Nesta quarta-feira, 19/01, meu querido primo Derico Sciotti se apresentará com o grupo 8 do Bem no Bourbon Street. Divirtam-se – não vou porque estarei no Amway Center assistindo Orlando Magic x Philadelphia 76ers!
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Nesta quarta-feira, 19/01, meu querido primo Derico Sciotti se apresentará com o grupo 8 do Bem no Bourbon Street. Divirtam-se – não vou porque estarei no Amway Center assistindo Orlando Magic x Philadelphia 76ers!
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Como nas 2 versões anteriores, teremos neste ano diversas atividades em língua portuguesa durante o VWBPE.
Já estão confirmados:
a) Treinamentos para iniciantes no Second Life, a serem realizados na ilha do Portal Educação durante o mês de Fevereiro e Março (logo confirmamos o cronograma).
b) Um sarau com música brasileira a ser realizado como um dos eventos sociais oficiais da conferência, a ser realizado no dia 17 ou 18 de março.
c) A ilha do Portal Educação (ou outro local) abrigará uma exposição com criação coletiva de artistas brasileiros no Second Life, organizada pela Sunset Quinnell.
d) Portuguese Mini-track, com sessões de apresentações em língua portuguesa – precisamos encontrar a data (entre 17 e 19 de março) mais conveniente para todos. Confirmados até agora:
* Eliane Schlemmer (Unisinos) e seu grupo de pesquisa – O uso do Metaverso Second Life em programas de pôs graduação em nível de mestrado e doutorado
* Andrea Silva - Pesquisa sobre estilos de aprendizagem no Second Life
* Teresa Bettencourt (Portugal) – tema a definir
* Luis Paulo - O OBSUNI na Ilha da Educação
* Isa Seppi - Imersão em Janjii,s Dreamland: experiências estéticas na Second life
Quem mais quiser apresentar seus trabalhos em língua portuguesa ou tiver qualquer outra ideia de atividade, entre em contato. Logo pretendemos fechar o programa das apresentações e demais atividades em língua portuguesa.
Já temos também alguns voluntários para nos ajudar, como a Raquel Resende e o Luciano Barsotti, que está traduzindo o Call for Proposals para o português e talvez nos brinde com uma apresentação sobre suas experiências como Dj, manager, administração de SIM, construção e aulas de Inglês para brasileiros no SL. Mais voluntários, é claro, são muito bem-vindos.

O Shorty Awards é um concurso para premiar os melhores produtores de conteúdo no Twitter. No ano passado, terminei em segundo lugar na categoria educação entre 835 indicados no mundo todo, atrás apenas de um pastor. Vamos nos divertir novamente?
A categoria education foi rebaixada de official category para community category. Se você quiser votar em mim nessa categoria, deve tuitar o seguinte (escrevendo se preferir outra coisa depois do “because”, a razão por que está votando, senão o voto não conta):
I nominate @joaomattar for a Shorty Award in #education because os his tweets on education
Quem preferir pode votar direto pelo site (tem que ter de qualquer maneira conta no Twitter). Os votos contam até o final de Janeiro e só valem 1 vez.
Para brincarmos também numa official category, ficaria assim o voto para author:
I nominate @joaomattar for a Shorty Award in #author because os his books on education & philosophy
Para conferir se seu voto valeu, é só checar no site do evento (mas demora mesmo bastante para atualizar).

Ontem assisti em DVD O Homem que não Vendeu sua Alma (A Man for All Seasons)
Direção e Produção: Fred Zinnemann
Atores: Paul Scofield (Thomas Morus), Wendy Hiller (esposa), Leo McKern (Cromwell), Robert Shaw (Henrique VIII), Orson Welles (Cardeal Wolsey), Susannah York (filha), Nigel Davenport, John Hurt, Corin Redgrave, Colin Blakely, Yootha Joyce e Vanessa Redgrave (Ana Bolena).
