EDTECH 597: Teaching and Learning in Second Life – 7th Class – March 06, 2008

Demorei para colocar as informações da aula passada (hoje já tivemos outra), mas aqui vai.

Nos encontramos na EdTech, desta vez num local diferente (mas acho que bobeei nas fotos).

Uma das alunas falou sobre diversos locais de suporte no Second Life, como para pessoas com algum tipo de deficiência, luto etc. E discutimos também o tipo de suporte que podemos dar a novos usuários no Second Life. Não dá para contar apenas com a orientação da Orientation e Help Island, pensando em nossos alunos que entram no SL. Há orientações alternativas, como as fornecidas pelo New Media Consortium, Virtualis e Educators Coop.

Então, visitamos a HealthInfo Island, que tem informações para autistas, saúde etc.

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e também a linda e calma SupportforHealing, no Meeting Circle, que oferece suporte para luto.

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Para variar, muitas visitas, atividades e leituras para a semana:

- IBM’s Orientation Trail in Second Life – post que se refere a uma área de orientação da IBM no Second Life.

- Don’t Come to Class Naked. Immersion, Engagement and Ethos for Freshman Composition Writers using Second Life – slides sobre o uso do Second Life em geral e particularmente em educação.

- Help Island, or is that … Help! island? – um post que fala sobre a Help Island, e das dificuldades de se aprender algo por lá, e mesmo de encontrá-la.

- edumuve.com – lista comentada com locais e sites de interesse sobre o Second Life para educadores.

- Digital Native – definição na wikipédia de nativos e imigrantes digitais, que no final tem um link para um interessante podcast: Tomorrow’s Students: Are We Ready for the New 21st-Century Learners?

- Lessons from Students on Creating a Chance to Dream – longo texto de Sonia Nieto sobre alunos do ensino médio nos Estados Unidos, dando-lhes a voz e defendendo seu direito de sonhar.

- Cap. 1 de Why We Teach, de Sonia Nieto, em que se discute a situação dos professores do ensino fundamental e médio nos Estados Unidos, e por que os professores decidem ser professores.

- Cap. 2 do Pedagogia do Oprimido, do nosso Paulo Freire.

- Dr. Megan S. Conklin – 101 Uses for SL in the College Classroom – Version 2.0. Last updated Feb. 2007. Um texto que usei bastante no Second Life e Web 2.0 na Educação.

- Cheryl Carter – Introducing Your Real Life Students to Second Life – Ainda não achei os tutoriais no Campus Second Life, mas o post é bastante interessante, com dicas muito claras e focadas em como introduzir seus alunos ao Second Life, como preparar atividades e aulas etc.

- Orientation Station – muito legal, tutoriais sobre como andar, como usar chat de voz, como comprar (e com vários presentes grátis), como lidar com o inventário, construir etc., e você ainda pode chamar ajudantes no percurso.

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- NMC Orientation Island – um lugar com orientações muito completas, desde básicas até avançadas para stream de áudio, vídeo etc.

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- How to dress your avatar – uma interessante história em quadrinhos de jokay Wollongong, que procura explicar como vestir o seu avatar.

- Creating Second Life Content – pequeno post com links (que para mim não abriram) para tutoriais de como construir algumas coisas no SL, alguns scripts etc.

- Foram sugeridas duas leituras, das quais acho que ainda não tinha falado por aqui:

Mark Prensky – Digital Game-based learning (recebi da Amazon)

Sonia Nieto – The Light in their Eyes (este não vai dar para pedir)

- Por fim, temos que completar nossa experiência com nosso avatar alternativo, visitando uma comunidade com os dois avatares e interagindo com algumas pessoas. A idéia é avaliar como a apresentação do self interfere na convivência com a comunidade.

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Publicado em EaD, Edtech597, Second Life | 3 comentários

Comunicação e Expressão – terceira semana de aula

Lá se foi a terceira semana de aula da disciplina Comunicação e Expressão.

De língua, conversamos sobre Ortografia. Uma questão “atual” é a novela da Reforma Ortográfica, que se arrasta desde 1990 e que procura unificar a grafia das palavras em todos os países em que se fala a língua portuguesa. Segundo o acordo da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), quando 3 países o ratificassem, a reforma entraria em vigor. O Brasil ratificou a última versão do acordo em 2004, seguido por Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Então, poderíamos considerar que a Reforma já está em vigor. Mas ainda não aderiram Portugal, Guiné-Bissau, Moçambique, Angola e Timor Leste. Uma das pressões contrárias ao acordo vem dos editores portugueses, mas três notícias recentes saíram na imprensa sobre a disposição de Portugal em ratificar o acordo: Portugal dá aval à reforma ortográfica, Presidente português se mostra favorável à mudança na escrita e Portugal terá primeiros dicionários com regras do acordo ortográfico. Com a Reforma, entre outras alterações, as letras “k”, “w” e “y” são incorporadas ao alfabeto, fica abolido o uso do trema (o ü, que quase ninguém mais usa mesmo), é simplificado o uso de alguns acentos e do hífen.

Erros de ortografia pegam muito mal. Como evitá-los?

Praticamos o uso de corretores, como o que já vem com o Microsoft Word. Corretores ortográficos são ferramentas poderosas, que devemos nos acostumar a usar, por exemplo, antes de escrevermos emails ou documentos em que não podem ocorrer erros de ortografia. Mas é preciso saber utilizá-los.

Do ponto de vista de correção ortográfica, os corretores comparam automaticamente as palavras que digitamos, e, quando elas não fazem parte do seu banco de dados (dicionário), em alguns casos elas são substituídas automaticamente. Digite no Word por exemplo “consciencia” sem acento, e quando você pressionar TAB ou ENTER, a palavra será automaticamente corrigida: “consciência”. Como a maioria das pessoas digita olhando para o teclado, essas correções automáticas não são percebidas, e você corre o risco de passar a vida toda digitando várias palavras erradas, sem que tenha consciência disso. Portanto, eu sempre sugiro que a opção de correção automática seja desativada. No Word 2007, ela aparece assim:

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Mesmo com a opção de autocorreção selecionada, apenas algumas palavras são corrigidas automaticamente. Na maioria dos casos, as palavras escritas com erros de ortografia são sublinhadas:

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A palavra “excessão” foi sublinhada automaticamente pelo Word, porque não existe no banco de dados do programa. Se você clicar com o mouse direito, surgirão sugestões de palavras que “parecem” com a que você tentou digitar. Neste caso, a palavra grafada corretamente, “exceção”, é a primeira opção que aparece:

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Entretanto, nem sempre as sugestões do corretor são as corretas. No caso da palavra “dispender”, escrita incorretamente com “i”, nas lista de sugestões do corretor nem aparece a opção correta, “despender”:

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Portanto, não podemos confiar nas sugestões ortográficas do corretor, e sempre que necessário devemos utilizar um dicionário para checar a grafia correta de uma palavra. Dentre os dicionários online, costumo indicar o Priberam. Você sugere mais algum?

Então, com o corretor ortográfico, e um bom dicionário para os casos de dúvidas, todos os problemas de ortografia estão todos resolvidos? Não!!!!!

Você deve ter reparado que havia outro erro na frase em que aparecia a palavra “excessão”: “vou escreve a palavra…”. O correto aqui seria “escrever”, mas por que o corretor não apontou o erro? Porque a palavra “escreve” existe em português, e portanto também existe no banco de dados do corretor. O grande problema são palavras que possuem pronúncia igual ou parecida, mas grafia diferente. Como os casos de “conserto” e “concerto”. Ou “sessão”, “seção” e “cessão”. Se você escrever no Word: “Adorei a seção de cinema” ou “Fui a um conserto de piano”, nada será sublinhado, mas há erros de ortografia tão graves quanto quaisquer outros.

