A História da EaD

Na verdade é uma história da EaD focada nos Estados Unidos, mas o infográfico ajuda a ter uma perspectiva histórica.
dica do Eri

History of Distance Learning

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Publicado em EaD | 42 comentários

UCA Peru – Debate

Já tinha comentado brevemente por aqui o relatório Technology and Child Development: Evidence from the One Laptop per Child Program, que avalia os impactos do programa OLP (One Laptop per Child) ou UCA (Um Computador por Aluno) no Peru.

O estudo foi realizado em 319 escolas primárias públicas em comunidades rurais pequenas e pobres no Peru, durante os 15 primeiros meses de implementação do programa, com uma amostra dos alunos. Nessas escolas, 1 professor dá aula para alunos do primeiro ao sexto ano na mesma sala. Em praticamente nenhuma escola havia acesso à Internet.

Os resultados do estudo mostram que houve um aumento considerável no acesso e no uso de computadores por parte dos alunos, tanto nas escolas quanto em casa, associado ao desenvolvimento de habilidades de uso de computadores.

Do ponto de vista da aprendizagem, entretanto, foram detectados apenas alguns benefícios em habilidades cognitivas gerais. Não foram encontradas evidências de melhora da aprendizagem nem em matemática, nem em linguagem. Apesar de os laptops virem com 200 livros, não houve evidências de que o programa tenha influenciado os hábitos de leitura dos alunos. O programa não afetou as matrículas, nem a frequência às aulas, nem a motivação para a aprendizagem, nem o tempo dedicado ao estudo em casa. Tampouco parece ter afetado a qualidade da instrução nas aulas, tendo produzido, no máximo, modestas mudanças nas práticas pedagógicas.

Esses resultados em princípio reforçam que o foco na tecnologia, sem formação adequada dos professores para sua incorporação à educação e sem objetivos alinhados com o currículo, não gera resultados positivos de aprendizagem. Mas é possível fazer vários outros questionamentos: o programa teria sido bem desenhado e implementado? As escolas foram bem escolhidas? Quais eram as características dos laptops? A amostra dos alunos foi definida corretamente? Como o fato de as escolas não terem Internet afetou os resultados? Os critérios e a forma de avaliação dos resultados foram adequados?

Revisito o tema porque se desenvolveu uma interessantíssima discussão no Educational Technology Debate (onde aparecem todas as imagens deste post), que resumo e comento em seguida.

Oscar Becerra, que participou do design e da implementação do programa, faz inicialmente a sua defesa.

Ele afirma que o projeto era enxergado como uma maneira de reduzir a divisão digital e que, na visão da equipe, oferecer à crianças acesso a uma tecnologia planejada como uma ferramenta para o aprendizado seria um passo correto.

Becerra afirma ainda que não se poderia esperar mágica nem resultados em tão pouco tempo, e que com a medição de quanto de matemática ou história os alunos aprenderam, da maneira tradicional, não se conseguirá enxergar o verdadeiro impacto do programa.

As atitudes e expectativas dos alunos, pais e professores teriam mostrado melhoras. Os alunos se sentiriam melhor e sua disposição para aprender coisas que eles consideram importantes teria aumentado significativamente, tendo os alunos se tornado mais críticos em relação ao sistema escolar e demandando mais dele, o que impactaria o sistema no médio prazo. Mas Becerra não compartilha esses dados, porque estariam ainda em espanhol e ele os estaria usando em sua tese. Estranho!

Segundo Becerra, qualquer intervenção individual terá provavelmente impacto limitado: a combinação de intervenções é que traria efeitos no longo prazo. Assim, o UCA no Peru estava associado a diversas ações, como: um programa de formação de professores em linguagem e matemática; maiores exigências e mudanças na carreira; um currículo articulado comum para o ensino fundamental e médio; compartilhamento das expectativas de resultado escolar com os pais, para envolvê-los nos esforços para melhora da qualidade; censo nacional de avaliação dos alunos e difusão de seus resultados; melhoras na infraestrutura e novos equipamentos.

A discussão nos comentários ao texto de Becerra é muito interessante. Reflete-se por exemplo que a percepção dos benefícios reais de um projeto depende de como o medimos. Alguns benefícios seriam difíceis de medir e outros, apenas observáveis no longo prazo. As TICs produziriam um senso de pertencimento, de inclusão e até mesmo de sucesso, que afetariam outros aspectos das nossas vidas mas não seriam detectados por nenhuma medida quantitativa. Os objetivos iniciais do UCA no Peru, por exemplo, não incluíam a melhora em matemática, leitura e escrita, história ou geografia, critérios pelos quais seu sucesso teria sido medido no estudo. O UCA é um projeto sócio-educacional, então ele pode perseguir objetivos em ambas esferas. Além disso, um programa de tal magnitude e complexidade não poderia ser resumido em poucos indicadores; haveria muito mais a ser dito a respeito do programa: seus componentes individuais (e sua interação), políticas, os aspectos inesperados que emergiram, suporte e infraestrutura, e o trabalho detalhado das crianças (em casa e nas escolas).

Há uma crítica muito interessante à estratégia de se entregar diretamente ao aluno a oportunidade de aprender, deixando o professor em segundo plano. A criança, “naturalmente” mais capaz de entender a tecnologia, estimularia o professor a aprender. Por isso não seria necessário capacitar convenientemente os professores, porque os laptops não eram para eles, mas para as crianças: uma justificativa aberrante para as falhas da formação de professores no projeto.

Discute-se também que o UCA é uma opção pública que envolve gastos, que poderiam ter outro foco: melhorar a motivação em relação ao trabalho escolar, as habilidades para o século XXI, conhecimento básico de Tecnologia da Informação ou habilidades básicas em alfabetização e números. Traria a educação mediada por computadores, como no caso do UCA, oportunidades de vida realistas para crianças pobres na América Latina? Ou existiram outras abordagens, como treinamento vocacional ou para o trabalho?