Roteiro: Robert Bolt, Constance Willis
Fotografia: Ted Moore (muito bonita)
Supervisão Musical / Trilha Sonora: Georges Delerue
Edição: Ralph Kemplen
Desenho de Produção: John Box, Terence Marsh
Cenografia: Josie MacAvin (também muito bonita)
Figurino: Joan Bridge, Elizabeth Haffenden (muito bonito)
Maquiagem: Eric Allwright, George Frost
Idioma: Inglês, Francês
Ano de produção: 1966
País de produção: Inglaterra
Duração: 120 min
Colorido
O filme conta a história dos últimos 7 anos da vida de Thomas Morus, o autor de A Utopia, na Inglaterra do século XVIII, mostrando de maneira muito bonita a relação intensa que Morus tem com a esposa e a filha.
O Rei Henrique VIII funda a Igreja Anglicana na Inglaterra, separando-se da Igreja Católica Romana. Com isso, ele pode se divorciar de sua esposa Catarina e se casar com sua amante Ana Bolena.
O chanceler Morus não aprova as atitudes do rei, decidindo-se por abdicar das suas funções e viver como um cidadão comum. Mas o rei não fica satisfeito com o fato de Morus não externar publicamente sua aprovação pelo casamento, e ele é então preso. A visita de sua esposa, sua filha e seu genro à prisão lembra muito a visita de Xantipa a Sócrates, pouco antes de ele morrer.
Como permanece em silêncio, mantendo-se firme na posição de não apoiar o rei, Morus acaba sendo julgado por traição (depois de ser injustamente acusado), reconhecendo no julgamento, quando já tem certeza de que será condenado à morte, que é contra as atitudes do rei. Cf o julgamento, em 3 clips:
A última cena do filme mostra Morus sendo decapitado.
O filme ganhou inúmeros prêmios. 6 Oscars em 1966: melhor filme, melhor ator (Paul Scofield), melhor diretor, melhor roteiro adaptado, melhor fotografia colorida e melhor figurino colorido, tendo sido indicado também em melhor ator coadjuvante (Robert Shaw) e melhor atriz coadjuvante (Wendy Hiller). No Globo de Ouro 1967 (EUA) venceu como melhor filme – drama, melhor diretor, melhor ator – drama (Paul Scofield) e melhor roteiro. No BAFTA 1968 (Reino Unido) venceu como melhor filme, melhor filme britânico, melhor ator britânico (Paul Scofield), melhor roteiro britânico, melhor fotografia colorida britânica, melhor direção de arte colorida britânica e melhor figurino colorido britânico. No Festival de Moscou 1967 (Rússia) venceu como melhor ator (Paul Scofield).
Assista ao trailer:
A Man for all Seasons foi refilmado para tv em 1988, com direção de Charlton Heston, que fez o papel de Thomas Morus.
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De 17 a 19 de março ocorrerá o Virtual Worlds Best Practices in Education 2011. Para quem não acompanhou as 2 versões anteriores, cf. p.ex. o que ocorreu em 2010. Vídeos das atividades do ano passado estão disponíveis na treet.tv e no livestream, e os Proceedings foram publicados no Journal of Virtual Studies.
O evento é gratuito (faça sua inscrição aqui), ocorre no Second Life e reúne especialistas e pesquisadores de todo o mundo no uso de mundos virtuais em educação. O Call for Proposals vai até 31/01, cf.:
Tudo é organizado por voluntários também de vários países. Neste ano, estou coordenando o International Working Group, responsável por:
1) Apoiar a promoção do evento para vários países, além dos países de língua inglesa.
2) Identificar keynote speakers que tenham alcance internacional.
3) Organizar alguns eventos sociais (o Portal Educação já ofereceu sua ilha para um sarau com música brasileira, mas se alguém tiver outra proposta para algum evento em língua portuguesa me avise também)
4) Coordenar a tradução do Call for Proposals para diversas línguas (aliás, se alguém topar traduzir para o português, me avise – o Leonel Morgado já tinha feito uma tradução da CFP no ano passado, que pode ser aproveitada, mas ainda não chequei se houve muitas alterações)
5) Organizar todas apresentações que não ocorrerão em inglês. Em 2009, já tivemos uma sessão com apresentações em língua portuguesa (as únicas que não ocorreram em inglês), o que se repetiu em 2010, com algumas outras línguas. A ideia é que tenhamos neste ano apresentações em diversas línguas, além do inglês. Isso será tudo organizado pelo nosso grupo.
