A Universidade Virtual no Brasil

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VIANNEY, João; TORRES, Patricia; SILVA, Elizabeth. A universidade virtual no Brasil: o ensino superior a distância no país. Tubarão: Ed. Unisul, 2003.

Este livro registra um estudo sobre a educação a distância no Brasil, apresentado no Seminário Internacional sobre Universidades Virtuais, realizado em Quito, Equador, em fevereiro de 2003, organizado pelo IESALC – Instituto Internacional da UNESCO para a Educação Superior na América Latina e Caribe.

Seu tema é a História da Educação a Distância no Brasil, com ênfase no nascimento da universidade virtual.

Para os autores, até a segunda metade da década de 1990, a EaD era praticada no ensino fundamental e médio, através de materiais impressos e televisão, em programas de telecurso, e em cursos livres profissionalizantes, por correspondência.

A partir da expansão da Internet junto às IES (1994) e da LDB (1996), que trata da EaD no seu artigo 80, podemos falar no início (ainda que tardio em relação ao resto do mundo) da universidade virtual no Brasil, ao redor de 1996 e 1997.

O livro acompanha também o progresso da legislação específica sobre EaD (até o final de 2002), destacando os seguintes documentos legais:

* Decreto 2.494, 10/02/1998

* Decreto 2.561, 27/04/1998

* Portaria 301 do MEC, 07/04/1998

* Resolução 01 do CNE, 04/2001

* Portaria 2.253 do MEC, 2001

São analisados: instituições pioneiras, número de alunos, cursos oferecidos, soluções semi-presenciais (com apoio presencial em diversas regiões do país), formação de redes de ensino a distância, desenvolvimento do e-learning (ensino a distância corporativo) etc.

A Universidade Anhembi Morumbi é citada como uma das pioneiras em EaD no país. Como pode um departamento reconhecido como pioneiro ter se transformado em um departamento que não pesquisa nada sobre EaD, que não produz nada sobre EaD, que não publica nada sobre EaD, que não discute nem debate nada sobre EaD, que aliás não debate nada porque não aceita ser criticado, que reformula seu projeto pedagógico sem ouvir os professores que participaram desse trabalho pioneiro, que não apresenta trabalhos em Congresso de EaD, que usa apenas arquivos pdfs em suas aulas online, que não delega responsabilidades para seus professores e prefere ser totalmente centralizador, que paga 3 horas-aulas semanais para seus tutores lidarem com 100 alunos, que recebe um mês de pagamento de seus alunos mas não paga os professores (porque as aulas online ainda não tinham começado!), que não tem um sistema próprio (como a maioria das instituições do país que trabalham com educação a distância) etc., enfim, tudo o que temos discutido aqui no blog? Quem consegue arriscar uma explicação? Como é possível um departamento pioneiro em EaD no país ter perdido o bonde assim tão rápido?

O livro discute também os desafios para a implantação do ensino a distância no Brasil, principalmente no sentido de romper a barreira do analfabetismo tecnológico e mesmo das restrições de acesso à tecnologia por parte de boa parte da população brasileira, o que reforça o círculo vicioso de ensino superior direcionado apenas para uma elite do Brasil.

Mais da metade do livro é composto por anexos, com partes da legislação, textos que aprofundam a análise dos dados apresentados no relatório, a cronologia da EaD no Brasil em forma de tabela e um relatório produzido por uma comissão de especialistas para o MEC, em 2002.

Enfim, essencial para constar na bibliografia de quem se proponha a estudar o desenvolvimento da EaD em nosso país.

