Centenário da Semana de Arte Moderna


Capa do programa da Semana de Arte Moderna de 22, criada pelo artista Di Cavalcanti
Arquivo Mário de Andrade

Algumas informações gerais e uma compilação das atividades que estão sendo promovidas em São Paulo para comemorar o Centenário da realização da Semana de Arte Moderna de 22, realizada nos dias 13 de fevereiro de 1922 (dedicado às artes, com as conferências de Graça Aranha, “A emoção estética da Arte Moderna”, e de Ronald de Carvalho, “A pintura e a escultura moderna no Brasil”, além de apresentações musicais), 15 (dedicado à literatura e à poesia, incluindo palestra de Menotti del Picchia sobre a arte e de Mário de Andrade, e a execução de peças clássicas pela pianista Guiomar Novaes) e 17 (dedicado à música, com apresentação de Villa-Lobos) no Theatro Municipal em São Paulo.

Alguns acontecimentos importantes precederam a Semana: os movimentos artísticos de vanguarda, como Cubismo, Futurismo e Dadaísmo; o desenvolvimento da cidade de São Paulo; a primeira guerra mundial (1914-1918); o envolvimento decisivo de Graça Aranha, autor de Canaã; a aproximação entre Mário e Oswald de Andrade; a exposição de Anita Malfatti (1917), incluindo obras de outros artistas que conhecera nos Estados Unidos; a “descoberta” do escultor Victor Brecheret; dentre outros.

O latifundiário e comerciante de café Paulo Prado foi o “mecenas” da Semana de 22, ao qual se juntaram políticos (como o Governador de São Paulo, Washington Luís), banqueiros, empresários e outros “financiadores”. Caracterizou0se, assim, uma colaboração entre a elite econômica da época e um movimento que se entendia como vanguarda cultural.

Participaram da Semana de 22, dentre outros: Graça Aranha, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Ronald de Carvalho, Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Victor Brecheret, Heitor Villa-Lobos, Di Cavalcanti e Menotti del Picchia. Manuel Bandeira, por problemas de saúde, não participou, mas teve declamado por Ronald de Carvalho o poema “Os Sapos“, que ironizava a poesia parnasiana (o sapo-tanoeiro, parnasiano aguado), contraposto ao sapo-cururu, da beira do rio.


Foto oficial do grupo da Semana de Arte Moderna.
Reprodução Casa Mário de Andrade

Tarsila do Amaral não participou da Semana pois estava na Europa, mas se tornou uma das mais importantes representantes do grupo modernista.

Dentre os críticos da Semana de 22, podemos destacar o escritor Monteiro Lobato, autor do famoso artigo “Paranóia ou mistificação”.

A Semana serviu de inspiração, por exemplo, para a Revista Klaxon (1922), que durou de maio de 1922 a janeiro de 1923, e a Revista de Antropofagia; o Manifesto Pau-Brasil de Oswald de Andrade (1924); o movimento Antropofágico (1928), de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral; o primeiro livro de Carlos Drummond de Andrade, Alguma poesia (1930); “O rei da vela”, peça de Oswald de Andrade montada por Zé Celso Martinez e marco no Teatro Oficina; o Cinema Novo; o Tropicalismo; e a Poesia Concreta.

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O Programa Modernismo Hoje é uma iniciativa da Secretaria de Cultura e Economia Criativa com a Secretaria de Turismo e Viagens do estado de São Paulo, com dezenas de atividades culturais, que envolvem programação cultural e Agenda Tarsila (muita coisa para conferir!). Algumas atividades:

a) “Modernismo. Destaques do Acervo”, na Pinacoteca (13 de janeiro a 20 de dezembro), com dezenas de obras de artistas modernistas que fazem parte do acervo do museu;

b) a exposição “O Atelier de Brecheret’,’ no Museu Catavento, sobre a vida e a obra de Victor Brecheret (10 de fevereiro a 31 de março de 2022);

c) a mostra “Pilares de 22”, no Memorial da América Latina, com caricaturas de artistas brasileiros que influenciaram o modernismo na América Latina (13 de fevereiro a 13 de abril);

d) a exposição “Esse Extraordinário Mário de Andrade”, no Museu Afro Brasil (25 de fevereiro a 30 de junho);

e) projeção mapeada “100 anos de Modernismo / São Paulo celebra a Semana de 22”, do Estúdio Bijari, na fachada do Palácio dos Bandeirantes (13 a 17 de fevereiro).

f) exposição “A Arte Sacra dos Modernistas” no Museu de Arte Sacra de São Paulo, com obras de artistas modernistas criadas a partir da religiosidade e da fé (a partir de abril);

g) galeria multimídia do Museu Casa de Portinari (Brodowski, interior de SP), apresentando as obras de Candido Portinari reunidas em seu Catálogo Raisonné (a partir de abril);

h) mostra multimídia e interativa “100 Anos Modernos” no MIS, com curadoria de Marcello Dantas (a partir de abril);

i) plataforma #CulturaEmCasa vai contar a história dos modernistas por meio de uma projeção mapeada na fachada do Palácio dos Bandeirantes.

Acesse aqui quatro CDs que reúnem as obras apresentadas durante a Semana de Arte Moderna de 1922, incluindo trechos de conferências e poemas lidos.

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Alguns artigos sobre a Semana de 22:

MATOS, Thaís. Semana de Arte Moderna foi cheia de polêmicas, guiou Drummond e influenciou tropicalismo; relembre controvérsias e legado. G1, 13 fev. 2022.
Tem um podcast de 30m sobre a Semana.

SAMPAIO, João Luiz. Centenário da Semana de Arte Moderna: relembre como tudo começou. CNN, 13 fev. 2022.
“Expressionismo, futurismo, cubismo. Esses e outros movimentos agitavam a cena artística na Europa e nos Estados Unidos. A ideia era uma ruptura com a arte considerada passadista. No Brasil, o alvo principal era o século 19, as “poesias perfeitas” do parnasianismo, a arte associada ao belo, a ópera italiana, os poemas sinfônicos, espécie de narrativas feitas por meio da música.”

BERNARDO, André. Por que Semana de Arte Moderna ainda é um marco da cultura 100 anos depois. BBC News Brasil, 12 fev. 2022.

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Sugestões de artigos, capítulos e livros (vou atualizar dinamicamente).

MATTAR, João. Consciência Estética e Ética de Mário de Andrade. Research, Society and Development, v. 8, n. 9, p. 01-21, 2019.
Apesar de não tratar diretamente da Semana de Arte Moderna, discute as propostas estética de Mário de Andrade que marcarão o modernismo brasileiro, como em “A escrava que não é Isaura”.

REZENDE, Neide. A semana de arte moderna. 1. ed. São Paulo: Ática, 2011. (Princípios, 226).
O livro tem uma excelente bibliografia comentada no final.
“O Futurismo pregava: o verso livre, a destruição da sintaxe, o verbo no infinito, a abolição do adjetivo, do advérbio, da pontuação, o uso de substantivos duplos, a “imaginação sem fios”, as “palavras em liberdade”, o vínculo entre as imagens através das analogias. Em especial as analogias serão técnica defendida com muita ênfase por Mário em A escrava que não é Isaura, escrito em 22 (mas só publicado em 25).”
“é de se formular uma pergunta já tantas vezes enunciada ao longo das décadas que se seguiram à Semana: quer dizer então que os modernistas queriam combater as fórmulas importadas das artes acadêmicas com as fórmulas igualmente importadas das novas correntes estéticas?”
“O propagado nacionalismo dos modernistas pós-22 será a união feliz da técnica européia e da matéria brasileira.”

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