Enviei um convite por email no final do ano passado a todos que participaram das sessões em português em 2010, e já recebi confirmação de participação nas sessões de 2011 em língua portuguesa da Professora Eliane Schlemmer (Unisinos) e seu grupo de pesquisa, da Andrea Silva (que recentemente defendeu seu mestrado no Senac-SP sobre mundos virtuais em educação), da Teresa Bettencourt de Portugal e do professor Luis Paulo, que tem realizado um trabalho belíssimo na ilha do Portal Educação. Também já temos confirmação da participação da Isa Seppi, que participará pela primeira vez. Quem mais quiser apresentar seus trabalhos em língua portuguesa, ou tiver alguma indicação de alguém que está trabalhando com o uso de mundos virtuais em educação, por favor entre em contato. Logo estaremos com nossa programação das sessões em língua portuguesa no VWBPE. Além disso, é claro, trabalhos podem ser enviados normalmente para apresentação em inglês, no fluxo normal do evento – cf. Call for Proposals.
Enfim, está dado o pontapé inicial. No que alguém quiser ajudar, estamos abertos!
Meu email: joaomattar@gmail.com
Aqui os locais onde você pode acompanhar informações sobre o evento:
website
twitter
Facebook
YouTube channel
conference submission website
wiki
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CASSIRER, Ernst. A filosofia do iluminismo. Trad. Alvaro Cabral. 2. ed. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1994. (Coleção Repertórios). Resenha de João Mattar.
Passei o ano lendo meu exemplar bem antigo deste clássico sobre o Iluminismo. Li com mais atenção o Prefácio e os 3 primeiros capítulos, espero em outro momento voltar aos capítulos seguintes com mais calma.
No Prefácio, ao Iluminismo é associada a proposta de uma filosofia com mais liberdade e mobilidade, mais concreta e viva do que um sistema metafísico ou a filosofia entendida como simples reflexão. Cassirer lembra também que o Romantismo fez uma leitura negativa do Iluminismo, cuja filosofia teria sido considerada trivial.
No Cap. I. O Pensamento na Era do Iluminismo, o filósofo alemão ressalta que o Iluminismo teve forte interesse na razão e em como se dá o progresso intelectual. Mas isso ocorre de uma maneira peculiar: Newton teria sido preferido em detrimento de Descartes, assim como a física moderna em relação à filosofia. Os iluministas dão mais valor às ciências modernas do que à tradição filosófica. Não lhes interessa mais apenas a dedução, mas principalmente a observação e a experiência, o que teria levado a uma revisão na teoria do conhecimento, com os interesses se deslocando dos princípios em direção ao particular e aos fenômenos, o que já vinha se desenhando no século passado. Nesse longa passagem, Cassirer reflete sobre o novo conceito de razão que se estabelece no período:
A potência da razão humana não está em romper os limites do mundo da experiência a fim de encontrar um caminho de saída para o domínio da transcendência, mas em ensinar-nos a percorrer esse domínio empírico com toda a segurança e a habitá-lo comodamente. Uma vez mais, manifesta-se aqui a mudança de significação característica que a ideia de razão sofreu em relação ao pensamento do século XVII. Para os grandes sistemas metafísicos seiscentistas, para Descartes e Malebranche, para Spinoza e Leibniz, a razão é a região das “verdades eternas”, essas verdades que são comuns ao espírito humano e ao espírito divino. O que conhecemos e do que nos apercebemos à luz da razão é “em Deus”, portanto, que o vemos imediatamente: cada ato da razão assegura-nos a nossa participação na essência divina, franqueia-nos o acesso ao domínio do inteligível, do supra-sensível puro e simples. O século