Portanto, o que concluir sobre o uso dos corretores ortográficos (ainda não estamos falando de correção gramatical)?

a) Digite sempre seus textos no Word (ou outro processador que possua correção ortográfica), antes de passar o texto para emails, fóruns tec.

b) Desabilite a opção de autocorreção do processador, para você ser corrigido até que aprenda a grafia correta de uma palavra.

c) Desconfie sempre das sugestões do corretor, e quando necessário use um dicionário para buscar a grafia correta de uma palavra sublinhada pelo corretor.

d) Estude bastante as palavras que têm pronúncia igual ou parecida em português, mas grafia e significados diferentes (na minha aula, disponibilizo para os alunos uma lista dessas palavras, uma seleção dos problemas mais comuns).

Praticamos também o uso correto de a/há (“daqui a quanto tempo?”, “ele esteve aqui há duas horas”) e do “por que, porque, por quê, e porquê”. Criei no Blackboard vários exercícios para praticar o uso dessas palavras e expressões.

Além de ortografia, analisamos e interpretamos mais um poema de João Cabral de Melo Neto, “Catar Feijão”, uma comparação muito interessante entre selecionar feijão e escrever (escolher palavras). No post anterior eu tinha indicado uma comunidade grande sobre o João Cabral no orkut, mas parece que estragaram tudo por lá. Há outras, mas com menos participantes. Dá até vontade de abrir uma nova.

Tenho trabalhado com vários fóruns no Blackboard, propus como atividade uma visita ao Museu da Língua Portuguesa e continuamos a construção de um blog para cada turma, e para ajudar coloquei dois posts nestes dias por aqui: Blogs na Educação e Serviços Essenciais para um Blog. Foi interessante que alguns alunos comentaram que blog era uma coisa feminina – podem até ter sido, no início, mas isso já mudou faz tempo, como esses dois posts comprovam.

Até a próxima semana!!

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Publicado em CE1/2008, Educação | 1 comentário

Transtorno Delirante

Nos transtornos delirantes, um tipo de comportamento psicótico antes chamado de paranóia, a pessoa tem uma crença inabalável em seus delírios, idéias que não correspondem à realidade, em geral inclusive irracionais ou ilógicas. Seu senso de realidade, portanto, encontra-se seriamente deteriorado. Isso acaba gerando um embotamento emocional.

Dentre os subtipos dos transtornos delirantes, podem ser citados:

a) Grandioso: crença de ser profeta, escolhido de Deus etc.;

b) Persecutório: crença de que está sendo alvo de injustiça, prejuízo, conspiração, traição, perseguição ou obstruído em sua busca de objetivos e prazer. É comum o comportamento litigioso (paranóia querelante), com a propositura de inúmeras ações legais nos tribunais. O ressentimento e a raiva podem inclusive tornar a pessoa violenta com aqueles que supostamente a estão prejudicando.

c) Somático: crença de que possui uma doença maligna, podendo realizar exames e procedimentos médicos desnecessários.

O tratamento, ao qual em geral o paciente resiste, deve ser feito com medicação e psicoterapia.

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Serviços Essenciais para um Blog

A PC World publicou em Fevereiro o artigo Blogs: 9 ferramentas e serviços essenciais para criar e sofisticar o seu. Como estamos montando os blogs das minhas turmas de primeiro semestre na Anhembi Morumbi, aqui vai um resuminho das ferramentas que eles comentam.

O WordPress (modelo sobre o qual é montado este blog da Locaweb, e que vem acompanhado do indispensável Akismet para filtrar spams, sem o qual este blog não teria sobrevivido) e o Blogger da Google são as duas ferramentas de criação mencionadas.

Há diversos serviços para administração do blog.

Technorati é um serviço que permite pesquisar e medir a popularidade de blogs (em função de links feitos por outros blogs), que também utilizo por aqui.

Um serviço similar nacional é o BlogBlogs, que também agrega conteúdos como o TechMeme faz com os blogs americanos, mas que ainda está em versão beta. Cadastrei este blog por lá.

Já o Google Analytics mede quantas pessoas foram ao seu blog e quanto tempo navegaram, além de outros recursos interessantes. Incluí por aqui um código para que este blog passe a ser monitorado pela ferramenta.


O FeedBurner do Google, além de acompanhar a popularidade de um feed, indica os posts mais lidos e envia posts por email, dentre outros recursos. Já tenho um endereço para os meus feeds. E também lancei aqui um código para que apareça um ícone para você assinar os posts do blog em um leitor de RSS:

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O Sphere utiliza um ícone no final de cada post, apontando para outros posts, notícias e reportagens sobre o mesmo assunto. Tentei instalar aqui no blog rapidamente, mas não funcionou – preciso testar com mais calma.

O Google Translate é genial: faz a tradução automática pelo Google Translate, para o inglês e depois para diversas outras línguas, ou mesmo de outras línguas para o português. Testei a ferramente adicionando esse gadget, que agora já acrescentei em diversos lugares do blog:

É mencionado também o Creative Commons, para produzir licenças especiais para o conteúdo do blog.

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Fechando Janelas

John Tierney publicou, em 26 de Fevereiro, no The New York Times, o interessante artigo The Advantages of Closing a Few Doors, que foi traduzido 2 dias depois pelo Estadão com o título: Pesquisador recomenda abrir mão de opções em excesso.

Temos dificuldade em descartar opções, mesmo que elas não tenham praticamente sentido nenhum para nós. Achamos sempre que é melhor manter as opções abertas, porque elas podem ser úteis em algum momento. Mas isso pode funcionar ao contrário e se tornar contraprodutivo.

No jogo citado no artigo, os alunos literalmente fazem de tudo para manter as portas abertas. Mais do que preservar uma oportunidade futura, o experimento mostra que é doloroso ver as portas se fecharem para nós.

Ou seja, temos dificuldade em focar. Afinal de contas, para focar, precisamos abandonar muitas outras coisas.

Este é um dos temas do livro Predictably Irrational: The Hidden Forces That Shape Our Decisions, de Dan Ariely.

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Esquizofrenia em Fotos

Em Portrait of Schizophrenia, a fotógrafa Amanda Tetrault faz uma rápida e tocante foto-narração da luta de seu pai contra a esquizofrenia.

Publicado em Psicologia | 2 comentários

Blogs na Educação

A palavra blog é uma abreviação da expressão web log. O blog é uma ferramenta que possibilita a publicação na Internet sem a necessidade de conhecimento de linguagens de programação.

Blogs podem ser utilizados em educação como plataformas de comunicação, como fontes de pesquisa e para a criação de conteúdo por parte dos alunos e dos professores, e têm sido utilizados não apenas na educação superior, mas também no ensino fundamental e médio. Existem inclusive blogs especificamente voltados para a educação, os blogs acadêmicos.

Os blogs podem ser pessoais, ou seja, administrados apenas por uma pessoa, como é o caso do Educação Inovadora, do professor Moran, mas podem também ser coletivos, em que várias pessoas têm permissão para administrar e escerver posts, como é o caso do Crooked Timber.

Alguns dos serviços populares que possibilitam a produção e publicação de um blog são: WordPress, Blogger (do Google) e Bloglines. Edublogs é um serviço especializado em blogs educacionais. Technorati é um dos serviços mais importantes para o acompanhamento de blogs.

Os micro-blogs são um fenômeno recente, voltado para comentários menores, rápidos e com atualizações constantes do que se está fazendo. Já escrevi um post procurando classificar os micro-blogs entre as redes sociais e os blogs. O destaque é o Twitter, sobre o qual já escrevi Twitter na Educação.

Pode-se sofisticar um blog utilizando RSS’s e widgets, por exemplo.

Publicado em Computação, EaD, Educação | 2 comentários

Comunicação e Expressão – 2 primeiras semanas de aula

Acho que pela primeira vez na vida estou ministrando em um semestre apenas uma disciplina, Comunicação e Expressão, para 4 turmas diferentes na Universidade Anhembi Morumbi: 2 turmas de Sistemas de Informação, 1 turma de Engenharia da Produção e 1 turma pool de Engenharia da Produção/Civil/Elétrica. Isso, é claro, ajuda muito para que o trabalho do semestre seja bastante focado, pois quando ministramos muitas disciplinas diferentes, temos que ficar mudando o interruptor de uma aula para outra, a todo momento.

