência Artificial, ainda estamos longe da capacidade de os computadores compreenderem linguagens naturais como os seres humanos.

b) Genie In The Bottle

O computador seria capaz de compreender informações e resolver problemas complexos. Mas também ainda estamos longe disso, e discuto isso em detalhes no meu Filosofia da Computação e da Informação, que espero seja publicado neste ano (está prontinho!).

c) Semantic Knowledge Databases

Freebase e Twine seriam exemplos de bancos de dados de administração de conhecimento, no estilo da wikipedia, da qual diferem por apresentarem a informação de uma maneira estruturada, que permite buscas impossíveis de realizar na wikipedia.

d) Semantic Search

Dispositivos de busca semânticos seriam mais inteligentes que os atuais, inclusive porque compreenderiam linguagem natural.

e) Social Graph

O conhecimento de como as pessoas estão conectadas pode também contribuir para a solução de problemas de uma maneira diferente.

f) Shortcuts

Vários aplicativos nesta categoria, que fornecem informações adicionais sobre determinado conteúdo por popups, diminuem a necessidade de pesquisar, pois o conteúdo relacionado ao que estamos vendo vem direto da Web para nós. Aqui talvez estejam os exemplos mais promissores da web semântica.

Há diversos, como SnapShots, BlueOrganizer, SmartLinks, Shortcuts e In-text search.

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I Congresso Second Life na Educação – Capítulo São Paulo

Já estou faz tempo para colocar este post por aqui, pois a primeira etapa deste Congresso itinerante ocorreu em 01/12, no auditório da Universidade Anhembi Morumbi. Eu já tinha falado dele, antes de acontecer, em outro post.

Estou aguardando as fotos, o áudio e os vídeos do evento – quando é que saem do forno, Valente? Então, vou depois ampliar este post.

Mas de qualquer maneira eu gostaria de registrar algumas coisas, para não esquecer.

Na fala do Valente durante o Congresso, e também no nosso livro Second Life e Web 2.0 na Educação, falamos muito sobre Web 2.0 e 3.0, mas esses conceitos ainda precisam ser mais polidos. A associação de 3D com 3.0 não é consenso, e a idéia de que a tecnopedagogia está associada ao 3.0 é totalmente uma visão nossa, não creio que se encontre muita coisa sobre isso na literatura.

O Valente também falou que há uma divergência sobre qual Instituição de Ensino brasileira teria entrado primeiro no Second Life. Na verdade não me parece que haja muitas dúvidas. O Mackenzie foi o primeiro a entrar. A Anhembi, que veio em seguida, foi a primeira a ter um prédio. E a Unisinos foi a primeira a ter uma ilha. E hoje, a Unisinos e a ESAB parecem ser as instituições brasileiras que mais têm explorado pedagogicamente o ambiente.

Queria também registrar que troquei de computador na véspera do Congresso (principalmente por causa do ABC da EaD no SL), mas quando cheguei em casa todo feliz com o computador novo, o Second Life símplesmente não funcionava nele! Quase pirei, mas o Valente percebeu e me ajudou muito, procurando um driver mais atualizado que o meu para a placa de vídeo, e depois de substituí-lo (e usar a versão em inglês do SL) a coisa funcionou. Aliás, foram muitas mudanças ao mesmo tempo e tive que recuar: computador novo, teclado com um mouse muito estranho (aposentado por enquanto), Vista, Office novo, coisas para copiar de um computador para o outro, programas que não funcionavam mais com o Vista, dois boots no sistema que apagaram tudo, enfim, coisa de louco. Mas valeu a pena, com o meu computador antigo eu não conseguiria fazer nada do que estou fazendo hoje.

Por fim, o Valente questionou, na sua fala durante o Congresso, o conceito da interação conteúdo/conteúdo de que o Terry Anderson fala no artigo “Modes of interaction in distance education: recent developments and research questions”, no Handook of Distance Education. Eu na verdade acho o conceito muitíssimo claro e interessante. É possível, com as ferramentas da Web 2.0, produzir objetos de aprendizagem em que o conteúdo, a partir de certo momento, comece a se renovar e atualizar sozinho, na interação com outros objetos e conteúdos. Pode-se, por exemplo, montar uma página de RSS de determinado assunto, e durante um curso esta página seria atualizada sozinha, sem a interação com o ser humano, automaticamente.

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Para que servem as Ciências Humanas?