XVIII confere à razão um sentido diferente e mais modesto. Deixou de ser a soma de “ideias inatas”, anteriores a toda a experiência, que nos revela a essência absoluta das coisas. A razão define-se muito menos como uma possessão do que como uma forma de aquisição. Ela não é o erário, a tesouraria do espírito, onde a verdade é depositada como uma moeda sonante, mas o poder original e primitivo que nos leva a descobrir, a estabelecer e a consolidar a verdade. Essa operação de assegurar-se da verdade constitui o germe e a condição necessária de toda a certeza verificável. É nesse sentido que todo o século XVIII concebe a razão. Não a tem em conta de um conteúdo determinado de conhecimentos, de princípios, de verdades, preferindo considerá-la uma energia, uma força que só pode ser plenamente percebida em sua ação e em seus efeitos. A sua natureza e os seus poderes jamais podem ser plenamente aferidos por seus resultados; é à sua função que cumpre recorrer. E a sua função essencial consiste no poder de ligar e de desligar. A razão desliga o espírito de todos os fatos simples, de todos os dados simples, de todas as crenças baseadas no testemunho da revelação, da tradição, da autoridade; só descansa depois que desmontou peça por peça, até seus últimos elementos e seus últimos motivos, a crença e a “verdade pré-fabricada”. Mas, após esse trabalho dissolvente, impõe-se de novo uma tarefa construtiva. É evidente que a razão não pode permanecer entre esses disjecta membra; deverá construir um novo edifício, uma verdadeira totalidade. Mas ao criar ela própria essa totalidade, ao levar as partes a constituírem o todo segundo a regra que ela própria promulgou, a razão assegura-se de um perfeito conhecimento da estrutura do edifício assim erigido. Ela compreende essa estrutura porque pode reproduzir-lhe a construção em sua totalidade e no encadeamento de seus momentos sucessivos. É mediante esse duplo movimento intelectual que a ideia de razão se concretiza plenamente: não como a ideia de um ser mas como a de um fazer. (p. 31-33)
No Cap. II. Natureza e Ciência da Natureza na Filosofia do Iluminismo, Cassirer aponta que a filosofia iluminista entra em conflito com a Igreja, já que propõe uma nova noção de verdade, que não é mais a verdade revelada pelas escrituras, mas pela matemática e pela física. Desenvolve-se no período a crença de que é possível conhecer os segredos da natureza, quebrando-se assim os vínculos entre teologia e física. Interessa aos iluministas observar e determinar as relações entre os fenômenos, e não seus princípios ou suas origens primeiras; descrever, mas não explicar. A ciência se afasta, assim, dos princípios metafísicos e das relações da natureza com Deus, ou seja, se afasta da metafísica e da teologia.
Que se descarte essa questão de “transcendência” e a natureza deixa instantaneamente de ser um mistério. Não é a sua essência que é misteriosa ou incognoscível, foi o espírito humano que lançou sobre ela uma obscuridade artificial. (p. 99)
As novas ciências começam então a elaborar seus próprios métodos, não dependendo mais da metafísica e da filosofia. Nesse sentido, a base para as ciências não é agora mais apenas a matemática e a geometria, como no caso do racionalismo, mas a física. A indução (Newton/Hume) substitui a dedução (Descartes):
Aquele que não se contenta com esse mundo visível, que indaga as causas invisíveis dos efeitos visíveis, não age mais sabiamente, segundo Diderot, do que um camponês que atribuísse o movimento do seu relógio, cujo mecanismo não entende, a um ser espiritual escondido em seu interior. (p. 101)
Cassirer destaca também a importância da biologia, fisiologia e medicina na época.