Pretendo colocar reflexões semanais sobre a disciplina no blog, e então criei a categoria CE1/2008, assim você pode acompanhar tudo o que está rolando no semestre.

Reorganizei e simplifiquei a cara do Blackboard, mantendo apenas as pastas que estamos utilizando até no momento.

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Os avisos (no mínimo semanais) que coloco no sistema são também copiados por email para os alunos.

Fiz também um treinamento em laboratório para todos os alunos, no uso do Blackboard, já que utilizo o programa intensamente nas minhas aulas, e eles utilizarão o Blackboard na Anhembi até o final do curso, em todas as disciplinas.

Criei um fórum para negociação do currículo e dos critérios de avaliação com os alunos. “Aprendi” isso no curso que estou fazendo na EdTech. Há diferentes assuntos que costuam ser abordados em uma disciplina de Comunicação e Expressão, como língua, lingüística, análise e interpretação de textos, e uso de ferramentas da Web para comunicação. Propus um programa inicial, mas pedi para os alunos dizerem o que gostariam mais de estudar, quais são suas principais deficiências em comunicação, e inclusive para comentarem sobre os critérios de avaliação propostos. Isso, além de ajudar o professor a direcionar o curso para os alunos que efetivamente tem na classe, transfere também para os alunos a propriedade do seu processo de aprendizagem.

A maior parte dos alunos prefere fazer trabalhos do que provas.

Quase ninguém se interessa por estudar lingüística (sobre o que, entretanto, muitos programas de Comunicação e Expressão estão estruturados), mesmo porque provavelmente pouca gente tenha uma noção muito clara do que signifique lingüística. Tema, portanto, que abordarei apenas de leve no curso, uma ou outra vez.

Muitos alunos chamam a atenção de que o estudo da utilização de ferramentas da Web para comunicação é interessante porque tem utilização no mercado de trabalho. Portanto, ferramentas da informática e especialmente Web 2.0 serão temas essenciais da disciplina. Eu pretendia inclusive realizar uma atividade de criação de blogs durante o semestre, mas uma turma já foi mais rápida e criou seu blog. Então, já propus a mesma atividade para as outras, e eis aqui o nascimento de alguns blogs:

Engenharia da Produção – campus Vila Olímipia – noturno

Sistemas de Informação – campus Vila Olímpia – noturno

Engenharia da Produção – campus Vila Olímpia – manhã

Assim que os outros 3 estiverem criados, coloco por aqui também. Como comentei com os alunos, o espírito do curso é aprender fazendo, ou seja, eles vão produzir muito material durante a disciplina, que poderão colocar em seus blogs por exemplo.

Todos os alunos desejam aperfeiçoar sua comunicação escrita, e inclusive chamam a atenção para a dificuldade em escrever emails e para a confusão criada com a linguagem mais informal da Internet, vícios de linguagem, detalhes na redação de mensagens (como subinhado, maiúsculas etc.), além da obrigação de redigir um longo TCC no final do curso. Portanto, vamos trabalhar a escrita (partindo dos erros mais comuns), vamos discutir a influência que o internetês está causando na norma culta do português, e vamos também praticar um pouco a redação de emails, a construção de parágrafos e de textos mais longos.

E muitos reclamam que têm dificuldade na interpretação de textos, incluindo textos técnicos, propaganda etc. Durante o semestre, vamos então trabalhar análise e interpretação de diversos tipos de textos, como poemas, contos, textos técnicos, propagandas, filosofia, psicologia, músicas, imagens, filmes etc.

Requisições comuns também são trabalhar a expressão oral, a comunicação em grupo, a apresentação em palestras, ou seja, falar em público em geral, quando muitas vezes as pessoas travam. E, afinal de contas, serão exigidos seminários dos alunos, durante todo o curso, em diferentes disciplinas. Portanto, comunicação e expressão oral farão também parte do currículo.

Discutimos também o primeiro texto do curso, sobre ensino de língua, e análise e interpretação de textos. O domínio da língua e a capacidade de ler e compreender textos em nosso país é um problema social grave: no último PISA, por exemplo, os alunos brasileiros ficaram em um dos últimos lugares no mundo no quesito leitura. O assunto acaba gerando discussões sobre a remuneração e condições de trabalho dos professores, a diferença entre o ensino público e privado, etc.

Além disso, analisamos e interpretamos o poema Tecendo a Manhã, de João Cabral de Melo Neto. Existe uma comunidade interessante sobre João Cabral no Orkut, para a qual direcionei os alunos como atividade.

Se você tiver alguma sugestão ou contribuição, algum material que utilizou (como aluno e professor) e que pode ser útil para nós, etc., poste por aqui. Seremos muito gratos!!

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EDTECH 597: Teaching and Learning in Second Life – 6th Class – 28 Feb. 2008

Ontem tivemos nosso sexto encontro do curso no New Hope Lake, um ambiente muito agradável, à beira de um lago, com sons de patos…

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Isso sem dúvida traz um componente muito interessante do ambiente para o processo de aprendizado.

Um convidado conversou conosco sobre questões de identidade e gênero, no Second Life e no mundo virtual em geral.

As leituras para esta semana são:

- Uma pequena parte do interessante “The History of Education: selected moments of the 20th century – A work in progress edited by Daniel Schugurensky”: 1970: Malcolm Knowles Publishes The Practice of Adult Education: Andragogy vs Pedagogy”, em que o trabalho de Knowles é comentado. Em 1970, ele publica The Modern Practice of Adult Education: Andragogy vs. Pedagogy, em que populariza nos Estados Unidos o conceito de andragogia e a idéia de que os adultos (“andra”, em grego) são alunos diferentes das crianças (“peda”, em grego). A andragogia incluía novas premissas para a educação em uma sociedade em constante mutação, apesar de que muitas dessas premissas já vinham sendo utilizadas por educadores progressistas como John Dewey, Maria Montessori e Alexander Neill (com as experiências na Sumerhill School). Mais do que pensar na diferença entre andragogia e pedagogia em função da idade do alunos, e nas confusões que essas idéias acabaram gerando, pode-se pensar na diferença entre aprendizado auto-direcionado e aprendizado direcionado pelo professor.

- Adult Learning Theory – uma pequena lista de sugestões para o planejamento da educação para adultos, baseada em: Speck, M. (1996, Spring). Best practice in professional development for sustained educational change. ERS Spectrum, 33-41. São citados, dentre outros pontos, a necessidade de que o conhecimento seja relevante e possa ser aplicado no mundo real e profissional, e de trabalho em pequenos grupos.

- Moving from Pedagogy to Andragogy – Adaptado e atualizado de: Hiemstra, R., & Sisco, B. (1990). Individualizing instruction. San Francisco: Jossey-Bass. Um texto curto sobre andragogia, que inclusive aborda algumas críticas ao modelo de Knowles, com uma longa lista de referências comentadas no final.

- Gibbons, H. & Wentworth, G. (2001). Andrological and pedagogical training differences for online instructors. Online Journal of Distance Learning Administration, Volume IV, Number III – um pequeno artigo que discute os conceitos de andragogia e pedagogia em função da EaD. Novamente, chama-se a atenção para a importância de incorporar a experiência do aluno adulto no seu processo de aprendizado, do aprendizado voltado para a prática, e da necessidade de treinamento do facilitador online.

- Types of Online CME Instruction, uma lista de recursos pedagógicos online utilizados em Educação Médica Continuada.

- Fidishun, D. (2006). Andragogy and technology: Integrating adult learning theory as we teach with technology – artigo que discute o uso dos princípios da andragogia para o design instrucional de cursos que utilizam tecnologia.

