Segundo um post de Paulo Kautscher no apagar das luzes de 2011, o salário do professor no Brasil é o terceiro pior dentre 40 países, numa pesquisa feita pela OIT e Unesco. Só estamos na frente do Peru e da Indonésia, e isso porque o salário foi calculado incluindo as escolas particulares e antes da desvalorização do real. Hoje, e focando apenas nas escolas públicas, a situação é ainda pior.
Por isso sempre procuro problematizar quando se cobra o possível e impossível dos professores, quando se coloca a responsabilidade dos fracassos na educação no seu trabalho indecentemente remunerado, quando vivemos repetindo o refrão de que o professor não quer se atualizar, está acomodado etc. Precisamos fazer primeiro uma lição de casa como país para saber se acreditamos realmente nos frutos da educação.
Lendo o post do Paulo me lembrei imediatamente do V ESUD & 6 SENAED realizados em conjunto em Gramado (2008).
Numa plenária, o Celso Costa (então UAB) disse:
a questão do tutor é um problema menor, como se a expressão “educação a distância” deve ser craseada ou não. Essas discussões “metafísicas” seriam menos importantes que outras, colocadas [por ele] anteriormente
Parece que de lá para cá, o governo continuou tratando a questão como metafísica. Durante o 17 CIAED em Manaus (2011), a posição do MEC ficou bem clara – tutor não é professor.
Hélio Chaves Filho (hoje Diretor de Regulação e Supervisão em EaD da Seres) reconheceu que
a questão dos tutores está no limbo
e afirmou que
tutor não é corpo docente, é uma categoria profissional intermediária
e Sérgio Franco (Presidência da Conaes) afirmou que
existe um consenso, no Brasil e no exterior, de que a relação do tutor com as IES deve ser precária, porque nunca se sabe quais cursos de EaD serão ministrados, dependendo sempre da procura dos alunos
Alguém de vocês sabe me dizer onde está registrado esse consenso? E é engraçado esse “consenso”, como se não houvesse a mesma dialética de oferta e procura no presencial.
Sérgio Franco afirmou inclusive que está em curso por parte do MEC a inclusão do tutor em EaD na CBO, como primeiro passo para reconhecimento da profissão (mas reconhecimento de profissão como não-professor).
Só uma lembrança: um tutor ganha na UAB uma bolsa temporária (ou seja, sem direitos trabalhistas e que expira depois de um período) de R$ 700 e poucos reais. E também, para quem não sabe, os tutores são os responsáveis pela formação dos nossos futuros professores – monte o seu silogismo aristotélico!
A minha posição (e a de muitos outros) é oposta: Tutor é Professor, e é hora de aproveitar o embalo de início de ano para retomar a batalha.
Mas não foi por isso que quando li o post do Paulo me lembrei do Esud/Senaed. Ainda segundo o Celso (UAB na época), o salário do professor brasileiro seria melhor do que no restante da América Latina – no Peru, segundo ele, um professor não conseguiria nem comprar um carro usado! Eu me lembrei do Esud/Senaed porque nunca esqueci dessa comparação com o Peru, que é um dos 2 únicos países que figura na lista abaixo do Brasil. Ou seja, para justificar o injustificável, o representante do MEC usou o exemplo de um dos 2 únicos países no mundo em que, na pesquisa, o salário do professor é inferior ao do Brasil. E, só para lembrar, tutor ganha ainda menos que professor!
Afinal, o problema da educação no Brasil é a acomodação dos professores? Ou é uma questão metafísica (por que então não incluir Aristóteles no currículo unificado)? É a crase (quem sabe uma Contra-Reforma Ortográfica? Ou o IPI dos carros importados?
Ai ai ai, onde queremos chegar assim?
Pois é João,
me lembro desse CIAED em Manaus, ontem mesmo eu olhava um desses sites de empregos apontava claramente que tutoria era uma ocupação profissional e não uma docência, na plenitude da palavra.
Um abraço
Roberto