Stanley Fish, professor e crítico de destaque nos Estados Unidos, cujo novo livro sobre educação superior, Save the World On Your Own Time, está para sair (e assim que sair pretendo resenhá-lo por aqui), escreveu um polêmico artigo no início de Janeiro no New York Times, Will the Humanities Save Us?, cujo tema me interessa bastante. É, aliás, o tema de um livro que espero publicar logo com a Regina e a Wanderlucy. Portanto, vou aqui ao mesmo tempo comentar o artigo e refletir sobre outros pontos não tratados diretamente por Fish.

Qual seria a justificativa para financiar as artes e as humanidades?

Fish menciona no seu artigo um livro recente de Anthony Kronman, Education’s End: Why Our Colleges and Universities Have Given Up on the Meaning of Life, que já coloquei no meu carrinho da Amazon. Para Kronman, antigamente não era necessário justificar o financiamento para as artes e as humanidades, porque se pressupunha que uma universidade era, acima de tudo, um lugar para treinar o caráter, para desenvolver hábitos intelectuais e morais para a vida. Isso requereria a imersão nos grandes textos de literatura, filosofia e história. Para Kronman, apenas as humanas podem enfrentar a crise de espírito que vivemos hoje, em função dos privilégios concedidos às ciências e à tecnologia. As humanas estariam associadas com significado, o que faltaria ao mundo contemporâneo. Expor os alunos a textos com múltiplas visões sobre o mundo, muitas vezes contraditórias, significaria aperfeiçoar a condição humana.

Entretanto, o que vemos hoje é que as ciências humanas são sempre o primo pobre da educação, ou seja, sempre as últimas a merecerem investimentos. A transformação de uma série de disciplinas de humanas em curso de educação a distância com o mínimo de interação entre alunos e professores, e provas finais em formas de testes no computador, que estamos vivendo no Brasil, e inclusive a exclusão de diversas disciplinas de humanas dos currículos, com a transformação dos currículos mínimos em diretrizes curriculares, são um bom exemplo do valor que damos para essas disciplinas. As discussões, os debates, a reflexão em grupo, são todos ignorados, não sendo considerados essenciais na formação de um profissional que não seja de humanas.

De quem seria a culpa? Os inúmeros comentários ao artigo de Fish tentam dar algumas respostas. Os departamentos de humanas teriam feito um mal trabalho (e com isso é preciso concordar, principalmente no sentido de terem se mantido muito descontectados das outras disciplinas); nossa cultura não privilegia, hoje, o aprendizado para o aperfeiçoamento do ser humano; as universidades estariam obcecadas com dinheiro, e não com a obrigação de produzir cidadãos; etc.

Mas há visões opostas sobre a questão. Para alguns, as prioridades para outras áreas, que não as humanas, deveriam ser mantidas. Um comentário ao texto de Fish diz: “Quando um poeta criar uma vacina ou um bem tangível que possa ser produzido por uma empresa Fortune 500, eu revogarei meu comentário.” Ora, obviamente não é função de um poeta produzir uma vacina. Mas a questão mais importante não é essa, e sim se o julgamento das ciências humanas deve ser feito em função de vacinas, de bens tangíveis ou da Fortune.

Fish questiona: as humanas realmente enobrecem? Ou seria sua função nos salvar?

Então ele usa uma série de argumentos bastante discutíveis: as humanas não conseguem se sustentar sozinhas; a economia não se beneficia de uma nova leitura de Hamlet; e um aluno que conheça a história bizantina não será atrativo para os empregadores (a não ser que seja esse empregador seja um museu). Argumentos muito frágeis, fracos. Seria necessário refletir com calma o que significa uma ciência se sustentar sozinha; as humanas não produzem apenas novas leituras de Shakespeare nem estudam apenas história bizantina; mas o que realmente parece pautar as conclusões de Fish é o mercado, os empregadores (que não sejam museus). Parece-me que a questão é bastante mais ampla e complexa.

Humanas não produzem também somente erudição. Eu apresentei um trabalho na Convenção da MLA – Modern Languages Association, em 1999, entitulado: “Philosophy and Literature Students make very good Business and Administration Professionals”, que logo vou postar por aqui. Defendo (pela minha própria formação) que o estudo das ciências humanas desenvolve algumas habilidades que não são desenvolvidas igualmente por outras disciplinas, e que essas habilidades podem ser, sim, muito úteis para o mercado, para as empresas, para a administração etc. Estudantes de Artes, Filosofia, Literatura e Humanas em geral podem se tornar administradores muito bons, melhores inclusive em vários sentidos do que estudantes de administração. É um caminho muito bonito e produtivo a complementação de estudos de humanas com estudos de administração, uma pós-graduação lato-sensu, por exemplo.