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Publicado em EaD, Educação, Resenhas | 11 comentários

O Bento que para mim fica (por Adalberto Tripicchio)

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O Bento que para mim fica

Adalberto Tripicchio(*)
12/01/2007

Como é difícil falar-se de alguém notável, que se destaca entre seus pares, e fora deles. E Bento foi um desses. Não teria o que acrescentar ao que está sendo escrito na mídia e nos livros quanto ao seu talento filosófico. Sobre sua sabedoria mais-que-erudita. E quem o diz são aqueles dentre os que melhor o conheceram como intelectual. Também, colocar datas, localidades, nomes, fica para os enciclopedistas que irão recompor seu verbete.
Por que aceitei, então, escrever esta breve mensagem?
Primeiro, como uma maneira de desabafar um tanto minha alma sufocada pela tristeza da sua perda. Segundo, porque privando dele, momentos dos mais irreverentes ante esta vida à qual somos lançados de modo absurdo, seria egoísmo não abri-los um pouquinho.
Bento era um musicófilo, mais, um musicólogo. Amava na música popular, tangos e sambas-canções. É aí que eu entro. Quando estávamos desinibidos, ele virava Carlos Gardel, Maysa, Dolores Duran, Tito Madi, e por aí vai. Eu fui, boa parte das vezes, seu acompanhante violonista titular nestes quase dez anos de amizade.
Ele conhecia todas as letras do Alfredo Le Pera – parceiro de Gardel – e, depois de cantar todos os clássicos, brindava-me solenemente com meu favorito “Por una Cabeza”. De terno e gravata borboleta – esta, uma identificação com seu pai -, chapéu, além de um casacão 7/8 e um cachecol, que colocava em torno do pescoço, a la típico portenho.
São daqueles poucos momentos vividos com tal intensidade e comunhão, que se tornam eternos.
Como um bom homem à gauche, era gozadíssimo, quando, imitando Maysa, cantava “Meu muro caiu” – o de Berlim – em vez de “mundo”.
Além da música, Bento foi um poeta da vida. Certa vez, indiquei-lhe um composto da homeopatia, a Nux vomica, fármaco muito conhecido da especialidade. Imediatamente, Bento recitou-me num fôlego só uma das estrofes mais complicadas e difíceis de se decorar e falar, de Drummond:
“[...]
Vergonha da família
que de nobre se humilha
na sua malincônica
tristura meio cômica,
dulciamara nux-vômica.
[...]“.
(é de dar cãibra na língua, não?!)
A cidade de Jaú perdeu seu filho, a de São Carlos seu ilustre mestre, o Brasil um de seus maiores filósofos, e eu perdi o amigo. Amigo, que apesar do seu porte acadêmico, sabia oferecer conversas francas, simples e singelas. Certa vez, em inícios de 2000, ele me disse: “Adalberto, eu ainda não escrevi o troço…, aquele troço”. E só. De pronto, entendi perfeitamente o que ele queria dizer com essa palavrinha: a minha grande obra, a síntese de meu pensamento filosófico, e por aí vai.
Curioso é que ele já havia escrito seu “troço”, sem ter se dado conta disso. E o fez com a sua tese de livre-docência na USP, “Presença e Campo Transcendental: Consciência e Negatividade na Filosofia de Bergson”, em 1964, reconhecida no seu justo valor, somente em 2002 (!), pelo Collège International de Philosophie com sede em Paris, que promoveu imediatamente sua tradução francesa, considerando-a como a obra mais importante de tudo o que já se escreveu sobre Henri Bergson no planeta. Temos de lembrar a reconhecida xenofobia dos franceses, especialmente a do parisiense pós-guerra, em reconhecer um trabalho digno que pudesse vir de alguém nativo abaixo do Equador. Vindo de um brasileiro situado no último dos mundos do PIB, do interior-sertanejo de São Paulo e por aí vai, acrescentando e ensinando-lhes algo!