Em What Do OLPC Peru Results Mean for ICT in Education?, Amos Cruz reflete sobre os resultados do programa para o campo da tecnologia educacional.

Quando o UCA começou a ser planejado, em 2005, os laptops tinham começado a superar os PCs, e os notbebooks apareceriam apenas anos depois. O cenário de hoje é totalmente diverso, com a introdução dos tablets e a prevalência dos smartphones, apesar de essa não ser a realidade nas regiões menos desenvolvidas.

Segundo Cruz, parte da explicação para os resultados do estudo poderia ser o baixo nível de suporte técnico e pedagógico oferecido aos professores, que tiveram um treinamento de 40 horas. Isso teria atrasado a integração dos computadores, mas um tempo mais longo de avaliação não deveria identificar diferenças significativas.

Para o sucesso de um programa, seria necessário identificar um problema que guiasse o seu design, completado com inputs, atividades e outputs. Na avaliação, seria importante distinguir outputs de resultados, assim como assegurar alinhamento com critérios de mensuração e avaliação.

O UCA do Uruguai teria tido um objetivo claro de inclusão social, focando em acesso, uso e experiência, buscando a utilização social como um resultado. No caso do Peru, os resultados dos testes de matemática, linguagem e cognição mostraram outputs, mas sem conexão clara com os objetivos formulados pelo programa, que buscavam treinamento pedagógico e aplicação. Se os objetivos e os resultados não estão claramente alinhados com os critérios de avaliação, a eficiência de um programa não pode ser medida com propriedade. É importante, portanto, ser claro sobre o que está sendo medido antes que a mensuração comece: é a inserção de um objeto ou a introdução de um processo?

Cruz faz ainda outra reflexão: a simples presença de laptops seria suficiente para energizar as crianças para aprender? Isso poderia ser visto como um exagero do modelo de autoaprendizagem. Focar na avaliação do treinamento, conteúdo e suporte pudesse fornecer mais insights em relação aos efeitos dos processos. E um foco no currículo e na experiência pedagógica poderia fornecer uma melhor compreensão das intervenções de processos do que inserções de objetos.

Segundo Cruz, o design dos programas UCA no Uruguai e no Peru era muito parecido, mas o do Uruguai desenvolveu-se com o input da comunidade, que ajudou a formatar as atividades, permitindo que o programa atingisse seus objetivos. Fatores geográficos, socioeconômicos e políticos mais amplos talvez tenham impedido o Peru de atingir seus objetivos. Ou talvez o sucesso do Uruguai tenha sido um reflexo de uma estrutura social que existia antes do UCA. Os dois cases devem servir, de qualquer maneira, para mostrar que o sucesso de um programa não depende de uma máquina individual, mas antes de envolver os stakeholders e o contexto.

Cruz defende ainda que decisões como de programas UCA devem ser avaliadas em função do custo-benefício em relação a opções alternativas.

Nos comentários, Becerra discorda do fracasso do programa, apresentando os números das escolas, dos professores e alunos que tiveram acesso à Internet com o programa, e dos professores que foram treinados.

Em Where is the Focus of OLPC in Peru and ICT4E in General?, Carmen Strigel questiona os objetivos do programa peruano e seu alinhamento com a avaliação.

O programa combina elementos de docência eletrônica e recursos de aprendizagem (conteúdo), dispositivos para acessar o conteúdo e treinamento de professores.

O objetivo do UCA do Peru era aperfeiçoar a qualidade de educação primária pública, especialmente a das crianças nos locais mais remotos e na extrema pobreza, priorizando escolas de múltiplas séries com apenas um professor.
Carmem defende que precisamos nos basear mais em evidências, ser mais específicos e realistas quando falamos sobre impactos antecipados, e evitar exagero na generalização nas descrições dos nossos programas e a retórica geral sobre o uso de tecnologias em educação.

Iniciativas de tecnologia educacional investem recursos e esforços em várias frentes ainda muito no começo, sem ter mesmo a chance de chegar à sala e validar seu impacto onde seria mais importante: no nível do aluno.

Em ambientes em que os recursos são extremamente limitados, a escolha de implementar certo programa é no fundo uma decisão contra uma abordagem alternativa. Carmem questiona como é possível justificar não esperarmos que iniciativas abrangentes de tecnologia educacional, no nível da sala de aula, foquem em resultados de aprendizagem quando mesmo as mais fundamentais habilidades críticas para o aprendizado futuro, como leitura básica, não estão sendo adquiridas por grande quantidade das crianças?

Carmem propõe que sejamos mais específicos sobre onde esperamos que a tecnologia educacional possa causar impacto, definamos impacto mais restritamente e desenvolvamos um mapa dos passos, incluindo outputs e resultados para chegar lá.

Com tal objetivo focado em mãos, os implementadores de programas podem então alinhar atividades (provisão de conteúdo, equipamento, treinamento etc.) e planejar modelos de monitoração e avaliação que forneçam informações relevantes para o projeto, internamente, e para o corpo de conhecimento mais amplo.

O plano piloto do UCA peruano teria desvelado um número de questões de design de hardware e instalação técnica que foram em seguida resolvidas, mas parece haver pouca documentação sobre quaisquer mudanças no modelo pedagógico relacionado aos recursos educacionais ou treinamento de professores, sugeridas como resultado do piloto.

O primeiro estudo da IDB, conduzido em 2009, percebeu um decréscimo na utilização dos computadores na sala de aula, que poderiam ser um reflexo da necessidade de maior suporte técnico e pedagógico para os professores, assim como a falta de sessões de planejamento, atividades e recursos digitais apropriados para o uso educacional. Embora em outros recursos, um processo de melhora iterativo para a implementação seja indicado, o relatório recente não indica ajustes de design na implementação, em direção ao aumento de suporte pedagógico ou recursos apropriados para uso educacional, entre 2009 e 2010.