No Cap. III. Psicologia e Teoria do Conhecimento, o filósofo alemão mostra como os dois campos de conhecimento se misturam no Iluminismo. A psicologia passa a ser considerada um campo prévio às sensações: a vontade, a atenção, o interesse, a utilidade etc. determinam a maneira como conhecemos. Memórias, ideias etc. são determinadas pelo nosso interesse e pela nossa vida psíquica. A ordem lógica não é primária, é um reflexo da ordem biológica, do nosso interesse e do que é útil para nós. Nesse sentido, há uma elevação da importância das paixões em relação à razão, em comparação com o racionalismo:
o pensamento que prevalece é, de fato, o de que é impossível apreender e determinar pelas paixões a “natureza” da alma. Essa natureza reside no “pensamento” e só no pensamento encontra sua marca verdadeiramente característica. É a representação, a ideia clara e distinta, não a paixão obscura e confusa, que caracteriza, por conseguinte, a natureza da alma. Os instintos, os desejos, as paixões sensíveis só indiretamente lhe pertencem. Não estão aí suas propriedades originárias e seus movimentos próprios mas perturbações que experimenta, oriundas do corpo, de sua junção com o corpo. A psicologia e a ética do século XVII fundem-se essencialmente nessa concepção das paixões como fenômenos de inibição e perturbação, como perturbationes animi. Somente possui valor ético o ato que domina essas “perturbações”, que manifesta a vitória da parte ativa da alma sobre a parte passiva, a vitória da “razão” sobre as paixões. Essa perspectiva estoica não caracterizava somente a filosofia do século XVII; ela impregna toda a vida espiritual dessa época. [...] A vontade racional dominando os impulsos dos sentidos, os instintos e as paixões, tais são o sinal e a essência da liberdade do homem. O século XVIII não se detém num critério tão negativo, numa apreciação tão negativa das paixões. Longe de ver aí uma simples inibição, procura o impulso originário indispensável da vida da alma. (p. 149-150)
Nesse processo, a filosofia de Hume teria sido essencial:
O ceticismo crítico de Hume leva, no domínio da psicologia, a uma inversão de critérios cuja validade era até então incontestada. É, em suma, a inversão do inferior e do superior: mostra que a razão que se costuma honrar como a faculdade soberana do homem desempenha afinal um papel inteiramente secundário no conjunto da vida psíquica. Ela exerce tão escassos poderes na direção das faculdades “inferiores” da alma que não se cansa, pelo contrário, de recorrer a elas, e não saberia dar um só passo sem a colaboração da sensibilidade e da imaginação. Todo o saber racional se reduz exclusivamente à inferência da causa a partir da observação do efeito; ora, essa inferência, em si mesma, é justamente aleatória, incerta, e jamais poderá ser estabelecida por via puramente lógica. Para ela só existe a justificação indireta, aquela que consiste em descobrir sua origem psicológica, em reconduzir à sua origem a crença na validade do princípio de causalidade. Verifica-se então que essa “crença” não se fundamenta, de maneira alguma, em princípios racionais universais e necessários mas provém de um simples “instinto”, de uma pulsão primitiva da natureza humana. Esse instinto é, em si mesmo, cego; mas é justamente nessa cegueira que consiste a sua força essencial, a potência pela qual ele impõe-se a todo o curso de nossas ideias. Hume parte desse resultado teórico para sistematicamente estender a todo o domínio do psíquico o processo de nivelamento por ele iniciado. (p. 150-151)
Hume teria realizado o mesmo movimento em suas críticas à religião: seus princípios não seriam ideias inatas ou intuições primitivas, mas o sentimento do medo, o que tampouco poderia ser reconstruído por argumentos puramente lógicos e racionais.
Nossos sentidos são múltiplos e as conexões entre as percepções ocorrem em função do hábito, não de ideias ou conceitos inatos:
Cada sentido tem o seu próprio mundo, resta apenas compreender e analisar todos esses mundos de maneira puramente empírica, sem tentar reduzi-los a um denominador comum. A filosofia do Iluminismo não se cansará de recordar essa relatividade. (p. 162)
Lógica, teologia e moral tornam-se assim dependentes de uma antropologia.
No Cap. IV. A Ideia de Religião, Cassirer aborda as diversas críticas realizadas à religião no período.
No Cap. V. A Conquista do Mundo Histórico, ele explora a importância que a História adquire no Iluminismo.
O Cap. VI. O Direito, o Estado e a Sociedade explora como a filosofia política e moral vão deixando de ser estudadas por métodos apriorísticos e passam a ser exploradas pelo método empírico. Assim, passamos do direito natural ao direito dos homens e dos cidadãos. Boa parte do capítulo é uma análise das ideias de Rousseau.