Em fins de 1990, Bento coordenava a Banca de Seleção para Pós-Graduação em Filosofia na Universidade Federal de São Carlos-SP. Eu estava sendo examinado, e, em dado momento, argumentei o que pretendia com a Filosofia da Mente no meio psiquiátrico. Citei, criticamente, a arrogância da alopatia, e que as bulas sérias de qualquer remédio deveriam começar sempre com a frase: “não se conhece o verdadeiro mecanismo de ação deste fármaco” – o que, de fato, aparece em algumas delas. Bento, que sabia de minhas raízes religiosas no protestantismo, não perdeu a deixa para dizer: ‘da mesma forma que Lutero insurgiu-se contra a Bula Papal, dando início à Reforma, você hoje repete o gesto com a Bula Farmacêutica’ “.
Esse era seu humor: elegante, inteligente e sério.
Como a maioria dos grandes pensadores Bento tinha uma natureza reservada e profundamente emotiva. Para quem não o conhecesse informalmente poderia erroneamente achá-lo sisudo. Esse era o Bento filósofo. Circunspeto, conseqüente e assumido. Mas, sempre afável, solícito e generosos com qualquer um que o procurasse.
Quando conseguia desmontar sua timidez – não encontro melhor palavra – tornava-se um homem de bem com a vida, com um ânimo cheio de vigor.
Como quando, avô-coruja, contou-nos de seu netinho ainda pequenino, desabafando contra um colega nosso, que lhe estava importunando: “Pare de amofinar-me!” Não tem jeito mesmo. Penso que a anormalidade da Curva de Gauss naquela família é genética.
Bento e eu fomos prejudicados pela repressão da ditadura militar. Mais a ele do que a mim, claro está. Eu tive a oportunidade de ser indenizado pelo Governo, após a Anistia, mas recusei. Pensando nisso, algum tempo depois, senti-me um tolo em não ter aceitado um dinheiro que eu tanto precisava. Mas, Bento escreveu-me um e-mail consolador dizendo que também havia recusado benefícios por nossa postura ideológica na época. Que estava chateado com aqueles que chegaram a receber até pensão vitalícia, além da indenização. Foi um alívio para mim, saber que estava em tão respeitosa companhia.
Certa vez, em um evento nacional de filosofia, após sua palestra, alguém do auditório fez-lhe uma pergunta confusa e hermética. Bento, calmamente e sem perder a oportunidade, deu-lhe uma resposta mais confusa e hermética ainda. Ao final, disse: “Pergunta besta, resposta besta! “, para alegria geral. Esse era o Bento da intimidade dos amigos.
Duas curiosidades da personalidade rica e complexa, porém diáfana de Bento. Primeira, é sabido que os grandes intelectos habitam outros mundos, e se perdem nas miudezas práticas e prosaicas do nosso cotidiano. Por exemplo, Bento nunca dirigiu automóvel, por maior necessidade que possa ter passado.
Segunda, certa vez Bento observando uma estante minha de livros, encontrou algo de seu grande interesse, e pediu-me emprestado. Senti-me honrado pela oportunidade do discípulo oferecer algo ao seu mestre. Por outro lado, um sentimento menor tocou-me: ‘adeus, meu livrinho’. Como é que o Prof. Bento Prado Jr. habitado por um milhão de idéias geniais, que navegam entre seus brilhantes neurônios, ir-se-ia lembrar que, um dia, pediu-me um livro emprestado. Cheguei a pedir a meu importador de livros que procurasse por um outro exemplar daquele ora perdido. Para minha perplexidade e espanto, duas semanas depois, Bento devolveu-me o livro, são e salvo, o qual tinha xerocado. Está claro aí que o que lhe guiava na vida era sua escala de valores.
São muitos os recortes da saudade que tenho por Bento, porém fico onde estou, pois a emoção começa a embargar minha memória.
Infelizmente, o cigarro o levou. Mas fica o eterno pano-de-fundo da magia encantadora que Bento conseguia exalar pelos poros, tornando nossas vidas um tanto mais leves e menos absurdas.