Em países com poucos recursos, Carmem sugere foco em problemas muito específicos e objetivos mensuráveis para intervenções de TICs, além de se evitar declarações de objetivos gerais e superambiciosas. Devemos tornar-nos mais sistemáticos e rigorosos no monitoramento de iniciativas de TICs para a educação, para descobrir primeiro, em pequena escala, o que funciona (ou não) para contextos específicos, antes de ampliar a escala, para então contribuir com resultados mensuráveis – especificamente em área essenciais de aprendizado.

Nos comentários, afirma-se que um dos pontos mais flagrantes em muitos relatórios do UCA (e tecnologia educacional em geral) é a falta pervasiva de acesso à Internet e recursos de biblioteca nas escolas carentes. Qual seria a solução? Uma biblioteca/centro de mídia + um informacionista habilidoso, bem remunerado e adequadamente motivado por escola, com acesso gratuito à Internet de banda larga para que as pessoas possam acessar cada vez mais recursos educacionais abertos, adaptados para uso em uma crescente suíte de (traga seu próprio) dispositivos – e os informacionistas estão lá para guiar esse uso.

Enfim, um debate que tende ainda a continuar, e que ainda espero avaliar e comentar com mais atenção.

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Princípios Multimídia

Brevíssimos comentários (que espero desenvolver) sobre 2 artigos:

Mayer, R. E. (1999). Multimedia aids to problem-solving transfer. International Journal of Educational Research, 31(7), 611-623.
Discute vários princípios e uma teoria cognitiva multimídia, e como ambientes de aprendizagem multimídia podem promover o aprendizado construtivista que possibilita a transferência para resolução de problemas.

Moreno, R., & Mayer, R. E. (2000). A learner-centered approach to multimedia explanations: Deriving instructional design principles from cognitive theory. Interactive Multimedia Electronic Journal of Computer-Enhanced Learning, 2(2), 2004-07.
Os autores apresentam uma teoria cognitiva da aprendizagem multimídia da qual são derivados princípios de design instrucional.

1 vídeo sobre o Princípio da Coerência, desenvolvido por Mayer

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MOOC

How to Catch Light in a Web
How to Catch Light in a Web
utilizada como ilustração do modelo de MOOC para a prática digital em: McAULEY, Alexander et al. Massive open online courses: digital ways of knowing and learning.

“Os MOOC representam experiências de aprendizagem realmente inovadoras. Vão além das experiências iniciais e limitadas de mudança na educação, como OCW (Open Course Ware), baseadas ainda em objetos de aprendizagem isolados e sem pedagogias concretas associadas, e incluem não apenas mudanças na forma de compreender o conteúdo, mas também propostas metodológicas e novos papéis para os dinamizadores e participantes. Afirma-se, nesse caso, de forma explícita, que nem Stephen Downes nem George Siemens, seus responsáveis, desempenham papéis de instrutores tradicionais, mas que são simplesmente nós em uma rede maior.” (HERNÁNDEZ, Dolors Reig. Un mundo de medios sin fin: cambios en aprendizaje, Facebook y la apoteosis de las aplicaciones expresivas).

Um MOOC (Massive Open Online Course) é, como a própria sigla indica, um curso online (que utiliza diversas plataformas web 2.0 e redes sociais), aberto (gratuito e sem pré-requisitos para participação, mas também sem emissão de certificado de participação) e massivo (oferecido para um grande número de alunos e com grande quantidade de material).

A essência dos MOOCs é o espírito da colaboração: além de utilizar conteúdo já disponível gratuitamente na web, boa parte é produzida, remixada e compartilhada por seus participantes durante o próprio curso, em posts em blogs ou fóruns de discussão, recursos visuais, áudios e vídeos, dentre outros formatos. Assim, como afirmam McAuley, Stewart, Siemens e Cormier, em Massive open online courses: digital ways of knowing and learning, o MOOC se constrói pelo envolvimento ativo dos alunos que auto-organizam sua participação em função de seus objetivos de aprendizagem, conhecimentos prévios e interesses comuns. Nesse sentido, possuem pouquíssima estrutura, quando comparados com cursos online oficiais e formais, que muitas vezes começam com o conteúdo e até as atividades prontos – a ideia é que o próprio programa emirja das interações entre seus participantes.

Por isso, os MOOCs têm contribuído para redefinir a própria noção de curso e a relação entre alunos e professores: a responsabilidade pelo ensino fica distribuída por toda a classe, não apenas nas mãos do professor.

Os MOOCs incentivam ainda a construção de PLEs (Personal Learning Environments), já que o aluno escolhe, de um amplo cardápio, o que e quando quer aprender e de que atividades e ferramentas quer participar, ao contrário da educação tradicional, na qual em geral todos os alunos precisam realizar as mesmas tarefas ao mesmo tempo.

Por tudo isso, um MOOC possibilita uma educação online interativa e colaborativa, com baixo custo e oferecida em larga escala, o que para muitos críticos parecia impossível, justificando os modelos fordistas enlatados de EaD.

Mas há também problemas e desafios a serem superados: a falta de estrutura e objetivos de aprendizagem pode gerar uma sensação de confusão e falta de orientação; a falta de interação constante com o professor pode resultar numa sensação de falta de guia e direção; a falta de domínio básico de informática e mesmo do uso de ferramentas distribuídas em rede podem exigir uma curva de aprendizado inicial; o alto nível de ruído de conversas simultâneas pode gerar uma sobrecarga cognitiva; e o alto nível de autonomia e autorregulação da aprendizagem exigido dos alunos pode impulsionar a evasão (termo que, entretanto, talvez nem faça sentido utilizar, no caso dos MOOCS, já que os alunos podem se interessar apenas por parte do curso). Como afirmam McAuley et al, a participação em um MOOC é emergente, fragmentada, difusa e diversa, e pode ser frustrante – não é diferente da vida!