- Engagement in Second Life Learning – excelente palestra de Sarah Robbins (SL: Intellagirl Tully), na SL Best Practices in Education, em que ela discute o envolvimento dos alunos na educação superior e como os mundos virtuais podem ser usados para recapturar a atenção dos alunos dentro e fora da sala de aula. O Second Life é uma ferramenta com um potencial único para criar comunidades de aprendizagem, muito mais interessante do que ferramentas assíncronas chapadas, que têm sido o padrão. Uma ferramenta poderosa para facilitar o envolvimento dos alunos, não há outra ferramenta com esse potencial. Precisamos ouvir os alunos e aprender o que eles desejam, e oferecer para eles um modelo de educação com o qual eles possam se envolver. A palestra é seguida de várias perguntas e respostas bastante interessantes.

- E uma dica com as ferramentas grátis para professores no SL, da EduNation.

Recebi também finalmente o livro de Games, que tinha pedido faz tempo pela Barnes&Noble, então vou poder colocar em dia os capítulos atrasados.

Além disso, tivemos de realizar duas atividades práticas, de construção de um avatar muito diferente do nosso (criei a Peixe Spad):

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e de role-play – levei a minúscula Peixe Spad para desafiar os enormes guerreiros de Esparta (um lugar muito legal):

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Publicado em EaD, Edtech597, Educação, Second Life | 7 comentários

A Dramática Arte Moderna – Conto de Adalberto Tripicchio

A Dramática Arte Moderna
Adalberto Tripicchio

Ele era Pedro.
Ela era Zilfa.
Eram casados.
Eram pintores.
Eram modernos.