(*) Professor-Convidado da UFSCar-SP.

Publicado em Filosofia | 10 comentários

Calar

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Se é tão rápido e fácil calar uma grande universidade, abafando, boicontando e mesmo cortando seus canais de comunicação não hierárquicos e debates (como fóruns presenciais, fóruns virtuais, revista etc.), deixando de lado ou despedindo aqueles professores que questionam alguma coisa, se é tão fácil amedrontar e calar professores que, supostamente, deveriam ter senso crítico e questionar pelo menos a realidade em que estão diretamente envolvidos, se é tão simples imobilizar um grupo grande de professores, imagine o que é possível fazer com um país com um alto índice de analfabetismo, composto de muitas pessoas para quem nunca foi dada a oportunidade de criticar alguma coisa? Principalmente quando se tem o poder e o dinheiro na mão, quando se pode facilmente comprar pessoas-chaves e mandar matar quem não interessa mais?
Por isso, temos sempre que reagir a qualquer indício de autoritarismo, de calar o judiciário, de calar a imprensa, mesmo que pequemos pelo excesso. Toda organização de resistência, nesta direção, é um exercício pleno de cidadania.

Publicado em Educação, Reflexões | 7 comentários

Educação e Consciência Política

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É possível ser educador sem consciência política?
Ou melhor: é possível ser professor, supostamente para formar um ser humano crítico, ético e responsável, fechando os olhos para o que ocorre na sua própria profissão, na sua própria instituição, ou, pior ainda, no seu próprio trabalho?
Se demitem sem justificativas seus colegas, se vários de seus colegas (inclusive você) perdem aulas porque vêem suas turmas subitamente dobradas de tamanho, ou até mesmo se seus colegas (e mesmo você) não recebem o salário de um mês de aulas, mesmo com o pagamento por parte dos alunos, é possível fingir ser cego?
Cego (politicamente) e educador?
Um educador pode ignorar tudo isso e se preocupar apenas com o seu salário, o seu sustento, sem reagir a nada?
Sobrará alguma coisa para ele ensinar?

Publicado em Educação | 13 comentários

Universidade ou Banco?

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Uma universidade é um banco?
Se não é, por que selecionar e recrutar executivos para administrá-la?
É a falácia (da falsa dicotomia) do executivo: no mundo existem, de um lado, executivos, que sabem gerir qualquer negócio, acertam sempre, estão preparados para administrar etc., mas se preservam e não sabem fazer mais nada de específico, e, de outro lado do mundo, existem aqueles que ralam, que fazem o trabalho, mas não sabem administrar nada, nem mesmo o negócio em que trabalham.
Falácia, porque, além de o mundo não ser preto e branco, existem profissionais de educação preparados para administrar negócios de educação. Existem profissionais de educação naturalmente ligados às áreas de administração, mas existem também aqueles que têm capacidade e/ou experiência administrativa, e são também educadores. Qual a vantagem, então, de contratar executivos (que nunca deram uma aula na vida) para administrar uma instituição que dá aulas? Se o executivo não entende nada do negócio, há mais chances de a instituição crescer e se tornar mais lucrativa?
Investir em um negócio de educação não significa investir em um banco: o foco de uma instituição de educação não é o lucro financeiro, isso é apenas sua condição de sobrevivência, como de qualquer negócio. Mas a competência principal de uma instituição de educação é educar, não lucrar. Se ela perder sua capacidade de educar, perderá naturalmente qualquer chance de lucro. Não há como inverter a ordem dos fatores.
Então, se um grupo de investidores investe em uma instutuição de ensino, precisa estar preparado para ganhar dinheiro (se for possível) com educação. Não com a exploração de professores, ludibriando seus alunos, esquecendo-se de educar. O planejamento estratégico não pode ser: ganhar dinheiro, se der fazendo educação, mas se não der para continuar fazendo educação, o importante é ganhar dinheiro. Então, que se invista em outro negócio, no mercado financeiro, na bolsa de valores.

Publicado em Educação | 5 comentários

Luz Vitral

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Quer um prisma, uma mandala, uma luminária… espirituais?
Fale com o meu primo, o Alexandre Mattar, no Luz Vitral. Direto na fonte!

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MANIFESTO EaD

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Manifesto EaD

1. A EaD não deve ser considerada uma categoria estanque e oposta à educação presencial, mas ambas devem ser utilizadas em sintonia.