No Cap. VII. Os Problemas Fundamentais da Estética, Cassirer destaca a importância da crítica estética e literária no século XVIII. A noção de força criadora, representada nas ciências e nas artes, superaria a concepção de mero acúmulo de sensações em ideias, característica tanto do racionalismo quanto do empirismo.
No texto são estudados os mais diversos autores, como por exemplo: Etienne Bonnot de Condillac (1715-1780), Claude Adrien Helvétius (1715-1771), Pierre Louis Moreau de Maupertuis (1698-1759), Denis Diderot (1713-1784) e Johann Nikolaus Tetens (1736-1807). Cassirer faz questão também de registrar as diferenças entre as filosofias inglesa, francesa e alemã.
O livro não tem Bibliografia, mas apenas notas ao final de cada capítulo. Enfim, uma tradução esgotada, que deixa de traduzir muitas expressões ou passagens em outras línguas, de um texto denso mas importante para compreender melhor a filosofia do Iluminismo, publicado originalmente em 1932.
Uma rápida repassada cronológica pelos posts e acontecimentos mais importantes deste ano registrados aqui no blog.
A disciplina Instructional Design, que cursei no primeiro semestre na Boise – registrei os posts com a categoria Edtech503.
O Virtual Worlds Best Practices in Education, especialmente as sessões realizadas em língua portuguesa. Em março de 2011 tem mais, fique ligado!
O registro que fiz just-in-time do VI Seminário Jogos Eletrônicos, Educação e Comunicação, realizado em Salvador. Este ano teremos o SBGames em Salvador!
O curto e despretensioso post Meu Medo da EaD, que acabou sendo citado e comentado pelo professor Luís Henrique Sommer num artigo publicado no Em Aberto.
A disciplina Theoretical Foundations of Educational Technology que cursei no meio do ano na Boise – registrei tudo na tag Edtech504, encerrada com o texto Constructivism and Connectivism in Education Technology.
O lançamento do meu Introdução à Filosofia durante o 16 CIAED.
A disciplina Evaluation for Educational Technologists que cursei na Boise no segundo semestre – registrada com a tag Edtech505.
O mini-curso Web 2.0, Games e Mundos Virtuais em Educação, ministrado em Recife durante o VIII Congresso Internacional de Tecnologia na Educação.
O programa Show+ sobre Ensino à Distância.
A morte do meu querido mestre Henrique Pinto.
Minha participação no 5º Encontro CIEE/ABED de EaD, na mesa Quem utiliza Redes Sociais? – cf. o vídeo Redes Sociais e EaD.
O movimento #CPMFNAO – cf. Twitter, blog, evento na FIESP, minha participação no Programa do Joaquim e visita a Mogi. Estes 2 meses serviram para preparar a munição para 2011.
Minha palestra Redes Colaborativas e Interatividades no 2º Fórum de Educação a Distância do Poder Judiciário.
O filósofo escocês David Hume (1711-1776) é um pensador fantástico. Sempre que volto a lê-lo fico impressionado com sua cultura, seu estilo, sua capacidade de reflexão e lidar com uma quantidade e variedade incrível de ideias, sua habilidade para criar imagens e metáforas ricas etc. Aqui vão 3 insights que pesquei numa releitura de final de ano.