A mesma afinidade pela pintura moderna os ligara. Conheceram-se numa exposição de arte moderna. Casaram-se. E a casa deles, antes de ser um lar, era uma oficina de traba¬lho, uma exposição de pinturas surrealistas, cubistas etc. Quase não se viam paredes. Era só quadros. Nus, auto-retratos, naturezas¬-mortas, paisagens, detalhes, mas, sobretudo, telas de sentido problemático, subjetivista, sim¬bólico. Uma delas era do tamanho de uma grande janela. Tinha o fundo verde carrega¬do e duas linhas se cruzando: uma vertical e outra horizontal. “Vida e Morte” era o nome. Foi Pedro quem a pintou. Esteve em exposição e vários críticos de peso falaram dela. Houve até polêmicas em torno da obra. Foi muito discutida. Os críticos dividiram-se em dois grupos: os que aceitavam e consagravam “Vida e Morte” e os que a combatiam. Estes diziam que “Vida e Morte” não passava de alto charIatanismo e aqueles afirmavam que “Vida e Morte” era uma epopéia pictórica. Houve um entendido de arte que disse: “‘Vida e Morte’ é a Pedra de Roseta da pintura moderna; é a chave da nova estética contemporânea”.
Uns combatiam. Outros consagravam.
E a tela ali está; orgulhosa de sua história.
Há também um retrato de Pedro, pintado pela mulher. Olhos enormes e desiguais. Rosto triangular. Boca cônica. Testa sumida e a ca¬beça repuxada para cima – “símbolo de elevação intelectual” como explicou Zilfa. As cores eram fortes, cruas, separadas.
E Zilfa também tem seu retrato, pintado pelo marido. É de corpo inteiro e no tamanho
natural. Levou uma hora para fazê-lo. Zilfa aparece esguia, reta, uniforme como uma coluna, fazendo a cabeça as vezes de capitel. Cabeça grande como uma bola de praia. Os olhos qua¬drados, fechados. Boca grande, semi-aberta, mostrando dentes agudos, vermelhos, separados. No canto esquerdo da tela, um pequeno avião envolto em nuvens. É um símbolo. Símbolo da elevação de espírito. Numa das paredes da sala de jantar, um enorme quadro, tomando-a por extenso. Foi feito de colaboração pelo casal. Trabalharam nele durante quase dois meses. As cores são variadíssimas e à primeira vista nada se percebe. É tudo confusão. Mas, visto parte por parte, figura por figura, linha por linha, então ele se revela em toda sua plenitude. O fundo todo é amarelo vivo. Bem no centro, uma árvore preta e azul, de folhas largas e grossas. À direita, no alto, quatro olhos enormes lançam chispas verdes, brancas e vermelhas. À esquerda, tam¬bém no alto, um par de dentaduras postiças emi¬tindo notas de música e pequenas lagartixas. Essas as figuras principais. Agora, espalhados por todo o quadro, milhares de objetos esparsos, sem ordem, confundindo-se, remontando-se, al¬guns de cabeça para baixo. Um relógio de pa¬rede. Um copo quebrado. Uma cabeça de ca¬valo. Uma mesa de perna quebrada. Um balde. Uma bomba de gasolina. Um telefone tocando. Uma garrafa tombada. Um cachorro azul. Um par de orelhas verdes. Um canhão cor-de-rosa. Um ramo de flores pretas e marrons. Um peda¬ço de corrente. Um violino derretendo-se. Duas mariposas com cabeça de homem. Uma taça de champanha transbordando cobras. Uma cara de máscara tendo no buraco dos olhos duas for¬migas roxas. Um tripé formado por muletas sustenta um presunto. Uma panela cheia de re¬lógios-pulseiras e ossos de galinha. Um pé de porco pendurado numa orquídea. Uma âncora enorme serve de cabide a um soutien de mu¬lher. Uma seringa de injeção cravada numa laranja. Uma cinta de mulher recheada com na¬bos, cenouras e berinjelas. E milhares de outros objetos se cruzam e se confundem, dando idéia de um cardume de peixes alvoroçados. Na mol¬dura, uma placa e na placa um título: “AMOR”.
Desde a saleta da entrada até a oficina de trabalho dos dois, tudo é pintura, tudo é arte. Estatuetas, bibelots, móveis, cortinas, tapetes, pintura das paredes, tudo, tudo obedece ao mes¬mo estilo pictórico ultramoderno, avançadíssimo no tempo e arrojado na concepção. Tudo é cubismo. Tudo é surrealismo. Tudo é moder¬nismo. Até o cachorrinho – Júlio – tem fei¬ções cubistas. Parece que absorveu a atmosfera ambiente, sintonizando suas formas com o meio. Mimetizou-se.
Desde a saleta da entrada até… tudo é arte, mas sobretudo pintura.
Os quadros disputam lugares nas paredes, comprimem-se na ânsia de aparecer, de tomar um lugar ao sol. São centenas e centenas deles. E o casal não pára de produzir. Toda semana são dois ou três a mais. De modo que o espaço já está se tornando um verdadeiro problema. Vender não vendem, porque são artistas na verdadeira acepção do termo. Longe deles a idéia de ven¬da. Produzem pelo gosto de produzir, para dar vazão a um sentimento estético, obedecendo uni¬camente a essa ânsia interior que todos os artis¬tas sentem. Além disso, aqueles quadros são como filhos, são como criaturas vivas, semoven¬tes, que eles criaram, e agora vivem do embeveci¬mento de contemplá-los.
Ficaria muito extenso descrever aqui todas essas produções. Que vá as mais interessantes. “A Mão do Homem” é assim: um arco-íris for¬temente colorido, mergulha suas extremidades em dois baldes cheios d’água. Perto deste está “Velho Tema”: sobre um tablado está um sapa¬to de homem sobre um de mulher. Atrás, uma asa de anjo. Atrás de tudo, uma buzina de au¬tomóveI. Um outro, representa sobre uma su¬perfície cor de terra uma dentadura ao lado da parte terminal de um intestino grosso. Chama-se “Síntese”.
Agora, este aqui que ganhou medalha de ouro na última exposição a que Pedro concor¬reu. Medalha de ouro. Críticas favoráveis, elo¬gios, estudos, reproduções, cópias em todos os jornais, cumprimentos dos colegas, dos amigos, das altas autoridades. Foi um sucesso. Foi um acontecimento. Todos os jornais falaram dele ¬e do autor, trazendo fotografias dos dois e lon¬gos artigos de fundo. A cidade inteira foi ver ¬a obra genial. Os entendidos, os curiosos, os amadores de arte, os estetas, os artistas e os inve¬josos também. Durante todo o tempo que o quadro ficou exposto, a afluência de povo era enorme. Todos queriam ver. Houve até pedi¬do, por parte de um cônsul, de reprodução para um museu do estrangeiro. E Pedro concedeu. Houve também altas ofertas em dinheiro. Mas Pedro não vendeu.
E como era o quadro?
Era assim. A figura de corpo inteiro de um menino de um ano e meio, mais ou menos. Estava de pé olhando para a frente. Olhos grandes, parados, quadrados, roxos, tristes e me¬lancólicos. A cabeça era grande como um aquá¬rio, contrastando com o corpo que era do tamanho de um palmo apenas. Uma das pernas era fina, destoando da outra que era excessivamente grossa, lembrando um tronco de bananeira. Um dos braços era curto e o outro comprido até o chão. As maçãs do rosto salientes e os lábios cortados ao meio. E essa figura de criança era colorida de verdes crus, vermelhos berrantes, amarelos, brancos, azuis, roxos, negros, cinzas. No lugar do umbigo um buraco apenas. E o no¬me do quadro era Baby.
Conforme Pedro explicou em entrevista pelos jornais, Baby era o símbolo das infinitas possibilidades que o artista moderno encontra nesse novo setor da arte, onde é mil vezes mais livre do que na arte clássica. Assim, o moder¬nismo tem um sentido libertador. O artista apa¬rece mais, tendo mesmo oportunidade de fazer figurar sua personalidade nas linhas, nos dese¬nhos, nos coloridos, nos planos. Tomando par¬te na obra como força viva e evidente.
E a deformação? – inquiriu um jornalista.
E Pedro respondeu: Aquele que não admite a deformação nas artes modernas é sinal de que ainda está preso ao velho conceito de arte, de beleza. É sinal de que ainda não chegou ao grau de perfeição necessário para entender e, sobretudo sentir uma obra da escola moderna. É sinal de que ainda não se desvencilhou da gri¬lheta clássica. Essa deformação não é gratuita e nem acidental. Tem a sua forte razão de ser, razão essa que ficaria muito extenso expor aqui, pois é matéria para um tratado inteiro. Bem poucos os privilegiados, os capazes de ver, sentir e admirar um trabalho moderno, sem ter aquela irritação do leigo, do não iniciado. E existe uma beleza infinita na pintura moderna. Não a beleza no sentido clássico, mas no sentido novo, atual. Além disso, o que muitos julgam deformações, para o artista são interpretações, são expressões, são modos de exteriorizar sua arte, sua alma, sua força de criação. Isso que o povo chama de de¬formação, é apenas um dos inúmeros recursos que o artista moderno emprega para obter efeitos. E ninguém pode negar de boa fé que esses efeitos não são surpreendentes e profundamente dramáticos. A deformação que o leigo julga arbitrária e material tem para o artista um sentido subjetivista, abstrato. A pintura moderna é bem a interpretação inédita de um imenso mundo novo. Sim, um mundo novo: o mundo moral, intelec¬tual, anímico. Isso que o povo tacha de defor¬mação, é antes uma maneira de traduzir uma si¬tuação, um estado qualquer de alma, um conflito espiritual ou uma circunstância qualquer. Através de séculos e séculos o indivíduo recebeu impressões de beleza sempre no velho sentido clássico. De modo que seu aparelho receptor de emoções está condicionado a esse meio, só aceitando por isso sensações desse tipo. E instintiva-mente repele tudo que não obedece a esses moldes milenares. Sua somática é o resultado de mi¬lhares de gerações e civilizações. E assim, tudo que sai fora das linhas traçadas por essa somá¬tica é julgado imoral, aberrante, depravado. Co¬mo se nota, as causas da não aceitação dessa nova modalidade de arte tem suas raízes antes na for¬mação individual do que na qualidade da arte moderna em si.
E as cores?