2. A EaD não deve ser concebida apenas como ensino e aprendizagem através de computadores; outras mídias também devem desempenhar papéis importantes, como textos impressos, áudios, rádio, televisão, vídeos, videoconferências, celulares e outras tecnologias de comunicação e informação por vir.

3. A EaD não faz milagres. Nesse sentido, por exemplo, ela não gera automaticamente uma aprendizagem mais colaborativa do que a educação presencial.

4. Duas das principais características da EaD, a serem exploradas em projetos pedagógicos, são a capacidade de simulação e a interatividade.

5. A EaD (sempre acompanhada da educação presencial) deve ser combinada com estudos individualizados e interdisciplinaridade, tríade que tende a dominar o cenário da educação nas próximas décadas.

6. Os professores de EaD, como orientadores de um novo processo, devem ser formadores de atitude em relação à pesquisa e às novas maneiras de acesso à informação, para que essa informação possa transformar-se em conhecimento,
deixando de ser meros dados desarticulados. Nesse sentido, devemos contribuir para formar um ser humano organizado, disciplinado, perseverante, automotivado e independente, capaz de desenvolver métodos de estudo eficazes, de autogerenciar-se, administrar o tempo virtual e buscar informações com eficiência.

7. As aulas de EaD não devem ser preparadas em fases estanques, ou seja, redigidas pelos autores, modificadas pelos pedagogos, posteriormente trabalhadas visualmente pelos web-designers etc., sem interação entre esses profissionais. Isso é suicídio virtual! O trabalho de construção, sempre supervisionado por equipes pedagógicas multidisciplinares, deve ser conjunto e simultâneo para que, de um lado, os autores tenham consciência das ferramentas tecnológicas disponíveis, visando ao melhor desenvolvimento de seus conteúdos-forma, e, de outro lado, os web-designers tenham noções do conhecimento veiculado, visando a uma melhor aplicação de suas formas-conteúdo. No limite, o ideal (cada vez mais realidade) é o professor-autor-web-tutor, ou seja, o professor que tenha condições de desenvolver seu próprio material online, testá-lo com seus alunos e modificá-lo em tempo-real em função das necessidades de seus cursos e de seu público-alvo. Nesse sentido, a separação (imposta) entre as figuras do professor autor e tutor deve ser colocada em questão.

8. A EaD implica flexibilidade. Não pode prevalecer a miopia de alguns administradores da educação de que, com a EaD, paga-se apenas uma vez para a produção de um conteúdo que pode, então, ser utilizado infinitamente por inúmeros estudantes. As aulas de EaD precisam ser atualizadas constantemente e os tutores, que efetivamente interagem com os estudantes, precisam ter autonomia para modificar o conteúdo das aulas enquanto ministram suas disciplinas, para não se converterem em meros fantoches, impostutores. Os tutores precisam ser mais valorizados em EaD, e os conteúdos prontos e impostos fazem parte de um modelo Fordista e centralizador de EaD, que é necessário enterrar de vez. Inclusive porque a teoria e a prática da administração já se flexibilizaram há muito tempo.

9. Se, de um lado, a EaD pode ajudar a superar o isolamento cultural e a Jihad, de outro lado carrega consigo o risco da Disneyficação e do McWorld, da homogeneização cultural dominada pela língua e cultura norte-americanas. Nesse sentido, é obrigação dos professores de EaD procurar sempre desenvolver nos estudantes o senso crítico, como exercício de resistência à colonização. A EaD deve, portanto, tornar possível uma comunicação e uma cultura globais sem comprometer os valores e as preferências locais; desenvolver nossas peles finas, sem danificar nossas peles grossas; contribuir para a formação de um ser humano ético, cidadão e responsável socialmente.

10. Os professores de EaD precisam estar tão ou mais organizados do que os professores do ensino presencial, caso contrário estabelecer-se-á uma nova classe de explorados intelectuais, intensamente submetidos ao tecnostress e aos transtornos multi-tarefas, e ainda por cima mal remunerados. É preciso reagir.