Um século antes da teoria da evolução de Darwin, refletindo que a origem do universo seria mais adequadamente atribuída à geração animal ou vegetal do que à razão ou ao design, Hume sugere que a natureza possui capacidade de auto-organização, tendendo para a complexidade:
É evidente que o mundo é mais semelhante a um animal ou vegetal do que a um relógio ou tear; assim, é mais provável que sua causa se assemelhe à causa dos primeiros, que é a geração, ou vegetação. Podemos inferir, assim, que a causa do mundo é alguma coisa similar ou análoga à geração ou vegetação. (1992, p. 94)
Sua clássica e direta reflexão sobre paixão e razão:
A razão é, e deve ser, apenas a escrava das paixões, e não pode aspirar a outra função além de servir e obedecer a elas. (2001, p. 451)
Por fim, sua reflexão sobre a importância da liberdade de imprensa, tema recorrente no debate político brasileiro atual:
Compreende-se que ficaríamos sob a ameaça do poder arbitrário, caso não tivéssemos o cuidado de impedir seu progresso, e se não houvesse um método fácil de espalhar o alarma de uma ponta a outra do reino. O entusiasmo do povo precisa ser frequentemente instigado, a fim de refrear as ambições da corte; e o medo de que esse entusiasmo seja instigado precisa ser usado para evitar essas ambições. Nada contribui tanto para este fim como a liberdade de imprensa, graças à qual é possível usar todo o saber, a inteligência e gênio da nação em favor da liberdade, e exortar todos a defendê-la. Portanto, enquanto a parte republicana de nosso governo puder conservar sua preponderância sobre a monárquica, ela terá naturalmente o cuidado de manter livre a imprensa, pois esta é importante para sua própria preservação. (1973, p. 260)
HUME, David. Diálogos sobre a religião natural. Trad. José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
HUME, David. Tratado da natureza humana: uma tentativa de introduzir o método experimental de raciocínio nos assuntos morais. Trad. Deborah Danowski. São Paulo: UNESP, 2001.
HUME, David. Ensaios morais, políticos e literários. In: George Berkeley; David Hume. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Coleção Os Pensadores).
O ‘racionalista’ Leibniz (1646-1716) fornece, em várias passagens de sua obra, descrições muito bonitas sobre o inconsciente, mesmo sem usar a palavra. Nesse sentido, ele pode ser posicionado na pré-história da Psicologia.
existe uma série de indícios que nos autorizam a crer que existe a todo momento uma infinidade de percepções em nós, porém sem apercepção e sem reflexão: mudanças na própria alma, das quais não nos apercebemos, pelo fato de as impressões serem ou muito insignificantes e em número muito elevado, ou muito unidas, de sorte que não apresentam isoladamente nada de suficientemente distintivo; porém, associadas a outras, não deixam de produzir o seu efeito e de fazer-se sentir ao menos confusamente. (p. 11-12)
Temos, portanto, percepções das quais não nos damos conta em muitas situações, “pequenas percepções que somos incapazes de distinguir em meio à multidão delas” (p. 12). Elas são desviadas pela sua multidão que divide o nosso espírito ou apagadas e obscurecidas pelas percepções maiores (p. 84).
Essas pequenas percepções, devido às suas consequências, são por conseguinte mais eficazes do que se pensa. São elas que formam esse não sei quê, esses gostos, essas imagens das qualidades dos sentidos, claras no conjunto, porém confusas nas suas partes individuais, essas impressões que os corpos circunstantes produzem em nós, que envolvem o infinito, esta ligação que cada ser possui com todo o resto do universo.
Essas pequenas percepções operam também a todo momento:
ocorrem-nos pensamentos involuntários, em parte de fora, pelos objetos que atingem os nossos sentidos, em parte dentro de nós devido às impressões (muitas vezes insensíveis) que restam das percepções precedentes que continuam a sua ação e que se mesclam ao que vem de novo. Somos passivos quanto a isso, e mesmo quando estamos em vigília; imagens (sob as quais compreendo não somente as representações das figuras, mas também as dos sons e de outras qualidades sensívies) nos ocorrem, como nos sonhos, sem serem chamadas. A língua alemã as denomina fliegende Gedanken como quem dissesse pensamentos volantes, que não estão sob o nosso poder, e nos quais existem por vezes muitos absurdos que produzem escrúpulos às pessoas de bem e quebra-cabeças aos casuístas e diretores de consciência. É como uma lanterna mágica que faz aparecer figuras na muralha à medida que se gira alguma coisa dentro. [...] Além disso, o espírito entra, como bem lhe parecer, em certas progressões de pensamentos que o conduz a outras.” (p. 127-128).
O inconsciente para Leibniz não se resumiria a percepções e impressões, mas também a desejos que nos movem: “inclinações imperceptíveis à parte, cujo acúmulo constitui uma inquietação, que nos impulsiona sem que vejamos o motivo.” (p. 139).