São berrantes, são cruas, são fortes, são primárias, mas isso tudo não é arbitrário. Tem um poderoso motivo de ser. É uma nova in¬terpretação cromática. Além disso, o pintor mo¬derno não se subordina à natureza. É livre. Pinta uma árvore de azul ou um homem de ver¬de, conforme a maneira como esteja sentindo no momento. E, pensando bem, uma árvore não tem de ser necessàriamente verde. Por quê? Porque é natural. Mas a pintura moderna não obedece a natureza. Para o pintor moderno, um homem pode ter a cabeça quadrada e os olhos triangulares, assim como um gato pode não ser um gato e sim um botão de rosa ou uma cadeira-de-balanço. É o surrealismo. É o simbolis¬mo. É o cubismo. Uma revolução radical con-tra o que estava estabelecido, aceito e não discuti¬do. E como tal, a arte moderna deixa-se levar às vezes por certo exagero, mesmo porque toda forma de pensamento novo reveste-se de certo calor extremista. Além disso, ela precisa ser assim, porque a tendência geral é de combater o que é novo e diferente. Mas a arte moderna não é uma revolucionária destruidora, inconsciente, vandálica. Destrói os velhos ídolos, as velhas crenças, mas constrói logo em seguida outros ídolos mais verdadeiros, mais tangíveis, mais humanos. O modernismo em geral surgiu para transformar o mundo, para melhorá-Io, para libertá-Io de todos os cIassicismos, acade¬micismos rígidos, pragmáticos, que impedem o surto espontâneo do pensamento humano, a ma-nifestação do gênio, a irrupção dos autênticos valores, quebrando todas as cadeias, abrindo to¬das as portas, franqueando todos os tabus de ar¬te. E dia virá em que esse povo refratário a tudo que é moderno reconheça e consagre essa nova concepção de arte, formando com ela solução de continuidade, resolvendo seus problemas por meio dela. Sim essa arte moderna, além do sen¬tido puro, tem o sentido utilitarista. E então surgirá um novo mundo, mais belo, mais huma¬no e, sobretudo mais inteligente. Será a reden¬ção da Terra por essa arte que ora surge. A es¬cultura falará ao povo, através de sua linguagem nova, pregando teorias até então incompreendi-das. E assim a música, a arquitetura e demais artes. A pintura transmitirá ao povo, por meio das cores, das formas, das linhas arrojadas e das subintenções, o verdadeiro e único sentido do belo. O sentido de beleza que existe nessas figuras aparentemente monstruosas como Baby é sublime. Baby não é belo aos olhos dos leigos, mas é divinamente lindo aos olhos do artista. E por quê? Porque o artista é uma sentinela avançada no tempo. Antecipa-se ao rolar dos séculos. Vê os acontecimentos antes mesmo que a comunidade sequer os pressinta. Por isso, todo artista é um vanguardista e por ver antes dos ou¬tros, quase sempre é chamado de visionário, de maluco, de charlatão. Mas é antes de tudo um privilegiado, se se pode chamar privilégio ao ato de receber as pedradas dos fariseus. Sim, a maio¬ria dos leigos em arte moderna é farisaica, não procura compreender e ataca sem direito. Mas o esplendor do modernismo deslumbrará um dia os olhos dessa massa descrente.
Assim falou Pedro ao jornalista. E se fosse Zilfa a entrevistada, também falaria da mesma maneira. Pois os dois são modernistas ao grau máximo: na tangente do fanatismo. Apóiam incondicionalmente, irrestritamente, moralmen¬te, materialmente tudo que tenha cunho moder¬no. Assinam revistas, jornais. Assistem a conferências. Promovem reuniões de arte. Visitam e tomam parte em todas as exposições. Com-pram quadros, objetos de arte. Ajudam o ar¬tista pobre. Aplaudem o artista do dia. Escrevem longos artigos de fundo sobre sua arte, ex¬pondo teorias avançadas, projetos arrojados e concepções ultramodernas.
Uma vez por semana reúne em sua casa um grupo grande de amigos. Todos artistas. Todos modernos. Falam, conversam, discutem e às vezes até brigam. Assunto: arte moderna. Mostram-se suas produções da semana, inclusive produções literárias, em prosa e verso. E numa dessas reuniões, um dos literatos presentes leu este trabalho surrealista, que, aliás teve de repetir doze vezes, tal foi o entusiasmo com que o rece¬beram. Agradou cem por cento e o autor foi unanimemente aplaudido. O trabalho chama¬-se “Surrealismo”. E o seu autor explicou que o surrealismo não só é possível em pintura, es¬cultura, como também em literatura e futura¬mente até em arquitetura. Ali estava uma pro¬va irrefutável. Bem, vai aí a reprodução exata desse trabalho:
“Foi naquela sexta-feira do co¬meço do mundo! Um osso de pescoço descansa sobre uma pe¬dra, com a perna cruzada e o olho na terra. Sai fumaça de um buraco distante, quadrado, preto. ¬Alguém medita. Uma boca fala. A árvore range nos gonzos. As nuvens param para ouvir a conversa das areias verdes, que bailam no caracol de uma avestruz encantada. É tudo silêncio porque nada brilha. Existe no chão uma briga de anjos. Um relógio dança sobre a som¬bra de uma agulha. As nuvens riem do rabo de uma flor amarela. Um olho conversa com outro olho na fala imensa e melancólica de uma lata de salsicha. O ponteiro dos séculos fura a casca do ovo. O sapato azul voa com as asas negras emprestadas ao anjo. Alguém falou? Mentira. Vem para cá um rolo de barbante no molho de laranja. O calcanhar espreme os dentes. O rio grita. A gravata chora. A pena do ganso escreve uma porção de besteiras em cima do calo do soldado. Um gramado de pelos bran¬cos diz: ‘Vai que está na hora. A cruz do mun¬do foi queimada nas águas do vulcão’. A cobra de vidro se mexe em cima de um fio de linha. ¬Uma calça de mulher sorri para um violão sem orelhas. Vende-se um bom chaveiro. Tudo, tudo é ventania mansa. As línguas se torcem embaixo da cesta de seda. A barriga da perna está dormindo. Uma pelota se ota. Um coelho olha pelo buraco de um olho. Vem gente de fora. Vem gente de dentro. Vem gente de cima. A lingüiça conta uma história de onça. O capote do burro arreganha os pelos. Veja quem falou assim vermelhamente. Os cristais respondem com as barbatanas do tigre. Brilha, brilha, bri¬lha. Em que pé estamos? Passa correndo uma montanha. Trepa no galho de uma casa. Uma risada gostosa rima com aquele retângulo de espuma. O verniz não pega. A mulher espreme a nuvem e bebe o caldo. Hoje tem espetáculo? Que cartola é essa? Tira o sapato e pisa nas costas. A mesa é torta. O mundo sonha. O telefone toca. O livro enlouquece. A lâmpada é verde. O dinheiro é verde. Tudo é verde. Veja corno está saindo fino, Lino, menino. Pavão que muge não soletra. Soletra? Penetra? Meleca? Desculpe senhorita. Ria, pirria. Uma perna foi de trem. Uma perna foi de trem. Bem, bem, bem. A corneta marcha sobre a cintura das velhas rezadoras. Nossa que troça! Veja coruja! Fuja pituja! O branco da vida está de braço com a parreira. Bonito! Sol! Água! Penico! Pirulito! Senta em cima do rio e come a canoa do aviador. Mede com a régua a mentira que a janela está contando. Abra a mão. Abro a mão. Mão aberta. A testa tem uma mancha. A mancha é de peixe. Ora, deixe. Foi naquela sexta-feira do começo do mundo.”
Esse trabalho foi aplaudido e reproduzido como obra-prima em todas as revistas modernas.
Assim eram as reuniões do casal.
E se alguém, nessas reuniões, cai na asneira de defender a arte clássica, pobre desse alguém. Chuvisca, chove, caem tempestades sobre a vítima! Chamam a vítima de louca, de ignorante, de falha de senso artístico e até de quinta-coluna. Mas isso só aconteceu uma vez, foi o caso de um jornalista ingênuo. Ele caiu na besteira de perguntar por que os artistas modernos quando pintam figuras de homens ilustres, o auto-retrato ou parentes, não usam do processo cubista, surrealista ou supra-surrealista, isto é, deformações, linhas tortas e cores cruas. E se usam, é só em termos.
Por que?
Os presentes não responderam de pronto. Falaram todos durante mais de uma hora. Fizeram um levantamento censitário de todos os valores da equipe moderna. Falaram de artes e artistas, de homens e de obras, de idéias e de realizações. Citaram Monet e Manet, Cézanne e Gauguin, Van Gogh e Thomaz Benton, Picasso e Portinari, Dali e Marinetti. Referiram-se aos crayon noir de Van Gogh e ao seu suicídio. Vieram à baila todos eles. Vivos e mortos. Foi um desfile de nomes e de particularidades afetas a eles. Dum que brigava muito com a mulher, abandonou o emprego e fugiu para uma ilha do Pacífico. D’outro que tinha o costume de só pintar quando dentro de uma bacia com água. Falaram também daquele que pintava um quadro por dia, como galinha que põe um ovo por vinte e quatro horas. Falaram das divinas proporções e da quadratura do círculo, da reflexão da luz e da velocidade do som, das origens da grafite e de D. Quixote de La Mancha, das Pirâmides do Egito e das cores do arco-íris, da astrologia e da hortelã-pimenta, da metafísica e das minhocas de duas cores, da bomba atômica e da ilusão de ótica. Falaram de tudo, mas não responderam à pergunta do jornalista ingênuo. Foi um bombardeio em regra, sem trégua, sem piedade. Todos falaram. Todos citaram. Todos tiraram sua mordida das carnes daquele indiscreto. E ele ficou na mesma. Vencido, esfrangalhado, com a cabeça grávida de confusão, o jornalista bateu em retirada. E nunca mais apareceu no grupo. E quando o inimigo desapareceu na última curva do caminho, soou uma gargalhada geral! Uma autêntica gargalhada surrealista!
Um mês depois, esta cena estava fixada num quadro. Fora idéia de Zilfa. Lá estavam
na tela doze ou treze fígados de bocas abertas, gargalhando. Cada um de uma cor: um verde, outro roxo, outro amarelo etc. E Zilfa foi muito felicitada e aplaudida pelos colegas e pelos amigos do marido. Acharam que a idéia foi genial. E no centro desse círculo de fígados, uma interrogação tímida e transida. Era o in¬discreto. O jornalista ingênuo. E Zilfa dera mesmo ao quadro o nome de “O Indiscreto”. Todos acharam muita graça e o episódio foi bi¬sado. Sem o jornalista, é claro.
E as reuniões continuaram. – O casal pros¬seguiu pintando. E o público falando bem ou mal deles. Mais mal do que bem.
E nesse ambiente viviam perfeitamente bem, como peixe na água. E o casal pintava e a vida continuava. O sol saía e se punha. A lua brilhava e empalidecia. O tempo rolava sobre si mesmo…