11. 25 alunos por sala também na EaD! É preciso reagir, principalmente, a todos aqueles que querem utilizar a EaD simplesmente para lucrar, e organizam turmas de 60, 100, 130 alunos… para um só tutor, pagando míseras 3 ou 4 aulas semanais (ou ainda menos) para esses professores. Ninguém pode aceitar isso, é um efeito cascata, dominó – se um aceita, outro aceitará e perderemos. Se ninguém aceitar, modificaremos alguma coisa. O descompromisso, nesses casos, não é com a EaD, mas com a educação em geral, com nossa profissão, com nossas consciências, com nossos alunos, com a sociedade, com a vida. É preciso reagir!!

12. EaD não pode se transformar em Educação… a distância, a muita distância…, a anos-luz de distância. É preciso diminuir a distância entre a EaD e a educação.

João Mattar
São Paulo, Abril de 2004 (revisado em Abril de 2005, Janeiro de 2006 e Março de 2007).

P.S. A idéia é que este Manifesto seja, a partir de agora, construído em conjunto, virtualmente, como proposto no Congresso de 2006 do ICDE pelo professor Antonio Vantaggiato.

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Vinheria Percussi

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O Vinheria Percussi é o restaurante de que mais gosto em São Paulo. O ambiente é extremamente aconchegante e agradável.

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Tem uma carta de vinhos de primeira, que é continuamente premiada, e sempre têm boas opções em taças (aliás, estão servindo agora taças de um espanhol tinto, Codice, muito bom, e outro espanhol de sobremesa, Enrique Mendoza, divino). Tem inclusive vinhos com a marca Percussi, produzidos no Rio Grande do Sul.

Os pratos são sempre inovadores e delicados.

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O serviço é muito profissional e atencioso, sem se tornar pedante.
A família Percussi está sempre por perto, cozinhando ou atendendo os clientes.

Várias confrarias se encontram por lá, para degustar seus vinhos e harmonizá-los com os pratos encomendados especialmente para a ocasião.

No almoço, durante a semana, tem um Menu del Giorno, que inclui entrada, prato principal e sobremesa, em geral com duas opções de cada, mas que podem ser saboreados todos, em porções menores, e sai a R$ 33,00.
Do cardápio fixo, eu destaco o Risotto al Gruyère e Pistacchio, uma jóia.

Tem também uma Rosticceria e vende livros de culinária, além de preparar cardápios para ocasiões como Natal e Reveillon, para serem levados para casa.

Enfim, uma visita obrigatória para quem gosta de comer bem.

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Ford e a EaD

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A Teoria da Administração começa com Henry Ford (1863-1947), fundador da Ford Motor Company, que aperfeiçoou a linha de montagem e desenvolveu a produção em massa de automóveis, no início do século XX, aumentando a quantidade e diminuindo o custo. Os carros, assim, deixaram de ser artigo de luxo e passaram a ser oferecidos ao público consumidor a um preço acessível.

Mas, já a partir de 1923, Alfred Sloan aperfeiçoou a linha de montagem de automóveis na General Motors, principalmente através de novas estruturas organizacionais descentralizadas e da diversificação da linha de produtos.

Ora, mas você deve estar pensando: o que isso tem que ver com EaD?

A EaD começou tentando copiar a linha de montagem de Ford: processo de trabalho fragmentado (cada um fazia um pouquinho, o conteudista, o pedagogo, o webdesigner – com quem ninguém conseguia conversar, o tutor – que já recebia tudo pronto etc.), centralização excessiva, falta de participação nas decisões, material e atividades pré-produzidos, impostutores-palhaços (que deviam apenas agir passivamente), ou seja, falta de criatividade no produto, no processo e na estrutura organizacional. Produção em massa de educação, como em uma indústria do século XIX.

Já se fala numa geração neo-Fordista na EaD, em que o produto e o processo tornaram-se mais flexíveis (mas a centralização ainda continuou intensa, ou seja, os tutores continuaram a ter pouca autonomia e responsabilidade), e também pós-Fordista (em que tudo se flexibilizou em função do aluno, acompanhando a tendência da Administração contemporânea).