Diz a lenda que a expressão MOOC foi criada em 2008 por Dave Cormier e Bryan Alexander, apesar de antes já terem sido oferecidos cursos online abertos, como o Educamp, na Colombia, coberto por Diego Leal em Aprendizaje en un mundo conectado: cuando participar (y aprender) es «hacer clic».

No final de 2008, George Siemens e Stephen Downes ofereceram o que teria sido o primeiro MOOC: Connectivism and Connective Knowledge, com mais de 2.000 inscritos, que estudava o conectivismo e se repetiu em 2009 e 2011.

Antonio Fini, em The Technological Dimension of a Massive Open Online Course: The Case of the CCK08 Course Tools, analisou a experiência do ponto de vista de alguns alunos. A principal razão indicada para o abandono do curso foi a falta de tempo, associada em menor grau a barreiras de linguagem, fuso horário e falta de habilidades em TICs. Experiências de aprendizagem informal como os MOOCs competem com outras atividades para a alocação de tempo pessoal. Nesse sentido, por mais contraditório que possa parecer, os alunos preferiram utilizar uma ferramanta web 1.0 passiva – Daily, uma newsletter que apresentava um resumo já filtrado pelo professor e distribuído por uma lista de emails (mas que tomava menos tempo) do que discussões interativas em fóruns no Moodle e blogs, redes sociais, Pageflakes e Second Life (que tomariam mais tempo). A maioria das ferramentas web 2.0 e redes sociais foram consideradas pouco úteis, confusas e desorganizadas pelos alunos.

Baseando-se nos resultados dessa análise, Fini recomenda que MOOCs escolham com cuidado as interfaces em função de sua usabilidade, indiquem os objetivos pedagógicos de cada ferramenta oferecida e deixem claro que os alunos podem escolher as ferramentas que preferem utilizar.

Mark Mackness e Roy Williams, em The ideals and reality of participating in a MOOC, encontram contradições similares nos resultados do mesmo MOOC.

Mas várias outras experiências já foram realizadas, depois desta facilitada por Siemens e Downes:

  • PLENK 2010 – Personal Learning Environments Networks and Knowledge (2010)
  • Change.MOOC – Change: Education, Learning, and Technology! (2011)
  • Creativity and Multicultural Communication (2011)
  • eduMOOC – Online Learning Today and Tomorrow (2011)
  • DS106 – Digital Storytelling (2011)
  • Introduction to Artificial Intelligence (2012), oferecido pela Stanford University, um pouco diferente dos demais pois tem um programa definido com conteúdo e avaliações, e, além de um fórum de discussão, estar baseado na aprendizagem individual, não social.
  • The Georgia Tech MOOC (2012), que apresenta diferentes pesquisadores, em cada semana, discutindo tecnologia educacional.
  • Para saber mais sobre MOOCs, cf. além dos links já apresentados:

  • O verbete na Wikipedia
  • 7 Things you should know about MOOCs – Educause Learning Initiative, November 2011
  • Um guia com a teoria e história dos MOOCs
  • Outro guia, com orientações para a elaboração de um MOOC – baseado na experiência do MobiMOOC(ourse), que foi analisada em Using mLearning and MOOCs to understand chaos, emergence, and complexity in education
  • A Brief Guide To Understanding MOOCs, de K. Masters, que traz dicas muito interessantes para um professor que quer organizar um MOOC
  • 2 apresentação do Downes

    e alguns vídeos

    O que é um MOOC

    Como um aluno pode obter sucesso em um MOOC

    O conhecimento em um MOOC

    Cabe registrar que somos pioneiros no Brasil com os MMMOOC – Massive MultiPlatform MultiUser Open Online Congress com a Jovaed, que logo vem por aí novamente! (adiada para o segundo semestre de 2012, em data a confirmar)

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    A Tragédia do Enade

    Escrevi há pouco tempo por aqui O mundo visto por uma luneta, em que discuto a prática de escolas e universidades obrigarem seus professores a inserir, em todas as disciplinas, avaliações no modelo do Enem e do Enade. Isso acaba introduzindo no processo de ensino e aprendizagem ruídos não pedagógicos, externos ao processo.

    Mas o problema não se resume à imposição desses elementos externos ao sistema de avaliação. Além da manipulação de alunos que prestam os exames, com a não aprovação proposital de diversos, muitas instituições sequer têm aulas no último semestre, reservado apenas para o exame, que acaba se transformando em um exame da ordem, segundo Celso Napolitano (presidente da Fepesp) – cf. MEC dá prazo para universidades explicarem variação da nota do Enade.

    É importante que os Conselhos de Educação e o MEC tenham números para orientar políticas públicas na área, e a sociedade, para orientar suas escolhas, assim como é legítimo que as instituições se preparem de alguma maneira para esses exames, já que os resultados dos seus alunos acabam impactando em seu reconhecimento pelo mercado. Mas a situação tornou-se surreal e a ordem das coisas acabou invertida – primeiro o Enem ou Enade, e depois, no que sobrar, a formação dos alunos, com o processo de ensino e aprendizagem dominado não pelas necessidades e características dos alunos, das disciplinas e dos cursos, mas pela obsessão das instituições em tirar uma nota alta nesses exames. Como afirma o consultor Carlos Monteiro, a crescente valorização dos rankings, vinculados a esses resultados, resulta em uma tragédia, em função da alta competição.