* * *

Numa bela manhã, Zilfa sentiu ânsias de vômito. E no outro dia também. E no outro idem. Foi quando chegou à conclusão de uma possível gravidez. Comunicou ao marido. Foram ao médico. Confirmada gravidez de um mês. Exultaram. Pularam de alegria. Sentiram-se imensamente felizes. E já imaginaram a criança nascida, crescida, falando, brincando. Sonharam nesse dia e sonharam em todos os ou¬tros que se seguiram. Os dois queriam um ho¬minho. Escolheram nomes. Compraram roupinhas. Encomendaram o bercinho.
E os enjôos de Zilfa continuaram. E o tempo passou.
Zilfa não suportava o cheiro de fumaça de cigarros. Pedro deixou de fumar. E os dois pensavam na criança, como se já fosse coisa real.
Um menino gordinho, rosado, de covinhas no rosto e perninhas tortas. Parecia mentira que eles iam ter um filho. Parecia sonho. Parecia impossível. Mas a barriga de Zilfa, cada vez maior, foi afirmando mudamente a realidade.
Zilfa não suportava também o cheiro de tinta fresca, de modo que não podia mais pintar. E teve de privar-se desse seu mister predileto. E sentiu sem querer um grãozinho de raiva daquele serzinho que se mexia dentro dela. Pedro agora trabalhava só. Zilfa não podia nem mesmo entrar no barracão, onde era a oficina de trabalho. Vinha-lhe imediatamente ânsia de vômito. Precisava ir embora. Uma vez resistiu contra o enjôo e insistiu em ficar no barracão. Foi a conta: veio tudo pra fora. Nesse dia, sen¬tiu outra vez raiva do filho. Por fim acabou renunciando à pintura. Passava os dias lendo, tricoteando, vendo os quadros. E quando se aborrecia de ficar em casa, saía. Ia visitar as amigas, fazer compras e ver as exposições de arte na cidade. E permanecia horas no meio dos quadros, estudando-os, analisando as técnicas, com¬parando estilos, admirando detalhes. Por fim a barriga ficava pesando o dobro e ela tinha de ir embora. Mas voltava no dia seguinte, se deixara a análise de uma obra incompleta.
À noite saíam os dois juntos. Faziam longos passeios a pé. O médico dissera que fazia bem. Conversavam então sobre arte e Pedro punha a mulher ao corrente do que estava fa¬zendo: de um novo quadro que começara, do es¬tilo dele, do tema, das cores empregadas. A mulher ouvia atenta, dava sugestões, reprovava detalhes, aplaudia a idéia ou elogiava a psique das cores. Mas, esse assunto de arte, aos poucos ia derivando para aquele outro assunto predomi¬nante que enchia os dois: o filho. E falavam dele como se já tivesse nascido. E concordavam os dois em que “ele” seria um grande artista. Um grande pintor. Seguiria a carreira dos pais, guiado por eles. Desde muito cedo haveriam de iniciá-Io na pintura. Os grandes prodígios mundiais começaram sempre cedo. Nada de perder tempo. Ensinariam a ele todos os segredos da arte. Fariam florir, no pequeno ser, o mais cedo possível, toda a herança de hereditariedade artís¬tica. Sim, porque nessa questão de arte, o prin¬cipal está em saber aproveitar-se dos elementos naturais; o resto é tudo aprendizagem, treino, constância. O essencial é saber-se utilizar as boas qualidades somáticas. Nijinsky, por exem¬plo, era filho e neto de bailarinos. Foi o Deus da dança. Foi o produto cultivado de três ge¬rações. Começou também muito cedo. Seus pais não o deixaram perder tempo. Assim seria o filho deles. E talvez até chegasse às mesmas al¬turas de Nijinsky. E por que não? Era apenas uma questão de cultivo. A semente era boa. Tudo dependia só deles. E eles haveriam de fazer tudo, tudo. Se fosse preciso mandariam o filho estudar no estrangeiro a pintura dos gran¬des mestres modernos. Hereditariedade mais cultivo ininterrupto daria fatalmente um gênio, um gigante da arte, uma dessas figuras humanas que se tornam legendárias, fabulosas. Dessas fi¬guras humanas, que a comunidade universal che¬ga a duvidar que tenham realmente existido, tal a grandeza e a força que irradiam. Embora, a obra desses personagens atestem sua existência, parece que eles não existiram, que é só imagina¬ção dos povos, criação fantástica das raças humanas. Assim seria o filho deles. Uma mon¬tanha altíssima no campo raso da arte moderna. E por que não? Seria tão grande na sua obra que passaria para o plano metafísico das figuras de mitologia. O principal ele teria: o lastro he¬reditário. O resto seria uma questão de tirocínio. E isso não faltaria. Lá estariam eles dois para insistir nesse ponto. Assim, tinham a certeza que seu filho daria ao mundo criações maravi¬lhosas em todos os ramos da pintura. E em ra¬mos ainda não explorados e de numerosíssimas possibilidades. O jogo das cores, a impressão emanada do colorido, do movimento, o efeito dramático, a fixação da alma das coisas, a exteriorização do pensamento e das paixões huma¬nas. A psicologia aplicada em função das cores, do movimento, do ritmo e do jogo de vários pla¬nos superpostos ou consubstanciados, dando a ilusão onírica. Tudo isso ainda podia ser ex¬plorado largamente por um gênio da pintura moderna. Sim, porque a pintura moderna teve seu iniciador, seus mestres e discípulos, mas não tinha ainda seu expoente máximo, seu ponto culminante, sua maior amplitude. E quem sabe se essa glória toda não estava reservada ao pequenino ser que ora se remexia nas entranhas de Zilfa. E por que não? Nada é impossível neste mundo, desde que se deseje ardentemente. Ade¬mais, aqui não se tratava de desejar, tratava-se de cultivar e aperfeiçoar intensivamente as qua¬lidades herdadas, os pontos somáticos mais im¬portantes. E não poupariam esforços ou sacri¬fícios na formação artística do futuro gênio.
Era assim que os dois sonhavam. Sonha¬vam acordados e sonhavam dormindo.

* * *

Zilfa estava agora na fase final da gravidez. Ultimaram-se os preparativos. Deixaram tudo de mão e ficaram aguardando o grande dia. E por duas vezes Zilfa foi levada à Maternidade e por duas vezes teve de voltar. Ainda não era hora.
Por fim, numa madrugada chuvosa, quando menos se esperava, Pedro teve de conduzir a mulher o mais depressa possível à Maternidade. Desta vez era verdade.
Nove horas se passaram lentamente. Nove horas de angústia e medo, de esperança e aflição, de receio e fé.
Zilfa gritou durante as nove horas. Seus gritos eram lancinantes, profundamente huma¬nos, calando fundo no coração de Pedro. E ele compadeceu-se da esposa. Chegou a pensar que ela fosse morrer. E um estranho sentimento de culpa inundou sua alma. Sentiu remorsos. Sen¬tiu-se o culpado de todo aquele sofrimento. Os gritos de Zilfa varavam a porta, percorriam os corredores e penetravam nos ouvidos de Pedro, que ficara sentado bem longe do quarto. Aque¬les gritos de sofrimento eram como acusações violentas contra ele.
Por fim, Pedro não ouviu mais os gritos. Não ouviu mais nada…
Foram horas angustiosas aquelas.
E a criança nasceu.

* * *

Quando Pedro entrou no quarto, Zilfa es¬tava sorrindo de felicidade. Pedro ajoelhou-se junto ao leito e, comovido, beijou a mão da mu¬lher. Chorou nesse instante. E Zilfa lhe disse carinhosa: “Não chore, meu bem”.
A enfermeira já tinha levado a criança. Dali a pouquinho estaria de volta com ela. Era um hominho, como eles desejavam. E o casal ficou assim enternecido durante longos instantes, embevecidos num doce sentimento de ternura, de amizade, de solidariedade e gratidão. E quando Pedro perguntou se ele era bonitinho. Zilfa não soube responder por que o tinham levado antes que ela visse. Voltariam logo com ele, já ves¬tidinho.
E ficaram esperando.
Nadavam em felicidade. Trocaram muitos beijos. Muitas promessas foram feitas. Essa força estranha e boa da felicidade tinha fundido marido e mulher em uma só pessoa.
Bastante tempo passou…
Começaram a desejar ver a criança. E a criança não vinha. De certo tinham nascido
muitas naquele dia e ainda não dera tempo de lavá-Ia, pesá-la.
Mas passou muito tempo…
Pedro aperta a campainha. Vem a enfer¬meira. E antes que Pedra diga qualquer coisa, ela faz-lhe um sinal que quer dizer: “Venha co¬migo”.
E Pedro vai. Segue-a por aqueles corredores compridos, compridos…