Um exemplo muito interessante, nesse sentido, foi a recente reformulação do departamento de EaD da Unisinos, do qual já falei aqui no meu blog. Um show de trabalho: o departamento de EaD deixa de ser um departamento elitista, o centro de produção de conteúdo online da instituição, para se transformar em centro de treinamento para (todos) os professores, que agora podem produzir e modificar seus conteúdos livremente, durante o próprio curso. Para os professores, isso funciona também como um upgrade nas suas carreiras, já que eles aprendem dentro da instituição softwares e técnicas que poderão usar para sempre, em sua vida profissional. Os alunos, não é preciso dizer, são beneficiados. Mas e a instituição, tem prejuizo? Que nada, o departamento de EaD passa agora a dar consultoria e produzir conteúdo para clientes de fora, torna-se uma Unidade de Negócios. Professores (todos), departamento e instituição ganham mais, assim como os alunos e toda a sociedade.

Agora, meu querido e-leitor, imagine (de mentirinha) um departamento que dissesse fazer EaD em pleno século XXI, da seguinte maneira:

1) Reformula seu Projeto de EaD sem consultar nem contar com a participação de seus professores;

2) Continua a centralizar todas as decisões em um Departamento (que praticamente não tem professores!), sem delegar responsabilidades;

3) Apresenta, como base teórica de seu projeto (de EaD!), Skinner, Piaget e Vygotsky, só, isso mesmo, ignorando Michael Moore, Otto Peters, Keegan, Renner etc;

4) Transforma seus conteúdos, que até tinham um pouquinho de multimídia, em simples arquivos pdfs (“mais apostilas para ler”, como dizem os alunos);

5) Impõe esses pdfs para todas as disciplinas, como um currículo pré-definido que o tutor deve seguir, independente do seu público-alvo;

6) Define também de antemão (não é brincadeira) as atividades, os prazos de entrega das atividades e os critérios de avaliação; e, inclusive, programa mais atividades individuais (isoladas) do que de interação entre alunos e tutor;

7) Orienta os tutores para não marcarem encontros presenciais com seus alunos, mesmo quando eles e os alunos assim queiram;

8) Solicita que os tutores atuem passivamente, sob demanda;

9) Engana os professores que dão aulas presenciais na mesma instituição, porque transforma diversas disciplinas presenciais em online (e assim vários professores perdem aulas), dizendo que eles poderão atuar agora de outra maneira, mais “criativa”;

10) Por causa disso, várias turmas presenciais são “juntadas” e as classes ficam com até mais de 100 alunos (ou seja, professores que antes davam aulas para duas turmas, agora dão uma só aula – ganhando metade do que antes – para praticamente as mesmas duas turmas – não cabe na sala de aula, é impossível dar aula e o resto da história você já imagina…);

11) Engana ainda mais seus professores, quando afirma que todos no departamento de EaD (que agora inclui um monte de interessados, vários professores que perderam aulas presenciais) sairão ganhando, porque o número de alunos aumentou em x%;

12) Completa o engano quando transforma turmas online que costumavam ter 40, 50 ou mais alunos (o que já era muito!), e aloca agora até 100 alunos por turma, pagando 3 horas-aula por semana para cada tutor – que antes recebia 4 para lidar com 40 alunos ou um pouco mais (não é brincadeira), ou seja, o tutor não tem agora nem 2 minutos de atenção para despender com cada aluno, mas precisa corrigir atividades (individuais), mandar emails, participar de fóruns, passar as notas para o sistema etc., tudo em menos de 2 minutos!;

13) Realiza um treinamento com vários candidatos a tutores, e no meio do treinamento escolhe aqueles que serão os tutores durante o semestre, mas não se digna nem mesmo a comunicar aos professores que estão sendo treinados que já foi feita uma escolha etc. etc.;

14) Sobrecarrega seus monitores, que continuam no mesmo número, ganhando a mesma coisa, apesar do grande aumento de alunos e disciplinas;

15) Simplesmente responde, quando é ligeiramente questionado sobre qualquer um desses pontos, ou mesmo sobre outros: quem não gostar do projeto, tá fora!