    Os vilões do Enade não são, portanto, a UNIP e as outras 30 instituições que supostamente o MEC estará auditando. O que precisamos mesmo é rever, enquanto projeto de nação, a sistemática, os objetivos e outras questões relacionadas a esses exames, e até mesmo a justificativa para sua realização (nos moldes atuais), sob o risco de nos tornarmos um País da Educação… mas para questões de múltipla escolha, para o Enem e para o Enade!

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    Three generations of distance education pedagogy

    ANDERSON, Terry; DRON, Jon. Three generations of distance education pedagogy. IRRODL International Review of Research in Open and Distance Learning, v. 12, n. 3, 2011: Special Issue – Connectivism: Design and Delivery of Social Networked Learning, p. 80-97.

    Faço a seguir um resumo e algumas reflexões sobre esse interessante artigo, que posteriormente traduzi na íntegra para a Revista EaD em Foco.

    Anderson e Dron apontam para três gerações de pedagogias para EaD: behaviorismo-cognitivismo, socioconstrutivismo e conectivismo. Para os autores, as três pedagogias coexistem hoje e a EaD deveria explorar todas.

    A pedagogia behaviorista consolidou-se na segunda metade do século XX, com destaque para Edward Watson, John Thordike e B.F. Skinner. Suas ideias impulsionaram o desenvolvimento do design instrucional e do ISD – Instructional Systems Design, e foram bastante usadas em treinamento, onde os objetivos de aprendizagem são em geral claramente mensuráveis e demonstráveis comportamentalmente.

    Da tradição behaviorista emergiu a teoria cognitivista, a partir do final da década de 1950, cujos modelos se baseavam nas funções e operações do cérebro e em como os modelos computacionais eram utilizados para descrever e testar a aprendizagem e o pensamento.

    O lócus de controle nos modelos behavioristas-cognitivistas é o professor ou o designer instrucional. É importante notar que esses modelos adquiriram proeminência em EaD quando havia limitadas tecnologias disponíveis que permitissem a comunicação muitos-para-muitos. Estão vinculados a um modelo de ISD onde os objetivos de aprendizagem são claramente identificáveis e declaráveis. O foco é a aprendizagem individual, com liberdade para o aluno seguir seu ritmo e com a presença da docência praticamente reduzida à produção de conteúdo e avaliação. Esse modelo pode ser ampliado em larga escala com custos baixos, o que seria demonstrado pelo sucesso das mega-universidades à distância.

    A pedagogia socioconstrutivista da EaD, baseada em Piaget mas principalmente em Vygostsky e Dewey, desenvolveu-se em conjunção com as tecnologias de comunicação de duas mãos, que possibilitaram, no lugar de transmitir informações, propiciar oportunidades para interações entre alunos e professores.

    O lócus de controle no sistema socioconstrutivista sai do professor, que se torna mais um guia que um instrutor, assumindo o papel essencial de desenhar as atividades de aprendizagem e a estrutura em que essas atividades ocorrem. Interações humanas, entretanto, são mais caras do que os modelos behavioristas-cognitivistas de EaD, o que colocaria um desafio econômico para sua utilização em larga escala.

    A interação social é uma característica definidora das pedagogias construtivistas, com a importância da presença docente:

    A pedagogias construtivistas de EaD moveram a aprendizagem à distância para além do tipo estreito de transmissão de conhecimento que podia ser encapsulado facilmente em mídia, pela utilização de aprendizagem síncrona e assíncrona, baseada em comunicações humanas.

    Assim, as ricas interações aluno-aluno e professor-aluno podem ser vistas como uma ‘era pós-industrial’ da EaD, ou seja, pós-fordista.

    Por fim, a pedagogia conectivista de EaD teria surgido recentemente, na era das redes, entendendo que há grande quantidade disponível de informações, sendo então o papel do aprendiz não de memorizar ou mesmo compreender tudo, mas de ter a capacidade de encontrar e aplicar o conhecimento onde e quando necessário. O conectivismo assume que muito do processamento mental e resolução de problemas pode e deve ser descarregado para máquinas.

    Assim, a interação em EaD move-se para além das consultas individuais com o professor (pedagogia behaviorista-cognitivista) e das interações em grupos e limites dos AVAs (pedagogia construtivista). A presença cognitiva é enriquecida pelas interações periféricas e emergentes nas redes, em que ex-alunos, profissionais e outros professores são capazes de observar, comentar e contribuir com o aprendizado conectivista. A presença cognitiva conectivista é ampliada pelo foco na reflexão e distribuição dessas reflexões em blogs, posts no Twitter e webcasts multimídias.

    Como na aprendizagem construtivista, a presença do ensino no conectivismo é criada pela construção de caminhos de aprendizagem e pelo design e suporte a interações, de forma que os alunos façam conexões com recursos de conhecimento existentes e novos. Entretanto, ao contrário de pedagogias anteriores, o professor não é o único responsável pela definição, geração ou atribuição de conteúdo. Em vez disso, alunos e professores colaboram para criar o conteúdo do estudo, e no processo re-criam esse conteúdo para uso futuro por outros, incluindo alunos ensinando aos professores e uns aos outros. No espaço conectivista, a estrutura está desigualmente distribuída e é em geral emergente, e emergência raramente leva a uma estrutura que é otimamente eficiente para atingir objetivos de aprendizagem.

    A tabela abaixo mostra um resumo das principais características de cada uma dessas pedagogias para EaD.

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    Blogs Tecnologia Educacional

    Estes são os blogs que meus alunos de Pedagogia da disciplina Tecnologia Educacional, na Universidade Anhembi Morumbi, estão começando a construir. A lista ainda vai aumentar e alguns nomes dos blogs devem mudar – vou atualizando por aqui mesmo.

    Eles funcionarão como portfólios para os trabalhos que os alunos desenvolverão durante todo o semestre. Quem quiser acompanhar e principalmente participar, com comentários aos posts, está mais do que convidado! Lembro que boa parte dos alunos está começando a se familiarizar com o uso de tecnologias em educação.