* * *

Os dias correram. Os meses se passaram. O casal entra novamente na vida normal. Aos pincéis, às tintas, às telas? Não. A vida deles agora é normal apenas pela ausência de aconte¬cimentos, mas profundamente anormal quanto ao estado de espírito do casal. Vivem agora nessa apatia de quem prefere não pensar em algo terrível que aconteceu. E, no entanto um pensamento único domina o cérebro dos dois – o filho.
O filho foi para eles como uma pancada forte na cabeça, que os colheu na tepidez da fe¬licidade. Estão agora em estado de choque mo¬ral. Não comentam o fato, evitam falar no filho, mas ele se acha presente em todos os lugares em que os dois estão. Aquela imagem está no ar, como coisa concreta. O filho está lá dentro do quarto, entregue aos cuidados de uma em¬pregada. Nunca sai do quarto. E, no entanto está sempre presente na imaginação dos pais, co¬mo um motivo fixo, permanente, imutável. Sempre o mesmo. Sempre a mesma imagem des¬figurada, monstruosa…
E quando ele chora de fome, aquele choro grosso chega aos ouvidos de Zilfa como um sinal de começo de torturas. E no seu cérebro duas forças lutam: o sentimento de mãe e a repugnân¬cia pela criança.
E o choro grosso exige a sua presença.
Zilfa caminha para o quarto. Como se ca¬minhasse para uma sala de suplícios. E ele suga com sofreguidão selvagem aquele seio alvo. Como se fosse um caranguejo devorando um níveo botão de rosa. E aquelas mãos enormes agarram-se ao corpo de Zilfa. Ela estremece. Um frio ge¬lado percorre seu corpo todo. Aquele contato é repugnante. Zilfa cerra os olhos, mas continua vendo os olhos dele olhando para os dela, com a insistência de quem deseja saber alguma coisa, de quem pede explicação por um fato que acon¬teceu, por um erro cometido. Sim, aqueles olhos esperam ansiosamente uma explicação.
A um canto do quarto, a empregada, silenciosa e triste, sente infinita pena de Zilfa. Ela sabe o quanto sofre aquela mãe, em luta ínti¬ma com dois sentimentos diversos: o dever de alimentar o filho e o pavor que tem pelo pequeno monstro. Sim, aquilo não era uma criança. Era um ser repugnante, deformado, que causava mal-estar em quem o olhasse. Os olhos muito gran¬des, parados, tristes e melancólicos. A cabeça era grande como um aquário, contrastando com o corpo que era do tamanho de um palmo apenas. Uma das pernas era fina, destoando da outra que era excessivamente grossa, lembrando um tronco de bananeira. Um dos braços era curto e o outro comprido. As maçãs do rosto grotescamente sa¬lientes e os lábios cortados ao meio. Não tinha cor de gente. Era uma cor estranha e impressio¬nante. Os pés chatos, faltando dedos.
Era Baby sem tirar nem pôr. Aquele quadro de Pedro que ganhara medalha de ouro.
A criança era uma autêntica pintura moder¬na. Havia deformação, havia exagero de formas, desproporção das linhas, grotesco e ridículo no todo.
Parece que a Natureza quis ser coerente com os princípios artísticos do casal…
E eles bem que o compreenderam isso. Mas não tinham coragem de dizer. Não tinham co¬ragem de comentar a semelhança entre o quadro e a criança. Não trocavam palavra sobre o assunto, mas ele andava no ar, como coisa a ser solucionada. Evitavam falar no filho e quando falavam, só diziam “ele”. E quando os amigos os visitavam, eles não mostravam a criança. Tinham vergonha. Escondiam-no o mais que po¬diam. Desde que ele nasceu não houve mais alegria naquela casa. Acabaram-se as reuniões, os passeios e a pintura. Viviam agora os dois pensando naquilo, naquela coisa terrível que acontecera. Abandonaram os pincéis, as tintas, as telas e também o entusiasmo antigo. Não mais se pintou naquela casa. Sob aquele teto não mais se falou em pintura moderna. E tudo isso não foi combinado à viva voz: foi compreendido e executado tacitamente. Os quadros foram descendo aos poucos das paredes e foram se amon¬toando no barracão. E depois de um pequeno estágio, eram destruídos para dar lugar a outros, que tinham o mesmo fim. E assim foram sendo destruídos todos até o último. Os objetos de arte também tiveram idêntico fim.
Agora, a única coisa que existia naquela casa, de “moderno”, era a criança, que aos pou¬cos foi se transformando em menino.
E o menino andava pela casa, chamava pe¬la mãe, ia atrás dela, trepava em seu colo, com seu andar estropiado e a voz grossa e impressio¬nante…
Andava pela casa toda. Não parava mais fechado no quarto. Falava pouco e, quando o fazia, um arrepio percorria a nuca de Zilfa. Aquela voz soava como uma acusação sombria. O pai também temia a sua presença.
Chegaram a desejar a morte dele. Mas, só intimamente, porque não tinham coragem de dizer isso em voz alta.
Mas ele ia crescendo. E era um monstrengo sadio. Parecia feito para resistir a tudo, até mesmo ao desejo ardente que seus pais tinham que ele morresse.
ZiIfa sofria. Pedro também. O remorso os perseguia dia e noite. E sonhavam com ele. E nos sonhos ele era mais monstruoso ainda que na realidade. Aparecia com cinco pernas, duas cabeças, vários olhos, gritando coisas terríveis contra os pais. E esforçavam-se para arrancar aquele pesadelo da cabeça, representando a farsa da despreocupação. Mas sofriam. E o pior era que nenhum dos dois tinha coragem de desaba¬far um para o outro. Viviam naquele ambiente de suspensão, de angústia, de perigo iminente.
Às vezes estavam os dois conversando na sala, quando ouviam os passos “dele” no assoalho. A conversa cessava. Qualquer coisa os inibia de falar na presença “dele”. E ele vinha capengando, ficava por ali ou sentava no chão e não tirava os olhos dos dois. Não dizia nada. Ape¬nas olhava.
E como fazia mal a eles aquele olhar!
Sob um pretexto qualquer Zilfa retirava-¬se e trancava-se no quarto para chorar.
Pedro não resistia ao olhar do filho. Aque¬le olhar triste, frio, duro, saindo daqueles olhos quase quadrados. Não tinha nada de criança. Tudo de monstro. Parecia um homem que não crescera. Não brincava. Não ria.
Pedro tinha receio de ficar a sós com “ele”. E o monstrengo parece que percebia isso. Ache¬gava-se ao pai e o tocava com sua mão grande e torta. Parecia sentir prazer no mal-estar e no medo do pai. No entanto, tudo isso era só impressão de Pedro e de Zilfa. Tudo isso derivava daquele sentimento de culpa que os martirizava.
A criança era apenas um miserável ser deformado.

* * *

Um dia caiu doente.
Chamaram o médico mais por desencargo de consciência que por amor ao filho. E o mé¬dico veio. Examinou demoradamente e não re¬ceitou Era um caso perdido. A custo marido e mulher reprimiram um bater apressado e alegre do coração.
E o rosto deformado da criança recortava-¬se contra o fundo branco do travesseiro, salien¬tando ainda mais a sua horrível feiura. Não abria mais os olhos. A respiração era difícil e aflita. Uma sororoca enchia o quarto de um som que causava mal-estar.
Mas o casal velou pela madrugada a dentro o bruxoleio daquela vida miserável.
Veio novo dia. Marido e mulher dormiam sentados, cansados. Foi quando “ele” abriu os olhos por uns instantes e passeou-os pelo quarto em busca de outros olhos. Mas não encontrou.
Uma suave brisa entrou pela janela, foi o bastante para apagar aquela chama vacilante.
Pela tarde daquele mesmo dia, um caixãozinho azul saiu daquela casa. Dentro dele ia a última obra moderna que o casal fizera de colaboração.

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