Não se trata aqui de acreditar que lendo um romance clássico nos tornamos seres humanos mais completos, o que seria, para Fish, negado pelo fato de, nos departamentos de Letras e Filosofia, não temos seres humanos mais íntegros do que nos outros (o que aliás, uma amiga minha, estudante de filosofia e casada com um professor de filosofia, defende com veemência). Para Fish, o que professores e alunos de literatura e filosofia sabem fazer, é analisar efeitos literários e distinguir entre diferentes teorias sobre os fundamentos do conhecimento. Sem dúvida, o estudo das humanas produz muito mais, mas que seja apenas isso, já se desenvolvem aqui habilidades paralelas (como saber lidar com textos, com o discurso, com a linguagem, com a comunicação etc.), o que é essencial para um administrador, por exemplo (e, é bom que se diga, os currículos de administração não privilegiam a maestria no uso da linguagem).

Como Fish mesmo diz, professores de literatura e de filosofia não são competentes em um ministério, não têm a função de nos tornar seres humanos mais puros, e a função das humanas não é nos salvar. Mas isso não significa que o estudo das humanas não produza nenhum efeito no mundo, que se resuma a um conhecimento disciplinar, a um prazer que pode nos oferecer.

Para Fish, a única resposta à questão “qual o uso das humanidades?” é: nenhum, pois as humanas não são instrumentais. Realmente, as humanas são bem menos instrumentais que as ciências exatas ou biológicas, mas isso não nos obriga admitir que elas não sirvam para nada. Enfim, uma discussão em aberto, à qual pretendo voltar, inclusive porque foi tema de um curso que dei no semestre passado, e que devo dar de novo no próximo semestre.

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Twitter na Educação


Eu já tinha escrito um post sobre a classificação do micro-blog como alguma coisa entre os blogs, os chats e as redes sociais. Mas agora li vários textos sobre o uso do Twitter em educação, e nas minhas aulas de Comunicação e Expressão deste semestre pretendo testar a ferramenta com meus alunos de informática.

Bibliotecários estão utilizando intensamente a plataforma para aperfeiçoarem seu trabalho, para se comunicarem em conferências e eventos, e para se manterem atualizados em relação aos desenvolvimentos em seus campos de estudo e trabalho.

O Twitter tem sido também utilizado como mecanismo de primeiro alerta para a disseminação de notícias e sua discussão imediata, representando o jornalismo produzido pelo próprio cidadão. Notícias tradicionais operavam num ciclo de 24 horas; os blogs reduziram esse ciclo para horas ou minutos; e os micro-blogs para segundos.

Nesse sentido, o Twitter é uma alternativa rápida e prática para emails, mensagens instantâneas e fóruns, em geral utilizados para a comunicação entre alunos e professores. Os alunos podem receber as mensagens pelo celular sem que você precise saber os números – os próprios alunos passam a acompanhar seu Twitter feed.

O professor Dave Parry utilizou a ferramenta em um de seus cursos e tirou algumas conclusões sobre seu potencial pedagógico: as conversas continuam fora da sala, possibilitando feedback imediato, ligando o conteúdo do curso ao mundo real e criando um senso de comunidade para a classe; você pode registrar pensamentos que simplesmente vêm à sua cabeça, o que pode ser utilizado criativamente; você pode acompanhar o uso de uma palavra, uma pessoa ou uma conferência; você pode construir histórias a várias mãos.

O Read and Write Web publicou recentemente um post sobre a utilização do Twitter como plataforma para discussões sérias.

Há um efeito interessante em receber milhares de pings, criando o que Clive Thompson chamou de sexto-sentido social.

O Twitter pode também ser utilizado como estratégia de aprendizado ativo. Pode servir para aprofundar a interação ao redor de um assunto específico. Para metacognição. Para estudantes e profissionais compararem pensamentos sobre um tópico. Para compartilhar pensamentos sobre uma sessão de uma conferência, com quem está ou mesmo quem não está lá. Breve e rápido, o Twitter desenvolve uma habilidade importante: pensar com clareza e se comunicar com eficácia.

E estou por lá, podem me seguir porque vou começar a usar o Twitter com mais freqüência. Acessem aqui a minha página.

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EDTECH 597: Teaching and Learning in Second Life – 1st Class – 24 Jan. 2008

Na última quinta-feira, 24/01/2008, foi a primeira aula do curso.