    Aprender e Ensinar

    Educação

    Educação

    Educação.com

    Educação é o Foco

    Educar

    Educar é Aprender

    Entre epifanias

    Era Digital

    Geração Tecnologia

    Mundo Digital

    Pedagogia 2012 UAM

    Pequeno Aprendiz

    Professores do futuro

    Sabidinho na Rede

    Tecnologia Educacional

    Tecnologia Educacional

    Tecnologia Educacional

    Tecnologia Educacional

    Tecnologias na Sala de Aula

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    Referência a Tweets

    A Camila Santana colocou agora no Facebook um questionamento:

    Oh, gente a MLA reconhece citações de Twitter e Blogs e ABNT, nada claramente? Quem me dá um HELP?? Meu material revisado apresenta duas possibilidades…malditos revisores! SOCORROOO!

    O post que ela indica sobre a MLA é Como citar o Twitter em um trabalho acadêmico. Direto na MLA, leia How do I cite a tweet?

    No formato da MLA, ficaria assim:

    Athar, Sohaib (ReallyVirtual). “Helicopter hovering above Abbottabad at 1AM (is a rare event).” 1 May 2011, 3:58 p.m. Tweet.

    O primeiro é o nome real, e entre parênteses o de usuário (quando só houver do usuário, ele deve aparecer sozinho). O texto completo do tweet aparece entre aspas, seguido da data e horário da mensagem (na zona do leitor) e a palavra Tweet.

    O interessante é que, como um tweet é pequeno (limitado a 140 caracteres), a sugestão da MLA é incluir o tweet completo na referência, o que não ocorre em nenhum outro tipo de referência.

    A Norma para Referências da ABNT, NBR 6.023, é de agosto de 2002, então obviamente não inclui orientações para montar referências a tweets. Mas a ideia é que, dela, consigamos tirar as orientações gerais para referências a fontes em plataformas eletrônicas que não existiam na época.

    O item 7.17 da NBR 6.023 apresenta orientações para a elaboração de referências a documento de acesso exclusivo em meio eletrônico, que inclui bases de dados, listas de discussão, BBS (site), arquivos em disco rígido, programas, conjuntos de programas e mensagens eletrônicas entre outros, além de endereço e data de acesso (no caso de acesso online).

    Os elementos essenciais indicados são: autor(es), título do serviço ou produto, versão (se houver) e descrição física do meio eletrônico, e, quando necessário, devem-se acrescentar elementos complementares à referência para melhor identificar o documento.

    O exemplo fornecido para e-mail, que talvez seja o que mais perto chega de um Tweet, dentre os disponíveis na norma, é:

    ALMEIDA, M. P. S. Fichas para MARC [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por em 12 jan. 2002.

    Partindo dessas orientações da ABNT, entendo que a referência a um tweet ficaria assim:

    MATTAR, João (joaomattar). bibliografia EaD http://ht.ly/9JS8i #eadsunday [tweet]. 19 mar. 2012, 0:38. Disponível em: < https://twitter.com/#!/joaomattar/status/181736481201733633 >. Acesso em: 21 mar. 2012.

    Segui a sugetão da MLA para indicar nome real e de usuário entre parênteses, mas começando pelo sobrenome em maiúsculas, como é a orientação geral da ABNT. Segui também a orientação da MLA para reproduzir o tweet completo, já que não há título para ser usado – e coloquei tudo em destaque. Usei tweet em inglês, apesar de muitos usarem tuíte, e coloquei entre colchetes, como no caso da mensagem por e-mail que aparece nos exemplos da ABNT. Usei também o endereço e data de acesso, que são padrão para a ABNT, no caso de referências a fontes online (mas que talvez seja questionável, porque o tweet já está reproduzido por completo e com indicação da data). Observação: não deve haver espaço antes nem depois do endereço (usei aqui apenas para facilitar a digitação).

    Sugestões?

    Como citar um tweet em trabalhos acadêmicos traz uma sugestão com algumas diferenças: não usa o nome de usuário depois do nome real (acho que a posição do nome do usuário ficou meio estranha na referência), usa local (que não me parece fazer sentido, no caso de tweets), usa Twitter (usei tweet para seguir o padrão de email, no ex. da norma da ABNT, mas talvez indicar apenas Twitter, como plataforma, fique mesmo melhor) e faltaram os < > antes e depois do endereço (isso é padrão da ABNT).

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    Perfeição

    A metáfora de que a perfeição é um ponto no horizonte que a gente nunca alcança, a gente anda, anda, anda, mas o ponto continua, sempre, à mesma distância – ou até mesmo como a sensação de que estamos chegando perto da água, no Death Valley, que é sempre ilusória, pois não há nunca água e apenas miragens na areia – é uma metáfora pobre, pois não dá conta do fenômeno que procura representar. No fundo, alcançamos a perfeição em alguns momentos de nossa vida, ou pelo menos temos essa sensação, mesmo que já longe dela.

    De um lado, em alguns momentos nos sentimos tão completos, tão envolvidos com alguma situação, pessoa ou objeto, tão apaixonados, que chegamos mesmo a dizer que tudo está bem, tudo está perfeito, e se alguém nos perguntasse, nesses momentos, o que é a perfeição, diríamos: é isto aqui, é o que estou sentindo, é onde estou, é o objeto ao qual me sinto fundido. Não há lugar para dúvidas, questionamentos, não conseguimos nos colocar fora da situação sem destruí-la – queremos vivê-la intensa e imensamente. O problema é que essa sensação dificilmente dura por muito tempo. Pequenos detalhes começam a incomodar (uma cor destoante, qualquer tipo de sofrimento, a sobremesa, algum objeto ou corpo estranho que se enfronha não se sabe de onde, ou mesmo que sempre esteve lá, mas que de repente começa a ser notado, etc…), e rapidamente somos lançados novamente para fora do espaço e do tempo da perfeição, como náufragos que precisam, agora, reencontrar a terra firme. E os caminhos muitas vezes têm que ser traçados todos novamente, desde o início, pois tudo o que já foi percorrido não tem mais valor algum – nós já sabemos onde eles nos levarão, e lá já conhecemos tudo o que não é perfeição, o que nos impedirá de fruir da mesma sensação já fruida uma vez, as montanhas de pedras no meio do caminho. Colocamos até mesmo em dúvida, com o tempo, se aquele momento vivido no passado tenha sido realmente perfeito.