16) E, quando alguém questiona um pouco mais, é demitido ou desvinculado do departamento de EaD;

17) Não se preocupa nem em fazer uma apresentação das disciplinas online para seus alunos, explicando como as coisas vão funcionar, nem mesmo para seus alunos calouros, que têm poucos dias para optar entre cursar determinada disciplina a distância ou presencial, mas ainda não estão nem mesmo aculturados à instituição;

18) Há ainda um problema com o pagamento feito pelos seus alunos (ou por nós todos, via ProUni), pois eles pagam matrícula e mensalidade mas só começam a ter aula 1 mês depois, já que no primeiro mês de aulas não tem aula online!

19) E, por fim (não é brincadeira, não é brincadeira), não paga os professores durante esse primeiro mês – em que não houve aulas mas os alunos pagaram (deve ter sido apenas um engano!).

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Ou seja, um modelo sem flexibilidade no produto nem no processo, sem responsabilidade, sem foco no cliente, centralizador: pré-Fordismo! Um modelo para matar a criatividade, para impossibilitar a inovação.

Supostamente (supostamente, porque disso podemos falar depois com mais calma, outro engano, outro erro, alguém deve estar sendo enganado por planilhas – mas é só ler A Ilusão das Estatísticas) para gerar mais lucros. Porque, e se o marketing funcionar ao contrário? Se a comunidade acadêmica descobrir tudo isso? Se os alunos se conscientizarem do que está acontecendo? Se os professores reagirem? Mas, mesmo que nada disso aconteça, é muitíssimo questionável que esse modelo seja mais lucrativo: uma reestruturação como a da Unisinos trouxe mais qualidade para a educação associada a lucro.

Vote e-leitor: isso é educação a distância? Ou educação… a distância, a muita distância…, a anos-luz de distância…?

Ou, uma pergunta ainda mais filosófica, isso é Educação?

Que compromisso esse projeto e esse departamento têm com a educação, com seus professores e com seus alunos?
Que senso crítico, que visão crítica da realidade um aluno assim formado poderá ter? Que ser humano estaremos formando baseado neste modelo?

Surrealista? Ainda bem que foi só uma brincadeira, lembra? Ufa! Se algum dia isso acontecer, é preciso reagir. Não podemos ficar de cabeça baixa. Alguém precisa ser responsabilizado.

Meu grande professor de violão me dizia: tudo o que a gente leva anos e anos para construir, com muito esforço, pode ruir num instante.

Lucro e educação não é uma combinação natural, mas à distância eles não têm sentido.

Quando não temos certeza de alguma coisa, devemos que tomar cuidado com o que falamos. Mas, nas poucas vezes em que temos certeza, em que conseguimos enxergar as coisas com clarividência, temos então que lutar muito por aquilo em que acreditamos, mesmo com o risco de descobrirmos depois que estávamos errados. Quanto mais certeza na leitura da realidade, mais temos que expor nosso pensamento e lutar. Este é o principal ensinamento que podemos deixar para as próximas gerações. Afinal, somos professores!

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Geração YouTube

Este é o título de um interessante ensaio da Carmem Maia publicado recentemente na Revista Ensino Superior.
A geração que chegará à universidade em 2010 “brinca” com computadores, celulares, iPods, orkut, msn, Ragnarok e YouTube. É uma geração plugada mas (como Carmem afirma) “mimada e solitária”.
A questão é: estamos nos preparando para receber essa geração nas universidades?
A explosão da Internet talvez tenha ampliado ainda mais os gaps entre gerações. e o ensino superior deve se tornar um palco privilegiado para uma batalha por vir.
E então, estamos ou não preparados para receber a geração YouTube?

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