E é o inconsciente também que, de alguma maneira, dá o colorido para o nosso mundo: “as pequenas percepções insensíveis produzem em nós essa inquietação [...] que constitui muitas vezes o nosso desejo e o nosso prazer, dando a estes, por assim dizer, um sal picante.” (p. 13).
Essas pequenas percepções de que não nos apercebemos acabam construindo nosso mundo e a nós mesmos, como pessoas:
Essas percepções insensíveis assinalam também e constituem o próprio indivíduo, que é caracterizado pelos vestígios ou expressões que elas conservam dos estados anteriores deste indivíduo, fazendo a conexão com o seu estado atual (p. 13)
Esta imagem sugere que é o inconsciente que realiza as conexões entre nossos estados mentais singulares sucessivos, garantindo assim nossa identidade como pessoas, nossa continuidade como indivíduos e até mesmo nossa memória: “Aliás, essas pequenas percepções possibilitam até reencontrar esta recordação, se necessário, através de evoluções periódicas que podem ocorrer um dia.” (p. 13).
Enfim, material riquíssimo para quem quiser retraçar a história do inconsciente, e mesmo para quem quiser conceituá-lo mais precisamente. Tudo isso, é bom lembrar, muitos e muitos anos antes de Freud.
LEIBNIZ, Gottfried Wilhelm. Novos ensaios sobre o entendimento humano. Trad. Luiz João Baraúna. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Col. Os Pensadores)
Algumas passagens em que Spinoza desenvolve os conceitos de flutuação da alma e inconstância nos juízos, que podem ser aproximados dos conceitos de fluxo da consciência e mente seletiva em William James:
Se imaginamos que uma coisa, que habitualmente nos faz experimentar um afecção de tristeza, tem qualquer traço de semelhança com outra que habitualmente nos faz experimentar uma afecção de alegria igualmente grande, odiá-la-emos e amá-la-emos ao mesmo tempo. (Ética, III, Proposição XVII, p. 194)
Aquele estado de alma que nasce de duas afecções contrárias chama-se flutuação da alma, a qual está para a afecção como a dúvida para a imaginação; e a flutuação da alma e a dúvida não diferem senão segundo o mais e o menos. [...] o corpo humano é composto de um grande número de indivíduos de natureza diversa e, por consequência, pode ser afetado de maneiras muito numerosas e diversas por um só e mesmo corpo e, inversamente, uma vez que uma só e mesma coisa pode ser afetada de numerosas maneiras, poderá, portanto, afetar também uma só e mesma parte do corpo de maneiras múltiplas e diversas. Por estas explicações, podemos conceber facilmente que um só e mesmo objeto pode ser a causa de afecções múltiplas e contrárias. (Ética, III, Proposição XVII, Escólio, p. 194)
Se imaginamos que alguém ama, ou deseja, ou odeia o que nós próprios amamos, desejamos, ou odiamos, só por esse fato, é com maior força que amaremos, etc. Se, ao contrário, imaginamos que ele sente repugnância por aquilo que amamos, ou inversamente, experimentamos, então, a paixão chamada flutuação da alma (Ética, III, Proposição XXXI, p. 201).
Homens diferentes podem ser diversamente afetados por um só e mesmo objeto; e um só e mesmo homem pode, em tempos diferentes, ser afetado diversamente por um só e mesmo objeto. (Ética, III, Proposição LI, p. 212)
O corpo humano é afetado pelos corpos exteriores de um grande número de maneiras. Portanto, dois homens podem, ao mesmo tempo, ser diversamente afetados, e, por consequência, podem ser diversamente afetados por um só e mesmo objeto. Além disso, o corpo humano pode ser afetado, ora de uma maneira, ora de outra, e, consequentemente, pode ser afetado diversamente por um só e mesmo objeto em tempos diferentes. (Ética, III, Proposição LI, Demonstração, p. 212)
ESPINOSA, Baruch de. Ética. Trad. e notas Joaquim de Carvalho. In: Baruch de Espinosa. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Col. Os Pensadores). p . 77-307.