    De outro lado, muitas vezes não achamos que estejamos em nenhum sentido próximos da perfeição, mas alguma tragédia, uma privação súbita muito intensa, uma perda ou um trauma qualquer nos arrancam com violência de um estado para nos lançar a outros estados, de absoluto sofrimento, insatisfação, incômodo constante etc., quando comparados com o anterior. Nesses casos, passamos a valorizar diferentemente o estado anterior em que nos encontrávamos, e desejaríamos com tanta força retornar ao mesmo, que se alguém nos perguntasse nesses momentos o que é a perfeição, provavelmente diríamos que era aquele estado anterior, que antes não significava nada ou quase nada para nós, mas o qual tivemos o prazer fruir, às vezes inclusive por muito tempo.

    Nos dois casos, embora de formas diferentes, podemos dizer que vivemos a perfeição. Mas em ambas as situações há uma tristeza muito grande, que se mistura com a consciência da perfeição. No primeiro caso, aquilo que nos tira do estado de perfeição, que nos desloca, é às vezes um detalhe muito pequeno, minúsculo, mas que se torna um vulto tão grande que é capaz de desequilibrar. Qualquer movimento de retorno ao paraíso esbarra, necessariamente, nesse vulto. No segundo caso, só nos damos conta de que vivemos a perfeição depois, então a sensação é muito triste – pois, associada ao reconhecimento, há também uma necessidade de retorno a um estado que, muitas vezes, torna-se cada vez mais distante.

    Assim, de um ponto de vista intelectual, podemos criar uma outra metáfora para representar a perfeição: a perfeição é uma ideia genial, ou mesmo o momento da criação artística. Pois esses momentos, quando são alcançados, oferecem-nos um tempo de fruição muitas vezes curto, e logo alguma coisa exterior a esse estado, exterior à situação de êxtase que vive o poeta ou o pensador, com seu poema ou sua ideia, acaba por deslocá-los sutilmente do campo da perfeição. Algo vem roubá-la, e não há mais retorno – ao menos àquela perfeição – é preciso recomeçar um novo caminho. No segundo caso, o senso de alteridade entra em jogo: muitas vezes só reconhecemos a grandeza de nossa obra, de nosso poema, de uma ideia ou invenção, quando ela passa a ser consumida, utilizada, criticada ou mesmo amada pelo público, pelos outros, que não estavam presentes no momento da criação. Então, nesse caso, o paralelo é claro com uma situação de trauma em pelo menos um sentido: reconhece-se a perfeição apenas depois de já a termos vivido, quando ela já está distante, já se foi. E, se sob certo aspecto há um prazer imenso mesmo em lembrar daqueles momentos de criação, em que a perfeição nos fez companhia, ou mesmo de fruir a obra perfeita, a ideia maravilhosa sendo agora estendida aos outros, também há uma tristeza associada à consciência da falta de consciência da perfeição durante o ato de criação. Afinal, a perfeição, enquanto momento, foi o da criação da obra, momento que é, agora, irrecuperável.

    Assim, a metáfora do ponto no horizonte, que nos engana sempre mas nunca chega, mostra-se insuficiente para cobrir esses momentos todos. Porque a perfeição chega, e a algumas pessoas por muitas vezes, e até mesmo por muito tempo. Então poderíamos utilizar uma metáfora que, a princípio, parece muito mais pobre, tão pobre que nem deixa transparecer, à primeira vista, seus aspectos metafóricos: a perfeição é um sonho. Sonho porque realmente sonhamos, apesar de eventos bestas, um barulho qualquer, um despertador, nos tirarem repentinamente do nosso estado de êxtase – e não há mais como retornar ao mesmo estado. Além de que, durante os sonhos, em geral, não temos consciência de que estamos sonhando. Só depois, quando estamos novamente despertos, somos capazes às vezes de nos lembrar de um momento sublime, mas que não pode ser revivido por nossa vontade.

    Então há qualquer coisa de maquiavélico e diabólico nessa deusa chamada Perfeição: ou ela nos faz fruí-la, com a consciência posterior de que fomos enganados, ou de sua fuga; ou ela nos faz fruí-la, inconscientemente – e só pode haver perfeição numa consciência de um passado, em que ela não se deixou notar. A perfeição se apresenta, aos seres humanos (e por isso ela não é apenas um ponto no horizonte que nunca chega), mas de uma forma perversa: para vivê-la, ela requisita sempre a falta de consciência. Falta de consciência, de um lado, de que qualquer coisa, por mínima que seja, pode destruí-la; e, de outro lado, falta de consciência dela mesma – ou apenas consciência atrasada. No primeiro caso, vivemos a deusa inconsciente dos seus limites; no segundo, inconsciente de sua própria presença. No primeiro caso, posso estar consciente de sua presença, mas algo se passa imperceptivelmente, que nos rouba a deusa; no segundo caso, estou inconsciente de sua presença, e a consciência acaba por se constituir apenas depois que ela se vai.

    A Perfeição, portanto, é uma deusa muito hábil no lidar com seus dois dados, a consciência e o inconsciente. Às vezes mostra-se à consciência, mas exige inconsciência simultaneamente, para que possa ser percebida; em outras, não se mostra à consciência, expõe-se apenas ao nosso inconsciente, mas exige, para ser reconhecida, uma consciência (apenas) posterior.