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Um aluno mora na Austrália, outro mora na Polônia, um é de uma empresa, vários são designers instrucionais. Uma professora mora nos Estados Unidos, outra na Inglaterra. Durante a aula, nos apresentamos, falamos um pouco do curso e percorremos a ilha.

Para a primeira semana, além de preencher uma pesquisa de público, nos apresentamos em um fórum e em outro respondemos a algumas perguntas para a Negociação do Currículo. Tudo no Blackboard.

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EDTECH 597: Teaching and Learning in Second Life

Coloquei há pouco tempo um post sobre o Departamento de Educational Technology (EdTech) da Boise State University. Comecei a fazer um curso lá (como aluno), chamado Teaching and Learning in Second Life (aqui é um programa geral).

Vou resumir o andamento do curso por aqui, com posts com o título deste (e números na seqüência). Criei inclusive uma categoria para o curso, EdTech 597, para facilitar a consulta.

Além das aulas que teremos todas às quintas no Second Life, temos também o Blackboard como apoio. Uso intensamente o Blackboard com meus alunos na Anhembi Morumbi, então foi um prazer participar do ambiente como aluno.

Para a primeira aula, um aviso muito simpático das 2 professoras (Mauri Collins e Ann Jeffery, uma mora nos Estados Unidos, outra na Inglaterra!). E um dos alunos é da Polônia! Logo deve ser anunciado um outro ABC da EaD no SL (o curso que vou dar no Second Life neste semestre), e espero conseguir fazer com que meus alunos interajam com meus colegas de curso!

O programa do curso é provisório, um rascunho, pois ele vai ser discutido com os alunos antes de ser finalizado. Há uma pesquisa no Blackboard (20 interessantes questões), e a partir delas a turma vai acertar o programa, incluindo as formas de avaliação. Ou seja, o curso é desenhado em função das necessidades dos alunos, construído por eles e os professores. Além da pesquisa, já está aberto um Fórum com algumas perguntas geniais, como:

a) O que nós não precisamos e o que não sabemos aprender sobre o nosso tema?

b) Onde nós vamos procurar as respostas para as nossas perguntas?

c) De que tipos de avaliações nós gostamos?

d) Quem vai fazer o quê e qual vai ser a ordem das coisas?

e) E depois?

Há duas leituras opcionais para o curso, que vou resenhar por aqui:

Gibson, D., Aldrich, C. & Prensky, M. (2007). Games and simulations in online learning: Research and development frameworks. Information Science Publishing: Hershey, PA – já recebi e estou resenhando em um post separado.

Second Life: The Official Guide 2nd Ed. (2008) (foi traduzido pela Ediouro, mas creio que receberei a edição de 2008).

Uma lista parcial de leituras inclui várias coisas, e pretendo resenhar tudo por aqui:

Horizon Report 2007 – um interessante relatório – postei um comentário sobre o relatório de 2008

Some Foundations for Second Life Pedagogy, (LaChapelle, 2007) – pequeno post em um blog

Second Life & School: The Use of Virtual Worlds in High School Education (Alvarez, 2006) – um texto sobre o uso de mundos virtuais no ensino médio

Using a Virtual World for Transferrable Skills in Gaming Education (Hobbs, Brown, Gordon, 2006) – um texto muito interessante, que fala de Second Life, mundos virtuais, games e pedagogia

Virtual Worlds: What are They and Why Do Educations Need to Pay Attention to Them? – trabalho interessante constituído de várias listas e links, que discute a importância dos mundos virtuais 3D para a educação. Coloquei um pequeno comentário em outro post.

Educause Reading List on Second Life – lista com vários links para trabalhos relacionados ao tema

Maha’s 3D Virtual World Bibliography – pequena lista de artigos sobre mundos virtuais 3D em educação

Purdue Second Life Annotated Bibliography – extensa bibliografia sobre o uso de Second Life em educação, que supostamente está sendo constantemente atualizada

Edutopia, Student Exchange – post em blog

Há ainda uma lista de recursos adicionais, que também vou comentar por aqui:

EDTECH Island Video

SimTeach Wiki

Second Life in Education Uses (usei bastante no Second Life e Web 2.0 na Educação)

InfoIsland.org, Second Life Library 2.0

Horizon Project Virtual Worlds

Kathy Dryburgh’s Guide to SL for Educators

SLED Events Calendar

UTD (University of Texas) SL videos

Nik Peachy’s Blog & SL tutorial videos

TerraNova blog

Second Life Newsletter

Pacific Rim Exchange

Enfim, tem bastante coisa para as próximas semanas!!

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