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    Humildade Epistemológica

    Com 17 anos, comecei a dar aula – de violão! Nestes 30 anos, fui construindo uma experiência considerável, passando por cursos livres, faculdades, centros universitários e universidades. Mas o bonito desse percurso é que, em vários momentos, me pego aprendendo e tendo que mudar minhas concepções sobre ensino e aprendizagem. Foi o que aconteceu ontem!

    Desde o começo do semestre, estou dando aula para uma turma que eu já estava considerando “perdida”. Era incrível seu descompasso em relação a outras turmas, da mesma disciplina. Não estava conseguindo tocar o programa, as aulas não fluíam, muitos alunos não realizavam (no laboratório) aquilo que eu pedia, enfim, estava me remoendo para achar uma nova estratégia para tentar fazer a coisa funcionar.

    Na semana passada, solicitei a alteração de laboratório, porque, além de a turma não estar cabendo no laboratório em que estávamos tendo aula (o que fazia com que mais de 1 aluno sentasse em cada computador), havia uma fileira (e várias outras posições) das quais ninguém conseguia enxergar nada do que era projetado pelo datashow – deixando assim vários alunos alienados da aula. Ontem, tivemos a primeira aula em um novo laboratório, muito mais adequado, no qual não só coube todo mundo, como também a visão da projeção era adequada, de todos os lugares, a iluminação melhor etc.

    Achei que isso iria ajudar a resolver apenas parte do problema, e que eu teria que continuar “enfrentando” a classe, mas na verdade resolveu tudo. Dei uma aula ontem como talvez não tenha dado nunca nessa disciplina, neste e mesmo em outros semestres. Em vários momentos, percebi todos os alunos do laboratório (mais de 50) prestando atenção e refletindo sobre o que eu falava, alcançamos um nível de silêncio incrível, e praticamente todos (inclusive aqueles que estavam antes alijados do curso, porque sentavam no outro laboratório em posições que impossibilitavam a visão adequada) conseguiram realizar as complexas atividades propostas na aula, em seus respectivos computadores. Os alunos inclusive se ajudaram e o rendimento da aula foi impressionante – acabamos inclusive antes do tempo previsto, sendo que nas aulas anteriores eu nem conseguia cumprir com a classe as atividades propostas.

    Conclusão: a minha visão da turma estava totalmente distorcida, e era causada (assim como seu rendimento ruim) diretamente pelo layout e tamanho inadequado do laboratório que estávamos usando. Gosto de dizer que cada classe tem uma alma, e ontem na verdade acabei conhecendo uma segunda alma dessa classe, ou a verdadeira, muito diferente da primeira.

    Portanto, além de ontem aprender que posso estar redondamente enganado na minha avaliação sobre meus alunos, aprendi também a importância que o espaço físico e o layout de uma classe desempenham no rendimento de um curso e dos próprios alunos. O espaço e o layout determinam diretamente os resultados do processo de ensino e aprendizagem, portanto não podem ser tratados como variável de pouca importância, mas devem ser encaradas como variáveis essenciais, que influenciam decisivamente o que podemos fazer em educação. Duas coisas que, teoricamente parecem óbvias, mas que, quando vividas, adquirem um valor inestimável e reforçam a importância da nossa humildade epistemológica.

    Ruth Reynard, em Designing learning spaces for instruction, not control, faz uma interessantíssima reflexão sobre o design de ambientes de aprendizagem para o ensino, não o controle. Para a autora, muitas salas de aula e inclusive alguns ambientes virtuais de aprendizagem são planejados com um tipo de aprendizagem em mente, fixo e centrado no professor, sofrendo do que ela chama de síndrome da ‘lareira’, em que algo tem que estar fixo a uma parede (um quadro, um projetor etc.), tendo em geral na frente algum tipo de pódio ou mesa do professor. Nós sabemos instintivamente que a lareira está colocada em um lugar por uma razão, e devemos então prestar atenção naquele lugar, já que é daquele lugar que toda informação importante fluirá. Virtualmente, isso é determinado por como o design e o fluxo do conteúdo e da interação ocorrem para o aluno, e quem controla o acesso ao conteúdo do curso e às escolhas instrucionais.

    Ambientes, entretanto, são importantes para influenciar percepções e expectativas, para energizar os alunos e envolvê-los. Para Reynard, o fluxo de interação de uma sala de aula convencional poderia ser representado pela figura a seguir:

    Nesse cenário, toda interatividade e distribuição de trabalho fica dependente do professor. Um cenário alternativo poderia ser representado pela figura a seguir:

    Já em Learning Spaces, Malcolm Brown ressalta a importância de conectar o que ocorre na sala de aula com o que ocorre em ambientes informais e virtuais. As instituições precisam garantir que espaços reais e virtuais fora da sala de aula também encorajem o aprendizado. Afinal, uma parcela significativa do aprendizado ocorre fora da sala de aula formal, onde as pessoas se reúnem para interagir. Brown fornece vários exemplos interessantes, inclusive com fotos, desde salas de aulas tradicionais equipadas com tecnologia até espaços colaborativos multimídia, integrando acesso wireless, dispositivos móveis, laboratórios, bibliotecas e outros serviços.


    Technology-Supported Lecture Hall


    Learning Commons


    Media Studio

    O design de ambientes de aprendizagem é um projeto de larga escala e longa duração, que envolve a integração de uma visão curricular e global, tecnologias emergentes e layout.

    Nesse sentido, vale a pena ficar de olhos e ouvidos abertos para o GENTE – Ginásio Experimental das Novas Tecnologias Educacionais, mais um projeto criativo da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, que dentre várias outras propostas inovadoras, repensa radicalmente o layout das salas de aula.

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